Estamos a Flor e eu de frente para o Castelo, os portões são abertos e entramos, imediatamente contamos ao pessoal o que nos aconteceu, o que vimos, e aguardamos o retorno da Rainha para que ela seja notificada.
Depois que contamos a Rainha, ela entende que estavam caçando os extremistas numa área oposta à qual relatamos, onde fomos atacadas. Então, decidiram se reunir para uma nova caçada, não podiam esperar, pois, mais pessoas poderiam morrer e ninguém sabia os motivos. Por fim, as árvomes dançarinas foram punidas.
Eu gostei, não vou mentir.
E Flor decide não comentar ainda sobre a nova raça de árvomes, poderia ter sido outra coisa.
***
É dia de terceira lua cheia, Metrim passou a treinar comigo todos os dias para me preparar, acabo aceitando que enquanto eu estiver lá, vou ter que lutar não apenas para me proteger, mas para proteger as pessoas. Ele me ensinou a usar a espada, e aprendi bem rápido, então ele passa a me ensinar alguns golpes de artes marciais para uma luta corporal e tenho algumas dificuldades.
Metrim me derruba várias vezes no chão do gramado no jardim do Castelo, ele é bem forte, e Flor está de longe a comer uma maça e a assistir tudo. Eu fico tão estressada que quando ele avança novamente para me atacar, eu o chuto bem no peitoral musculoso dele e ele é arremessado para longe até cair rolando na grama.
— Oh, meu Deus — eu coloco as mãos na boca e vou socorrê-lo.
A Flor levanta do chão a rir e a bater palmas.
— Eu estou bem — fala Metrim com um pouco de falta de ar, ele se levanta sozinho e estrala a coluna. — Bendita seja, Virell. Que chute, hein!?
— Me desculpe…
— Não precisa se desculpa, não me machucou… Muito… Olha, eu queria mesmo ver do que você era capaz.
— Acho que eu fico mais forte quando me empolgo, e mais ágil.
— É a adrenalina, ela te muda totalmente, pois, a composição do ar deste planeta causa uns efeitos colaterais nos… — ele estrala o pescoço. — Humanos.
— É, eu sei, a sua mãe me explicou tudo.
— Você é tão baixinha, mas bastante flexível, levantou a perna tão alto.
— Eu me obriguei a ser flexível, eu danço no meu planeta.
— Agora faz sentido você querer conversar com as dançarinas do Castelo — diz Flor ao se aproximar. — Dança aí que eu quero ver.
Eu arregalo os olhos pelo pedido de Flor.
— Não, mulher, cê tá doida? Eu só dança música de baixaria.
— Música do quê?
Flor e Metrim ficam me olhando querendo saber o que significa o que acabo de falar.
— Bom… É pagode. Não dá pra dançar aqui sem música e vocês não iriam gostar, fala muita p*****a.
— O que é p*****a? — desta vez é Metrim quem pergunta.
— Meu pai! Nem sei como explicar. Olha, essas músicas falam muito de s**o e órgãos genitais… Vamos esquecer isto?
— Eu iria adorar ouvir — fala Metrim.
— Não! — quase sai como um grito a minha resposta. — Menino, vamos voltar ao treino.
— Está tarde, amanhã continuamos, agora você tem aulas com a minha mãe e se prepare, hoje à noite haverá a "dança das penassedas".
— Não sei o que são issos.
— São insetos com belos pares de asas simétricos, corpo longo e antenas, vivem pousando em plantas atrás de pólen.
— Nossa! São borboletas?
— Sim — afirma Flor —, no seu mundo são chamadas assim, e acho mais bonito.
— Eu também acho.
O Príncipe faz uma careta.
— Então, amanhã continua os treinos, você está se saindo muito bem, Rosy de Aster.
Metrim, antes de ir embora, me dá um beijo no rosto, ele tem cheiro de grama cortada e terra molhada.
Que delícia! Fez eu me arrepiar.
Quando olho para trás, percebo que a Flor está boquiaberta e com os olhos brilhando.
— O que foi, menina? — pergunto.
— O que foi? — Flor fala como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Rosy, o Príncipe Metrim gosta de você…
— Como amiga.
— Milady, você não entende os costumes daqui? Um beijo no rosto significa que ele pode se interessar por você.
— "Que ele pode se interessar"? E quando está interessado mesmo?
— Seriam dois beijos, um em cada lado do rosto.
— É tão comum beijar o rosto no meu mundo, você ficaria confusa, tem gente que até se beija na boca.
— Por Virell — Flor fica impressionada. — Na boca? Aqui, o beijo na boca só acontece depois do Pacto de Compromisso.
— Isso é um casamento?
— Não, casamento é Aliança de Compromisso.
— Então é como um noivado. Me diga, se por um acaso alguém que não for casado beijar outra pessoa na boca, o que acontece?
— As autoridades vão querer saber se você é noiva, ou esposa de quem te beijou. Quando fazem a Aliança, vocês ganham anéis para identificar, nos anéis estarão grifados os mesmos números para se ter certeza de que os próprios pertençam um ao outro. Se nada estiver nos conformes, as pessoas serão julgadas e condenadas a um mês de prisão.
— Eu quero voltar para o meu mundo depressa.
— Não se espante, os jovens aqui se beijam a todo instante, o objetivo é não serem pegos — Flor pisca um olho para mim. — Agora, você gosta do Príncipe Metrim que eu sei.
— Como você sabe?
— A maneira como você olha para ele…
— Que coisa! Por que é sempre a maneira como se olha? Às vezes eu só estou olhando de maneira normal, não precisa ter algo especial… — eu paro de falar quando percebo o olhar de ceticismo de Flor sobre mim. — Tudo bem, eu gosto dele, ele é lindo, alto, forte, gentil e muito atraente, mas… Sei lá, ele é um Príncipe, literalmente, não dá pra me comprometer com ele porque senão eu vou ter que viver aqui e eu não quero. Além de tudo, ele pode ser essa maravilha toda que citei, mas ainda não me arranca suspiros. Falta alguma coisa.
— Entendo. Só não entendo por que nenhum dos humanos que vieram para cá antes quiseram continuar a viver aqui, foram embora na primeira oportunidade.
— Talvez se sentiram como eu, um peixinho fora d'água.
— Isso significa quê…
— Que eu sou a única diferentona em todos os aspectos, não ter ninguém que é igual a você por perto é deprimente para o ser humano, acho que a gente gosta de viver coletivamente.
— Vocês são carentes de sociedade, que interessante.
— Me diz uma coisa: vocês não são acostumados a verem borbo… Penassedas?
— Somos sim, mas a Dança das Penassedas é um dia muito especial aqui no Reino. Estas criaturas são diferentes das demais, elas aparecem uma vez no ano e brilham com a luz da lua.
— Nossa! Deve ser lindo.
— E é.
***
O dia começa a escurecer e vamos para a Cidade Murada do Reino Império, que na verdade, é um tipo de Reino Capital do Império, está localizada a um quilômetro do Castelo, lá é Metrimna.
Diferente.
Ao que parece, a segurança lá é bem maior, os muros são impenetráveis e a guarda é muito grande.
Vamos de carruagens puxadas por besouros gigantes que chamam de insetos trecornios e somos escoltados por guerreiros montados em gravetanos. Os portões são abertos e começamos a entrar.
A cidade é linda. As casas são feitas de madeira e são iluminadas por lampiões peculiares de vidro. Parecem ovos de insetos. Há decoração de plantas e flores por toda parte.
A cidade está pouco iluminada, em alguns minutos, tudo será apagado para o espetáculo. Estou ansiosa.
A parte mais interessante é que as pessoas estão acampadas nos tetos planos das suas casas a conversarem, sem notaram a minha presença, eu sou do tamanho de um adolescente árvome, tenho cabelos loiros e sou albina, a pessoa mais diferente de toda aquela população. Sempre chamei atenção no meu mundo, e neste está sendo bem pior, sou como um "farol que brilha à noite", como diz Aline Barros. Mas neste momento ninguém me nota.
Flor e eu estamos fora da carruagem que foi conduzida até o centro da cidade, Metrim desmonta do gravetano e se junta a nós. Começamos a andar para o maior prédio cuja cobertura plana pode abrigar umas cento e poucas pessoas.
— Preparada, Rosy de Aster? — pergunta Metrim para mim.
— Sabe, no começo achei legal, agora tá chato. Me chamem só de Rosy, por favor — imploro brincando.
— Não queira acabar com os nossos costumes, Rosy de Aster.
— Maldita hora que inventei de falar meu sobrenome, pelo menos não me chamam de Rosy de Candeias.
— Nós temos várias candeias no Castelo, porém, foram substituídas por lamparinas mais modernas.
— Oxe? Como assim? — fico sem entender o que ele diz. — Candeias é a cidade onde eu moro.
— Candeia é uma espécie de lâmpada a óleo usada para iluminar as casas — responde Flor. — Interessante, a sua cidade tem o nome de um objeto de iluminação,
— Meu Deus! Eu não sabia dessa.
Alguns segundos se passam, então nós entramos no prédio e começamos a subir vários lances de escadas até chegarmos ao último patamar.
Somos os primeiros, o local começa a encher até chegar à rainha. Depois, as luzes começam a ser apagadas e ficamos no total escuro. Ainda há conversas, só que bem baixinho.
A lua cheia no céu esbanja toda a sua luz e beleza e de repente, uma borboleta prateada começa a voar pelos céus, depois mais uma, e mais uma até que o céu ficar cheio de borboletas gigantes e elas começam a brilhar como a lua.
Elas brilham não em sincronia, é como se uma faz a ação e as que estão por perto têm a reação. Brilham como estrelas, cada uma por sua vez. É um espetáculo no céu, e tão perto de nós. Tão perto que uma sobrevoa sobre a minha cabeça e eu fico deslumbrada com tamanha beleza.
A Dança das Penassedas dura por trinta minutos, me disseram que elas fazem isto para acasalamento, mas é tão rápido que a gente nem percebe. Quando tudo acaba, acendem as luzes e a cidade é iluminada de novo. Ficamos para um jantar maravilhosos e voltamos para casa em nossas carruagens. Nem acredito que está sendo um dos melhores dias da minha vida.