Voltamos às carruagens, estamos na estrada, Metrim está do lado de fora montado em um gravetano a sorrir para mim e eu olho para ele de volta pela janela.
— O que está olhando? — pergunta Flor.
— Nada — respondo rapidamente.
— Você está apaixonada pelo Príncipe Metrim, não é?
— Nossa!
— Rosy, por que está tentando esconder?
Eu dou um longo suspiro e encaro a árvome com cara de felino e longos cabelos escorridos cor de verde-musgo.
— Não tô apaixonada, só interessada, é diferente. Fora que não tenho condições de namorar com ele. Flor, eu sou uma humana comum, vocês são meio-elfos…
— Primeiro, aqui neste mundo você não permanece comum por causa das reações que a nossa atmosfera lhe causa, segundo, somos meio-humanos também, você é praticamente a minha espécie ancestral. Você e o Metrim são tão compatíveis quanto qualquer outro casal de Virell.
— O problema é que vocês vivem em uma regra e eu não me encaixo. Se eu namorar o Metrim, eu vou ter que me casar com ele e me tornar Rainha e viver aqui para sempre.
— Você não se tornaria uma rainha, esqueceu que não é da realeza? Se tornaria uma Infanta. E você me disse que está amando viver aqui.
— Eu tô amando viver aqui, mas eu já tinha uma vida antes, não quero deixar tudo para trás.
— Uau!
— Não se ofenda, por favor, este lugar é maravilhoso… — eu paro de falar quando a minha carruagem para abruptamente, os besouros se agitam, mas os cocheiros os acalmam.
— O que houve? — indaga Flor.
Eu coloco a minha cabeça para fora da carruagem, porém, Flor me puxa para dentro rapidamente.
— Não faça isto, pode ser que estejamos sendo atacadas — me repreende a dançarina.
Ela tranca a janela, mas eu suspiro e saio da carruagem tranquilamente ao abrir a porta.
— Rosy — sussurra Flor bem forte.
— Milady, volte para a carruagem, por favor — pede o cocheiro.
— Rosy, ficou doida? — murmura Flor para mim.
— Cocheiro, o que aconteceu? — pergunto para o homem que conduz a carruagem.
— Não sabemos, Milady, parece que alguma coisa… — responde o homem, mas é interrompido quando alguém grita que estamos sob ataques.
De repente, um ferrão numa cauda surge atrás do cocheiro e o perfura nas costas, depois o puxa e o arremessa para longe, eu grito pelo susto e corro para retirar a Flor de dentro do veículo.
Quando abro a porta, a carruagem é arrastada para o lado, dentro da floresta, a porta é arrancada por eu ainda estar a segurando e Flor começa a gritar de terror.
De relance, eu vejo as carruagens sendo atacadas por pessoas montadas em escorpiões marrons. Mas não tenho tempo para entender, preciso salvar a Flor de novo.
Sempre ela.
Eu corro para onde a carruagem foi levada, dois escorpiões estão a arrastando e Flor grita sem parar.
Dou um salto e consigo entrar na carruagem que tomba para o lado. Tudo acontece bem rápido, eu pego Flor pelo b***o e dou outro salto para fora do veículo.
Consigo me agarrar numa árvore e vejo o besouro se soltar. Ele abre asas para voar dali e com Flor agarrada a mim, eu tenho a ideia de montar no inseto gigante.
Mas sei que o inseto não vai me suportar, então, eu, apressadamente, coloco a Flor em cima do animal e ele parte, sei que vai para o Castelo, são treinados para isso.
Quando me percebo ainda naquele lugar, eu me viro para correr, porém, cinco escorpiões me cercam e os outros dois voltam para fechar o círculo. Os homens que os montam estão armados e prontos para atacar. Não sei o que devo fazer nesta situação. Eles param e eu fico olhando para todos os lados procurando um modo de fugir deles.
Em seguida, um oitavo escorpião aparece e o maior de todos os homens está montado em cima dele. É o único que está vestido com uma capa acinzentada, os demais estão de preto.
O homem desce do animal e anda na minha direção, ele retira o capuz e mostra o seu rosto. Ele é n***o, não tão retinto quanto a maioria, seu cabelo está cortado em estilo militar, tem a cor verde-limão, a mesma cor dos olhos, contudo, o olho esquerdo está branco, tem uma cicatriz diagonal que começa da testa, passa pelo olho e corta a boca até parar no maxilar. Mesmo assim, é o árvome mais lindo e mais musculoso que eu já vi. Me sinto uma pequenina perto dele.
— Ora, ora, ora — diz o híbrido. — A humana.
Eu penso que ele vai me dizer mais alguma coisa, mas os meus sentidos estão ampliados, então eu me viro e rapidamente seguro uma flecha que foi lançada contra mim, no entanto, ao dar as costas para o árvome, ele me acerta com um golpe, enfiando outra flecha nas minhas costas — ele é mais rápido e está mais perto de mim —, eu a arranco imediatamente e me apresso para dar um soco na cara dele, mas ele se esquiva com destreza.
— Este veneno devia ter um efeito instantâneo — diz o árvome.
— O que você quer? — grito para ele.
Então me aproximo, só que não tão rápido como antes e dou outro soco nele, ele se esquiva novamente, e o próximo soco que eu dou nele o acerta no queixo, a minha mão a alcança mesmo sendo bastante alto, os meus braços são longos.
Ele cambaleia para trás e eu dou mais três passos para golpeá-lo mais, porém, eu caio no chão e apago.
***
Vou abrindo os olhos a piscar bem rápido. Toda vez é isso. Estou numa espécie de jaula de ferro e as barras são grossas e maciças. A jaula se encontra dentro de um quarto que parece uma caverna, está cheia de móveis e coisas e armas.
Eu me sinto fraca e suja, estou com outra roupa e com uma v*****e enorme de urinar, sinto um pouco de dor na cabeça também. Sinto que já estive naquele lugar antes, tenho vagas lembranças.
Sem esperar, o homem que me atacou antes aparece e eu fico nervosa, ele me encara e depois começa a andar para uma cadeira de frente para a jaula.
Ó, Deus, ele é tão sexy.
— Como está se sentindo, Rosy de Aster? — pergunta o árvome de cabelo verde-limão. Ele agora parece menos intimidador que antes.
— Como você sabe o meu nome?
— Parece que a pancada que eu te dei foi muito forte — ele diz com graça.
— Que pancada? — é neste momento que eu coloco a mão na cabeça e me lembro da dor que senti.
O árvome pega uma marreta de ferro que está ao lado da cadeira e o coloca sobre o colo.
— A pancada que eu te dei ontem com a minha ferramenta.
— Você enfiou uma flecha envenenada em mim.
O árvome se levanta e anda na minha direção, eu me afasto até encostar as costas na outra extremidade da jaula.
— A flecha só fez perfurar a sua pele, estava envenenada, e o veneno só te fez paralisar e desmaiar. Rosy de Aster, fazem três dias que eu a tenho como a minha prisioneira — ele se afasta da jaula. — Eu sou o Mandante Isiton, o Invencível. O Pioneiro.
— Espera, eu tenho três dias aqui? E você é pioneiro do quê?
— Sim, você tentou fugir, feriu muito dos meus homens e eu tive que te parar de algum modo. Pensei que tinha te matado, me desculpe. Você é mais forte do que eu pensava. E sou pioneiro em muitas coisas neste mundo, estou com preguiça de citar.
— Que boçal! Você não parece ser do m*l, nem mesmo a cicatriz no seu rosto te deixou tão assustador.
— Eu não sou m*l, eu tenho apenas um propósito de vida.
— E que propósito é este?
— A vida eterna.
— Como assim?
— Eu já te expliquei isto, e vou explicar de novo. Eu descobri sozinho o segredo para viver eternamente como os Árvos, ou como os híbridos do passado…
— O que você faz com as pessoas inocentes, seu monstro?
— Rosy, você não entende, você é humana. Os híbridos eram imortais como os Árvos, mas os Árvos não aceitaram esta condição dos nossos antepassados que eram melhores do que eles, então criaram um arvomecida para exterminar a nossa espécie, contudo, eles resistiram e se adaptaram, perderam a imortalidade, mas se tornaram donos deste mundo, o ato também impactou o planeta, não esperaram que humanos fossem se tornar tão poderosos e eles regredissem. A guerra que houve há muitos anos resultou na redução da população dos Árvos e no aumento da população dos árvomes, o que fez com que se isolassem de nós. Não sabemos ao certo como eles conseguiram retirar a nossa imortalidade, mas eu sei como recuperar…
— Matando pessoas?
— Sim, um pequeno sacrifício a ser pago.
— Pequeno? — eu fico tão estarrecida que não contenho a minha indignação. — Você é um terrorista.
— Nem sei o que é um terrorista, mas gostei do adjetivo.
— Você é um lixo.
— Agora você me ofendeu. Não tem medo de morrer?
— Tenho sim, mas aprendi a não me curvar diante de pessoas como você. Nem sei se você é mesmo uma pessoa.
— Agora sou um híbrido imortal, recuperei o que tiraram de mim.
— Tirando de gente inocente.
— Da primeira vez que você soube não foi tão dramática.
O Mandante Isiton — nome ridículo para um vilão — foi embora e me deixou sozinha no quarto.