Alma

1384 Words
Capítulo- XV. Alma " A alma canta quando encontra a sua metade, ela acende como se fosse a luz iluminando a escuridão do oceano. Nada explica essa conexão. " Camila Nós tínhamos nos beijado enquanto assistíamos a um pôr do sol lindo e, sinceramente, quando os lábios dele tocaram os meus, senti uma corrente elétrica percorrer todo o meu corpo. Meu coração acelerou cada vez mais rápido e algo em mim se agitou — mas não era a minha carne, nem o meu sangue. Era algo que tem uma conexão forte com Deus: a minha alma. Ela se agitou, sentiu uma enorme felicidade e também foi tomada por uma mistura confusa de sentimentos que invadiram meu peito de uma forma totalmente diferente. Tudo que eu estava sentindo parecia ser memória de algo que já vivi. O mais estranho é que jamais havia sentido algo tão avassalador quanto o que experimentei ao olhar para Varuna lá nas ruínas de Extremoz, quando me deparei com aqueles olhos claros — azuis que pareciam ser o oceano, me convidando a mergulhar para conhecer suas águas, para saber se eram calmas ou tempestuosas, quentes ou gélidas. Ah… confesso que, por segundos, eu mergulhei. Num piscar de olhos, me vi nadando no azul de suas íris — e confesso que gostei. Não queria desviar o olhar, não queria perder aquele contato, porque era como se uma linha invisível me puxasse para ele. Tive vontade de dizer tantas coisas… senti uma alegria enorme, mas a principal palavra que queria pronunciar, que queimava na minha mente pedindo para ganhar voz, era: “Estou com tanta saudade de você.” Mas engoli. Não havia motivo para dizer isso. Ele era um estranho. Eu nunca o tinha visto antes e, para ser sincera, senti até medo. Como eu poderia falar de saudade com alguém que m*l conhecia? Ele poderia me achar louca, insana… ou, pior, fazer um julgamento precipitado e pensar que sou dessas meninas que se atiram aos pés de homens por causa do dinheiro. E bastava olhar para Varuna para perceber que ele tinha muito dinheiro: as roupas que vestia, o tênis nos pés, o relógio no pulso, o cordão fino em volta do pescoço, o corte de cabelo impecável, os fios brilhantes e bem cuidados, o óculos de sol de marca… e o carro. Mas eu nunca fui assim. Nunca fui interessada em materialismo. Muito pelo contrário: eu gosto de pessoas, de uma boa conversa, de quem olha dentro dos meus olhos, de quem abre um sorriso e demonstra que gosta de mim e quer minha presença. Sou fascinada pelo simples: observar o céu, agradecer pela chuva, pelo sol, pelo vento, pela natureza, pelo colorido maravilhoso das flores e até pela vida dos insetos que, com seu trabalho incansável, ajudam o ciclo da vida a seguir, florescer e recomeçar. Confesso que, quando ele me beijou, fiquei um pouco sem reação. Foi o meu primeiro beijo. Um desconhecido que me fez ter pensamentos estranhos e sentir coisas inexplicáveis conseguiu levar de mim essa primeira vez. Não que eu fosse uma menina que guardava o beijo para um amor eterno — a verdade é que os meninos fugiam de mim. Diziam que eu era feia, esquisita, fora dos padrões… que eu não tinha b***a grande, nem coxas grossas, e meus s***s não eram como dois melões. Já fui chamada de esquelética por não ter o corpo das passistas de escola de samba. Sou pequena, magra, sem tanto quadril ou seio como muitos homens gostam. Mas eu gosto de mim. Me amo. E acredito que o que tenho já me basta. Mesmo assim, temi que Varuna também fizesse algum comentário sobre o meu corpo. Antes de ele ir me buscar na pousada, fiquei mais de meia hora na frente do espelho, só de sutiã, olhando para os meus s***s. Queria que fossem um pouquinho maiores, já que têm mais ou menos o tamanho de uma laranja. Então tive a “brilhante” ideia: peguei papel higiênico, fiz várias bolinhas e coloquei dentro do sutiã. Ficou ridículo: um peito torto, um maior que o outro. Levei um susto quando Aline empurrou a porta do banheiro e me flagrou naquela situação catastrófica. — Eita píula, merma! Tu tá doida, é? Tá ca mulesta, que negócio é esse?! Minha cara queimou de vergonha, ardendo como se eu tivesse tomado banho de mar e ficado exposta ao sol do meio-dia. Não sabia o que responder, nem para onde olhar. A morena de cabelos cacheados entrou e me encarou com aqueles olhos enormes que mais pareciam um garapau — ou, como a gente chama, olhudo. — Não é nada, Aline. Eu só tava querendo ver se ficava bonita com os s***s maiores. Besteira minha. — dei de ombros e comecei a tirar as bolotas de papel do sutiã. — Armaria… essa tua marmota foi só na parte de cima ou tu quis dar uma crescida na bicha também? — ela analisou meu short, os olhos parando bem no triângulo no meio das pernas. — Ô, não, não, não! Para de pensar besteira! — pedi, mais vermelha que camarão frito. — Tô pensando é nada. Quem fez essa presepada foi tu. Ia onde assim, algum concurso da Peitolândia? — Aline segurou os próprios s***s por cima da blusa, como se calculasse se valia a pena adotar a minha “técnica”. — O rapaz que conheci nas ruínas vem aqui me ver. Tô insegura com a minha aparência, ele é tão… — Bonito. Eu vi. Mas vai com cuidado, viu? Ser amigo de Everaldo não é boa coisa. — Você já me falou sobre esse Everaldo. Foi sua paixão… vários hot — sorri, pegando minha blusa pendurada no gancho da toalha e vestindo- me. — Eu caí de amores por ele, mas Everaldo vivia dizendo que não era home pra mim, não. Sempre cheio de mistério, com aquele olhar que faz a gente querer saber o que tem por trás. Mas toda vez que eu perguntava o porquê, ele se esquivava, mudava de assunto, fugia. Eu era novinha demais, tinha só dezesseis anos, queria era namorar sério, sabe? Ter alguém meu pra andar de mão dada na rua, pra beijar sem ser trancada dentro de um carro ou numa das casas da mãe dele. O amor não se acaba, Camila… mas o tempo cobra atitude. Eu me afastei, fui procurar alguém pra mim. — Então ainda existe amor? — Oxi, sempre vai ter. Ele marcou, sabe? E o que marca, jamais se apaga. É como cravar um prego no tronco da bananeira: você tira, mas a marca fica até o fim da vida dela. Fui para o quarto e Aline me acompanhou. — Acha que são parentes? — perguntei, querendo saber mais sobre Varuna. — Aquele galego? Duvido. Deve ser amigo de fora. — Eu vou sair com ele, Aline. — Tá doida? Se teu pai descobre… — Não vai. Ele planejou levar sua tia para jantar fora. — Nem acredito que teu pai tá de namoro com a minha tia. — Acredite. Ele não para com ninguém. — Minha tia também não. — rimos as duas. Aline me ajudou a escolher a roupa. Saí de fininho da pousada dizendo para o meu pai que ia dar umas voltas e aproveitar os pontos turísticos. Ele acreditou. Eu detestava mentir, mas, se ele soubesse que ia encontrar um rapaz, ficaria doente. Minha mãe “castra” ele se algo acontecer comigo. Tudo foi bom demais… e quero repetir. Estou apaixonada por Varuna. Tudo aconteceu ontem. Hoje, estou sentada na mesa do café, olhando para a xícara, quase implorando para que o tempo traga o paulista ao meu caminho outra vez. _ Come, Camila. - a voz do meu pai me desperta. Ergo o olhar e lá está a ruga em sua testa. _ Sim, estou pensando em que fantasia irei usar no Carnaval. - menti, eu estava virando a rainha da mentira. _ Compre algo bonito e sem ser vulgar. Esses homens não pode ver uma moça que parecem um bando de gavião. _ O senhor não precisa se preocupar, pai. _ Ótimo, sei da filha madura que tenho. Beberico da xícara de café, penso nele. No homem mais bonito que vi na vida. O dono do meu primeiro beijo.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD