Diamante

1335 Words
Capítulo- LVI. Diamante " Poucas coisas na vida tem o brilho do diamante, um sorriso sincero é uma dessas coisas." Varuna Um dia depois... Acordo sentindo saudades da menina. Apenas um dia — um único dia — e já parece que minha carne está cheia de feridas. Sinto dor, muita dor. Não sei explicar a razão, nunca senti isso com ninguém. Não perco tempo. Pego o celular e faço uma chamada para ela. Minhas mãos suam frias, o estômago pesa e uma leve palpitação toma meu peito. — Oi... — ouvir a voz de Camila é como escutar notas suaves retiradas das teclas de um piano. — Oi, menina... senti sua falta. Quero te ver. O som gostoso do seu sorriso chega do outro lado, fazendo um sorriso se abrir no meu rosto. — Também senti sua falta... também quero te ver... — Hoje, agora, Camila. Vai para as Ruínas. Eu te encontro lá. Quero almoçar contigo numa praia perto daqui. — Varuna, não posso! Tem o meu pai... ele não vai me dar permissão. — Foge. Vem ficar comigo. Depois te deixo perto da pousada. — Não posso fazer isso... se meu pai desconfiar, terei problemas. — Camila... se você não for, vou parar o carro na frente dessa pousada e gritar o seu nome a plenos pulmões até você vir me atender. Ela solta uma gargalhada gostosa. — Para com isso, seu louco! Não pode fazer isso, vão chamar a polícia. — Se eu tiver que prestar contas a um delegado só para ter um beijo seu, eu faço. Outra gargalhada. Meu coração dispara. — Eu amo o som do seu sorriso, da sua voz, a cor dos seus olhos, do seu cabelo... — Também gosto de muita coisa em você... O silêncio domina a ligação por alguns instantes. — Está onde? — Deitada na cama, lendo. — Aceita, Camila. Vem pra mim. Ficamos muito tempo separados. Ouço seu suspiro forte. — Eu vou... é loucura, não gosto de inventar desculpas para o meu pai, mas quero te ver. — Vá para as ruínas da Igreja. Tome um carro de aplicativo, eu te envio o dinheiro pelo pix. — Não precisa, Varuna. Eu tenho dinheiro. O que eu visto? — Shorts. Os vestidos, coloque apenas para mim, quando estivermos sozinhos. Ela ri. — Estou saindo agora de casa, Camila. Me espera, minha menina. — Estarei te esperando. Desligo a chamada e corro para escovar os dentes, dando uma última olhada no espelho. Ao sair do quarto, encontro meu avô na sala, assistindo a um canal de política. — Onde estão todos? — pergunto, estranhando o silêncio. — Foram passear de barco. Eu não quis, fico enjoado. E você, para onde vai com tanta pressa? Me aproximo, dou-lhe um beijo na cabeça coberta de fios brancos. — Ver a Camila. Quero levá-la para almoçar num restaurante de Genipabu. Everaldo fala muito do lugar. — O que sente por essa menina, meu filho? — Não sei explicar, vô. É intenso, me domina... a sensação de que a conheço é avassaladora. — Tem espaço para um velho cansado nessa jornada? Quero saber quem é essa linda menina que está abalando meu neto. — Tem, vô. Mas vai segurar vela, estou avisando. — Não ligo. Estou igual a um candelabro: antigo, velho e cheio de poeira. Sorrio com a comparação. — Deixa um bilhete. — aviso, indo até a cozinha para beber água gelada. Minutos depois, saímos de casa rumo a Extremoz. Dirijo ouvindo música baixa, enquanto meu avô segura um livro lacrado cuja capa mostra uma caveira pedindo uma mulher em casamento. — Vô, pra que esse livro? — pergunto, estranhando. — Sou um cavaleiro, não um cavalo. Vou conhecer uma dama, tenho que levar um presente. Posso ser velho, mas tenho etiqueta. Sorrio, balanço a cabeça em negação. Não digo mais nada. Pessoas vividas têm manias e uma educação diferente da atualidade. Minutos depois, já em Extremoz, arrepios percorrem meu corpo. Uma sensação estranha cresce no estômago. — Vai na hospedagem onde ela está? Olho para ele. — Combinamos em outro lugar. — Onde? — Nas ruínas, vô. Acelero na direção das ruínas. Quando o carro se aproxima, vejo minha menina caminhando pelo espaço, olhos voltados para o chão. Usa shorts brancos largos, regata azul clara, cabelos soltos, e carrega uma pequena bolsa. Ela olha na direção do veículo. Pisco os faróis. Vejo seu sorriso e meu coração dispara feito louco. Sorrio — não há como ser diferente. A presença dela parece fazer o sol brilhar mais. — É ela... — ouço o sussurro do meu avô. — Sim... é a minha menina, vô. Linda, não? — Igualzinha... muito bonita. — Me espera aqui, já volto. — Não vou a lugar algum, Varuna. Saio do carro. Meus passos me guiam até ela. A ansiedade me corrói. — Camila. — chamo, saboreando seu nome. — Estou aqui, Varuna. — responde, vindo em minha direção. Nos encontramos. Nos abraçamos. Não espero mais um segundo: beijo seus lábios. A saudade implora por esse contato. Encerro o beijo puxando levemente o lábio inferior dela entre os meus. Camila abre os olhos e sinto que o mundo desperta em mim — um mundo novo, desconhecido. Minhas memórias ganham cor, o silêncio feroz se quebra com o som delicado de sua voz. Parece que ela é a carne que faltava em mim. Agora, as palavras têm mais sentido. As tardes também. Ela não sabe por onde andei, desconhece que é a chave que abre mil portas dentro de mim. — Você está linda. — elogio, pegando suas mãos e beijando uma de cada vez. — Você também... te trouxe um presente. É simples, mas é de todo o meu coração. Quero dizer que o maior presente é ela, que tê-la aqui é tudo o que eu desejava — mesmo sem entender a razão por trás disso. — Não precisa, Camila. — Como não? Você me presenteou com uma tarde incrível. Quero retribuir. Ela tira da bolsa uma caixinha de veludo azul. Abre com cuidado e levanta uma corrente: um escapulário. — Foi minha mãe que me deu. De um lado, a imagem de São Miguel Arcanjo, e na plaquinha, uma frase. Pega minha mão e deposita o escapulário. — É lindo. Obrigado, Camila. — É de prata. Pode tomar banho com ele. Seu sorriso é como céu aberto. Coloco o presente e o guardo dentro da camisa. Dou um beijo rápido nela. — Quero que conheça alguém. — digo, segurando sua mão pequena. — Quem? — pergunta, curiosa. — Meu avô. Ele vai conosco. Tem algum problema? — Nenhum. Vou gostar muito de conhecer alguém tão próximo de você. — Você tem avós vivos? — Sim. Sou muito apegada ao meu avô Everaldo. Ele que me ensinou a dançar. Sorrio. — Meu primo se chama Everaldo. — Nossa, que coincidência. — Muita. Chegamos ao carro. Antes que eu abra a porta para ela, meu avô desce, o rosto vermelho como se tivesse chorado. Ele sorri. — Então você é a menina que faz meu neto sorrir feito um bobo? Camila fica sem graça, sorri tímida. — Vô, por favor... — Shiu! Deixa eu receber a atenção dessa bela jovem. — Raul me repreende. — Prazer, eu sou... — Camila. Eu sei, minha jovem. Te trouxe um presente. Gosta de ler? — Sim. — Esse livro vai aquecer suas noites e preencher seus dias. Camila pega o livro, lê a capa. — Paixão Póstuma... nunca ouvi falar. É bom? — É divino. Vai mexer com seu coração e sua alma. — Obrigada. Vou ler. Ela sorri e meu avô a abraça, beijando o topo de sua cabeça, tomado por uma emoção que raramente vejo nele. Camila retribui o abraço. — Vamos almoçar. — digo, quando eles se separam. — Vamos, meu neto. Se eu respirar mais um pouco, vou passar vergonha na frente dessa moça linda, porque minhas calças vão cair. Camila ri. Eu só consigo admirar o meu pedacinho de diamante.
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