Timidez

1388 Words
Capítulo:XIX. Timidez " É com prazer que me pego preso nessa sua timidez, é com prazer que bebo de ti com tranquilidade. " Varuna A noite tinha chegado e, com ela, o meu nervosismo. Eu estava escolhendo qual camisa usar, a dúvida me corroía entre a branca e a azul-marinho. Foi quando a porta do meu quarto abriu, e por ela passou Dona Anick. — Vai sair, meu filho? — Sim. — respondi, entrando no banheiro à procura do escapulário que Camila me presenteou. — Não é com Everaldo, é? — É, mãe. Vamos a uma festa, não me espere para dormir. — Varuna, Everaldo é um caso perdido, meu filho. Seu pai faz vista grossa para os passos errados do seu primo. Eu não, e... Coloco o escapulário no pescoço. — Nossa, que lindo! — comenta, ao olhar a peça. Sorrio feliz. Minha mãe tem olho clínico para joias. — Gostou? — Sim, meu filho. É uma peça simples, mas bem delicada. O que está escrito atrás? — “A alma nunca morre.” — digo, ainda intrigado com a frase, que não parece a mais indicada para estar em um escapulário. — É uma frase forte, meu filho. Por que escolheu essa? Putz... como explicar que ganhei e não comprei? — Não sei, me veio à mente. — escondo, cubro a existência de Camila com o véu da invisibilidade. — Use a camisa azul, ressalta mais a cor do seu cabelo. — recebo um beijo de Anick, que deixa o meu quarto dizendo em alto e bom som: — Juízo! Espero o barulho do trinco, corro na direção de onde deixei meu celular carregando, desconecto o aparelho e procuro no app de mensagens o número de Everaldo. Digito rapidamente uma mensagem para o meu primo: "Everaldo, estou precisando de um grande favor. Se meu pai ou minha mãe procurar por mim, estou em uma festa contigo. Para todos os efeitos, irei dormir na sua casa." A resposta não demora a chegar: "P*rra, tu não é brincadeira, hein. Tá parecendo um adolescente. O que vai aprontar, Varuna?"* Digito a resposta rapidamente: "Conhecer o céu através dos olhos de um anjo." Everaldo manda um áudio curto: "Eita, carai, catou a galeguinha. Vai lá, eu seguro as pontas." Coloco rapidamente a camisa, pego minha carteira e as chaves do apartamento do meu avô. Deixo o quarto, colocando o celular no bolso. Desço as escadas com uma leveza enorme. — Alguém parece que viu passarinho verde — ouço a voz do meu avô. Viro-me e o vejo vindo do corredor. Olho de um lado para o outro. — Foi mais que isso, vou encontrar a Camila, vô. — Varuna, isso não está certo, meu neto. — Quero aquela menina, vô. Quando estou com ela, tudo fica diferente e, ao mesmo tempo, tenho a sensação de que a conheço. Raul aperta os lábios rapidamente. — Não faça besteiras para depois não colidir com o arrependimento. Saiba que essa parede é uma pedreira dolorida, meu filho. Dou-lhe um beijo rápido. Quero viver o agora, o amanhã depois eu resolvo. — Tchau, vô, até amanhã. — Dou alguns passos na direção da porta. — Varuna, arrependimentos não mudam maus passos. Ouço sua voz soar distante. Atravesso o gramado, apertando o alarme do carro. Entro e, antes de dar partida, pego o celular e envio uma mensagem para Camila: "Estou a caminho, minha menina." Deixo a casa do meu pai com destino a Extremoz. O lugar está sendo o ponto do Rio Grande do Norte de que mais gosto. Acelero ouvindo uma música que me faz recordar dela. Meu coração sacode dentro do peito. A ansiedade aumenta. A saudade grita. Meu desejo é poder tocá-la, beijá-la e sentir o seu cheiro. Minutos se vão enquanto me afogo nessa suave agonia. Meu pé pesa no acelerador, minhas mãos suam em contato com o volante. Um arrepio frio segue pela minha coluna, atingindo a nuca. Sorrio, apenas sorrio, sentindo uma alegria tremenda, inexplicável. O caminho todo vou cantando baixinho, pensando nela. Assim que o carro entra na rua em que está localizada a pousada, respiro fundo. — Cheguei, Camila, vem pra mim... Falo sozinho, como se o vento pudesse levar tais palavras aos ouvidos da menina. Estaciono um pouco à frente da pousada, espero ansioso enquanto envio uma mensagem informando que estou lhe aguardando. Olho pelo espelho retrovisor e nada dela. — A mensagem chegou, por que não me responde? Solto o celular e puxo uma respiração profunda. Não entendo a razão de tanto nervosismo. Fecho os olhos por um minuto, tentando manter os nervos sob controle. Quando os abro, vejo Camila vindo, andando apressada. Minha boca seca, meu peito aquece, o ar parece rarefeito. Sugo o ar entre os dentes, abro a porta para a menina, que entra com seu jeitinho tímido e delicado, que me encanta. Bebo dela devagar, sem pressa. — Boa noite, Varuna. — diz, arrumando o cabelo atrás da orelha. — Não estava boa, agora está. — digo. — Por quê?... — Faltava você. — respondo. A menina sorri, corando as maçãs do rosto. Meus olhos percorrem o corpo bonito, coberto por um vestido cheio de estampas de flores. — Você está linda! — Obrigada. Você também está lindo. Me aproximo de Camila, puxo o cinto de segurança para mantê-la protegida. Nossos lábios ficam a centímetros de distância. Rapidamente, dou-lhe um beijo calmo, cheio de um bem-querer sagrado que já está sacramentado em meu coração. Nossos olhos se encontram. Toco sua face macia. — Eu me vejo dentro dos seus olhos, por quê? — indago. — Não sei... — Camila responde baixinho. Me afasto, querendo ficar. É intenso e estranho esse magnetismo que nos une. Coloco o carro em movimento, pego a mão da garota e a coloco sobre minha perna. Quero sentir o calor, a presença e o toque dela. — Onde vamos? — Camila pergunta apreensiva. — Praia de Areia Preta. — respondo. — Vou te devolver amanhã para o seu pai. Camila puxa a mão rapidamente, fazendo com que meus dedos se tornem ágeis. Seguro as pontas dos dedos dela, ao mesmo tempo que piso no pedal do freio. — O que foi isso? — indago, perturbado com a reação que foi inesperada. — O que vai fazer comigo? — o medo em seus olhos me detona por dentro, é como sofrer um bombardeio em silêncio. — Nada que você não queira, Camila. Quero um tempo para nós dois. Não pretendo fazer m*l algum. Se não quiser ir, pode voltar para a pousada. — Dou-lhe o direito de escolher. — Varuna, eu sou virgem, não faço essas coisas de casais. — O rostinho da minha menina fica mais vermelho do que um tomate maduro. Sorrio, encantado com a timidez e a vergonha que a embaraçam. — Pensa que estou te levando a algum canto para fazer s*xo? — indago. Camila balança a cabeça em afirmação. — Vamos deixar tudo esclarecido entre nós, tudo bem? — Uhum. — Não haverá i********e alguma se não for da sua vontade. E se houver, ficarei honrado. Mas não necessariamente isso ocorrerá em todos os encontros. Boas conversas também são ótimas para passarmos um tempo juntos. Camila me destina um olhar mais calmo, brando e sem o temor de antes. — Você é... — ela enrubesce até o branco dos olhos. — Não. — respondo. Camila balança a cabeça em afirmação, desviando o olhar. Vejo que morde o lábio inferior. — Quer retornar para a pousada? — pergunto com calma. Por mais que minha vontade seja tê-la por perto, não posso agir de maneira bruta. — Não, eu vou com você. — Tem certeza? — Sim. Os olhos dela estão em mim. Balanço a cabeça em afirmação e volto a colocar o carro em movimento. Troco a canção por outra mais calma e melódica. Pego outra vez a mão de Camila. — Amo essa canção, é linda! — a voz dela soa baixa. Aumento o volume. A pequena sorri e ganho a noite. Me espanto ao ouvi-la soltar a voz, ainda que com um pouco de ressalva. Abaixo o volume só para poder ouví-la cantar. Se antes eu sofria de um encantamento, hoje sei que ela me atrai como uma sereia com o poder do canto. E em seu mar, eu me afogo.
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