As pernas balançando de Jacob mostravam o quanto ele estava inquieto. Ouvir os professores falando sobre coisas que ele já sabia ou até mesmo tinha passado era irritante. O relógio de pulso tornou-se o salvador do rapaz; faltava apenas uma hora para ele sair daquele ambiente cheio de adolescentes, alguns humanos e outros seres sobrenaturais. Era irritante para o moreno, que tinha cento e cinquenta e um anos, não precisar estar ali.
— Você, meu jovem — Jacob parou de balançar as pernas e retirou os fones de ouvido — poderia me dizer em qual década o trato de paz foi selado na cidade?
O rapaz foi puxado para a realidade, lembrando do horário das aulas e, obviamente, da última aula séria de história, algo que ele considerava uma grande chatice, já que ao longo das décadas toda a história fora distorcida para não assustar os humanos e fazer com que eles esquecessem o sobrenatural.
O moreno apenas balançou a cabeça negativamente. — Ótimo, então retire os fones e preste atenção na aula — o professor voltou a escrever no grande quadro que havia na sala, enquanto isso, Jacob colocou os fones novamente e fechou os olhos, respirando fundo, pois não tinha paciência para aquilo.
Assim que abriu os olhos novamente, não pôde deixar de olhar para a única parte que interessava e que evitou olhar o dia inteiro, Isabelly... ela estava tão diferente. Os cabelos que antes eram curtos estavam longos e cacheados, e ela parecia mais alta, claramente por conta das roupas que usavam na atualidade.
Em um piscar de olhos, tudo ao seu redor mudou.
Jacob estava de pé em um campo todo florido. Isabelly caminhava na direção dele com um vestido rosa simples, típico do século quinze. Ela tinha um sorriso lindo no rosto e o olhar brilhante... logo a cena mudou para o chão da entrada do castelo das fúrias, onde um vestido azul lindo e florido estava manchado de vermelho. Bella, com o olhar frio e sem vida, a pele antes morena encontrava-se pálida e a mancha de sångue não parava de crescer.
Rapidamente, Jacob abriu os olhos, mas logo levou as mãos até o rosto, cobrindo os olhos que nesse momento não estavam na coloração normal. O rapaz sentiu a mão de Joker tocar em seu ombro e mais uma vez respirou fundo, controlando todos os sentimentos que tomavam conta de seu ser.
O sinal indicando que o período de aula tinha acabado foi a salvação de Jacob. Ele levantou rapidamente, pegou suas coisas e saiu o mais rápido possível daquele ambiente.
O caminho de volta para o chalé de Anna foi silencioso. Joker sabia que não faria sentido conversar com Jacob naquele momento. Assim que o carro parou, o rapaz desceu do mesmo e caminhou rumo à entrada do chalé, com o plano de se trancar no quarto pelo resto da tarde. No entanto, seu plano foi interrompido assim que viu Jonas, um "amigo" de Anna.
— Olha ele aí! Não acreditei quando fiquei sabendo — Jacob simplesmente ignorou Jonas, acenou para todos que estavam na sala, mandou um beijo para sua tia que estava na cozinha e foi direto para o quarto.
O jovem se jogou na cama, o que era exatamente o que ele queria naquele momento. Tirou o relógio do pulso e depois a camiseta preta que estava vestindo. Assim que se preparou para tirar os sapatos, Jonas entrou no cômodo.
— Saia — Jacob queria apenas alguns minutos sozinho, e a última coisa que ele queria era a presença de Jonas.
— Quero falar com você — o silêncio foi a única resposta que ele recebeu — Você a viu... não viu? Falou com ela? Sentiu o cheiro dela?
— Cala a boca e saia do meu quarto — dessa vez, Jacob levantou e abriu a porta, indicando a saída — agora.
— Jacob, faz um século que você não a vê. Só quero saber como você está se sentindo.
— Você não vai sair, saio eu — Jacob fechou a porta do quarto e caminhou tranquilamente até as escadas, mas logo Jonas segurou seu braço.
— Me solta, p***a! Não toca em mim! Você não quer saber nada disso que me perguntou, só quer que eu diga o que você quer ouvir! — sem pensar duas vezes, Jacob agarrou o pescoço de Jonas — A culpa não foi só minha, foi sua também. Eu confiei em você e disse exatamente a hora em que iríamos fugir, e você, como o grande puxa-saco que é, contou para Scott. Então não venha fingir que se importa, quando na verdade você só quer tirar sua culpa da reta.
— E-eu contei e e-errei — Jacob apertou ainda mais o pescoço de Jonas e rosnou próximo do ouvido do homem, que no momento se encontrava sem ar.
— Jacob! — Joker o chamou assim que terminou de subir as escadas e viu a cena — Jacob, pare — novamente, o moreno rosnou em resposta — Já basta, Jacob!
— Se fodå! — O moreno finalmente largou o pescoço de Jonas e, sem pensar duas vezes, terminou de descer as escadas, pegou a chave da moto e precisava de ar, precisava pensar.
Ninguém tinha o direito de julgar o que era certo ou errado. Ninguém tinha que se envolver no meio. A cada pensamento, Jacob acelerava mais e mais a moto. Seu coração estava apertado; ele não conseguia respirar. Ver ela, sentir o cheiro dela, mexeu com ele. Seus dois lados estavam em guerra naquele momento. Jacob não poderia perder a calma. “Me deixa sair”, a voz grossa e assustadora ecoava na mente do jovem, e ele sabia exatamente que lado estava tentando tomar o controle.
— Merdå — Jacob parou a moto próxima a uma árvore e tentou respirar fundo — não.
A voz do rapaz era como um suplício para tudo o que estava acontecendo. As lembranças insistiam em vir todas de uma só vez à sua mente, os lobos que não paravam, o cheiro doce que insistia em permanecer em sua mente, tudo... tudo estava sufocando-o. “Jacob, não adianta. Pare de lutar”, a voz era calma, ainda firme, mas calma.
Um grito de agonia saiu do fundo do peito do rapaz. A cena era horrível de se ver. Sua pele parecia um pano velho que estava se rasgando, o gosto de ferro misturado com sångue e a visão completamente escura. Ele sabia exatamente qual lado tinha ganhado.
Ao final da transformação, o lobo de pelagem escura como a noite e olhos completamente negros se balançou e firmou as patas no chão como um verdadeiro líder arrogante. O lobo olhou ao redor e logo começou a correr, adentrando mais a floresta. Assim que o brilho da lua tomou a visão do animal, ele parou de correr e olhou para a lua. Depois de um tempo, uivou. Mesmo não sendo lua cheia, o lobo uivava como nunca, querendo tirar toda a dor e raiva que estava em seu peito.
Cada um sabe a dor que carrega, por isso não se deve mexer na ferida de ninguém. Se aquela dor ainda está lá, é porque o ferimento foi grande e ainda dói.
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