A floresta parecia mais viva do que nunca. Cada folha sussurrava uma nova canção, cada raiz parecia pulsar com energia renovada. Mas apesar da beleza do reino natural ao nosso redor, eu sentia que algo se preparava para nos testar. Desde a noite em que tive a visão de Milena ajoelhada perante aquela figura encapuzada, o calor da magia em meu corpo oscilava entre a confiança e o receio.
No dia seguinte, nos despedimos de meus pais. O reencontro havia sido breve, mas intenso. Ainda havia muito para reconstruir, tanto no reino da floresta quanto dentro de mim. Elorien e Lysira prometeram reunir os guardiões antigos e selar novamente os portais ocultos para impedir que forças malignas se infiltrassem. Mas sabíamos que não seria suficiente. A escuridão que tocava Milena não viria pelas fronteiras – ela nasceria de dentro.
Arleo e eu retornamos à clareira onde tudo começou. Lá, entre cipós e flores silvestres, ele se ajoelhou.
— Mayara — começou, segurando minha mão com firmeza —, o que vivemos nos últimos dias me mostrou que não há tempo a perder. Eu te amo. E se o mundo ruir ao nosso redor, quero cair com você ao meu lado.
Minhas mãos tremeram. Meu coração acelerou.
— Quer casar comigo, aqui, diante da floresta e da magia que corre em você?
Um sorriso nasceu em meus lábios. Mas antes que eu pudesse responder, a voz do meu pai adotivo surgiu da trilha atrás de nós.
— Isso é um absurdo!
Ele apareceu, os olhos arregalados, os pés cobertos de lama da viagem pela mata. Ao lado dele, estava Leia, pálida e visivelmente desconfortável. Meu antigo lar havia nos seguido.
— Você foi embora sem dar explicações — ele disse — e agora volta como uma rainha da floresta? Isso não te torna maior que sua família. E não darei minha permissão para esse casamento.
— Permissão? — repeti, me levantando. — O senhor nunca me considerou filha. Nunca me olhou da mesma forma que olhava para Leia. E agora quer decidir meu destino?
Ele se calou. Leia abaixou os olhos, envergonhada. Sabia que eu falava a verdade. Ela sempre soube.
— Eu sou filha da floresta. Filha do rei Elorien e da rainha Lysira. E se quiser continuar me chamando de filha, então me respeite como sou. Caso contrário... pode voltar para sua vila.
Ele não respondeu. Apenas virou as costas e partiu, com Leia em silêncio logo atrás.
Naquela noite, fugimos.
Arleo me guiou pela trilha da luz até um novo esconderijo: uma pequena cabana escondida entre rochedos floridos, envolta por uma cachoeira mágica que só podia ser atravessada por quem conhecia o seu segredo.
Ali, sob o luar e o som das águas dançantes, vivemos nossa primeira noite como um casal.
Não houve pressa. Nem hesitação. Apenas a certeza de que pertencíamos um ao outro. As faixas mágicas em minha pele se acendiam sob seus toques, e sua respiração parecia alimentar minha própria luz. Quando seus lábios encontraram os meus, senti meu corpo inteiro vibrar com a natureza ao redor. As estrelas pareciam girar lentamente sobre nós, testemunhas silenciosas do nosso amor.
Ele me olhava como se eu fosse feita de algo precioso. Tocava cada traço meu com reverência, como se me desenhasse com os dedos. E eu me entregava com confiança, sentindo que, ali, era segura. Era desejada. Era inteira.
Naquele instante, um novo poder despertou.
A base da minha nuca aqueceu, e um feixe dourado percorreu minha coluna como uma serpente de fogo suave. Arleo percebeu, mas não parou. Ao contrário, apoiou sua testa na minha e sussurrou:
— É assim que se nasce uma rainha.
As faixas em minha pele se intensificaram, criando símbolos antigos e sagrados. Meus olhos cintilavam com um brilho dourado profundo, e meu corpo parecia se expandir em energia viva. Não era apenas prazer. Era conexão. Uma ligação espiritual, mágica e eterna.
Quando adormecemos, entrelaçados, a floresta inteira parecia suspirar conosco.
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Na manhã seguinte, acordamos com um som metálico ao longe. Correntes.
Nos vestimos apressadamente e seguimos os ruídos. Encontramos um jovem desacordado preso a uma árvore por grilhões mágicos. Sua pele era clara, mas os olhos – quando se abriram – mostraram um brilho azul intenso, diferente de qualquer humano.
— Quem é você? — perguntei, aproximando-me.
Ele tentou se sentar, mas os grilhões o impediram. Tossiu, fraco.
— Meu nome é Elorik. Sou... ou fui... um aprendiz do conselho do norte. Fui capturado por uma sombra. Uma mulher... com olhos prateados e uma aura fria como a morte.
Arleo e eu trocamos olhares. Milena.
— Ela busca um artefato perdido — ele continuou. — Algo chamado Coração da Noite. Se conseguir ativá-lo, o equilíbrio será destruído. Ela quer se tornar... deusa.
— Por que você? — questionei.
— Porque eu nasci da união entre uma humana e um espírito do rio. Tenho magia inata, mas não completa. Ela queria me usar como sacrifício.
Usei minha magia para desfazer as correntes. Quando Elorik caiu nos meus braços, uma sensação estranha me percorreu. Como se uma parte esquecida de mim se conectasse a ele.
— Obrigado — disse ele. — Agora que fui libertado por sua luz, estou ligado a você. Minha lealdade é sua.
Arleo observou em silêncio. Uma sombra de preocupação passou por seus olhos, mas ele apenas assentiu.
— Vamos precisar de toda ajuda possível — disse ele. — A guerra está começando.
E assim, seguimos com mais um aliado, com mais respostas... e mais dúvidas.
A floresta nos havia unido. Mas os caminhos ainda guardavam provas. E Milena, agora mais poderosa do que nunca, não descansaria até destruir tudo o que havíamos construído.