Capítulo 109

999 Words
Os membros da Fênix, espalhados pelos diversos pontos do jardim, permaneceram imóveis enquanto a última nota se dissipava no ar, como névoa ao amanhecer. Alguns tinham as mãos cruzadas atrás das costas, outros as mantinham cerradas junto ao corpo, mas todos compartilhavam da mesma expressão: surpresa, respeito… e uma silenciosa admiração. Não era comum, muito menos esperado, que um Don se expusesse daquela maneira — tocando uma flauta, numa noite tranquila, deixando transbordar sentimentos que, até então, todos julgavam que ele não possuía… ou que guardava sob camadas impenetráveis de poder e disciplina. Mas ali ele estava em família, e, para os seus, não se importava que eles vissem as suas fraquezas. Shiro, um dos braços direitos de Hideo, apertou os olhos, como quem tentava gravar cada nota daquela melodia na memória. Ao seu lado, um dos mais jovens soldados respirou fundo, sentindo uma estranha reverência crescer no peito. Jamais se esqueceria daquele dia, ainda mais sabendo quem era a pessoa que havia tocado a flauta com tamanha maestria. — Nunca o vi… assim. — murmurou Shiro, a voz quase inaudível. O soldado limitou-se a assentir, com o semblante sério, mas os olhos suavizados por uma compreensão rara. — Ele não quer ser como Haruki. — disse, como quem revela uma verdade que sempre soube, mas que, até aquele momento, não tinha plena certeza. A alguns metros dali, Yuki sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Aquele homem, que agora liderava com mãos firmes a organização, não tinha medo de mostrar quem era — e isso, para ele, era mais assustador e inspirador do que qualquer ato de força ou violência. — Ele não precisa provar nada a ninguém… — murmurou para si, com um meio sorriso que escondia um respeito silencioso. Hideo havia crescido sob a liderança rígida e calculista de Haruki, que nunca demonstrava emoção, nunca permitia qualquer fragilidade, tratando a sensibilidade como uma falha a ser reprimida. Agora, ali estava Hideo, novo Don, novo símbolo… e ele escolhia expor-se, escolhendo como primeiro gesto público não um ato de força, mas uma melodia de luto e de dor. Para muitos, aquilo foi desconcertante. Mas, para os soldados que o cercavam, aquilo era a demonstração de força e poder que eles almejavam em um líder, e, por isso, o respeito que tinham por Hideo apenas havia aumentado. Para todos, inesquecível. Ninguém ousou comentar em voz alta. Não ali, não naquele momento. O novo Don não seria como o antigo. E, estranhamente, isso os deixava mais seguros, mais leais… e, acima de tudo, mais temerosos. Porque um homem que não teme mostrar quem é… é alguém que ninguém pode destruir. — c*****o! — diz Aurélio, tentando manter a voz baixa. Ele havia ficado mais do que surpreso em ver aquele lado do seu amigo. — Nem me fale. — diz Charles, com os olhos arregalados. Ele não sabia explicar o que tinha sentido ao ouvir Hideo tocar, mas era algo profundo e intenso. — Ele está pronto. — diz Ricardo, com um suspiro satisfeito. — Como pode saber disso? — pergunta Estela, agarrada ao seu braço. — Nenhum homem que esteja despreparado faria isso. Ele está pronto para fazer o que precisa. — Ricardo não se enganava com aquelas coisas. Ele sempre tinha visto algo em Hideo que os outros não viam, e naquela noite isso tinha ficado claro. — Foi tão lindo. — diz Alícia, emocionada, ao lado de Nico. — Não chore, se lembre do bebê. — diz Nico, abraçando-a mais forte. Ele também tinha se sentido abalado com aquela melodia e, de certa forma, era como se tivesse se aproximado mais de Hideo através daquela música. Lentamente, como se obedecessem a um mesmo impulso invisível, os membros da Fênix começaram a se dispersar, silenciosos, respeitando aquele momento como quem deixa um templo após uma cerimônia sagrada. Mas, dentro de cada um deles, algo tinha mudado para sempre. Sayuri sai em silêncio atrás de Hideo. Ela o encontra no seu quarto, tentando remover o quimono que usava. Sem dizer nada, ela entra e fecha a porta, caminha até ele e, com cuidado, remove o seu quimono, expondo o seu torso aos seus olhos. — Acho que nunca ouvi uma melodia tão bonita em toda a minha vida. — diz em voz baixa, enquanto removia os curativos das suas feridas com cuidado. — Sempre amei tocar, e teve um tempo em que eu desejei ser músico. — diz ele, com um sorriso triste. — Ganhei algumas cicatrizes quando disse isso ao meu pai. As mãos de Sayuri vacilam; a cada dia que passava, ela descobria mais coisas sobre Haruki que a faziam ter profunda revolta por ele, mesmo ele já estando morto. Ela via uma doçura em Hideo que sabia que apenas ela e Mei conseguiam enxergar, mas naquela noite outras pessoas puderam ver e ouvir isso. — Agora você pode tocar, ninguém vai te impedir, Don. — diz ela, então sorri. — Já sei quem vai pôr nossos filhos para dormir no futuro. As palavras de Sayuri chamam a atenção de Hideo; ele se vira e a puxa para si. Sayuri arregala os olhos e segura os braços dele com força, sem entender o que ele queria. — Eu disse algo que… — Hideo a beija com força, uma das suas mãos envolvendo o pescoço de Sayuri com firmeza. Ele queria tê-la apenas para si, queria que o mundo parasse e apenas eles continuassem no mesmo lugar. A língua de Hideo invade a boca de Sayuri enquanto ele gemia, perdido em prazer. Ela era doce e quente, e, naquele momento, ele se via à beira de uma loucura enquanto a sentia pressionada contra o seu corpo. Sayuri correspondia ao seu beijo com o mesmo ardor, as suas mãos entrelaçadas no pescoço dele enquanto explorava a boca dele, perdida em desejo. — Se quer um filho para que eu toque flauta para ele, podemos resolver isso agora. — diz ele, pegando-a pela cintura e a jogando sobre a cama.
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