Sayuri permaneceu em silêncio por alguns segundos após a saída de Julia, o olhar fixo na porta recém-fechada. A sua respiração estava controlada, mas o fogo que ardia em seus olhos era evidente. Hideo se aproximou, pousando a mão suavemente no ombro dela.
— Precisamos agir rápido — disse ele, em tom baixo, mas firme.
Sayuri assentiu, apertando o punho fechado ao lado do corpo.
— Matteo, Vito… reforcem a segurança no galpão onde ela está sendo tratada. Se Masato descobrir que ela sobreviveu, pode tentar terminar o que começou. — A prioridade de Sayuri agora era garantir que ninguém soubesse que a mulher havia sobrevivido.
— Pode deixar, vou convocar o meu pessoal que está aqui, eles cuidarão disso — respondeu Matteo prontamente, já se levantando.
— Ele não vai passar por nós — completou Vito, saindo logo atrás, mas ele para na porta por alguns segundos e se volta para eles. — Mas, se passar, vou ter um bom motivo para usar a minha faca.
Sayuri voltou-se então para Hideo. Ela via nos olhos dele a mesma indignação que havia nos seus. Eles lutavam contra aquele tipo de crueldade, Hideo ainda mais do que ela, o que tornava as coisas um tanto quanto pessoais.
— Hideo… essa mulher pode ser a testemunha que esperávamos há anos. Se ela confirmar as suspeitas que temos sobre o tráfico de mulheres operado por Masato, será a nossa chance de acabar com ele e com Sora de uma vez.
Hideo concordou, cruzando os braços. Ele observava Sayuri com outros olhos; ela havia dado uma grande contribuição na busca deles, o que o deixava apreensivo e orgulhoso dela ao mesmo tempo.
— Você foi incrível e imprudente ao mesmo tempo — diz ele, suspirando e se aproximando dela, a envolvendo em seus braços. — Devia puxar as suas orelhas.
Sayuri olha para ele e cora, desviando o olhar. Ela duvidava que algum dia se acostumasse com aquele lado gentil de Hideo. Sayuri estava tão acostumada a brigar com ele por qualquer coisa que, quando ele agia diferente do que ela esperava, sempre ficava constrangida.
— Não pode ficar dizendo essas coisas. Já sou adulta e não preciso que você puxe as minhas orelhas — responde ela.
Hideo ri do bico que Sayuri faz. Ele se inclina até que os seus lábios estejam próximos da orelha dela.
— Acho que você vai gostar dos meus puxões de orelha — diz ele, se inclinando e dando uma pequena mordida no lóbulo da orelha dela, passando a língua sobre o lugar.
Sayuri sentia a respiração quente de Hideo na sua orelha, o que a fazia se arrepiar inteira. Aquele som a consumia completamente, fazendo-a arder.
— Viu? — diz ele, se afastando e sorrindo. — Eu disse que você gostaria do meu puxão de orelha.
Sayuri encara Hideo, sem acreditar na sua cara de p*u.
— Eu realmente não queria ter visto isso — diz Aurélio, em um canto, observando os dois.
Sayuri trava na hora. Ela se vira e encontra os olhos de Aurélio e Yuki sobre eles. As bochechas dela coram, e tudo o que ela desejava era que um buraco se abrisse e a engolisse por completo.
— Está vendo o que você fez! — diz ela, agarrando a orelha de Hideo com força.
— Ai, Sayuri! — diz ele, retirando a mão dela da sua orelha.
— Tarde demais para isso — diz Yuki.
— Vamos, Yuki, estamos sobrando aqui — diz Aurélio, cutucando o outro. — Agora eu sei o seu segredinho.
Hideo olhava, sem acreditar, a petulância de Aurélio.
— Hoje você volta comigo para casa, isso não está em discussão — diz Yuki, antes de sair com Aurélio ao seu lado.
— Seus danadinhos — diz ele, rindo na porta. Hideo pega um peso de papel e arremessa contra ele, mas ele já tinha fechado a porta.
Hideo encara a porta e começa a rir do que tinha acontecido. Ele estava agindo como um adolescente quando estava perto de Sayuri. Ele simplesmente se esquecia de onde estava e se deixava levar pelo momento.
— Não ria — diz Sayuri, brava.
— Você vai ser minha esposa, não me importo que os outros vejam nós dois juntos — diz ele, a puxando para si.
— Mas eu me importo — responde ela, se afastando. Quando ele tenta a puxar novamente, ela dá um tapa em sua mão.
— Sayuri — reclama.
— Nem comece, Hideo. Vou voltar com o meu irmão, e você se comporte — diz ela, enquanto caminhava em direção à porta.
— Espere! — diz ele, a detendo. — Não ganho nem um beijinho de boa noite?
Sayuri sorri e caminha até ele. A sua mão segura com firmeza o queixo dele, fitando-o com intensidade.
— Meninos malvados não ganham recompensa — diz ela, o soltando e fechando a porta atrás de si.
Hideo sorri. Ele estava totalmente refém de Sayuri, e gostava daquilo.
No momento em que Sayuri sai pela porta, ela encontra o olhar de seu irmão, mas ele não diz nada, apenas a acompanha.
— Não vai ficar? — pergunta Mei, a parando.
— Hoje não posso, Tia Mei. Meu pai deseja a minha presença em casa — responde ela.
— Eu entendo, tomamos muito do seu tempo — diz Mei. Ela tinha um olhar abatido sobre Sayuri, o luto ainda cobrando o seu preço sobre ela.
— Voltarei amanhã para saber como estão. Se precisar de mim, basta ligar — diz ela, pegando as mãos de Mei e dando um beijo.
— Oh, criança. Ficaremos bem, mas se cuide também — o carinho que Mei tinha por Sayuri crescia a cada dia que se passava. Ela só desejava que tudo terminasse logo e que Sayuri e seu filho pudessem aproveitar um ao outro.
— Se precisar de nós, sabe onde nos encontrar, senhora Shinoda. Espero que fique bem — responde Yuki, com uma pequena reverência.
— Obrigada, querido, se cuidem também — diz ela, abrindo a porta para eles.
Quando Sayuri sai para fora, seus olhos se escurecem, tudo o que tinha ouvido antes voltando à sua mente como uma onda.