A madrugada avançava lenta, tingindo o céu de um azul profundo e silencioso. No quarto, iluminado apenas pela luz suave do canto, Hideo sorria, rodeado por seus amigos mais próximos. As vozes se entrelaçavam em risos e histórias, como se o tempo tivesse congelado só para eles.
— Não caia na lábia dele, Sayuri. Ele estava fugindo de você na casa do Max, tempos atrás — disse Aurélio, rindo com a mão sobre o estômago. Hideo o encarava com olhos arregalados. — Não me olhe assim, sabe que estou dizendo a verdade.
— Eu sei disso. — Disse ela, fazendo os olhos dele se arregalarem.
— Estava me espionando? — Pergunta ele, com a sobrancelha arqueada.
— Você nunca deu um passo sem que eu soubesse, Hideo. — Disse ela, dando de ombros.
— Ela vai se dar muito bem com a Oksana. — Disse Max, cutucando Aurélio.
— Tem a suas recompensas ter uma mulher ciumenta, sabia? — Respondeu ele, com um sorriso sacana no rosto.
— Pode parar, não queremos saber mais nada. — Disse Klaus.
— Nem ia contar mesmo. — Disse ele, dando de ombros.
— Espere! Desde quando anda me espionando? — Perguntou Hideo, ignorando a dor que ainda o atingia. No momento, toda a sua atenção estava voltada para o que Sayuri lhe diria.
— Desde sempre, Hideo. Eu tenho os meus meios para ficar de olho em você, mas, algum tempo atrás, fiz um acordo com o Ricardo, então ele sempre me informa dos seus passos. — Respondeu ela, sem nenhum pingo de arrependimento no rosto.
Mei observava aquela conversa com um sorriso no rosto. Ver os olhos do filho arregalados ao perceber do que Sayuri era capaz lhe dava muita satisfação. Hideo tinha Sayuri como alguém que não se envolvia no mundo do crime, mas Mei sabia a extensão da influência da sua nora — algo que seu filho em breve descobriria.
— Realmente, ela se parece com a Oksana. — Disse Max, sem esconder o riso. — Pelo que vejo, alguém vai andar na linha.
— Não fale assim do nosso caçulinha, Max. Estamos aqui para defendê-lo — de todos, menos da Sayuri. — Aurélio ria, observando o rosto sério de Hideo. — Não faça essa cara, eu sei que você me ama.
— Vai, descansa um pouco — disse Mei, levantando-se. — Tem sorte de ter a Sayuri com você agora. Descanse bem.
Sayuri aproximou-se, sentando-se junto de Hideo com um olhar sugestivo. Os outros sorriram ao vê-los assim, tão naturalmente ligados.
— Está bem agora. É isso que importa — disse Klaus com tranquilidade, o seu rosto transbordando alívio, assim como os dos outros.
Ao descerem as escadas de madeira antiga, os passos quase não faziam som. Na sala, o aroma reconfortante do chá de jasmim já se espalhava. Hana e Kyota estavam à espera, cada um com uma bandeja entre as mãos, os olhos atentos e cansados.
— Sabíamos que iam descer — disse Hana com um pequeno sorriso. — Temos muito que decidir.
Kyota assentiu com um olhar grave.
— Não querem esperar os outros? — Perguntou Klaus, aceitando a xícara que Hana lhe oferecia. Mas, antes que ela respondesse, ele ouviu passos vindos da cozinha e da escada. Rapidamente, a sala se encheu com os outros membros da Fênix.
— Moreno! — Disse Oksana, sentando-se no sofá e chamando Aurélio. — Meus pés estão me matando.
Ao ouvir as palavras de Oksana, Aurélio correu até ela, sentando-se no chão à sua frente e pegando um dos seus pés nas mãos. Os outros olhavam aquilo com tranquilidade, mas Hana, Kyota e Matteo tinham os olhos arregalados ao vê-los.
— Já disse que não quero que se canse, Oksana. Você está carregando dois bebês, amor. Precisa se cuidar mais. — Disse ele, enquanto massageava os pés dela com delicadeza.
— Sabe que não consigo ficar longe de você. — Disse ela, rindo.
— Sei disso. E olha o resultado. — Disse ele, inclinando-se e dando um beijo na barriga dela. — Mas ainda quero que descanse. Podemos cuidar de tudo por aqui. Se quiser voltar para casa, ligo para o Nerone vir te buscar.
— Sabe que isso não vai acontecer, querido. Hideo é minha família, e vou ficar pelo tempo que ele precisar de mim. — Disse ela com tranquilidade. Aurélio bufou com as palavras dela. — Pense pelo seguinte: é uma forma de ter uma folga das suas cópias.
Aurélio caiu na risada com as palavras dela. Levantou-se e sentou-se no sofá, puxando-a para os braços, os seus olhos transbordando carinho pela mulher à sua frente.
— Eu estou mesmo vendo isso? — Perguntou Matteo a Ricardo, que estava ao seu lado com um sorriso discreto.
— Está. E ele esperou muito tempo por isso. — A maioria das pessoas naquela sala era testemunha do quanto Aurélio tinha esperado por Oksana. E tudo o que ele fazia por ela vinha do mais profundo do seu coração.
— Podem parar, vocês dois. — Disse Yuri, aproximando-se e tentando tirar Oksana do colo de Aurélio.
— Tira a pata, russo, ou arranco a suas mãos fora. — Disse Aurélio com olhos sombrios para Yuri.
— Você é insuportável. Ela é minha irmã, seu i****a! — Disse ele, jogando-se no sofá ao lado, frustrado.
— Eu sei, mas agora ela é minha mulher. Só minha. — Disse ele, com a sobrancelha arqueada.
— E eu que pensei que isso mudaria com o tempo. — Disse Síria, rindo da cara chateada de Yuri.
— Nunca! Essa loira gostosa é só minha. — Disse ele, com um sorriso descarado no rosto.
— Moreno! Não estamos em casa. — Disse Oksana, envergonhada.
Aurélio levantou os olhos e encontrou o olhar de todos sobre eles. Em um canto, observou Hana e Kyota, que se mantinham em pé, em silêncio.
— Desculpem se foi desrespeitoso, não era minha intenção. — Disse Aurélio, os encarando.
— Não se preocupe, Don Aurélio. Estão aqui para ajudar, e gostaria que pensassem em nossa casa como a de vocês enquanto precisarem. — Kyota transbordava gratidão, e, a cada novo detalhe que observava nas pessoas à sua frente, percebia que eles eram perfeitos para os ajudar. Tinham honra e amavam profundamente as suas famílias.