Saulo apertou o pedaço de papel entre os dedos, as mãos tremendo levemente. Os seus olhos varriam os números exorbitantes da nota fiscal, a fatura que confirmava a sua pior suspeita: Isabel havia escolhido um vestido que custava uma verdadeira fortuna. Mas o que mais o enfurecia não era apenas o preço, e sim os detalhes que transformavam aquele vestido em uma peça digna da realeza.
— Diamantes? Cristais? O que essa rapariga pensa que é? Uma imperatriz? — Rosnou, levantando-se abruptamente da cadeira de couro. O seu rosto enrubesceu de raiva enquanto ele jogava o papel sobre a mesa. — Eu sabia que ela ia querer algo exagerado, mas ISSO?! Isso é um insulto!
Caminhou de um lado para o outro do escritório, praguejando entre dentes. A cada passo, a indignação crescia dentro dele. A sua ideia era clara: uma cerimônia elegante, mas discreta. O vestido de Isabel deveria refletir a posição que ele acreditava que ela ocupava: a esposa de Cristiano, mas não uma rainha. No entanto, pelo visto, ela pensava diferente.
Uma gargalhada irônica ecoou pelo ambiente, interrompendo os seus pensamentos. Saulo girou nos calcanhares e encontrou Cristiano encostado no batente da porta, os braços cruzados e um sorriso de puro deboche nos lábios.
— Meu Deus, pai, olha para si mesmo! Está prestes a ter um colapso por causa de um vestido! — zombou ele, entrando na sala com passos lentos e calculados.
Cristiano estava amando aquilo, ver o seu pai estresado era algo que valia cada centavo do vestido de Isabel. Cristiano desprezava Saulo e em breve ele sentiria toda a força do seu desprezo.
Saulo estreitou os olhos, analisando a postura relaxada do filho. Cristiano sempre foi um homem contido, cuidadoso com as palavras, um reflexo do próprio Saulo. Mas agora, ali, ele parecia diferente. Havia uma arrogância incomum na sua expressão, algo quase desafiador.
— Isso não é apenas um vestido, Cristiano. É um absurdo! Essa mulher está gastando dinheiro como se fosse água! Você não vê o problema nisso?
Cristiano riu novamente, dessa vez mais baixo, quase como se estivesse se divertindo com a indignação do pai.
— Sabe o que é realmente absurdo, pai? O senhor ficar aí se lamentando como um velho sovina. Estamos falando do casamento da minha vida. Isabel merece o melhor, e se isso significa gastar alguns milhões em um vestido, então que assim seja. Eu quero que ela brilhe.
A firmeza na voz do filho fez Saulo recuar por um instante. Desde quando Cristiano falava com ele dessa forma? Com tanta... insolência? Havia um brilho nos olhos do rapaz, um brilho intenso, quase febril. Saulo conhecia aquela expressão — a obsessão mascarada de amor.
— Você não percebe, não é? — Murmurou, cruzando os braços. — Você está tão cego por essa mulher que não vê como ela está se aproveitando. O casamento ainda nem aconteceu e já estamos aqui, com uma fatura ridícula por um vestido.
Cristiano inclinou a cabeça, o sorriso permanecendo. O seu pai era um inútil mesmo, não via que depois que Isabel o aceitasse eles teriam muito mais com a fortuna dos Romano, eles estavam sacrificando pouco perto do que ganhariam com aquele casamento.
— Não me interessa, pai. Se Isabel estiver feliz, eu estou feliz. E, sinceramente, o senhor devia se preocupar menos com dinheiro e mais com o fato de que, em breve, essa família vai mudar. Gostando ou não.
Saulo franziu a testa, sentindo um calafrio percorrer a sua espinha. Havia algo em Cristiano que o inquietava. Algo que ele não conseguia nomear. Mas, pela primeira vez, ele sentiu que talvez estivesse perdendo o controle do próprio filho. Os olhos que o encaravam não eram mais do garoto que cresceu agarrado a suas mãos, era de alguém que era imprevisível e aquilo o assustava.
— Parece que você se esqueceu dos termos do contrato Cristiano, então é melhor sair desta folha que esta vivendo. — Os olhos de Cristiano se escurecem ao encarar o seu pai, ele não gostava de ser lembrado de algo que só lhe traria desgosto.
Cristiano já tinha planos para se livrar de Vito e depois disso Isabel seria apenas sua, e aquele contrato ridículo que ela o tinha obrigado a assinar não significaria nada para ele, tudo poderia ser mudado desde que se tivesse dinheiro e isso em breve não seria mais um problema.
— Cuidado com a suas palavras papai, vou lidar com isso depois que estiver casado com ela, Isabel não terá Vito para sempre ao seu lado, em breve ela entendera o que significa ser milha mulher.
— Acorde Crsitiano! Aquela mulher jamais o aceitará, ainda mais se você der fim ao pai dela. — Responde Saulo rindo.
Cristiano cerra os punhos se concentrando para não fazer uma besteira, ele sabia que o seu pai estava apenas o irritando, mas desta vez ele não conseguiria ele focaria no que era mais importante, que era conquistar Isabel e mantê-la ao seu lado.
— Não sei por que esta me ajudando se pensa desta forma papai, Isabel será da família e desejo que ela seja tratada como ela merece.
— Oh ela será, ao menos enquanto precisarmos dela. — E lá estava aquela ameaça silenciosa que Cristiano sabia bem o seu significado, mas ele não permitira, o seu pai estaria morto antes que ele pudesse tocar em um único fio do cabelo de Isabel, ela era sua, e apenas ele poderia tocá-la.
Saulo sabia que o seu filho estava levando aquela história a sério de mais, eles já tinham um plano em mente e não poderia fugir ao que já tinham planejado com antecedência. Havia muito em jogo, coisas que Saulo não abriria mão, a sua vida dependia daquele acordo, se não conseguisse firmá-lo, ninguém conseguiria salvar a sua família da ira de um inimigo que ele havia feito.
— Apenas se lembre meu filho de tudo o que esta em jogo, não é apenas a sua vida que corre risco. — Aquelas palavras foram ditas de forma ríspida antes que Saulo saísse da sala.
— Ah papai. — Diz Cristiano com um sorriso no rosto quando estava sozinho. — Se soubesse o que te aguarda não estaria preocupado com Malagutti.