Capítulo 03 : Lealdade e Medo

1219 Words
Draco Traição. A palavra soava como veneno nos meus ouvidos, mais cortante que qualquer lâmina. No meu mundo, lealdade não era uma escolha; era uma necessidade. Uma exigência imposta com mão de ferro. E quem ousava quebrar essa regra fundamental rapidamente descobria o que acontecia quando se traía a confiança de um homem como eu. Eu sabia o preço da traição, e Paulo, infelizmente, estava prestes a aprender também. Estávamos no topo, e no topo não havia espaço para fraquezas. No topo, qualquer deslize, por menor que fosse, custava vidas. E Paulo cometeu um erro imperdoável. Há anos ele era um dos meus homens de confiança, responsável por manter a segurança em um dos pontos de venda mais movimentados, garantindo que tanto o dinheiro quanto a mercadoria fluíssem sem problemas. Ele estava comigo desde o início, desde os tempos em que m*l tínhamos como nos sustentar. Isso tornava tudo mais amargo, mais c***l. Mas, como sempre, a ganância falou mais alto. As notícias chegaram rapidamente. Paulo estava desviando dinheiro. Vendendo drogas por fora, na surdina, como se fosse esperto o bastante para achar que eu nunca perceberia. Foi um erro grave. Eu tinha olhos em todos os cantos, e quando a informação chegou a mim, vinda de fontes confiáveis, eu soube imediatamente que Paulo já estava morto. Ele só não sabia disso ainda. Marquei a reunião no galpão. Era um lugar que eu usava para armazenar nossas armas e, ocasionalmente, para encontros mais... pessoais. Aquele espaço era frio, impessoal. Perfeito para mandar um recado claro e direto, sem distrações. As paredes descascadas, o cheiro metálico de ferrugem no ar, a luz fraca que m*l iluminava os cantos — aquele ambiente fazia com que qualquer um se sentisse pequeno. E era isso o que eu queria. Quando Paulo chegou, ele não fazia ideia do que estava por vir. Havia um sorriso confiante no rosto dele, a típica arrogância de quem pensa que está no controle. Ele não sabia o que eu já sabia. Isso me deu tempo para observar, para avaliar a sua reação. Os outros homens estavam ali também, em silêncio, atentos ao desenrolar da situação. Sabiam que algo estava para acontecer, mas ninguém ousava dizer uma palavra. — Paulo, vem cá — eu disse, acenando para ele com a cabeça. Ele se aproximou sem hesitar. Quando estava a poucos metros de distância, eu me levantei. Eu sempre era o último a se levantar nas reuniões. Aquele pequeno gesto mostrava quem tinha o controle. Era uma tática simples, mas eficaz. A mensagem era clara: quando eu me mexo, o jogo muda. — Sabe por que eu te chamei aqui? — perguntei, minha voz calma, porém carregada de uma ameaça velada. Paulo parou, confuso. O sorriso que antes estava no rosto começou a vacilar. Ele franziu a testa e me olhou com uma expressão estranha. — Não, chefe. Tem algo errado? — A voz dele tremia levemente, mas ele ainda tentava manter a compostura. O silêncio que se seguiu foi sufocante. Os outros homens observavam, sabendo exatamente o que estava prestes a acontecer. Paulo, por outro lado, ainda estava no escuro. Ainda pensava que de alguma forma poderia sair daquela situação. — Há quanto tempo você trabalha pra mim? — perguntei, encarando-o com os olhos fixos nos dele. — Cinco anos, chefe. Talvez seis — ele respondeu, engolindo em seco. O sorriso agora havia desaparecido completamente. Ele começava a perceber que a situação era muito mais grave do que imaginava. — Cinco anos… — eu repeti, deixando o silêncio crescer novamente. — E nesses cinco anos, você achou que podia me roubar. Achou que eu nunca descobriria. Foi como se eu tivesse arrancado o chão sob os pés dele. A expressão de Paulo mudou instantaneamente. O medo tomou conta de seus olhos, substituindo a confiança que ele exibia minutos atrás. Ele começou a gaguejar, tentando formar uma desculpa apressada. — Não, chefe… você tá me entendendo errado… eu nunca faria isso… — ele começou, a voz tremendo. O suor já escorria por sua testa. Eu dei um passo à frente, cortando a distância entre nós. Ele tentou desviar o olhar, mas eu segurei seu rosto com força, forçando-o a me encarar. — Você acha que eu sou burro, Paulo? — perguntei, com o tom frio como uma lâmina. — Acha que eu não saberia? Eu sei de tudo. Eu recebo relatórios, tenho testemunhas. E, acima de tudo, eu confio nos meus próprios olhos. E eles estão me dizendo que você está mentindo na minha cara. A essa altura, Paulo estava tremendo como uma folha ao vento. O suor agora escorria livremente pelo rosto dele. Ele olhava ao redor, como se procurasse uma saída, uma salvação, mas não havia escapatória. A armadilha estava montada, e ele já estava preso. Eu o empurrei para longe, soltando seu rosto com força. Ele cambaleou para trás, quase caindo no chão. — Chefe, por favor… foi um erro… eu posso consertar! — Paulo implorou, com os olhos suplicando por misericórdia. Mas eu não tinha misericórdia para traidores. Não havia espaço para isso. Quando você está no topo, precisa fazer o que for necessário para manter sua posição. E naquele momento, era necessário fazer um exemplo de Paulo. Dei um sinal com a cabeça para Gabriel, que imediatamente foi até o canto do galpão e pegou um saco de lona preto. Ele o abriu, revelando um taco de beisebol de alumínio. Esse era o meu método preferido para lidar com traições. Eu gostava da violência. Gosto da dor que causa medo, gosto da lição que fica gravada nas mentes dos outros. Paulo caiu de joelhos, as lágrimas escorrendo por seu rosto. Ele estava perdido. — Por favor, Draco… por favor… eu faço qualquer coisa! — ele implorava, quase incoerente. Eu levantei o taco de beisebol com as duas mãos, sentindo o peso confortável na palma da mão. Olhei para os outros homens, que assistiam em silêncio, suas expressões variando entre o medo e a compreensão. — Isso é o que acontece quando alguém me trai — eu disse, minha voz ressoando nas paredes do galpão. O primeiro golpe foi forte e rápido, acertando as costelas de Paulo com um estrondo. O grito dele ecoou pelo espaço, mas eu não parei. O segundo golpe foi na perna, seguido por mais um nos braços enquanto ele tentava se proteger inutilmente. Cada impacto era uma declaração de poder, uma lembrança de que traição nunca seria tolerada. — Isso… é o que acontece… quando você… me rouba! — gritei entre os golpes, cada palavra acentuada pela violência do metal contra a carne e os ossos de Paulo. Ele não conseguiu mais gritar. Os gemidos fracos e os soluços sufocados foram o que restaram. Quando finalmente terminei, larguei o taco no chão. O sangue escorria pelo concreto, e o corpo de Paulo estava irreconhecível, destruído pela minha fúria. Virei-me para os outros homens, que agora observavam em silêncio mortal. Eles sabiam que aquilo não era apenas sobre Paulo. Era uma mensagem para todos ali presentes. — Alguém mais aqui tem algo a esconder? — perguntei, minha voz carregada de ameaça. O silêncio foi a única resposta. Saí do galpão, sentindo o ar frio da noite encher meus pulmões, enquanto o peso da traição de Paulo finalmente se dissipava de meus ombros.
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