No ano de 2002, conquistei uma vaga pelo
CIEE para atuar como professora na Escola de Educação
Infantil Raio de Sol, com uma turma de dezesseis
crianças da pré-escola. Uma delas tinha síndrome de
Down. Essa oportunidade me deixou muito feliz e
realizada, pois tinha o dom de desenhar facilmente e
pintar perfeitamente. Decorei todas as salas de aula e
procurei colocar em prática o que aprendia diariamente
na faculdade.
Agradeço à professora e diretora Tânia Pressotto
pela oportunidade e confiança. Aprendi muito com os
conselhos dela e posso dizer que devo parte do
profissional que me tornei a ela. Entendi que ninguém
sabe tudo e que podemos aprender uns com os outros.
Crianças são seres iluminados que têm o dom de
transformar nossas vidas, nos fazendo enxergar o mundo
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de forma diferente, sem julgamentos, competições,
apenas vivendo de forma leve e tranquila.
Esse ano foi intenso e desafiador em minha vida,
mas, ao mesmo tempo, maravilhoso. Comecei a atuar
em sala de aula e iniciei um namoro com um antigo
colega do ensino médio, um “famoso nerd” detestado
por nós do grupo do fundão. A vida, no entanto, nos
reservou surpresas, e em dezembro de 2001, durante o
tradicional baile de natal na linha Cachoeirinha, no
município de Engenho Velho, minha percepção sobre
ele mudou. Passamos a noite juntos e, meses depois,
começamos a sair e, finalmente, a namorar.
Foi com ele que compartilhei vinte anos da
minha vida, entre altos e baixos, alegrias e tristezas. Em
2002, fomos morar juntos no município vizinho de
Novo Xingu. Eu dava aulas para o pré e, no ano seguinte,
dava aulas de informática durante o dia, enquanto à
noite frequentava a faculdade.
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Durante quatro anos e meio, trabalhei o dia
todo e estudei todas as noites de segunda a sexta-feira. O
percurso de duas horas para ir e voltar era muitas vezes
feito apenas com o almoço, pois não dispunha de
dinheiro para comprar lanche na faculdade. Levava algo
para comer no ônibus indo e, por falta de recursos,
raramente participava das festinhas no ônibus.
Procurava sentar nos primeiros bancos para estudar,
indo e, quase sempre, voltava dormindo.
Em julho de 2003, descobri que estava grávida e,
devido à gravidez de risco, passei a fazer meu curso de
graduação a distância naquele semestre. Em 2004, dei à
luz uma menina com apenas 32 semanas de gestação, na
cidade de Passo Fundo. O parto foi normal, e aquele
olhar da minha filha, Milena, marcou o início da nossa
história de cumplicidade entre mãe e filha. Ficamos uma
semana no hospital até ela ganhar peso, e então
recebemos alta.
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Entrei em licença maternidade na faculdade por
seis meses, realizando as atividades da graduação em casa.
Quando chegou o dia de voltar presencialmente, foi
dolorido deixá-la, nossa primeira separação. Minha mãe
cuidava dela para que eu pudesse concluir a faculdade.
Com o tempo, fui me acostumando, e enfrentei os
estágios e o TCC enquanto cuidava da casa, da filha, dos
estudos e do marido. No final, tudo deu certo, e em 23
de julho de 2005, me formei como Pedagoga, um dos
dias mais felizes da minha vida.
Eu paro na boca e me lembro daquela noite.
Flash black onn
— Vai me m***r Yan,? – Antonio fala me encarando enquanto eu aponto a arma para ele – Me diz, vai me m***r, vai m***r seu irmão?
— Agora eu sou o seu irmão, seu filho da p**a? – eu pergunto para ele – Porque antes você disse que jamais me consideraria seu irmão.
— Está nervoso – ele fala – porque Mayane teve um filho meu e não seu – ele fala sorrindo
— Um filho no qual jamais vai te chamar de pai.
— Mas vai sempre levar o meu sangue nas veia dele – ele fala – supostamente, o que você tanto queria não era, era que Anjinho fosse seu filho e não meu!!!
— Eu criei ele como meu filho – eu falo para ele – e isso nem você irá mudar, nunca – Antonio começa a rir.
— Sabe o que eu me lembro daquela noite? – ele pergunta
— Ela me implorando para parar porque era mulher do meu irmão – eu o encaro – mas eu não me importei – ele abre um sorriso – porque eu queria aquilo, eu queria ver ela me implorando, eu queria ter ela, queria ter a mulher do meu irmão para mim.
Quando ia apertar o gatilho, diversas viaturas da policia se aproxima , as luzes na nossa cara, Antonio foge no carro e eu subo na moto indo atrás dele e automaticamente a policia também.
Flash black off
Eu bato a caneta diversas vezes na mesa e depois disso, aquele filho da p**a foi dado como morto. Mas ele não estava morto, ele estava vivo e cada vez mais eu estava trazendo ele para perto de mim. E a hora dele pagar por tudo ia chegar.*
Caio entra na boca e me encara com um sorriso no rosto.
— A presa mordeu a isca – eu falo
— Como? – eu pergunto
— Olhe com os seus próprios olhos – ele fala me encarando – as presas morderam a isca.
— Perfeito – eu falo dando um soco na mesa comemorando – está tudo próximo do fim, eu esperei tanto por esse dia!!!
Alguns dias se passaram e eu me mantive firme no meu proposito aqui dentro, até porque ele tomou outros caminhos completamente desde a última mensagem, sem medo nenhum, estacionei o carro na frente da minha casa, Carla que estava regando as plantas me encara, eu desço e vou até ela.
— Bom dia minha irmã – eu falo para ela – eu vim até aqui te fazer um convite.
— Qual seria Serena? – ela pergunta.
— Quero visitar o tumulo do papai e da mamãe, você vem comigo? – ela me encara um pouco sem entender o meu convite mas eu tinha o motivo certo para isso.
— Eu posso trocar de roupa? Você me espera.
— Claro, eu te espero na sua sala.
— Na minha sala?
— Sim – eu respondo
— Ok.
Entramos e ela me deixa na sala e vai até o quarto trocar de roupa, eu olho para todos os cantos da casa e vejo uma planta, pego as mini câmeras e os mini microfone e coloco ali e em outra planta em outro canto da sala, depois me sento no sofá de pernas cruzadas e fico olhando uma foto dos nossos pais com a gente que ela tinha na sala, pego o porta retrato na mão e fico encarando ele.
— Estou pronta – Carla fala
— Vamos? – eu pergunto
— Sim.
— Vamos no meu carro? – eu pergunto
— Pode ser ou podemos ir um em cada carro
— Vamos juntas – eu respondo – é melhor, depois te trago, tenho que pegar umas coisas no meu carro.
Ela concordou e vamos conversando pouco durante o caminho, era cerca de 5min, quando chegamos no cemitério, arrumamos as flores, acendemos vela e fizemos uma oração para eles, fico em silencio olhando para o tumulo.
— Você era muito jovem quando eles morrarem – ela fala – tive que ficar com toda a responsabilidade para mim.
— Eu tinha 17 anos – eu respondo para ela
— Ainda era uma menina – ela responde – eu tinha 27 – ela fala – tive que pegar tudo para mim.
— Eu sei que você ficou sobrecarregada.
— Eu fiz tudo que eles sempre quiseram – ela fala me olhando – fiz você uma pessoa formada, com profissão, honesta, eles tem orgulho de você, você casou, criou uma vida.
— Meu marido está morto – eu afirmo
— Mas não deixou de casar e ser feliz.
— Você ainda é nova Carla – eu falo para ela – eu sinto que diexei a minha vida de lado para viver você e sabe o que me deixa mais nervosa?
— O que? – eu pergunto para ela.
— Foi a divisão da herança – ela responde
— Sempre achei que a divisão tinha sido 50% para cada, como segue a lei.
— É claro que foi – ela fala sorrindo – eu digo que a divisão foi o que me deixou nervosa porque queria os meus pais vivos.
— Eu também queria, injusto terem morrido naquele assalto – eu falo para ele – por causa de ganancia, não acha?
— É – ela responde me encarando – injustiça de mais.
Ela fala estática olhando para o tumulo e eu a encaro.