- Capítulo Três "Abandonados"

3536 Words
O pôr do sol já estava quase consumado e a escuridão começava a se alastrar pelas ruas de Palmares. A quantidade de infectados diminuiu bastante em relação ao que tinha antes da batalha no condomínio e só uns quarenta a cinquenta estavam perambulando pela frente do local onde se abrigaram Lucas e Sabrina. Mais dois sobreviventes do m******e da Colina dos Perdidos. Lucas fez de tudo para ajudar Isaac, porém foi encurralado por dezenas de monstros e teve que pular o muro para fugir, senão morreria destroçado. Já Sabrina fugiu por conta própria depois de lutar até a exaustão, após ver que tinham perdido a guerra. A farmácia onde os dois tinham se abrigado provisoriamente era no coração de Palmares, o mais perto possível do centro, onde tinha a maior concentração de infectados. Na entrada do local tinha uma porta corrediça que se fechava com um cadeado ao qual (por sorte) eles acharam a chave. No interior havia um imenso balcão, prateleiras recheadas com medicamentos, utensílios, suplementos e entre outros objetos encontrados em farmácias. O melhor de tudo, além da localização de difícil acesso, era a questão dali ser uma farmácia pequena e irrelevante, com isso se passava despercebido aos olhos de forasteiros e saqueadores. Para complementar, Lucas destruiu a placa da entrada da farmácia, evitando com que atraíssem atenção indesejada. — Lucas? — chamou Sabrina, sentada em um colchonete estirado no chão do primeiro andar do estabelecimento. O rapaz, que estava encostado em caixas de papelão onde tinham diversos objetos, fixou os olhos na moça e esboçou um sorriso gélido. — Cara... você não pode ficar assim... o que aconteceu, aconteceu! Você sabe pelo que passei e mesmo assim decidi seguir em frente! — disse ela, referindo-se ao estupro. Um silêncio de alguns segundos foi imposto entre os dois. Lucas passava a mão lentamente sob a chama da única vela acesa da farmácia, como se estivesse brincando com o fogo. — Eu nunca vou superar isso. Sei pelo que você passou e te admiro muito por ter conseguido seguir em frente, mas o que fizeram com nossos amigos... foi bárbaro... eles... massacraram a sangue frio! Sabrina suspirou e abraçou os próprios joelhos, chegando a enterrar o queixo no meio das pernas. — Cara... eu não sei nem o que dizer, porém deveríamos agradecer por estarmos vivos... — comentou ela, entristecida. Lucas sentiu uma pontada de raiva lhe atordoar. — Agradecer? Por isso? Toda essa tragédia? Eu preferia morrer do que viver assim... já se passaram seis meses, a porra de SEIS meses e NINGUÉM deu um único sinal de vida. Eu não sei o que aconteceu com Luiz, com Isaac, com Bruno e muito menos sei o que aconteceu com o ônibus de fuga. Nós tentamos! Fomos até aquela merda de corpo de bombeiros, mas não tinha nenhum sinal de que estiveram por lá! Ou eles foram mortos ou então fugiram para sempre! Eu amava aquelas pessoas, cada um deles. Tratava Isaac como um irmão mais velho, Luiz como o líder respeitado, Amara como uma tia e Carla como a mulher mais foda que eu já conheci! E de repente... tudo foi pelo ralo! Eu tento não pensar nisso, mas acho que todos morreram... — confessou Lucas, enchendo os olhos de lágrimas e tentando disfarçar. Ele abriu a boca novamente para dizer algo, porém percebeu que sua voz falharia e resolveu ficar em silêncio. Sabrina sentiu pena do rapaz e lembrou que o lutador não tinha mais que vinte anos. Era um homem inexperiente, recém-saído da adolescência e que estava passando por um turbilhão de problemas. Porém a vida era assim agora: ou você amadurecia ou caía e apodrecia. Lucas precisava entender que isso não era um conto de fadas. — Não fique assim... pelo menos não estamos sozinhos. Eu agradeço a Deus por ter te encontrado no meio do caminho, pois se eu tivesse só, enlouqueceria. Vamos ter paciência e esperar pelo que a vida nos separa... Deus não vai nos abandonar agora! Tenho certeza... — afirmou ela, tentando ser otimista. O lutador parou de brincar com a chama da vela foi para o seu colchonete também, que ficava perto de Sabrina. A mulher estava vestindo um short rosa claro de algodão e uma camisa de alças também rosa. Ela se virou para Lucas e olhou bem no fundo de seus olhos. — A vida está uma merda do jeito que tá, mas cabe a nós melhorarmos essas condições. Eu sonho com o dia que estaremos em uma grande e organizada comunidade, em que todos se respeitem e existam leis para serem cumpridas rigorosamente. Isso pode ser pedir demais, contudo creio que um dia alguém vai reerguer a humanidade. Só nos resta sobreviver até chegar a hora certa... Lucas sorriu e se deitou também, fixando o olhar na única iluminação da obscura farmácia. Ás vezes algum infectado batia de leve na porta corrediça do térreo pelo lado de fora, assustando os sobreviventes, porém sem oferecer nenhum risco. — Tem hora que penso que deveríamos ir até Tamandaré. Me lembro bem que o combinado foi esse caso tudo desse errado… — comentou Lucas, que trajava um short preto com uma camiseta branca de tecido leve. — Seria arriscado e além do mais, ao chegarmos lá, o que faríamos? Quais as chances de encontrarmos nosso grupo, se ainda estiverem vivos? Ou pior: e se dermos de cara com um grupo pior que o do Coronel? As possibilidades são tantas… — observou Sabrina, entristecendo ainda mais o homem. Os dois permaneceram com os olhos abertos por alguns instantes, mas logo foram começando a se entregar. Lucas foi o primeiro, apagando de vez. Já Sabrina se virou e ficou encarando o rapaz. Ela estava a cada dia mais se sentindo atraída por ele. No fundo sabia que Lucas não iria querer nada com ela por conta da sua paixão por Luíza. Só que para ela Luíza havia morrido, então teria chances com o garoto. A convivência a dois tinha causado esse efeito. A solidão e a carência ia tecendo os sentimentos aos poucos. — Boa noite! Deus te abençoe... — falou ela, beijando a testa do adormecido Lucas de leve. E ele permaneceu ali, dormindo como uma pedra, enquanto que Sabrina passava as mãos nos seus cabelos. Luíza não gostaria se soubesse disso. Porém não tinha acontecido nada entre os dois. E nem tinham como saber se tinha alguém vivo do grupo deles. ... Júlia também tinha sobrevivido ao m******e. Ela tinha levado um tiro no rosto no meio da confusão, mas o disparo atingiu de raspão a sua bochecha, causando um ferimento superficial. Ela esperou que a horda de infectados diminuísse para poder escapar, tendo a sorte de não ser encontrada pelos soldados do Coronel. A mulher, após algum tempo, começou a seguir os rastros do ônibus de fuga à procura de sua filha, Luíza. Porém não teve sucesso e foi obrigada a seguir seu rumo por conta própria, entrando em depressão. O tempo passou e o que mais cercava os pensamentos de Júlia era a vontade de se suicidar. Na verdade esse era o primeiro pensamento que qualquer ser humano tinha quando perdia tudo abruptamente. Só que o destino foi gentil com ela: quando chegou na cidade de Água Preta/PE, esbarrou em um pequeno grupo de sobreviventes, que a amordaçaram no começo e fizeram várias perguntas. Alguns relutaram a acreditar na história de Júlia, contudo, algum tempo depois, foram se agradando dela e começaram a confiar na mulher. O grupo era formado por cinco membros (contando com a própria Júlia): Abner Ferreira, Marcos Rocha, Noemi Rocha e Mariana Rocha (ambas filhas de Marcos). Abner era o “líder” daquela pequena equipe. Ele era alto, pardo, robusto, tinha mais de quarenta anos, barba e cabelo loiro escuro, usava óculos por causa de sua forte miopia e aparentava sempre estar bravo. O mais incrível de tudo era que Abner não era ignorante, mas sim uma pessoa bem tranquila e até mesmo engraçada. Nascido em um dos engenhos do caminho de Catende, Abner adorava andar de cavalo e passou toda a sua infância e adolescência trabalhando no campo junto com o pai, até que decidiu começar a estudar tardiamente, ingressando na faculdade de Agronomia e parando no quarto período (por culpa do surto de Lyssadyceps). O homem não tinha filhos nem esposa, vivia em festas e bebedeira, só foi se dar conta de que isso não o sustentaria tarde demais, e agora teria que se virar nesse mundo apocalíptico do jeito que dava. Marcos era pai de duas garotas e sempre foi trabalhador e sofredor. Era um comerciante, dono de um mercado mediano dentro de Água Preta e vivia para trabalhar e cuidar das meninas. Ele perdeu a esposa em um trágico acidente de moto, onde os dois derraparam na pista molhada e se machucaram gravemente (até hoje Marcos tem sequelas daquele dia, que prejudicou sua perna direita a ponto de fazê-lo mancar eternamente). Foi sofrido, porém o rapaz conseguiu aguentar a barra, tudo por causa de suas filhas. Marcos era bem magro, branco, calmo, de estatura baixa, inteligente, tinha quase cinquenta anos, cabelos curtos e pretos com vários fios brancos e extremamente quieto, dando sua opinião somente quando exigido. Era quase impossível arranjar confusão com uma pessoa assim, só que isso tinha um lado ruim: por ele ser fraco, precisava muito da ajuda de Abner, tornando-se dependente do rapaz. Por sorte eles eram amigos, chegando a se conhecer até mesmo antes da infecção. Já Noemi e Mariana eram duas moças ainda jovens. A mais velha, Noemi, tinha quinze anos, cabelos pretos ondulados na altura da cintura, olhos castanhos, era relativamente baixa para a sua idade e tinha pele clara. Noemi sempre foi a “cabeça” da casa desde que sua mãe morreu, ajudando seu pai com os negócios, compras, vendas, a arrumar o lar etc. Isso foi de bastante ajuda, pois no começo Marcos entrou em uma profunda depressão e só saiu por causa das meninas. O único defeito grande que ela tinha era o de odiar receber ordens e ser muito explosiva, mas isso era por causa da idade também. Mariana Rocha, a filha mais nova de Marcos, era o tipo de garota que estava por fora de tudo, tanto por culpa da superproteção dada pelo pai, quanto por ser desligada mesmo. Ela tinha cabelos pretos encaracolados na altura do ombro, pele parda e, por incrível que pareça, tinha a altura da irmã, mesmo com somente doze anos. A maior qualidade de Mariana era sua doçura e falta de medo, tornando-a importante mesmo na sua idade, já o maior defeito poderia se resumir a uma coisa: imprudência, tudo isso por culpa da falta de medo. Esse grupo se conhecia a mais ou menos uns três meses, e todos ficaram chocados ao saber o que aconteceu com as pessoas do Colina dos Perdidos. Abner, o líder que não aceitava ser chamado de líder, decidiu que eles não iriam mais pelas bandas de Palmares e por incrível que pareça falou com todos e entraram em um acordo para se mudarem rumo a Recife. Segundo ele, lá teriam uma chance maior de sobreviver, por ser perto da praia, ter muitos locais para se esconder e abrigar, entre outros detalhes importantes. Nesse momento, os sobreviventes estavam se preparando para sair de Água Preta. Só que para falar a verdade, não existiam mais locais seguros. Recife era o pior de todos eles, por ser uma cidade superpopulosa. A Lyssadyceps só iria descansar quando aniquilasse até mesmo o último ser humano vivo. Ninguém escaparia dessa tormenta. ... — Bom dia, Júlia! — cumprimentou Abner, colocando duas mochilas cheias de roupas e suprimentos na caçamba da caminhonete. — Bom dia! Você precisa de ajuda com alguma coisa? — indagou ela, encostando os braços na caminhonete Frontier de quatro portas. — Não, está tudo bem. Falta só o pessoal trazer o resto das coisas que partiremos! Júlia sorriu amigavelmente e voltou para dentro da casa em que eles estavam se abrigando provisoriamente. As ruas de Água Preta eram desertas e sujas. Provavelmente nos primeiros dias de infecção teve muito tumulto, pois corpos dilacerados e já há muito tempo apodrecidos pairavam no meio da cidade como se fizessem parte da ambientação. O mato crescia com força naquela região e a óbvia falta de manutenção nas ruas criava um clima de abandono e solidão. Para piorar tudo, o sol tinha se escondido no meio das nuvens, anunciando que a qualquer momento iria chover. — Já é quase meio dia... planejo partir o quanto antes, mas aí é com vocês também! — disse Abner, coçando a barba. Marcos estava saindo da casa de muro branco com mais duas mochilas e se dirigindo à traseira da caminhonete. Noemi e Mariana vinham logo atrás dele. — Eu concordo. Ficar aqui é perda de tempo, já estamos desde que tudo começou sem notícias. E se Recife tiver algum grupo maior e que cuide das pessoas? E se lá o governo ainda resistir? — Você ainda tá nessa, Marcos? Me poupe... — alfinetou Júlia, chateando o rapaz. — Pai, eu concordo com Júlia, as coisas não devem estar tão boas por lá quanto por aqui, mas se é pra onde você vai, eu vou junto! — avisou Noemi, pegando na mão do pai. Mariana sorriu, concordou com um gesto de cabeça e abriu a porta traseira direita da Frontier, entrando logo em seguida. Os demais entraram no veículo também, ficando Abner no volante, Júlia ao seu lado, Marcos, Noemi e Mariana atrás. Depois de dar a partida, eles foram em direção ao esquisito. Não sabiam como a estrada estava e nem se iriam chegar, mas passar o resto de suas vidas ali, segundo eles, não seria algo agradável. Em poucos minutos a Frontier já tinha alcançado a rodovia estadual em direção à Recife. Durante o trajeto Júlia só conseguia pensar no passado. Em como as coisas saíram do controle em tão pouco tempo, na vida que tinham e, principalmente, em Luíza, sua filha. O que aconteceu com ela? Será que ainda estava viva? Impossível saber naquele momento. A velocidade da caminhonete era baixa, e Abner desviava de vários obstáculos da pista (como árvores derrubadas, corpos apodrecidos, carros abandonados etc). Júlia encostou a cabeça no vidro fumê e deixou algumas lágrimas caírem. O motorista ainda tentou balbuciar alguma coisa para consolar a mulher, porém decidiu permanecer calado e continuar dirigindo com cautela, porque nada que ele dissesse iria confortar o coração dela. O que aconteceu com Júlia foi drástico demais. Passar por tudo isso e... sobreviver… enquanto que seus amigos morreram ou desapareceram. Perder sua filha... Sua amada filha linda, na melhor idade de todas... simplesmente era algo inimaginável. E para piorar Júlia sentia que não devia ir embora de Palmares. Seu coração de mãe avisava que ela deveria permanecer ali. Porém não tinha mais o que fazer: ou ia com o grupo, ou voltava sozinha. Então Júlia fechou os olhos e começou a orar. Seria o que Deus quisesse. — Pessoal… que porra é isso? — indagou Abner, pisando no freio ao ver que toda a rodovia duplicada estava interditada. Júlia, que quase dormira, abriu os olhos lentamente e se assustou com o que viu. Um imenso caminhão de cana-de-açúcar com três compartimentos tinha desabado no meio da pista, impossibilitando que qualquer veículo passasse, até mesmo motos. Além disso, no outro lado da rodovia, que também era duplicada, tinham vários pneus e tralhas queimados, com uma placa gigante postada ali perto, com os seguintes dizeres: “Sem Saída!”. — Quem faria um negócio desses? Algum filho da puta viu que esse caminhão gigante tinha tombado e decidiu trancar o outro lado da rodovia também! E agora? — indagou Abner, preocupado. — Creio que abandonar a caminhonete não seria uma boa ideia… — falou Marcos, coçando a cabeça. — Não, pai! Nem fodendo que abandonar o único carro que temos é uma boa ideia! — disse Noemi, revirando os olhos. — Então voltamos para casa? Ou arrumamos algum canto para ficar em Palmares? — antes mesmo que alguém respondesse a pergunta de Abner, Júlia interveio. — De jeito nenhum que fico nessa cidade desgraçada! Melhor voltarmos para Água Preta! — disse a mulher, tensa. Abner concordou com a cabeça e colocou a marcha ré. Realmente não tinham saída. Recife não era mais uma opção, pois o melhor caminho estava bloqueado e a gasolina do veículo era limitada. Eles teriam que voltar. ... Luiz Felipe estava adentrando cada vez mais na floresta dos arredores de Tamandaré. Ele desarmou a barraca e guardou-a junto com tudo de essencial que tinha na mochila. Luiz sabia que quase não tinham pessoas por ali, e que se tivesse, não chegariam perto da mata assim, pois além de ser um local cheio de subidas e descidas, também pode ser considerado perigoso. O rapaz estava caçando. E definitivamente ele era péssimo nisso (além de mal haver animais por ali). — Que bosta... — cochichou ele, ajeitando o capuz na cabeça. O dia estava frio e cada vez mais piorando. A indefinição do tempo era algo terrível: de manhã fazia calor em excesso, de tarde o sol era quente e de noite chuva fria. Quando menos se esperava essa rotina mudava drasticamente e ninguém entendia mais nada. E para completar, Luiz estava vivendo em uma cabana, acampando em locais improváveis. Ele nunca antes tinha feito algo do tipo, porém a situação exigia isso. Como a floresta era relativamente perto da cidade, o homem podia ir e voltar sem mais delongas e procurar aos poucos pelo seu antigo grupo (ainda sem sucesso em encontrá-los). “Vai chover...” pensou ele, encostando o antebraço direito em uma árvore áspera e com líquens ao redor da casca. A ventania começou repentinamente, varrendo várias folhas secas e fazendo-as se chocar contra gravetos envelhecidos e nas cascas das árvores. A vista interna da floresta era muito bela e rica de detalhes. Pássaros dos mais variados voavam de galho em galho, folhas caíam a todo o instante, sapos coaxavam, grilos soltavam ruídos irritantes e um pequeno barulho de água circundava o local. Luiz Felipe franziu as sobrancelhas e recomeçou a andar entre as árvores, descendo um pequeno desfiladeiro até alcançar um açude. “Mesmo a água não sendo tão límpida vou encher meu cantil e me preparar para passar a noite toda com isso, se der ainda tomo banho...” O homem caminhou até o pequeno açude e abaixou o capuz, começando a lavar o rosto. Ele olhou ao seu redor e percebeu que ali do lado, a menos de uns trinta metros, tinha uma pequena cabana de madeira colada em uma imensa árvore de caule grosso. Luiz ficou maravilhado com a beleza daquela maestria da natureza. O rapaz, depois de encher o cantil e se hidratar, caminhou até lá cautelosamente. A cabana provavelmente era abandonada e bem antiga. A madeira estava sendo devorada pelos cupins e na entrada do local tinha a ponta de uma corda enterrada no chão. “Que coisa linda!” pensou Luiz, olhando para o alto e não conseguindo enxergar a árvore por completo. Depois de alguns segundos maravilhado com aquela bela vista no meio da tarde, Luiz decidiu entrar na cabana e ver se tinha algo de útil lá. Só que havia alguma coisa estranha no ar. O interior da cabana de madeira estava vasculhado e limpo, com somente uma única coisa em cima de uma mesa envelhecida: uma caixa de chocolates lacrada e aparentemente nova. — Que merda é essa? — cochichou Luiz, sacando a pistola e olhando sob os ombros. Mas não viu ninguém. Do lado da caixa de chocolate tinha um papel enrolado. Talvez aquilo tivesse sido deixado ali para alguém que tinha morrido há muito tempo. Só que Luiz era curioso, e também não queria perder a chance de passar a noite comendo chocolates. Ele permaneceu segurando a pistola, sorriu com o canto da boca e quando deu o primeiro passo no interior da cabana, foi surpreendido. — PORRA!!! Uma armadilha foi acionada. A perna direita de Luiz Felipe foi envolta em um laço que o puxou para o lado de fora, arrastando-o até ficar suspenso de cabeça para baixo do lado da imensa árvore. Foi incrível como tudo aconteceu tão rápido, e durante o processo o homem bateu a cabeça com força no chão, sentindo-se atordoado e perdendo sua mochila no meio do caminho. — Puta merda... — resmungou Luiz, cada vez mais grogue. E então desmaiou. A armadilha foi feita por algum caçador de verdade. Mas definitivamente não visava atingir animais, e sim seres humanos. Quem fez isso e por quê? Disso Luiz não sabia. Agora ele estava novamente em apuros depois de tanto tempo. A armadilha de corda foi feita para se prender no pé da vítima e suspendê-la a mais de três metros em um dos fortes galhos da imensa árvore do local. Luiz caiu direitinho nela. Tudo isso por uma caixa de chocolate. O rapaz continuou desmaiado ali, balançando de um lado para o outro pela perna. Sua vida estava correndo sério risco. E dessa vez nem a sorte de ser imune iria salvá-lo se não acordasse logo.
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