A cela estava abafada, como sempre. O cheiro de suor velho misturado com umidade grudava no ar, tornando tudo ainda mais sufocante. Eu estava sentado no canto, afiando um pedaço de metal escondido dentro do cós da calça, enquanto observava Cesinha desfilar pelos corredores como se ainda fosse alguém importante. Como se o tempo dele não tivesse passado. Cesinha sempre foi um problema. Dentro da cadeia, tem uma única regra que é sagrada: família é intocável. Respeito às mulheres, às mães e às irmãs dos outros é lei. Todo mundo sabe disso. Mas Cesinha? Ele nunca ligou pra nada. Achava que podia passar a mão, jogar olhares, soltar piadinhas pra visitas de quem tava ali cumprindo tempo. E ele fazia isso porque se achava blindado, porque era tio do Adão, porque já foi dono de morro. Mas agora?

