Capítulo 4

1449 Words
Passei o começo da manhã tomando café e com a cabeça enfiada em novos layouts, visitar as obras ontem me inspirou, já estou com novas ideias para as reformas que chegaram essa semana e aproveitei para fazer algumas mudanças no projeto de construção, preciso ser rápida nisso, eles começam toda a fundação na terça, após a revisão da sondagem que eles planejaram.   — Ah não! Preciso lavar o carro — eu disse em voz alta, quando lembrei o estado do meu carrinho.   Desliguei meu laptop e embarquei na saga de lavagem. Sempre vi meu pai fazendo isso, não que seja uma tarefa difícil, acredito que existam coisas piores, mas, o carro deixado para mim, é um tanto grande! E querendo ou não exige um pouco de habilidade.   O dia estava bem ensolarado, o que me fez suar mais do que o normal, então me dei ao luxo de me molhar com a mangueira, em vez de me dedicar plenamente ao meu trabalho de lavagem, poderia ser comparada com uma criança na certa, estava me divertindo muito.   Ao ouvir um pigarro, me assustei como se estivesse sido pega aprontando — dependendo do olhar de que vê, eu realmente estava.   — Estou lavando o carro — avisei e fechei a torneira.   — O planeta agradece!   — Precisando de algo?   — Sim, queria entender melhor os novos métodos para lavar o carro — John ria — Por acaso agora, usa-se a si mesmo como esponja? A senhorita está toda molhada — ele apontou para mim... ops.   — É que está meio calor sabe... Daí eu uni o útil ao agradável — sorri — Mas já estava partindo para a secagem!   — Planos meio estranhos para uma manhã de sábado não acha?   — Na verdade, alguém tem que lavar — comecei a secagem dos vidros — E eu estou planejando ir conhecer a cidade pela tarde, não vejo a hora de ir ver...   — Sério? — ele pareceu extremamente empolgado — Desculpe, te cortei, o que você não vê a hora de ir ver?   — Não vejo a hora de conhecer a Catedral de Notre Dame — na hora ele desanimou — Qual o problema?   — É que como uma boa turista você quer conhecer os lugares mais óbvios daqui.   — Desde que fiz aulas de francês e tinha apenas um mero desejo de fazer arquitetura eu sonho em conhecer essa catedral.   — Olha, se me permitir, eu posso ser seu guia turístico, claro que não para ir até à catedral, mas para conhecer lugares lindos e menos óbvios! Você vai ter muito tempo para conhecer o restante, sem dúvidas são lugares incríveis, porém, temos coisas ainda mais lindas além da Catedral, Museus ou a tão famosa Torre — Ele está realmente empolgado — Você topa? — essa última frase ele disse em português.   — E eu sou doida de não topar? — ele fez uma cara de desentendido — Quanto tempo vai esconder de que fala português?   — Foi m*l — ele riu, como o Seu Montez disse “as coisas acontecem nessa vida”. Acho que talvez nos demos bem afinal — Então, vá se arrume que sairemos depois do almoço, coma somente algo leve — seu jeito autoritário ficou em vista e eu só assenti com meu joinha.   Ele entrou.   Eu mantive minha saga da lavagem, mas em uma fase mais elevada: secagem a todo vapor.   *   Ao me olhar no espelho, posso observar melhor meu vestido longo verde de alça, acredito que vai ser bom para enfrentar esse sol esplendoroso que me esperará fora do carro com ar-condicionado. Mantenho meus cabelos soltos e separo apenas uma mini pochete para guardar os documentos e meu celular.   “Coma somente algo leve” lembrei do que ele disse quando olhei para minha geladeira, o que seria algo leve? Confesso que ouvi sempre  isso, mas nunca soube direito o que é, uma sopa? Um pão? — não sei.   Na dúvida, separo algumas alfaces, uns legumes e preparo um belo de um saladão, embora, eu não seja tão ‘fitness’ assim, uma salada bem temperadinha é irresistível.   — Aí d***a, no meio da comida? — ouço meu celular vibrar e atendo rapidamente — John você não me disse que seria depois do almoço? Ainda tenho meia hora!   — John? — Oh não, não era ele — Espera aí dona Anne, John não é o sobrinho do seu Montez?   — Aí Liz, me desculpa amiga, não li o identificador de chamadas de novo, você sabe né? É o mau hábito.   — Eu ouvi bem? Você vai sair com ele? Ele não é francês? Bug eterno por aqui. — Sim para todas as perguntas.   — Anne, d-e-t-a-l-h-e-s. — Mas não tem nada que detalhar Liz!   — ANNE — ela gritou.   — Tá, ok! — suspirei — Ele é francês, mas fala português, até porque seus pais são brasileiros.   Ela esperou alguns segundos na esperança de que eu dissesse algo a mais.   —  E? — eu bufei   —  Ele só vai me mostrar uns lugares diferentes de Paris, eu queria muito conhecer um pouco daqui, acho que vai ser válido. Nada melhor do que um nativo como guia turístico.   — Eu fico, sei lá, duas semanas sem falar com você e recebo uma notícia bombástica dessas, quando ia me contar? Ou me ligar?   — Os dias têm sido tão intensos que m*l pego esse aparelho na mão... Me perdoa, s’il te plaît — levo mais algumas folhas de alface na boca — Mas o que tem de bombástico em conhecer Paris, eu ia fazer isso logo — daí eu entendi — Ah, claro, você não tá pensando que...   — Que você está se apaixonando!   — Liz, você está escutou o que sua boca disse? Porque ela está descontrolada.   — Estou feliz por você amiga, posso ter exagerado sim, mas sinto que esse período por aí tem te feito se permitir — só se for me permitir ficar estressada.   — Me permitiu sim, várias coisas, entretanto entre elas não se incluem me apaixonar pelo John e nem por ninguém, estou aqui para fazer o melhor trabalho possível pelo Papi.   — Blábláblá — ela debochou — Como você é chata!   — Como você é romântica — sorrio — te amo tanto, que saudades de você — digo extremamente emocionada.   — Sim, sim e não sei como vou me casar sem sua presença por aqui comigo.   — Não sei também... — quase engasguei quando entendi o que ela falou — Que??? Você vai se casar? — tossi um pouco.   — Pois é, Chris me disse que já estava planejando tudo antes de saber da sua viagem, como ele não queria atrapalhar todo o movimento da sua mudança, esperou até que a poeira abaixasse.   Não sabia o que dizer, estou tão feliz por isso, o sonho da Liz sempre foi se casar, lembro que quando brincávamos sempre conversávamos sobre como seria nosso casamento e sobre como seriam nossos vestidos, era legal, era “mágico” como ela sempre dizia.   — Amiga, cê tá aí ainda?   — Tô sim, só fiquei sem palavras.   — Vou te enviar as fotos do pedido, foi lindo demais!   — Certeza que se fosse em cima de um tijolo numa obra abandonada, você acharia lindo do mesmo jeito — eu ri.   — Tem razão — ela acompanhou minha risada — Mas, só depois que eu aceitei, percebi que não te teria no meu casamento.   — Ué!? Mas eu posso me organizar para estar aí no dia.   — Disso eu sei, mas você não vai conseguir me acompanhar para escolher o vestido, o lugar, todos os detalhes, igual sempre combinamos, isso é o nosso trato de anos!   — E se você me ligar todas às vezes? — percebi que não daria certo assim que sugeri.   — Você sabe que não daria certo.   — Estou triste agora — suspirei — Bom, eu sei que não vai ser exatamente como planejamos, mas pensa que eu estarei aí no grande dia, e prometo te ligar sempre, para te ajudar a decidir qualquer coisa, prometo.   — Não é o ideal, porém é o que temos... Estamos realizando nossos sonhos, e eu estou tão alegre por isso.   — Não está sendo fácil.   — Não mesmo, mas nós vamos conseguir!   — É claro que vamos, não há dúvidas — ouço a campainha tocar — Ele chegou Liz... Não esquece de me enviar as fotos do pedido, vou te enviar algumas daqui também — me levantei rapidamente para colocar o prato de salada na bancada da pia.   — Ok! Vai lá mademoiselle, te amo! Aproveita muito o dia e a companhia — ela riu e eu ignorei.   — Beijo, noiva.  
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