As escadas eram cobertas por um carpete vermelho, ao lado desenhos dourados como galhos secos. Ela dava uma volta até o andar de baixo, com corrimão marrom escuro.
Terminei de descer e o vi parado de costas para uma janela que ia do chão ao teto. Parecia que estava me esperando. Guardava as duas mãos nos bolsos com um olhar debochado.
Não muito diferente do quarto, a sala também era exageradamente grande. Poderia ser feito um apartamento de luxo nesse cômodo.
Diversas janelas espalhadas, todas cumpridas e com as cortinas abertas. No chão um tapete neutro, ficava de frente para a lareira, que era bem maior do que a do nosso quarto, onde os dois cachorros estavam deitados. Um deles levantou a cabeça quando notou minha presença.
Sofás arrumados e uma casa impecavelmente linda. Parece até alguns castelos da Inglaterra.
Retirando o que pensei, sobre velha e chata. Porém, continuava fria.
Ele parecia tão prepotente, perto daqueles enormes animais e com um terno feito sobre medida. Sapatos pretos engraxados e os cabelos desengrenados.
— Mesmo quarto? Por quê? - Cruzei os braços na altura do peito. Ignorando qualquer tipo de atração por ele.
— Porque somos casados, querida - Ironizou. Andou na minha direção sem tirar as mãos dos bolsos.
— Ah, jura? Não sabia. - Sorri cínica - Quero outro quarto. - Falei séria.
— Ah, jura? - Me imitou. Tendo a falha tentativa de fazer o mesmo tom da minha voz - Não vai ter - Riu vanglorioso.
Encarei com raiva os seus olhos. Ele não desviava nem por um segundo, estava fixados nos meus me intimidando. Engoli em seco e olhei para o lado.
Seu indicador virou meu rosto delicadamente pra ele que sorria sarcástico.
— Sabe Louise. Pelo que eu sei no nosso mundo, mulheres são submetidas aos seus maridos. Então, já parou para pensar que quem manda aqui, sou eu?
{...}
Sai do banheiro, vestindo minha camisola e o vi deitado na cama. Calça de moletom e sem camisa, era notável alguns gominhos formados. Ele não era o tipo de homem forte, mas sim definido. Braços, tórax, barriga...Entradas. Engoli em seco, fechando os olhos apertando-os. Continuei meu caminho até a cama. Em suas mãos, um livro grosso e supostamente entediante.
Vejo seus olhos desviarem e me medir, incrível mania que ele tinha de medir as pessoas. Será que ele sabia que isso incomodava?
Ignorei e me deitei ao seu lado, encima do edredom, assim como ele.
— E não, não estou submetida a você. Por mais estranho que pareça, não quero prejudicar meu pai.
O ouvi sorrir pelo nariz e o encarei, tendo a surpresa de que ele já me olhava.
Senti uma sensação estranha, no meu estômago.
Nossos olhos se encontraram novamente, e aquele calor voltou junto com os arrepios. Maldita atração.
— Não seja ingênua Louise. Pode mandar a sua pose de mulher independente embora. Esse seu jeito selvagem. Não vou atrapalhar sua vida, só irá me respeitar e fazer o seu papel perfeitamente.
— Enquanto você sai com suas namoradas? Se sujar a minha imagem com uma traição — Falei trincando os dentes.
— Eu sei fazer as minhas coisas. Por isso ninguém nunca soube, e você também não precisa saber. Tenho minhas necessidades.
— Então terei as minhas. - Levantei o edredom me colocando embaixo dele. Virei para o lado contrário e sabia que ele ainda me observava.
Palavras erradas Louise, palavras erradas.
Meu subconsciente me multava.
Pelo jeito ele não quis esticar a conversa. Senti ele se mexer e se acomodar na cama.
— Boa noite, Louise
Eu sabia que era físico, que esse nervosismo por estar ao seu lado na mesma cama era puro desejo. Quem não o desejaria?
Mesmo que fosse arrogante e pretensioso, carregava uma beleza fora do comum.
— Louise? - Falou novamente.
Agora ele queria respostas? Era só o que me faltava.
— Boa noite, Hector
— Tenho uma pergunta pra você. — Sinto a cama se mexer.
— Que pena.
Escuto ele rir e respiro fundo.
Parecia uma criança mimada. Ele sabia que eu seria obrigada a responder.
Virei meu corpo pra ele, olhando os seus olhos que mesmo no escuro eram luminosos.
Braços esticados pra cima, e sua cabeça apoiada em suas mãos. Somente seu rosto estava virado pra mim.
— Por que engole em seco, toda vez que me olha?
Involuntariamente engoli em seco.
Molhei os lábios em um nervosismo constrangedor.
O que eu responderia?
Pensei em apenas virar para o lado de dormir, mas ele me prendia aos seus olhos. Prendia-me ao seu jeito. Não era como os meus ex-namorados. Ele era confiante, sabia do poder que tinha e não tinha medo de usa-lo.
Mas, por que eu estava pensando nessas coisas?
— Porque você me incomoda, Hector. Sua presença me irritada, vamos assim dizer. Criptonita perto do Super-Homem. Sabe?
— Que te deixa fraca. Que te faz perder os sentidos? - Sorriu malicioso.
— Não! - Respondi rapidamente - Você é um i****a.
Virei novamente. Prendia o ar, tentando disfarçar minha respiração descompassada.
Que maldição ele carregava, que me deixava desnorteada á sua presença?
— Gostei de ser a Criptonita, digo ter um poder sobre você é excitante. - Refletiu depois de alguns segundos.
Meu corpo se arrepiou inteiro.
Excitante
Por que ele estava fazendo isso?
Fechei as mãos, sentindo-as transpirarem, fechei os olhos e lá vem a maldita falta de ar.
Parecia que quase havia caído de um penhasco. Com o coração acelerado, como se quase tivesse morrido.
— Boa noite, Sra. Bernardi.
— Boa noite. - Falei rapidamente soltando o ar junto.
Pelo jeito a convivência com Hector não seria fácil.
Essa mistura de ódio e desejo daria no que falar.