Estávamos a caminho da minha nova casa, ele não dizia uma palavra o que me deixou aliviada. Os lábios sempre retos e os olhos atenciosos.
A casa do Bernardi era absurdamente grande.
Quintal bem tratado e um irrigador automático jorrava agua sobre a grama.
O tamanho da casa deixaria qualquer um encantado. Janelas grandes com sacadas, provavelmente dos quartos.
Ela era inteira branca, com detalhes marrom e preto, nas janelas e na porta. Tinha inúmeros cômodos naquela mansão.
Por dentro chegava a ser assustadora. Como alguém conseguia morar ali sozinho?
Ah, esqueci, ele é um louco.
Dois dobermanns pretos apareceram de repente.
Do inferno talvez. Eles eram assustadores e enormes. De inicio fiquei parada esperando que eles também parassem. Após ver que não, dei passos rápidos e desastrados pra trás quase tropeçando nos meus próprios pés.
Os dois rosnavam.
— Magno e Apolo. - Sua voz soou autoritária e firme.
Assim que o ar quente bateu no meu pescoço, senti meu corpo se arrepiar por inteiro.
Droga, esses cachorros tinham cara de assassinos.
Apertei os olhos, rezando para que eles não se aproximassem.
O focinho de um deles cheirava minha canela e do outro minha coxa. Os dois pareciam estar procurando alguma coisa, talvez meus ossos para roerem um pouco.
— Pode abrir os olhos, eles não arrancaram nada de você.
Abri os olhos, vendo os dois parados na minha frente. Sentados um ao lado do outro, como estatuas. Orelhas levantadas e olhos observadores. Engoli em seco, ainda não confiava neles.
Virei rapidamente, não esperava que ele estivesse tão próximo. Seus olhos abaixaram na minha altura, mas os ombros e a cabeça continuavam eretos. Prepotente. Respirei fundo após perder o ar por alguns segundos.
Nossa proximidade me incomodou.
Porque ele me olhava tão friamente? Que nós nos odiávamos era óbvio, mas parecia que eu que tinha escolhido isso. Talvez fosse pela garota do quintal de casa.
— Sr. Bernardi. — Escuto uma voz feminina chama-lo.
Ele move os olhos na direção da voz. Continuando sem expressão alguma. Fiz o mesmo e me virei vendo uma senhora que deveria beirar aos sessenta anos. Ela vestia um uniforme de empregada, cabelos bem presos pra trás e um sorriso maternal nos lábios. Usava óculos, redondo, típico de avós.
— Melina. Mostre o aposento da Senhora Bernardi, por favor. - Pediu e logo seguiu seu caminho para algum cômodo da mansão.
Os cômodos da casa eram grandes e cheios de móveis antigos. Uma casa rustica. Até que parecia com o Hector. Velha, chata e fria. Sorri com meus pensamentos e vejo Melina me olhar. Ela era baixa e um pouco gordinha. Seus passos eram curtos, porém rápidos. Dava vontade de abraça-la de tão fofa que parecia ser.
Eu a acompanhava pelo enorme corredor. Com quadros dos ancestrais, provavelmente. Emoldurados e em ordem. Alguns deles deveriam ter sido uma lenda. A família Bernardi carregava um enorme respeito. No final do corredor, tinha uma janela cumprida, que iluminava nosso caminho.
— Melina é um nome diferente. Nunca conheci ninguém que se chamasse assim. Bonito nome, e diferente.
— Ah, sim - Concordou - Melina é um nome grego. Significa “a que é doce como mel” ou simplesmente “mel”. Meu pai que escolheu.
— Hum. Você é grega, então? - Deduzi.
Seus passos ficaram mais lentos, paramos na frente de uma porta fechada a ultima, daquele corredor. Provavelmente era meu quarto.
— Sim Sra. Bernardi. - Não conseguia me acostumar com a palavra Bernardi - Sou grega, mas não herdei o sotaque, vim pra cá quando ainda era um bebe.
Abriu a porta para que eu entrasse. Exageradamente grande. No fundo dele com as cortinas totalmente abertas, uma janela contornava aquele canto da parede.
Paredes tão brancas quanto ás nuvens.
Uma lareira enorme estava no canto esquerdo do quarto. Acima um suporte, para velas, ocupadas porem apagadas. Teriam sido usadas pelo tamanho.
Um tapete cobria grande parte, do piso de verniz que brilhava. Ao lado direito uma cama grande e visivelmente aconchegante, estava encostada na parede. Que encima carregava um quadro de algum pintor famoso. Entre o espaço grande da lareira e da cama, uma poltrona com apoiador para os pés bem á frente, ao lado uma pequena mesa com possíveis retratos da família e para finalizar um pequeno sofá de dois lugares com almofadas encima. Olhei pra cima, encantada com aquele quarto notando um pequeno lustre no teto.
— Ual! - Foi á única coisa que consegui dizer.
— Sr. Bernardi gosta de móveis antigos. É um legitimo homem á moda antiga.
— Ah, esse é o quarto dele? - Perguntei pensativa.
— De vocês. - Sorriu.
Tentei disfarçar o meu subconsciente gritando: NUNCA.