Quando tinha seis anos, Charlote caiu de uma árvore e ela lembra exatamente qual foi a reação de todos, enquanto ela sentia o joelho arder, bem, os outros repetiam que aquilo não era a atitude de uma moça, nunca. Agora, diante da paralisação e da repentina revelação, bem, o que exatamente uma moça como ela poderia fazer?
Ela odeia as vezes o fato de não ser de uma família normal ou que não precisava daquilo tudo pra viver, as vezes se vinha morando na parte mais comum da cidade, onde devia viver uma vida simples e lutar por ela, diferente dali, onde se ela quisesse teria uma vida dada e fácil, sem luta, em uma casa que mais parecia uma prisão para ela e o que ela pensava.
A sociedade, sabendo que ela era filha de um governador e que a família dela tinha tendências políticas, sempre via nas mulheres, armas e personalidades fortes, a arma agora estava sendo usada, em forma de um casamento que poderia acabar com o resto da liberdade que ela tinha. Ela nem poderia imaginar dormir com um estranho, sem nem gostar dele ou algo do tipo.
Oh, grande merda!
Pior, mil vezes pior. Aquele era o noivo que ela conhecia pelos altos e por algumas fotos que nem de perto falava sobre como ele era de verdade, aquele era ele ao qual era destinada, seu noivo. Ela cedeu por raiva ao seu próprio noivo. Ela estava parada, seu pai estava do seu lado, na sua frente o suspeito.
Ela sentiu raiva. Por que p***a ele não se identificou?! Aquilo foi planejado, aquilo para a garota era certeza, sem dúvida alguma. Queria chutar e gritar. Mas, por mais que quisesse aquilo, ela não poderia.
Garotas como ela não poderiam sair do papel de boas moças, mas agora talvez ela estivesse encrencada por ter se metido naquele problema, ela pediu um beijo pensando que ele era estranho, mas não era, era o cara que estaria no altar em pouco tempo.
Talvez aquilo pudesse fazer ele mudar de ideia... Isso... Merda, não iria fazer de jeito nenhum.
– Não pensei que chegaria antes do combinado – o pai de Charlote disse, calmamente.
– Não pude prever essa surpresa governador, sinto muito, mas fiz bem, acho que a minha noiva precisava me conhecer, ser apresentada para mim.
Ele encarou a garota, meio confuso pela atitude dela, mas era algo que dava pra arrumar e ficariam bem, ela só não podia sair por aí pedindo beijo pra qualquer um.
– Vamos até o salão para que todos possam falar com você….
O homem teve que negar aquele pedido, Dominik odiava fazer o social com o resto das pessoas, ele não era bem o tipo de homem que se. Colocava diante centenas de pessoas para falar algo da vida pessoal dele, não fazia o tipo dele, ele não estava ali por eles ou fazer algum papel como aquele, era ridículo fazer aquilo, queria apenas estar com ela, olhou para a garota e para o governador que tinha firmeza no olhar.
– Me permite hoje apenas conversar com sua filha – Foi ai que tirou o olhar do homem para depositar sobre a menina assustada ao lado, como uma criança assustada demais para aquilo tudo, deus me livre a gente tocar na parte que eles estarão casados diante Deus e a sociedade em dias. - Me permita?
Dominik fez questão de perguntar diretamente para ela, de uma forma que só ela poderia ter a autoridade do sim ou não. Mas Charlote estava assustada com aquele homem, aquele rosto que passava confiança diante ela e que mostrava ser bem mais autoritário que seu próprio pai.
Tinha algo nele, na forma que ele encarava as coisas e até ela, firme e determinado a ter o que pedia.
Charlote pensou em recusar, mas precisava saber se o que aconteceu, ficaria apenas entre os dois, não era algo bom do pai saber, não que ela ligasse para o que ele pensava, mas porque não queria mais problema para a vida dela.
Desde criança ela não era tão próxima do pai, amava ele como filha, respeitava como pessoa, mas não gostava do que ele fazia, nem governava, não gostava das vezes que ele dava bronca nela ou criticava a atitude dela, nem a forma que ele a cobrava.
Isso deixou ambos afastados, ela pensava que se ficasse quieta, na dela, sem chamar a atenção, deixaria ele na dele também, assim como a mãe e até o resto da família. Havia na família dela outras pessoas, que assim como ela, haviam caído longe da árvore, mas sempre estava perto daquela redoma que era a família dela, se envolvendo em algum momento nos negócios, como o casamento com Dominik Barette.
– Claro – Charlote teve certeza que o pai aprovou pelo sorriso, para o homem era perfeito eles serem apresentados e se conhecerem, se a filha fizesse certo, seria uma fonte de informação e laço forte com a família Barette, Dominik também havia um único sinal de aprovação, que era pela forma que ele mesmo olhava para ela, sua noiva.
Gostava da beleza dela, da forma que ela tinha o nariz arrebitado e até a forma que ela não descia do salto e nem da opinião dela, ficando apenas um pouco a deriva.
- Me deem licença – O pai mandou um olhar para Charlote antes de sair, um olhar pedindo para ela não fazer nada de errado com aquele cara que seria o futuro dela e de bons negócios e política na família.
Charlote agora não estava com um estranho, estava com um rosto conhecido por características e nome, era estranhamente incomodo estar ali, ela poderia estar chorando muito por ter que casar com alguém sem o maldito consentimento dela e agora, mas uma coisa pesava, ele perto demais, sem ter se identificado pelo próprio nome e deixado ela fazer aquilo tudo. Até se sentiu burra e estúpida.
Aquilo não era um jogo qualquer. Ela sabia que queria fazer uma loucura antes de se casar, mas e ele, o que queria tão perto dela, antes de se identificar como sendo Dominik?
Inferno, ela teria que pensar nisso depois, agora estava diante ele, não poderia ficar de guarda baixa e nem se sentir daquela forma.
– Onde tinha parado mesmo? - A voz de Dominik soou muito convidativa, como se quisesse convencer ela que estava tudo bem. - Ah, lembrei, meu nome é Dominik , seu futuro marido, acho que agora eu não sou o estranho que você esperava, não é?
A voz dele veio com sarcasmo, um que nem ele pode segurar dentro da boca. Sarcasmo por toda aquela situação, Dominik só queria sair dali antes que mais alguém notasse sua presença ilustre, estava com um misto de ciúmes dela com o cara da mascara de poucos segundos atrás, mesmo sendo ele mesmo.
- Não vou me lamentar por isso.
Aquilo não era nenhum pouco bom, Dominik viu algo gostoso ali, até pensou em rebater de uma forma r**m, mas ela era nova, ainda tinha o espírito de pensar que poderia contra ele, mas ele convenceria ela que não, não tinha nada a fazer mais. Ela já tinha alguém.
- Você quase beijou um estranho garota, um estranho que poderia não ser eu, já pensou nisso?
– Você devia ter se identificado antes – Destemida e brava. Corajosa de falar naquele tom com ele, poucas pessoas falavam, quando ele não gostava, ele resolvia. - O senhor foi estranhamente inconveniente, sabia?
– Sério?! Não me diga, nem havia notado isso, embora você me desrespeitava. Traindo seu próprio noivo, confesso que não esperava você se aventurando por aí.
Nem ela, desde o dia que ela recebeu a notícia, nem ela esperava estar tão aflita e tão desesperada, como um gatinho solto sem rumo.
– Eu não estava…. como você ousa a...
Ela se irritou. Parecia que até casada alguém iria descobrir o que fazia sem ninguém ver.
Ela não poderia se casar com alguém que iria vigiar ela, não como a família fazia e quando não está a família, era os seguranças.
– Se fizer isso de novo, terei que tomar algumas atitudes Charlote, você não precisa disso.
- Iria desfazer o noivado? - A voz ficou trêmula, fraca e com uma expectativa escondida. Mas, Dominik sempre viu mais que podia, muito mais.
- Isso é o que a senhorita iria querer, então não, não era isso - Em um gesto rápido, ele pegou o braço da garota e passou por baixo do seu, firme, com sinal de recusa da parte dela, mas não da dele. Conseguindo imobilizar o braço dela e começar a anda com ela, mais adentro do jardim, longe do barulho evidente da música. - Minhas medidas seriam me casar bem mais rápido com a senhorita e deixar claro a quem a senhorita pertence, indicando que contatos íntimos seria concedidos a mim, seu marido querido.
Ela sentiu um medo do que ele disse, um receio enorme e até um pavor de lidar com alguém daquele jeito.
– Eu não quero esse casamento – Dominik continuou andando, sem nem ser afetado pelas palavras da garota em sua direção. - Eu lutarei até o fim para que ele não aconteça,pode ter certeza.
Ali uma guerra quase foi anunciada, só não foi pelo fato de Dominik ser tranquilo em relação às mulheres e o que ele queria.
– Me de um motivo para não se casar e eu deixo você nesse exato momento – Charlote ficou paralisada, tentada com cada palavra dele. - Sempre que eu falo, eu cumpro, disse que iria me casar com você, de fato, você é minha noiva, mas se a senhorita me der um motivo plausível eu a deixarei, sem dizer nada e nem tentar nada.
Foi quase um xeque-mate. Quase.
Charlote olhou para os olhos azuis daquele rosto bonito, era a sua chance de sair, pular daquele barco sem leme para controlar.
De algo que poderia ser bem pior do que ela poderia imaginar.
Charlote só precisava se dar conta que ela teria que ter um motivo plausível, forte e resistente contra qualquer argumento, ela ficou calada por vários segundos, até voltou a caminhar, calmamente. Pensou em usar um argumento que ela usava a dias, mas não podia, ele iria rebater como todos de perto fizeram. O mais coerente foi esperar e pensar.
Por que ela não quer? Por que ela não gosta dele ou ama ele de verdade?
Para todos aqueles não era motivos plausíveis, nem o pai achava isso, quem diria a mãe.
Pra ela era estupidez pensar que isso não era bons motivos, sendo que era a principal coisa a se pensar em um relacionamento.
Então, ela decidiu não dar a resposta naquele momento. Charlote sempre foi dois termos, fazer as coisas sem pensar, mas pensar as vezes demais pra falar.
– Posso pensar? – Dominik sorriu, um sorriso abertamente convidativo, lindamente provocativo e em aprovação as palavras dela. Ele não esperava por aquilo. Ele esperava um monte de motivos que teriam seus argumentos. Mas Charlote mostrou que era a garota esperta de qual ouviu falar e mandou investigar. - Não posso te dar um argumento qualquer, certo?
Era boa, firme, talvez ela gostasse de estar ao lado dele ou estivesse pronta pra entrar para a família e quando fosse necessário ser uma Barette.
– A senhorita me encantou com essa atitude, mas posso saber o motivo e quando terei minha resposta? - Ela olhou para os olhos dele, que dilatou as pupilas em segundos.
– Até quando vai ficar na cidade?
– Até quando você quiser – Conquistador barato, pensou a garota. Vasculhando agora o homem de preto perto dela, com um perfume bom, forte e resistente, também olhou para o homem de 1,93 e o porte grande e forte. - Quer voltar ao salão?
Em contrapartida, ele estava de olho nela desde de antes, desde que a viu no salão, quieta e calma demais para quem está em uma festa. Olhou para ela e a mascara branca, que cobria o rosto, deixando metade de fora, os olhos a mostras, duas bolinhas caramelo escuras e uma boca rosada bonita e pequena, com um visual majestoso, rendado nas mangas e apertado no tronco, marcando uma cintura e indicando dois s***s pequenos em um decote pequeno, porém carismático aos olhos de Dominik e chamativos para o corpo dele.
Poderia dizer que ela fazia o tipo dele, não era alta e também não era tão baixa, tinha um jeito sutil e registrado apenas nela.
– No parque, amanhã as oito.
– Estará sozinha?
– Não quero que ninguém saiba que vamos nos encontrar - Majestosamente ela se soltou das garras malévolas dele, ele sorriu. - Passar bem.
– Dominik, me chame assim.
– Isso é só até amanha, certo? Boa noite, Dominik.
Ela virou as costas e deixou um homem sozinho diante o jardim. Dominik colocou a mão no bolso e retirou a caixa-preta aveludada, abrindo diante seus olhos e revelando o anel de brilhantes.
O que ela carregaria no dedo dela, que valia milhares de dólares, dólares que ele mesmo quis gastar e escolheu, pensando o quanto iria combinar com a pele dela e com ela toda.
– Charlote, eu realmente espero que você não tenha um bom argumento.
Era uma fala de verdade.
Ele sabia que se tivesse um argumento, além do óbvio, iria deixar ela ir, mas sem antes tentar a oportunidade de ter aquela menina ao lado dele, sendo a sua mulher.
Dominik sabia que ela seria dele, já era a muito tempo, desde o chá de anos atrás, quando ele a viu pela primeira vez, com apenas 14 anos, escondida, tímida e muito, muito sorridente e calma. Ela era calma, uma calma de dentro e fora, coisa que Dominik nunca havia tido mas conhecido pela primeira vez através dela, parecia que no meio da bagunça toda da política, ela ainda tinha luz, tinha algo diferente.
Depois ele viu ela em uma festa, um evento grande e que ele apenas passou rapidamente, ela estava grande e naquele dia ela já era de maior, então ele pensou em algo pra buscar ela e fazê-la uma Barette.
Mas não seria fácil.
Não foi quando ele anunciou que queria ela, nem o que teria que fazer para ter.
Mas ele estava pronto, como sempre acertava o seu alvo.