-O que exatamente você está querendo dizer? Quem mais estava comigo? – perguntei tensa e ela suspirou.
-Nossos pais viram algumas pessoas carregando uma menina inconsciente para fora do beco. Olharam lá e viram você atrás de uma lixeira. Tinha um homem morto com você. – ela falou e eu virei, tentando de alguma forma me acalmar, tentando falar algo, mas meu choque foi tanto que era como se eu não tivesse mais voz – Tinha sangue em cima de você de várias pessoas. O médico verificou. Eu não sei de quem exatamente, mas eram sangue de mafiosos e o homem que estava morto, era outro mafioso e um poderoso. Suspeitam que a menina era filha de outro mafioso, de um rival. Mamãe só queria te tirar de lá o mais rápido possível. Assim que ela te viu, ficou extremamente apegada a você. Soubemos que houve uma disputa de território dentro do bar em que você estava e...
-MÁFIA?! – gritei incrédula, conseguindo finalmente falar algo, me virando pra ela, arregalei os olhos – MAS QUE p***a! Você está brincando comigo não é?! Como merda a máfia está envolvida nisso?! Ridículo! Impossível! E uma criança envolvida nessa merda?! Não! Que merda! Essas porras não acontecem... Simplesmente não!
Comecei a me sentir tonta, sabendo que algo estava muito errado. Eu estava entrando em choque.
Sentia como se não tivesse ar o suficiente e minha cabeça parecia rodar.
-Isso não quer dizer que você se envolveu. – ela falou hesitante e respirou fundo – Ainda tem a probabilidade de você ter encontrado ele tentando matar ela, por acaso e tentou defender a garota, sem saber mesmo sequer quem era ela e acabou tendo aquele resultado.
Respirei fundo, tentando me acalmar.
-Mas e se não for isso?! E se... Viu! Mais um motivo pra eu não ir atrás da minha família! Vai que eles estão envolvidos com isso também! – falei incrédula – Eu não vou me meter com eles! Vai que você acaba morta?! Eu não vou nem conseguir te defender nem me defender! Eu não consigo nem mais me transformar!
-Você precisa de respostas Anya! – ela se levantou batendo a mão na mesa e eu ri amarga – O que foi agora?!
-Anya? Agora eu sou Anya. – bufei e revirei os olhos – Camille, eu não vou apostar sua vida, a minha vida em algo que eu não tenho certeza. Em algo que eu não poderia te proteger!
-Sim, você é a Anya. – ela se aproximou de mim e deu gruído – Você é uma ursa! Você precisa entender o que está de errado e porque você não se transforma! E se aqueles que te machucaram te acharem? E se sua família puder te ajudar?!
-E SE ELES PUDEREM TE MATAR?! – gritei de volta e ela foi pra trás.
-Eu consigo me defender. Eu consigo fugir... Você precisa enfrentar sua realidade, pois suas memórias estão voltando. – ela falou furiosa – E é bom você aceitar isso.
Ela saiu indo direto para o banheiro, batendo a porta atrás de si.
Peguei minha bolsa no cabideiro, e bati a porta com força. Fui para meu carro, irritada e nervosa.
Ela realmente acha que eu vou apostar a vida dela por causa dessa merda?!
Foda-se minha curiosidade. f**a-se meu passado. Eu não vou arriscar tudo que tenho agora por causa de algo que quase me matou! No meu sonho, na minha lembrança eu mesma tinha fugido do clã!
Assim que cheguei à loja, vi já os três funcionários esperando.
Não dei muita atenção, apenas cumprimentei e fui para o laboratório, deixando tudo com a suposta gerente, que minha irmã já tinha dado o cargo.
Estela.
Ela estava impecável, assim como os outros. Calça branca, blusa branca, o nome da nossa loja bordado em cima do peito, todos prontos para o trabalho. Eu mesma tirei meu casaco e coloquei meu jaleco.
Agradeci mentalmente pela Camille já ter explicado como nós trabalhávamos então simplesmente me foquei no laboratório, pegando alguns exemplares de flores e comecei a espremer.
-Micaela. – olhei pra cima assustada e vi na porta, Estela me olhando – Eu já dispensei os dois e gostaria de saber se você quer que eu fique?
-Não. – olhei assustada para o relógio e vi que já eram sete horas, então novamente para a Estela – Desculpa... Não vi o tempo passar. Só me fale como foi hoje, por favor.
-Tivemos alguns poucos clientes e eu resolvi deixar os dois aqui comigo, pois eles ainda precisam de experiência atendendo e ainda estamos nos acostumando com os produtos... Sem falar que hoje você parecia melhor ficar sozinha. – ela disse e eu suspirei.
-Fui tão transparente assim? – perguntei e ela assentiu – Desculpa... Amanhã quero um deles comigo. Vou começar a explicar como se faz as coisas.
-Tudo bem. – ela sorriu e se afastou – Vou trancar as coisas aqui, então não se preocupe. Pode ir pelos fundos. Tchau.
Fiz uma careta, pois não me lembrava de ter porta nos fundos, mas me lembrei de que Estela tinha nos interrompido quando Camille me apresentava minha loja.
-Se cuida. – falei e ela assentiu, saindo e fechando a porta.
Olhei para o creme que eu estava fazendo e suspirei e então para o lado, os quais eu fiz durante o dia.
Fiz uma careta.
Esses são experimentais, que eu estava testando ainda na Irlanda, cheirosos, mas não estão ainda na produção de linha. A base é a mesma de todos.
Separei cada um, etiquetei cada pote, e armazenei. Olhei os que eu que deixei no refrigerador, mas resolvi deixar pela noite. Guardei o jaleco e coloquei meu casaco.
Andei pelo laboratório na parte de trás e vi uma porta de metal, branca. Vi que tinha uma chave ao lado, em cima do balcão branco. Balcões iguais rodeava todo o laboratório.
Peguei a chave, abri a porta e quando saí, vi no céu, as estrelas brilharem intensamente. Inspirei profundamente, sentindo o cheiro familiar de floresta.
Arregalei os olhos ao perceber que tinha uma bendita estufa bem na minha frente.
Entrei e comecei a olhar pelas plantas que tinha aqui. Vi diversas ervas, plantas, flores... Sorri.
Aqui eu teria ingredientes frescos se eu precisasse.
-Vou ver tudo isso aqui amanha. – falei decidida e rapidamente tranquei a estufa atrás de mim.
Minha irmã tinha comprado um terreno realmente grande, pra ter uma estufa maior que a loja na parte de trás.
Fechando a porta de trás, fui pela lateral da casa e percebi que tinha uma alta cerca que ia até metade da casa. Tinha um cadeado e uma fechadura e ao olhar pra chave que segurava, percebi que tinha mais duas chaves.
Rapidamente abri e quando saí, tranquei. Percebi que eu poderia deixar meu carro aqui, considerando que tinha um bom espaço ainda. Fiz uma careta, incomodada por não ter percebido antes... Só que então percebi que tinha apenas um pequeno caminho de pedregulhos que levava até a calça, e ao redor tinha as flores.
Bonito, mas de longe conveniente. Parei na calçada e senti os pelos na minha nuca arrepiar. Alguém estava me observando. Olhei ao redor, mas apesar de ainda ter comércios abertos e pessoas na rua, ninguém parecia me encarar.
Mordi o lábio, nervosa e fui rapidamente para o meu carro que estava estacionado na esquina.
Sinto uma mão no meu ombro e me virei.
-Sinto muito. – respirei aliviada quando vi que era apenas Camille – Nós não deveríamos ter escondido de você, eu sei... Mas não quero que você se esconda. Eles são sua família.
-Eles podem ser minha família, não eles são. – falei e ela suspirou – Sem falar que isso é uma decisão para eu tomar.
-Tudo bem Anya. – ela falou e eu bufei.
-Não precisa me chamar de Anya. – falei irritada – Pra você eu sou a Micaela.
-Mas você não é de verdade a Micaela. – ela respondeu – Você é a Anya. Micaela é só um nome falso, um que era temporário e todos nós sabíamos disso.
-Preciso de um tempo disso. – falei e ela assentiu.
-Vamos beber, que tal? – ela falou e eu fiz uma careta.
-Eu não gosto de beber. Você sabe.
-Só por que na ultima vez você ficou o dia seguinte inteiro abraçando a privada e chorando. – ela disse rindo e eu bufei.
-Exagerada. – falei, mas ela me puxou sorrindo.
-Vamos ir pra casa. Tem um bar lá perto. Eles tocam musica e dá pra dançar.
Revirei os olhos, mas assenti.
-Tudo bem. – falei sorrindo.
Depois de passarmos em casa, fomos para o bar. Ele era amplo, com o teto bem alto, bem iluminado na entrada, mas no fundo parecia mais escuro, mais íntimo. Tinha um cheiro agradável e fraco de pinheiro e percebi que era bem ventilado, mas não estava frio.
Percebi que tinha lareiras, com grades e tela como proteção e ajudavam a aquecer o ambiente, mas vi alguns ares-condicionados.
Tocava country, e bem no meio, para o fim do bar não tinha nenhuma mesa e as pessoas usavam como pista de dança.
-Aqui vamos relaxar... Mas tem outro de rock muito bom, perto do centro. – ela disse e eu levantei uma sobrancelha – Eu sei que nunca gostei muito de country, mas aqui tem uma comi deliciosa. Deixa de ser chata!
Ri divertida, mas no fim, acabei cedendo e sentemos em uma mesa mais no fundo. Comemos asinhas de frango deliciosas e gemi diante o sabor.
-Oi garotas. – olhei para o lado da mesa e sorri para o homem que nos olhava – Sou o dono, Tales. Gostaram do frango?
O sorriso do Tales era de matar, tranquilo e fácil, com dentes brancos e perfeitos. A pele pálida era bonita e parecia suave, mas seu corpo era musculoso, seu cabelo tinha cor de um loiro escuro bonito, um pouco grisalho, que o deixava lindo. Seus olhos tinham um tom cinza incomum, mas quando cheirei, percebi que ele era completamente humano. Ele usava uma roupa larga, calça jeans escura, uma blusa clara e jaqueta jeans cinza escura por cima.
-O melhor que já comeram, com certeza. – olhei para o lado surpresa, vendo um homem colocar o braço ao redor do Tales e então encarou Camille com fome – Sou o Jeferson. Como estão?
Jeferson já poderia muito bem ter seus quarentas anos, mas estava muito bem conservado, um humano e tanto. Mesmo sendo magro, eu percebi que tinha uns músculos bonitos, principalmente que ele estava de blusa de manga comprida azul colada que marcava cada traço do seu corpo. Seu cabelo loiro tinha alguns fios grisalhos que davam um charme bonito e usava uma calça jeans azul giz.
-Muito bem. – Camille respondeu e riu – E já estamos indo, então...
-Tudo bem, tudo bem. – Jeferson nem me olhou uma vez, mas parecia decepcionado com o fora da Camille.
-Desculpe esse i****a. O chefe vai ficar feliz por ter ganhado mais elogios... – Tales me olhou sorrindo, então fez uma careta – Eu conheço você?
-Duvido muito. – respondi sorrindo – Eu me mudei ontem pra cá. Como faz pra pagar a conta?
-Vou mandar o garçom vir. – ele disse, ainda parecendo duvidoso.
Fiz uma careta, mas ele logo mandou o garçom e nós voltamos pra casa, onde eu tirei minha roupa e deitei na cama.
Tales... Ele era lindo. Sorri.
Jeferson... Estranhamente familiar, mas ele de longe pareceu me reconhecer, então dei os ombros e fechei os olhos, disposta a dormir.
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