Capítulo três

1686 Words
Terminei de guardar o suco na geladeira e virei para Camille. -Você não pode de forma alguma contar pra mamãe. – falei e Camille engoliu em seco e respirou profundamente, parecendo incomodada – Ela vai ficar preocupada e vai querer vir pra cá! Vai querer investigar e ainda assim... -Vai ficar com medo de te perder. – Camille completou e assentiu – Ela sente como se te tivesse desde que nasceu e é muito ciumenta. -Por isso me impressionei quando ela me deixou vir pra tão longe. – falei olhando para a pequena casa que eu dividia por enquanto com Camille, então voltei meu olhar para o seu azul como o céu – Estou falando sério... -Eu não vou falar nada, mas se você descobrir quem é sua família, você terá que falar pra ela. – Camille disse e eu assenti – Acha que seja alguém do clã Medved? Revirei os olhos. -Impossível. – falei e sentei no sofá verde, cafona, da sala – Deve ser de algum outro clã ao redor de Banff. Quero dizer... Não falando que eu não quero saber quem é minha família, mas... Está tudo tão bem... E o jeito que eu fui achada na Rússia, vai saber o que aconteceu! Camille ficou na minha frente, me encarando de cima, enquanto eu me joguei no sofá. Estando usando apenas uma calça de moletom verde musgo e uma blusa branca do Blink, eu não conseguiria levar ela a sério, se o assunto não me fizesse ficar tão nervosa. -Medved é um clã grande Micaela. – Camille falou e eu olhei pra ela com medo – Não adianta ficar com medo. Se seus pais forem de lá, é bom você ir visitar. Você tem que encarar a realidade! -Mas você sabe como eu fui achada! – gritei levantando do sofá – Ensanguentada, machucada, infernos! Sabe-se lá o que aconteceu! Como eu fui parar na Rússia?! -Vamos falar disso amanha. – ela suspirou – Mas você tem que ir para o clã Medved Micaela... Ou eu te chamo de Anya? Gritei e bufei. -Eu não sei! – senti a frustração dentro de mim, enquanto senti minha ursa acordar durante um instante, mas então some – Merda! -O que foi? – perguntou e eu olhei com vontade de chorar. -Minha ursa finalmente está reagindo a algo. – falei e comecei a tremer – Apesar de sempre sentir minha ursa, ela nunca se manifestou, eu nunca consegui me transformar, mas agora, quando relacionado a esse assunto, ela parece ter uma reação... E eu estou com medo do que isso significa! -Vamos dormir descansar, pensar melhor e amanhã nós conversamos. – ela me puxou em um abraço e eu segurei as lágrimas – Se acalme. -Eu... Eu me lembro de acordar com medo, chorando, triste... – falei engolindo em seco – No hospital eu estava apavorada e eu nem sabia por quê. A sensação me matava por dentro e eu chorava sem parar e o pior é sem saber por que! Mas agora... Talvez com a resposta... Estou tão confusa! -Vou preparar um chá pra você se acalmar. – ela disse e se afastou – Estou aqui por ti, tudo bem? Depois de ferver a água, as folhas, e esperar então mais uns vinte minutos, minhas irmã voltou com uma xicara de chá de erva-cidreira e camomila. -Quando você decidir ir ver o clã Medved eu vou com você. – ela apertou uma mão minha e eu olhei para seus olhos – Somos irmãs e eu vou te apoiar. Tomei o chá em silêncio, encostando minha cabeça no ombro da minha irmã. Senti o cansaço que tive do dia me alcançar e graças ao chá me acalmei o suficiente pra conseguir sentir sono. -Boa noite Camille. – falei levantando do sofá e sorri triste pra ela – Obrigada. -Não por isso pequena. – ela disse e eu fui para o quarto. Nessa casa, tinha uma cozinha, junto com a sala de TV e uma mesa quadrada com apenas duas cadeiras de metal e estufada. Todas as paredes tinham um tom suave de amarelo, enquanto no meu quarto era um tom suave de céu azul, mas o teto escuro como a noite e o chão todo forrado por um tapete felpudo vermelho. Tinha mais o quarto da minha irmã, as paredes de verde claro, com algumas ervas penduradas próximas à janela. E tinha um banheiro no fim do corredor que eu dividia com ela. Olhei pra minha cama de solteiro, a primeira noite que eu iria passar nela e sentei. Confortável. Tirei minha roupa, sem me importar em colocar pijama e me enfiei em baixo das cobertas que me fizeram tremer por ainda estarem geladas. Enquanto eu me aquecia, senti o cansaço vir sobre mim e me vi mergulhada no sono. Meus olhos estavam fechados, a escuridão me circulando, mas então ouvi um som suave familiar e abri os olhos. Eu me vi sentada em um bar, onde tocava uma suave música.  Era escuro e com um cheiro de forte bebida. Fiz uma careta, pois eu não me lembro de ir a um bar tão decaído, mas eu não senti minha expressão mudar. Podia sentir o cansaço em mim e soube que minha expressão era de uma pessoa acabada. -E ai docinho. – virei para o lado, vendo um homem que parecia britânico, o sotaque forte – Quer... Rosnei irritada e senti minha ursa se mostrar e virei pra olhar para o homem, sabendo que ele estava vendo meu rosto se mexer, próximo a transformação e ele gritou. -p***a! – ele saiu correndo e eu suspirei. -Um humano. – olhei pra frente, vendo o barman me olhando, falando com um suave sotaque russo – Você está irritada e não é bom você ficar bêbada tão irritada. -Cala a boca. – revirei os olhos – Alguma noticia dele Wagner? -Não Anya. – ele se inclinou sobre o balcão e suspirou – Você deveria voltar para seu clã, eles devem estar preocupados. -Já sai faz mais de um ano, não devem nem se lembrar de mim e infernos se eu quero voltar pra lá. – falei irritada e me levantei – Ficam apenas querendo me controlar! Vou fazer Nicolas pagar. Você é meu informante e eu quero saber se você ouvir qualquer coisa. -Anya, eu já disse. – ele se endireitou e suspirou – Faz duas semanas que eu vi ele e ninguém tem nenhuma informação. -Se você quiser mais da droga, é bom descobrir mais. – rosnei e ele revirou os olhos. -Se você continuar a se meter com eles, você vai se dar m*l. – ele se aproximou novamente e negou – Eles tem muitos inimigos Anya. Eu estou te pedindo, tome cuidado. E eu sei que você não vai me parar de dar ela. Rosnei furiosa. -Só por que eu sei que sua mãe precisa delas. – falei e dei os ombros – Já não importa. Eu só preciso da sua ajuda e sei que você me ajudar. -Claro que sim. – ele puxou meu pescoço e deu um suave beijo sobre meus lábios, antes de se afastar sorrindo triste – Eu te devo minha vida Anya. -Eles não iam realmente te matar. – falei e me sentei no banquinho novamente – Eles não são tão maus, sabe. -Eles não são maus com você. – ele bufou – Eles são mortais e impiedosos com todos. -Só porque eu salvei a filha do Peter. – respondi dando os ombros – Mas eles são pessoas maravilhosas, é só você não f***r com eles. Ouço um barulho irritante e virei para ver meu celular tocar o despertador. Peguei o celular da cabeceira e desliguei o alarme, vendo que já eram oito horas. Joguei meu celular para o lado da cama e virei de lado, cansada. Lembrei-me do sonho e arregalei os olhos. Certeza absoluta que isso foi uma lembrança! Com certeza que esse sonho foi uma lembrança. Isso só me deixou mais e mais confusa! Quis gritar de raiva, mas levantei e fui direto para o banho, precisando pensar, tentar entender. Entrei na ducha e comecei a me lavar, relembrando do sonho mais uma vez. Fagner era o nome daquele homem e pelo que eu pude lembrar, não era humano, mas não era urso. E um homem chamado Nicolas que eu procurava, com um sentimento de raiva e tristeza em mim. Soube que Nicolas não era o homem dos meus sonhos, mas se então ele não era, quem realmente era Nicolas? Será que alguma coisa pode começar a ter sentindo?! Sai do banheiro gritando e bati a porta do meu quarto com raiva. Qual é o problema com minha cabeça?! Rapidamente me arrumei, colocando uma calça jeans e uma blusa preta, já com um blusão cinza que me esquentaria mais que duas blusas juntas. Calçando botas de cano curto, sai do quarto e vi minha irmã usando roupão, no balcão da cozinha, tomando uma xicara de café e me estendeu um prato com dois pães na chapa. -Pelo visto teve uma noite difícil. – ela falou e eu suspirei, mas peguei o prato e sente na cadeira, colocando o prato na mesa – O que houve? -Eu estou me lembrando das coisas Camille e cada vez mais, parecem fazer menos e menos sentindo. – senti lágrimas nascerem e ela se sentou na minha frente, preocupada – Eu acho que... Eu me lembrei do bar. Não tudo, mas... Ela esfregou o rosto e suspirou, mas voltou a me olhar. -Mamãe nunca quis que te falar nada, mas nós temos algumas informações sobre o que pode ter acontecido. – quando ela falou, senti minha expressão morrer e sangue fugir do meu rosto. Eles me enganaram?! Durante todos esses anos?! -O que?! – perguntei incrédula e me levantei furiosa. -É só que... – ela mordeu o lábio e suspirou, mas sem ter coragem de me olhar, encarou o chão – Você não estava sozinha naquele beco e muita parte do sangue que te cobria não era seu. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Seja meu padrinho e me ajude a continuar a publicar minhas histórias! https://www.padrim.com.br/vewinkg  
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