Terminei de guardar o suco na geladeira e virei para Camille.
-Você não pode de forma alguma contar pra mamãe. – falei e Camille engoliu em seco e respirou profundamente, parecendo incomodada – Ela vai ficar preocupada e vai querer vir pra cá! Vai querer investigar e ainda assim...
-Vai ficar com medo de te perder. – Camille completou e assentiu – Ela sente como se te tivesse desde que nasceu e é muito ciumenta.
-Por isso me impressionei quando ela me deixou vir pra tão longe. – falei olhando para a pequena casa que eu dividia por enquanto com Camille, então voltei meu olhar para o seu azul como o céu – Estou falando sério...
-Eu não vou falar nada, mas se você descobrir quem é sua família, você terá que falar pra ela. – Camille disse e eu assenti – Acha que seja alguém do clã Medved?
Revirei os olhos.
-Impossível. – falei e sentei no sofá verde, cafona, da sala – Deve ser de algum outro clã ao redor de Banff. Quero dizer... Não falando que eu não quero saber quem é minha família, mas... Está tudo tão bem... E o jeito que eu fui achada na Rússia, vai saber o que aconteceu!
Camille ficou na minha frente, me encarando de cima, enquanto eu me joguei no sofá. Estando usando apenas uma calça de moletom verde musgo e uma blusa branca do Blink, eu não conseguiria levar ela a sério, se o assunto não me fizesse ficar tão nervosa.
-Medved é um clã grande Micaela. – Camille falou e eu olhei pra ela com medo – Não adianta ficar com medo. Se seus pais forem de lá, é bom você ir visitar. Você tem que encarar a realidade!
-Mas você sabe como eu fui achada! – gritei levantando do sofá – Ensanguentada, machucada, infernos! Sabe-se lá o que aconteceu! Como eu fui parar na Rússia?!
-Vamos falar disso amanha. – ela suspirou – Mas você tem que ir para o clã Medved Micaela... Ou eu te chamo de Anya?
Gritei e bufei.
-Eu não sei! – senti a frustração dentro de mim, enquanto senti minha ursa acordar durante um instante, mas então some – Merda!
-O que foi? – perguntou e eu olhei com vontade de chorar.
-Minha ursa finalmente está reagindo a algo. – falei e comecei a tremer – Apesar de sempre sentir minha ursa, ela nunca se manifestou, eu nunca consegui me transformar, mas agora, quando relacionado a esse assunto, ela parece ter uma reação... E eu estou com medo do que isso significa!
-Vamos dormir descansar, pensar melhor e amanhã nós conversamos. – ela me puxou em um abraço e eu segurei as lágrimas – Se acalme.
-Eu... Eu me lembro de acordar com medo, chorando, triste... – falei engolindo em seco – No hospital eu estava apavorada e eu nem sabia por quê. A sensação me matava por dentro e eu chorava sem parar e o pior é sem saber por que! Mas agora... Talvez com a resposta... Estou tão confusa!
-Vou preparar um chá pra você se acalmar. – ela disse e se afastou – Estou aqui por ti, tudo bem?
Depois de ferver a água, as folhas, e esperar então mais uns vinte minutos, minhas irmã voltou com uma xicara de chá de erva-cidreira e camomila.
-Quando você decidir ir ver o clã Medved eu vou com você. – ela apertou uma mão minha e eu olhei para seus olhos – Somos irmãs e eu vou te apoiar.
Tomei o chá em silêncio, encostando minha cabeça no ombro da minha irmã.
Senti o cansaço que tive do dia me alcançar e graças ao chá me acalmei o suficiente pra conseguir sentir sono.
-Boa noite Camille. – falei levantando do sofá e sorri triste pra ela – Obrigada.
-Não por isso pequena. – ela disse e eu fui para o quarto.
Nessa casa, tinha uma cozinha, junto com a sala de TV e uma mesa quadrada com apenas duas cadeiras de metal e estufada. Todas as paredes tinham um tom suave de amarelo, enquanto no meu quarto era um tom suave de céu azul, mas o teto escuro como a noite e o chão todo forrado por um tapete felpudo vermelho.
Tinha mais o quarto da minha irmã, as paredes de verde claro, com algumas ervas penduradas próximas à janela. E tinha um banheiro no fim do corredor que eu dividia com ela.
Olhei pra minha cama de solteiro, a primeira noite que eu iria passar nela e sentei.
Confortável.
Tirei minha roupa, sem me importar em colocar pijama e me enfiei em baixo das cobertas que me fizeram tremer por ainda estarem geladas.
Enquanto eu me aquecia, senti o cansaço vir sobre mim e me vi mergulhada no sono.
Meus olhos estavam fechados, a escuridão me circulando, mas então ouvi um som suave familiar e abri os olhos.
Eu me vi sentada em um bar, onde tocava uma suave música. Era escuro e com um cheiro de forte bebida.
Fiz uma careta, pois eu não me lembro de ir a um bar tão decaído, mas eu não senti minha expressão mudar. Podia sentir o cansaço em mim e soube que minha expressão era de uma pessoa acabada.
-E ai docinho. – virei para o lado, vendo um homem que parecia britânico, o sotaque forte – Quer...
Rosnei irritada e senti minha ursa se mostrar e virei pra olhar para o homem, sabendo que ele estava vendo meu rosto se mexer, próximo a transformação e ele gritou.
-p***a! – ele saiu correndo e eu suspirei.
-Um humano. – olhei pra frente, vendo o barman me olhando, falando com um suave sotaque russo – Você está irritada e não é bom você ficar bêbada tão irritada.
-Cala a boca. – revirei os olhos – Alguma noticia dele Wagner?
-Não Anya. – ele se inclinou sobre o balcão e suspirou – Você deveria voltar para seu clã, eles devem estar preocupados.
-Já sai faz mais de um ano, não devem nem se lembrar de mim e infernos se eu quero voltar pra lá. – falei irritada e me levantei – Ficam apenas querendo me controlar! Vou fazer Nicolas pagar. Você é meu informante e eu quero saber se você ouvir qualquer coisa.
-Anya, eu já disse. – ele se endireitou e suspirou – Faz duas semanas que eu vi ele e ninguém tem nenhuma informação.
-Se você quiser mais da droga, é bom descobrir mais. – rosnei e ele revirou os olhos.
-Se você continuar a se meter com eles, você vai se dar m*l. – ele se aproximou novamente e negou – Eles tem muitos inimigos Anya. Eu estou te pedindo, tome cuidado. E eu sei que você não vai me parar de dar ela.
Rosnei furiosa.
-Só por que eu sei que sua mãe precisa delas. – falei e dei os ombros – Já não importa. Eu só preciso da sua ajuda e sei que você me ajudar.
-Claro que sim. – ele puxou meu pescoço e deu um suave beijo sobre meus lábios, antes de se afastar sorrindo triste – Eu te devo minha vida Anya.
-Eles não iam realmente te matar. – falei e me sentei no banquinho novamente – Eles não são tão maus, sabe.
-Eles não são maus com você. – ele bufou – Eles são mortais e impiedosos com todos.
-Só porque eu salvei a filha do Peter. – respondi dando os ombros – Mas eles são pessoas maravilhosas, é só você não f***r com eles.
Ouço um barulho irritante e virei para ver meu celular tocar o despertador.
Peguei o celular da cabeceira e desliguei o alarme, vendo que já eram oito horas. Joguei meu celular para o lado da cama e virei de lado, cansada.
Lembrei-me do sonho e arregalei os olhos. Certeza absoluta que isso foi uma lembrança! Com certeza que esse sonho foi uma lembrança. Isso só me deixou mais e mais confusa!
Quis gritar de raiva, mas levantei e fui direto para o banho, precisando pensar, tentar entender.
Entrei na ducha e comecei a me lavar, relembrando do sonho mais uma vez.
Fagner era o nome daquele homem e pelo que eu pude lembrar, não era humano, mas não era urso. E um homem chamado Nicolas que eu procurava, com um sentimento de raiva e tristeza em mim. Soube que Nicolas não era o homem dos meus sonhos, mas se então ele não era, quem realmente era Nicolas?
Será que alguma coisa pode começar a ter sentindo?!
Sai do banheiro gritando e bati a porta do meu quarto com raiva. Qual é o problema com minha cabeça?!
Rapidamente me arrumei, colocando uma calça jeans e uma blusa preta, já com um blusão cinza que me esquentaria mais que duas blusas juntas.
Calçando botas de cano curto, sai do quarto e vi minha irmã usando roupão, no balcão da cozinha, tomando uma xicara de café e me estendeu um prato com dois pães na chapa.
-Pelo visto teve uma noite difícil. – ela falou e eu suspirei, mas peguei o prato e sente na cadeira, colocando o prato na mesa – O que houve?
-Eu estou me lembrando das coisas Camille e cada vez mais, parecem fazer menos e menos sentindo. – senti lágrimas nascerem e ela se sentou na minha frente, preocupada – Eu acho que... Eu me lembrei do bar. Não tudo, mas...
Ela esfregou o rosto e suspirou, mas voltou a me olhar.
-Mamãe nunca quis que te falar nada, mas nós temos algumas informações sobre o que pode ter acontecido. – quando ela falou, senti minha expressão morrer e sangue fugir do meu rosto.
Eles me enganaram?! Durante todos esses anos?!
-O que?! – perguntei incrédula e me levantei furiosa.
-É só que... – ela mordeu o lábio e suspirou, mas sem ter coragem de me olhar, encarou o chão – Você não estava sozinha naquele beco e muita parte do sangue que te cobria não era seu.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Seja meu padrinho e me ajude a continuar a publicar minhas histórias!
https://www.padrim.com.br/vewinkg