9. Capitulo – A Sala de Vidro e o Coração em Silêncio

1353 Words
*Opa! E ai, antes de começar a leitura, passando pra te lembrar de deixar um comentário, nem que seja apenas me dando um Oi. Isso cria engajamento ao livro, desde já agradeço sua presença aqui. Boa Leitura! Kiara tentou manter os olhos fixos na tela, acompanhando cada gráfico, cada linha de código, cada detalhe que Nicolas explicava com aquela voz firme e perigosamente hipnotizante. Ele falava sobre os riscos de um sistema vulnerável, sobre camadas de proteção, sobre o código que precisaria ser reescrito do zero; tudo com a frieza estratégica de quem já enfrentou guerras silenciosas dentro da rede global. Mas a mente dela… a mente dela a traía. Enquanto ele falava de firewalls e rotas criptografadas, ela só conseguia imaginá-lo em silêncio, desabotoando o próprio paletó com a mesma precisão metódica. Como passava a mão pelos cabelos ao pensar... e se fosse nela? E se ele a olhasse daquele jeito: não como a sua assistente, mas como mulher? Ela cruzou as pernas, tentando recuperar o foco. — Respira, Kiara… sussurrou para si mesma, quase inaudível. O som grave da voz dele quase a fazia esquecer que estavam numa sala de reuniões envidraçada onde qualquer um podia vê-los. Esquecer que ela era apenas uma funcionária. Que havia decidido sair dali. Que aquilo… era proibido. — Entendeu essa parte? Ele perguntou, inclinando-se levemente na sua direção. Ela piscou, engoliu seco. — Sim. Respondeu com a voz mais firme que conseguiu reunir. Mas evitou encará-lo por mais de dois segundos. O calor na sua pele desmentia a compostura que tentava manter. E, ainda assim, permaneceu ali inteira. Como sempre. Como se o maior desafio daquele momento não fosse a segurança digital, mas o próprio Nicolas. O cliente, um homem de aparência elegante, sotaque indefinido e olhos que pareciam decifrar mais do que revelavam, desviou o olhar de Nicolas e o pousou diretamente nela. Ele a observou por um instante, como quem analisa um código complexo antes de quebrá-lo. — Trabalha com ele há quanto tempo? Perguntou, voz baixa, cortante, afiada como uma lâmina bem polida. Kiara, ainda com o laptop equilibrado nos joelhos, sustentou o olhar com firmeza. — Quatro meses e alguns dias. Respondeu, profissional. O homem sorriu. Não era um sorriso cordial. Havia nele algo de irônico, quase calculado como se tivesse compreendido mais do que ela dissera. — E continua viva? Provocou, inclinando-se ligeiramente à frente. Olhou de relance para Nicolas. — Isso é… impressionante. Nicolas soltou uma risada seca, cruzando os braços. — Não comece, Olavo. — Só estou fazendo constatações. Disse ele, voltando a encará-la. — O senhor D’Alencar tem um talento singular para afastar as pessoas. Com exceção de você, aparentemente. Talvez por paciência. Ou... outro motivo. Kiara manteve o tom neutro, mesmo com o coração martelando. — Talvez eu seja apenas boa no que faço. Olavo arqueou uma sobrancelha, depois assentiu, satisfeito com a resposta. — Espero que continue. Vai precisar. E então voltou-se a Nicolas, retomando o tema técnico como se nada tivesse acontecido. Mas, para Kiara, a provocação havia sido lançada sutil e certeira. E, mais uma vez, ela se perguntou o que, afinal, os outros viam quando a olhavam ao lado de Nicolas. A reunião terminou com um aceno contido de Olavo. A tensão, porém, ficou no ar como um código em segundo plano que ninguém encerrara. Kiara recolheu os materiais com a mesma precisão de sempre. Quando voltou à sala de Nicolas, estendeu o tablet com o resumo completo da reunião. Ele nem precisou perguntar, sabia que tudo estaria ali: tópicos, prioridades, próximos passos. — Obrigado. Disse, pegando o tablet. — Você publicou o anúncio da vaga? — Publiquei. Respondeu ela, esforçando-se para manter a voz firme. Nicolas se recostou na cadeira, examinando a tela por alguns segundos. Depois ergueu o olhar para ela. — Escolha dois. Disse, como se delegasse algo rotineiro. — Você entrevista os candidatos. Eu decido entre eles. Ela franziu levemente a testa, surpresa. — Vai confiar tanto assim no meu julgamento? Ele deu de ombros. — Já confio. Só quero garantir que vou escolher alguém que você aprovaria para trabalhar ao seu lado. Ou... que você detestaria ver no meu lugar. Kiara mordeu o canto da boca, sem saber se aquilo era um elogio, uma provocação ou ambos. — E se eu sabotar todos os candidatos só para você não conseguir me substituir? Nicolas sorriu. Aquele sorriso torto, vagamente perigoso. — Se alguém conseguir te substituir, Kiara... é porque você permitiu. Sem responder, ela saiu da sala com o coração mais pesado do que gostaria de admitir. Agora era oficial. Ela estava treinando quem ocuparia o lugar dela, ao lado de um homem que nunca fora só seu chefe. No apartamento, Kiara entrou no banheiro em silêncio. Estava exausta. E não apenas fisicamente. O cansaço vinha de um lugar mais fundo, onde emoção e razão travavam guerra todos os dias. Ligou o chuveiro. Deixou a água quente escorrer pelas costas, como se pudesse lavar também as dúvidas e sentimentos acumulados. Encostou a testa na parede de mármore e fechou os olhos. “Escolha dois”, ele dissera. Como se fosse simples. Como se não doesse estar ali, tão perto dele, fingindo que seus sentimentos eram apenas profissionais. O vapor tomava o ambiente. Ela passou as mãos pelos cabelos molhados, tentando esvaziar a mente. Mas era inútil. A imagem de Nicolas, os olhos intensos, a voz que mudava quando se empolgava, o toque breve nas costas ao passarem por uma porta estreita voltava como um arquivo que insiste em abrir sozinho, sem permissão. Kiara suspirou e saiu do banho. Enrolou-se na toalha e encarou o espelho embaçado. A mulher que a fitava de volta parecia mais velha não no rosto, mas no olhar. A maioria a chamaria de insana por querer deixar um emprego prestigiado, cercado de conforto e privilégios. Nos últimos quatro meses, ela repetira isso para si mesma, tentando convencer o coração com lógica. Mas, aos poucos, aprendia o que a vida tentava lhe dizer em silêncio: prestígio não preenche vazios. E estabilidade não impede o coração de quebrar. Unhas bem feitas, roupas elegantes e cafés servidos em salas de vidro não significam que tudo está bem. Às vezes, escondem o que está mais despedaçado por dentro. Ela se apaixonara por Nicolas no instante em que o viu. Sem permissão. Sem lógica. E com mais intensidade do que gostaria de admitir. Sabia que não era a primeira mulher a se sentir assim. Seu chefe era o tipo de homem que arrastava sentimentos mesmo sem querer. Um homem capaz de deixar cicatrizes bonitas e lembranças perigosas. Por isso precisava ir. Já bastava de confusão. Tentava se reaproximar de um pai distante. E, em vão, esquecer um homem que jamais seria seu. Ele talvez visse aquilo como um caso passageiro. Para ela, era algo que ficaria. Não o romance em si porque ele nem começara mas a maneira como ele fazia tudo parecer mais leve. Ele não era frio. Não com ela. Às vezes, parecia sorrir só para vê-la sorrir de volta. Ela se lembrava nitidamente de uma tarde. Após uma reunião tensa, ele insistiu para almoçarem no terraço. Ela estava m*l-humorada, cheia de papéis. Ele puxou uma cadeira com exagerada gentileza e disse, teatral: — Senhorita Kiara, sente-se e me faça o favor de me lembrar por que contratamos um arquiteto com gosto duvidoso. Ela riu. Do jeito como ele falou. Da careta que fez ao olhar a planta. E, talvez, por sentir de verdade que era vista. Esse era o problema. Nicolas a fazia sentir. Tudo. Ria com ela. Tocava sua alma sem saber. Bagunçava seu mundo apenas por existir. E, por mais que doesse, Kiara sabia: precisava partir antes que o amor virasse prisão. Mas a verdade? Pensava nele o tempo todo. A cadeira dele parecia mais vazia. O ar da sala, mais denso. E sua voz… sua voz era como uma lembrança doce que o corpo dela se recusava a esquecer. Ela sabia: Partir seria difícil. Ficar, insuportável. Porque amar aquele homem era como viver uma história linda daquelas que, cedo ou tarde… acabam.
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