A Cabana

1159 Words
Justine parou de falar e percebeu que suas interlocutoras estavam atentas a ela, teve vontade de rir, mas se conteve e continuou: _ Gabrielle também tinha um oráculo, mas diferente do nosso, ela usava as cartas do tarot e fazia o mapa dos céus, isso se alguma situação exigisse, e surgiu, certo dia estava no jardim regando as rosas quando Matilda, uma bruxa que tinha parte do rosto queimado e é cega de um olho, com o dom da clarividência auditiva, veio em minha direção e com voz rouca e calma falou que estava na hora de ir embora dali, na hora entrei em choque, pois sabia que era algum espirito falando atraves dela, tentei argumentar, mas antes disso Matilda ja estava piscando os olhos, sinal que o espirito ja tinha ido embora, quando isso acontecia ela nao se lembrava de nada e resolvi usar isso a meu favor e disse que nao entendi nada do recado, mas naquele mesmo dia outra bruxa teve uma visão de que eu estava morando numa cabana no meio da floresta e desta vez outra pessoa escutou, então não demorou muito para Gabrielle abrir seu oráculo e falar que era hora de ir pra outro lugar. Justine se levantou e foi até a janela de vitrais coloridos, sendo observada pelas duas mulheres, suspirou e continuou: _Ela fez uma sessão pra conversar com os espíritos que confirmaram que eu precisava ir embora, mas precisamente pra Bélgica na direção de Bruxelas e mais uma vez eu precisa ir embora de um lugar seguro, só que desta vez além de dinheiro e documentos, eu era mais bem preparada, sabia falar não só espanhol e inglês, mas também falava francês e alemão, me vestia de acordo com a moda, sabia conjurar feitiços sem precisar falar nada em voz alta, e o mais importante de tudo eu aprendi com Gabrielle a não ter preconceito, pois ela ajudava qualquer sobrenatural que dependesse dela, inclusive lá frequentavam vez ou outra lobisomens e vampiros precisando de ajuda. Justine voltou a se sentar, tomou um gole da suco e continuou: _ No dia seguinte quando o sol estava nascendo peguei algumas coisas pessoais, coloquei numa mochila, vesti uma calça de tecido grosso, coturno, moletom e uma boina, nao era uma roupa tipica das mulheres nos anos 50, mas queria que pensassem que era um homem, estava preparada para qualquer viagem, desci para o térreo e não havia ninguém, exceto Gabrielle, ela sorriu e falou que eu era muito especial, me desejou sorte e me deu um colar com um pingente de quartzo branco que sempre usava, chorei, agradeci muito por tudo que ela me ensinou e fui embora - disse com lágrimas nos olhos. Demorei um dia e meio pra chegar em Bruxelas, lá estando procurei um lugar pra me estabelecer e numa padaria onde tomei chá a balconista, uma moça bem jovem, me indicou a pensão da Sr Nora, pra me alugar um quarto disse a ela que era sozinha e paguei adiantado, consegui um quarto, durante o dia andava pela cidade pra conhecer e sempre me recolhia quando começava a escurecer, então quando já estava a quatro dias nesta rotina ja pensando em ir embora, quando a Sr Nora, que tinha uma energia de frustração latente, me esperava na porta pra perguntar se eu saia todos os dias pra procurar emprego, afirmei que sim e ela me falou de uma antiga moradora da cidade que se mudou pra uma cabana no meio da floresta e como já estava idosa precisava de ajuda, o trabalho era pesado, mas pagava bem e resolvi ir conhecer a senhora da floresta- Justine parou, tomou fôlego e continuou: _Nora me levou até a cabana no dia seguinte, para chegar lá era preciso ir de carroça e levou mais de uma hora, era no meio da floresta, no caminho disse que sua amiga se chamava Varvara, era russa, viúva a muitos anos resolveu ir morar no meio da natureza onde ela dizia que se sentia menos triste, ao chegarmos vi que era uma antiga cabana de caça bem grande, senti uma energia de protecao no lugar o que era incomum, mas quando a Sr Varvara abriu a porta soube na hora que ela era uma bruxa, ela devia ter mais de duzentos anos, pois sua aparência era bem idosa, mas para sua amiga tinha apenas oitenta e oito anos, me conectei a energia dela na hora, gostamos uma da outra e ficou combinado que eu voltaria no dia seguinte pra começar o serviço por um valor apropriado pra ela me pagar. Justine parou e tomou um pouco de água que Vitória lhe serviu e ambas as mulheres a acompanharam e continuou: _Quando cheguei no dia seguinte ela estava fazendo chá de capim limão, sentamos pra conversar e ela me falou que soube que eu era uma bruxa desde o momento que me viu também, disse que tinha duzentos e seis anos, mas tinha parado de fazer os rituais de rejuvenescimento e tomar as porções depois que seu grande amor, Jean, começou a envelhecer e ficar doente, infelizmente ele faleceu a alguns anos e com o dinheiro que juntaram por toda a vida ela então resolveu vir morar na floresta pra ter suas ervas e viver em paz na natureza, já que seu dom era ser curandeira, uma mãe das ervas como conhecemos. Ela perguntou meu dom e disse a ela que eu podia curar as pessoas com um toque, mas que nem sempre funcionava, desse dia em diante nós trabalhávamos todos os dias cuidando das hortas e cultivo de ervas, não tínhamos animais apenas um cavalo para usarmos a carroça, ao inves disso nós compravamos carne seca e leite quando iamos a cidade ou pescavamos no rio próximo, ela também me ensinou um pouco do seu dom, me avisou da matilha que tinha na região, mas que ela conjurou um feitiço pra eles não saberem que ela estava lá e prometi nunca chegar perto da fronteira, mas as vezes sentia a presença deles por perto, as vezes ela ia na cidade pra comprar sementes e outros suplementos, nem sempre queria que a acompanhasse apesar de ser um caminho longo de carroça, eu respeitava sua vontade. Vivemos por mais de um ano assim, até que um dia Varvara amanheceu debilitada, com dor nas pernas e dificuldade pra respirar, ela não quis que a ajudasse com meu dom, queria que tudo acontecesse como manda a natureza e poder reencontrar seu Jean. Varvara não teve filhos, ela não engravidava e seu marido pediu pra ela não usar coisas de bruxa, dizia que Deus era quem tinha que decidir, passou o tempo e eles se conformaram em ser só eles. Conforme os dias passavam ela piorava e eu já fazia todo o serviço sozinha...- nesse momento Justine parou, pois alguém batia a porta e quando autorizado a entrar era Raquel agora com o carrinho contendo o almoço das três mulheres.
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