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1301 Words
Lili Harris Já faz três dias que o meu pai morreu e eu não consigo ainda crer nesse feito. Eu não consigo esquecer a cena dele desfalecendo na minha frente, nem a forma como ele agonizava em busca de ar e ainda teve o corpo dele. Ele estava vermelho, os olhos escureceram e a sua pele criou bolhas estranhas. Eu não sei explicar, mas foi horrendo. Eu vi o momento exato que ele deu o último suspiro e tudo foi tão rápido. Eu só consigo pensar nisso. Nada mais passa na minha cabeça e só agora é que comecei a olhar ao redor. Eu estou em um apartamento que é a cobertura de um prédio, é tão alto que eu fico tonta quando passo perto da varanda ou janela. Eu estou aqui desde aquela noite. O homem chamado Gustavo me trouxe com as minhas coisas e foi embora. Não o vi desde então. Ele apenas disse que tem tudo para banho e higiene, que uma mulher sempre vem limpar pelas manhãs e que em caso de fome, eu posso pedir por telefone que há na cozinha. Apenas isso e saiu. Se antes na mansão eu já me sentia sozinha, eu posso dizer com toda certeza de que solidão é essa de agora. Eu não sinto fome, não sinto ânimo e tenho passado esses três dias na cama vendo o tempo passar. Ou estagnar. Tudo ao redor parece lento, sem cor, sem sentido e vida. Já não tenho mais lágrimas para chorar e nem forças para alguma coisa. O meu pai se foi... — Menina, você precisa comer... — Uma bandeja de frutas, bolo, suco e biscoitos é colocada na minha frente, bem em cima da cama pela Dina, mas eu não tenho vontade. — Só um pouco... eu tenho medo de você desfalecer e eu serei culpada. — E-eu não tenho fome... — Respondo quase sem forças. — Beba o suco, então... precisa ingerir alguma coisa. — Eu me sento na cama e confesso que o meu corpo está fraco. Eu sinto um peso no corpo, uma falta de energia e de forças, mas não tenho vontade alguma de comer. Me dá um enjoo. — Posso entrar? — A voz de homem me deixa em alerta e a Dina autoriza. — Como está, Lili? — Mäl... e-eu sinto falta do meu pai. — É tudo que consigo dizer a ele sem chorar. — Eu sinto muito pelo que houve. Ele era um amigo meu de anos e eu estava tentando ajudá-lo..., mas não deu. — Ele fala com pesar. — O corpo será enterrado hoje. Quer ir? — Só agora? — Eu nem tinha pensado nisso. — O corpo passou por uma autopsia e foi confirmado o envenenamento. Ele age em poucos minutos e debilita os movimentos da vítima... eu não achei melhor você não saber desses detalhes. Não é bom para a sua cabeça. — Eu fico mesmo com medo de saber. — Se quiser ir, coma antes. Eu já sei que tem evitado de se alimentar, mas não te faz bem... sairemos em uma hora. — Eu apenas aceno e Dina pede licença. Mesmo sem vontade, eu começo a comer um pouco e bem devagar. Eu e sirvo do bolo, depois vou comendo umas uvas e bebo o suco. Eu sinto ainda um enjoo chato, mas não é tão forte. Vai passando aos poucos. Depois, eu vou às minhas coisas e procuro algo para vestir. De repente, eu sinto um enjoo forte e eu corro ao banheiro e começo a vomitar. Isso é porque não comi nada há longas horas. Vai ser difícil eu sair daqui, mas eu vou fazer um esforço. É por ele. O meu pai merece isso, ser enterrado dignamente. { . . . } Já pronta em frente ao espelho, eu uso um vestido preto longo reto e de mangas longas e véu. Eu peguei também um lenço para os meus cabelos e um salto baixo. Não uso maquiagem alguma por falta de vontade e eu fico pronta para sair. Depois de ter vomitado, eu voltei a comer o que eu tinha deixado na bandeja, mas eu ainda sinto um amargo na garganta. Nas minhas mãos, eu tenho uma bolsinha com lenços e eu só espero ser chamada. É uma loucura ver nitidamente que eu estou aos cuidados de um homem estranho. Eu não faço ideia do que eu assinei a mando do meu pai, mas para Gustavo pegar, deve ser sobre eu ficar com ele até decidir sobre o meu casamento. Será que é com ele que irei me casar? Não, por favor, não pode ser. Ele tem idade para ser meu pai. Ele é muito mais velho que eu e com certeza já passou dos cinquenta anos. Eu não posso me casar com ele. Jamais! O que eu faço agora? Não, espera. O meu pai disse que era com um dos filhos. Quem são? Não falaram nada ainda sobre isso. — Lili? — É Dina me chamado. — O senhor Baldoni está lhe chamando para irem. Eu apenas aceno e vou saindo tendo um peso nas pernas. Nós saímos do apartamento e eu ando bem atrás dele lhe seguindo. Entramos no elevador, vamos descendo e não é apenas nós dois. Tem mais dois homens conosco e eu tenho uma sensação de pãnico. Eles se vestem como seguranças, mas com certeza só obedecem a Gustavo. Dá medo! Eu me sinto minúscula aqui cercada de homens. Eu agradeço quando as portas se abrem e vamos saindo do prédio. Um carro preto enorme nos espera e eu confesso que me dá um medo absurdo de entrar no carro, mas eu não tenho escolha. Eu fico no banco de trás com Gustavo ao lado e os outros dois homens vão à frente. Eu me seguro para não surtar. — Fique tranquila, Lili. Ninguém aqui vai te machucar... eu sempre ando com seguranças e fora esses aqui, tem mais ao redor. — Ele parece ser os meus pensamentos. — É apenas para segurança. Já passei por certas tensões e o seu pai fazia o mesmo... é precaução. — Entendi. — Falo brevemente e o carro vai saindo. Ele deve ter notado os meus dedos se beliscando. O caminho dura alguns minutos e o carro entra num cemitério local. Nós paramos em frente a uma coluna improvisada e descemos pouco depois. É apenas nós. O local está aberto para ser colocado o caixão e ele vem sendo carregado por alguns homens. Eles param bem aqui na mina frente e eu engulo em seco enquanto o choro quer vir com tudo. Sem nada ser dito, o caixão é aberto brevemente, mas eu viro o rosto por não suportar a cena. Eu não quero ficar com essa cena na cabeça. Vai me assombrar! Mas o pouco que vi, os poucos segundos mostram que é ele. — Podem fechar! — Gustavo dá a ordem e os preparativos começam. — Quer dizer alguma coisa, Lili? O seu momento com ele é agora. — E-eu... eu o amava muito e sempre vou amar. Apesar de ter vivido anos naquela mansão, isolada e reclusa de tudo,ele me deu tudo que eu precisava e me protegeu até onde conseguiu... — As palavras já não tem mais forças. — Obrigada, pai... eu sempre vou te amar. O caixão é colocado no túmulo e a areia começa a cobrir aos poucos. Eu pego apenas um lenço bordado meu e despejo no local com o coração sangrando por dentro. Essa dor da partida sempre vai doer em mim eu espero muito que um dia, Flávio pague por isso. Eu sinto um misto de dor, de desespero e de medo que tudo tem a culpa dele, mas eu quero acreditar que poderei confiar nesse Gustavo. Eu não tenho outra opção.
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