Ponto de vista de Logan
Recebi uma mensagem de Kira. Ela vai mandar uma galera para minha casa. Mas não estamos lá, e ela não sabe disso. Mäl tivemos tempo de conversar — ela me encontrou, me deu uma missão e foi embora.
Corro até o prédio para, ao menos, estar pronto para receber quem quer que vá ao meu apartamento.
Logo, um grupo chega em um bugue. São três pessoas.
O primeiro é um homem imponente, grande e forte, com traços que lembram um leão.
A segunda é uma mulher exótica, de pele morena clara. Magra, de estatura mediana, ela usa o cabelo rastafári com neons azuis brilhantes.
O terceiro é um sujeito de cabelos espetados, tingidos de verde, com um estilo que lembra um punk. Magro, também de estatura mediana, veste roupas largas e usa uma viseira no rosto — parecida com os óculos que G.E.S.S. usa.
Me aproximo do grupo, e algo dentro de mim diz que esses só podem ter sido enviados por Kira. Não sei explicar, mas parece a cara dela.
O homem alto dá um passo à frente, a presença dele é imponente, e sua voz firme logo se faz ouvir:
— Jair, o Leão.
A jovem ao lado dele ergue o queixo levemente antes de se apresentar:
— Iara.
O terceiro integrante, um pouco mais reservado, apenas assente com a cabeça.
— Ghost.
Respondo no mesmo tom direto:
— Logan.
Não há necessidade de rodeios. Explico de imediato:
— Não moro mais aqui. Sofremos um ataque. Minha casa tava grampeada.
Eles trocam olhares rápidos. Não preciso de empatia, e muito menos de pena, então apenas dou de ombros, como se fosse um detalhe irrelevante. Passo o novo endereço e faço um gesto indicando o bugue.
— Vamos? Vou pegar carona com vocês.
Seguimos até o local da academia. O clima está tenso. Eles estão apreensivos, e eu também, mas não demonstro. Meu papel aqui não é vacilar.
Quando chegamos, percebo Jair mexendo no celular. O brilho da tela ilumina seu rosto enquanto ele digita algo. Fico observando por um momento até que ele percebe meu olhar e levanta os olhos para mim.
— Estou avisando Kira onde estamos. Afinal, ela vai aparecer à noite.
A informação me atinge como um soco no estômago. Não sei exatamente por quê, mas fico feliz em saber disso.
Preciso falar com Kira.
Só não faço ideia de como vai ser quando ela ver Analisa.
Talvez seja melhor que Analisa apareça depois. Pelo menos assim, terei tempo para prepará-la.
A noite chega, e todos já estão acomodados. Trocamos algumas poucas informações, mas, na verdade, Jair não para de falar sobre Kira. Ghost mergulha na rede e fica fora do ar o dia quase inteiro, enquanto Iara se enturma com Ivan. Observo os dois e não consigo evitar um sorriso—com certeza vai sair coelho desse mato. Iara parece fascinada pelos músculos dele e pelo seu jeito meio desajeitado, e Ivan, mesmo sem perceber, corresponde à atenção dela.
Quanto a mim, liguei para Teresa, sabendo que Kira chegaria em breve, mas também porque gosto da companhia dela. O encontro entre as duas pode ser interessante—quem sabe até ganho uns pontos com Teresa. Ela está empolgada com a ideia da gangue, e eu vou chamar Kira para entrar também. Só não faço ideia se ela poderá participar ou se aceitará o que verá aqui esta noite.
O toque do telefone interrompe meus pensamentos. Às vezes, tenho a impressão de que Kira espera o último raio de sol desaparecer e o céu mergulhar na escuridão para finalmente se mover. E, como se confirmasse minha teoria, assim que a noite se instala, ouço batidas firmes no portão da academia.
Abro o portão e me deparo com Kira. Algo nela está estranho. Muito estranho.
Seus olhos estão dilatados, as narinas tremem levemente enquanto ela fareja o ar como um animal rastreador. Há uma tensão em sua expressão, e é então que percebo algo que nunca tinha notado antes: seus caninos. São ligeiramente alongados, afiados demais para um humano. Lembro-me vagamente de que, com o passar dos séculos, a evolução suavizou essas presas na maioria das pessoas. Mas nela... estão ali, proeminentes, visíveis quando seus lábios se retraem minimamente.
— Por que aquela cobaia está aqui?
A pergunta dela é cortante, uma lâmina afiada rasgando meus pensamentos, que, para ser honesto, já estavam dispersos.
— Como... como...? — Tento falar, mas as palavras se atropelam na minha garganta. Não pode ser possível, pode?
Kira me encara, e sua voz soa absolutamente natural, como se estivesse falando do tempo ou da temperatura.
— Logan, eu sinto o cheiro dela aqui. Assim como sinto o cheiro dos outros.
Engulo seco. Um calafrio percorre minha espinha.
— Kira... — começo hesitante. — Ela apareceu aqui faz dois dias. E... como ela é ligada a você... achamos por bem dar-lhe abrigo...
Minha voz falha levemente, e percebo que estou tremendo. Talvez por medo. Talvez por puro instinto de sobrevivência.
Kira mantém o olhar fixo em mim por um instante que parece se estender além do normal. Então, simplesmente diz:
— Logan. Ok.
Ela não se move. Apenas me encara. Por um segundo, fico confuso. Espero que ela passe, entre, faça como todo mundo e simplesmente invada o espaço. Mas então percebo...
Ela está esperando um convite.
— Entre, Kira.
Dou um passo para o lado, criando espaço para que ela passe. Mas, ao invés de avançar de imediato, ela espera que eu me mova primeiro. Quando começo a andar, ela segue ao meu lado.
Assim que cruzamos a entrada, Kira age com precisão meticulosa. Retira as botas com um movimento ágil e, sem hesitar, saca de sua bolsa uma sapatilha descartável, calçando-a como se fizesse parte de um ritual ensaiado.
Observo em silêncio.
Tudo na vida de Kira parece ritualístico. Cada gesto, cada ação... tudo calculado.
Assim que adentra, Kira cumprimenta a todos. Um a um, citando os nomes separadamente, com a precisão de quem grava cada detalhe. Seu tom é sério, seus olhos analisam o ambiente como se já estivessem processando todas as variáveis possíveis.
Eu a encaro, intrigado. Então, sem rodeios, ela começa a falar:
— Estou abrindo uma corporação chamada K'Corp. Será uma empresa especializada em espionagem. Desde que encontrei alguns dossiês, percebi que a melhor forma de garantir segurança... é ter informações sobre os outros.
Ela continua expondo seus pensamentos e ideias durante a meia hora seguinte. Sua voz é firme, cada palavra calculada, cada argumento impecável. Então, de repente, um leve sorriso cínico surge no canto de sua boca.
— Você vai mantê-la escondida para quê mesmo? — Sua pergunta corta o ar, carregada de ironia. Seus olhos se voltam para mim, mas seu corpo já se movimenta sutilmente na direção do quarto onde Analisa está.
Engulo seco. Não adianta tentar despistar, eu sei disso. Kira já sabia antes mesmo de entrar aqui.
— Pode sair, Analisa. — Digo sem rodeios.
Por um instante, percebo que estava hipnotizado pelos trejeitos dela. Seu olhar, sua postura... tudo nela tem um magnetismo difícil de ignorar.
Mas então, antes mesmo de Analisa se manifestar, Kira lança outra bomba:
— Logan, vou chamar outra pessoa. Sei que fizeram experimentos nele... e é provável que ele não tenha memórias. Assim como eu.
Meu peito aperta. Fico a encarando, curioso, mas já suspeito da resposta. Do outro lado da sala, noto Teresa arregalando os olhos.
— Quem, Kira? — Pergunto, tentando disfarçar minha quase certeza.
Ela não hesita.
— Killey.
O som de vidro se estilhaçando me faz virar a cabeça. Teresa derrubou o copo que segurava.
Kira se atenta ao detalhe e caminha lentamente até ela. O ambiente fica denso, como se a sala tivesse ficado menor de repente.
— Teresa... — Kira murmura, parando bem à sua frente. — Ex-namorada do Chang.
Ela a fareja de perto, como se absorvesse algo além do que qualquer um de nós poderia perceber. Então, seus olhos se estreitam, e sua voz adquire um tom quase divertido, mas carregado de veneno.
— Ele está muito diferente agora, sabia? Será que você ainda o quer? Ainda mais depois de...
Ela se afasta, um sorriso cínico estampado no rosto. Teresa treme levemente, sua respiração descompassada.
FLASHBACK
— Oi, Teresa. Te chamei aqui para conversarmos sobre Kira, Analisa, Aurora... e sobre a gangue.
Levo-a até uma sala que temos usado como escritório. Mas assim que cruzamos a porta, sem aviso, ela me agarra e me beija.
O beijo se aprofundou, carregado de desejo, enquanto minhas mãos deslizavam por seu corpo, explorando sua pele quente. Meus dedos encontraram seus sëios, sentindo sua pele arrepiar sob meu toque, seus mamïlos enrijecendo entre carícias e apertos suaves. Um gemido escapou de seus lábios quando minha boca tomou o lugar de minhas mãos, provocando-a com beijos e mordidas leves.
Faminta, ela se livrou das roupas com pressa, expondo-se para mim de forma deliciosamente provocante. Seu olhar ardente me convidava, e eu aceitei o convite, deixando que minha boca deslizasse por cada centímetro de seu corpo, saboreando sua pele quente, sentindo seus tremores sob minha língua.
Quando cheguei ao centro de seu desejo, sua respiração já estava ofegante, suas mãos puxavam meus cabelos, guiando meus movimentos com urgência. Seus gemidos preencheram o quarto, cada som uma súplica silenciosa por mais. Sua pele se contorcia sob minhas carícias, seus músculos se contraíam, e então veio o clímax – intenso, arrebatador, fazendo seu corpo estremecer contra o meu.
Sem dar tempo para que a onda de prazer se dissipasse, posicionei-me sobre ela, guiado pelo calor e pela necessidade latente. O primeiro contato fez ambos prenderem a respiração por um instante antes do primeiro movimento. Nossos corpos se encaixavam perfeitamente, e a cada investida, o prazer crescia, tomando conta de nós, guiando nossos ritmos – ora suaves e profundos, ora urgentes e famintos.
Seu corpo me envolvia, quente, trêmulo, receptivo. O calor aumentava a cada segundo, nossos suores se misturavam, e eu sentia sua pele deslizar contra a minha, cada toque incendiando nossos sentidos. O prazer subia em ondas, cada vez mais forte, até que, num último impulso, nos entregamos juntos ao êxtase, nossos corpos estremecendo em uníssono.
Ficamos ali, ofegantes, suados, corpos ainda entrelaçados, enquanto o silêncio era preenchido apenas por nossas respirações descompassadas. Então, um sorriso satisfeito se desenhou em nossos rostos, cúmplices, antes de nos rendermos ao cansaço, nossos corpos ainda quentes um contra o outro.
FIM DO FLASHBACK