O morro respirava um silêncio inquietante naquela madrugada, como se antecipasse a tempestade que se aproximava. Danilo estava sentado na varanda da casa, os olhos perdidos no horizonte que começava a clarear. Ao seu lado, Cecília permanecia em silêncio, as mãos entrelaçadas às dele, buscando forças numa conexão que, apesar dos riscos, crescia dia após dia.
Desde a noite do confronto com Ivan, o clima entre eles não era apenas de guerra e perigo — havia um fogo crescente, um desejo que ultrapassava as palavras, manifestando-se em olhares intensos e toques furtivos que prometiam tudo e nada ao mesmo tempo.
— Você ainda acha que eu não pertenço a esse mundo — disse Cecília, quebrando o silêncio, a voz carregada de uma determinação que Danilo já conhecia bem.
Ele virou o rosto para ela, o olhar firme.
— Não. Agora sei que você nasceu para isso. Não porque escolheu, mas porque tem coragem de enfrentar o que poucos teriam.
Ela sorriu, aproximando o rosto do dele.
— E você? Está pronto para o que vem?
Danilo sorriu de volta, mas havia uma sombra em seus olhos.
— Nunca estive tão pronto e, ao mesmo tempo, tão inseguro.
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A rotina no morro estava longe de ser tranquila. Notícias de movimentações suspeitas aumentavam a tensão entre os homens de Danilo, e a ameaça de Ramon se tornava cada vez mais real. Cecília sentia o peso da situação, mas a cada desafio seu vínculo com Danilo se fortalecia.
— Preciso te contar algo — confessou ela uma noite, enquanto estavam no quarto, a luz fraca apenas insinuando os contornos dos corpos.
Danilo a ouviu atentamente.
— Durante uma das minhas saídas para ajudar no Leblon, descobri que meus tios planejam entregar minha parte da herança para outra pessoa. Eles querem continuar mantendo as aparências, e eu não posso deixar — disse Cecília, com raiva contida.
Danilo apertou a mão dela, compreendendo o quanto aquilo mexia com ela.
— Você não está sozinha nisso. Vamos enfrentar juntos.
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Nos dias seguintes, Danilo e Cecília traçaram planos para enfrentar não apenas as ameaças externas, mas também os fantasmas que assombravam suas famílias.
Entre reuniões e estratégias, eles encontravam momentos para se perder na intensidade da paixão que os unia.
Numa dessas noites, Danilo a levou para o terraço da casa, onde a vista do Rio iluminado era o cenário perfeito para promessas e desejos.
— Eu não quero que você sofra mais — disse ele, a voz rouca.
— Eu já sofri demais, Danilo. Mas agora eu quero lutar — respondeu Cecília, puxando-o para um beijo que parecia apagar todas as dores.
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Mas a paz era frágil.
Um telefonema interrompeu o momento, trazendo notícias urgentes. Um dos aliados de Danilo havia sido atacado, e sinais indicavam que Ramon intensificava sua ofensiva.
Danilo se levantou, o olhar endurecido.
— É hora de agir — disse ele, determinado.
Cecília acompanhou-o, a adrenalina correndo pelas veias. Juntos, comandaram os homens do morro numa operação que exigiu toda a sua astúcia e coragem.
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No meio do caos da batalha, quando os tiros ecoavam e a fumaça tornava o ar irrespirável, Danilo e Cecília se protegeram mutuamente, a força do amor que crescia entre eles sendo a única certeza em meio à tempestade.
Após a vitória, porém, veio a dura realidade: perdas, feridos, e a certeza de que o preço daquela guerra seria alto demais.
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Nos dias que se seguiram, enquanto o morro tentava se recompor, Danilo e Cecília se permitiram momentos de ternura e entrega. Num encontro marcado por olhares que falavam mais do que palavras, eles se despiram de todas as defesas, entregando-se um ao outro com uma paixão avassaladora.
Mas, no fundo, ambos sabiam que o futuro era incerto, e que as sombras continuavam se aproximando.
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Cecília, em seu íntimo, lutava contra o medo de perder a liberdade que havia conquistado, e contra a necessidade de se render ao amor que crescia a cada dia.
Danilo, por sua vez, buscava um equilíbrio entre a dureza necessária para manter o controle do morro e a ternura que sentia por aquela mulher que o desafiava e o completava.
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O capítulo termina com os dois olhando para o horizonte, conscientes de que a batalha pelo morro, pelo amor e pela própria alma estava apenas começando.