O silêncio do meu escritório subterrâneo era um bálsamo para os nervos, um contraste gélido com a cacofonia do interrogatório. Ali, no meu bunker, o mundo exterior não passava de um murmúrio distante. As paredes de concreto reforçado, as telas de alta resolução e o ar que cheirava a ozônio e metal me devolviam a sanidade. Era meu santuário, meu centro de controle, e por mais que a delegacia tivesse me tirado de lá, o meu poder me trouxe de volta. A humilhação ainda me queimava a pele como ácido, mas o Gabrian Varella que sentou naquela cadeira de metal era apenas uma casca. O verdadeiro Gabrian estava aqui, a quilômetros de distância, no controle, mas sempre pensando naquela mulher.
Ela é um fantasma. Não é uma mulher. É uma máquina.
A ideia de que uma mulher pudesse ser tão inacessível, tão misteriosa, me intrigava. Todas as mulheres que eu havia conhecido eram previsíveis. Elas queriam luxo, poder, e Gabrian Varella era o caminho para tudo isso. Mas Eliza Ferraz era diferente. Ela era um enigma. E eu adorava enigmas. O fato de que ela era um fantasma me fazia querer encontrá-la, eu queria ver se ela era tão inatingível quanto parecia. Eu queria descobrir a sua fraqueza, a sua falha, a sua única imperfeição.
"Senhor, a Varella Jewels é a sua fachada perfeita. Não há como ela descobrir," Kian disse, a sua voz hesitando um pouco.
"Eu sei," eu respondi, os meus olhos fixos no mapa de São Paulo que piscava em minha tela. "Mas ela já fez uma jogada. Agora é a minha vez. E a minha jogada será um teste. Um teste que vai me dizer se ela é tão boa quanto parece."
Eu me recostei em minha cadeira, os meus dedos tamborilando levemente na mesa. Eu fechei os olhos e visualizei a cidade. Eu imaginei cada rua, cada beco, cada prédio. Eu me imaginei como um fantasma, deslizando pelas ruas de São Paulo, observando-a. O meu próximo movimento não seria uma fuga, mas um ataque. E a minha arma seria um homem que eu conhecia, um homem que, como eu, era uma sombra.
Eu liguei para ele. O meu "laranja". O homem que eu havia escolhido para o meu teste. Ele era um colecionador de arte, um homem que parecia ter uma vida tranquila, mas que, na verdade, estava a uma distância de um telefone de distância de mim. Ele era o meu "soldado de honra". E ele era o meu teste para ela.
"Alô, Gabrian?" a voz rouca de meu contato ecoou na sala.
"Sim. Eu preciso de um favor," eu disse, a voz baixa e fria. "E eu estou disposto a pagar um preço alto."
O homem não hesitou. Ele sabia que, quando eu ligava, era para um trabalho de alto nível. E o seu trabalho, era ser o meu "laranja".
"O que o senhor precisa?" ele perguntou.
"Eu preciso que você me ajude a vender uma joia. Uma joia rara. Uma joia que pode ser rastreada," eu respondi, o meu sorriso agora genuíno.
Eu visualizei a joia em minha mente. Era uma safira de 100 quilates, de um azul profundo, que eu havia comprado de um contrabandista russo. A joia, que não era legal, tinha uma história. Ela havia sido roubada de um museu na Rússia, e a sua história era conhecida. Eu sabia que, se eu a vendesse, a polícia iria atrás dela. E ela, a delegada, iria atrás dela, mas só se fosse muito esperta.
O plano era simples, mas brilhante. Eu venderia a safira para um colecionador de arte em uma festa de gala. O colecionador, que não tinha uma ficha criminal, seria o meu "laranja". Ele compraria a joia, e a revenderia para um contrabandista. A transação seria limpa, e eu seria o fantasma.
Eles podiam ter toda a autoridade do mundo, mas eu tinha toda a informação. E a informação é a maior arma.
Eu me sentei na minha cadeira, os meus olhos fixos no mapa. Eu me lembrei de cada vez que eu havia sido perseguido, de cada vez que eu havia escapado. E eu me lembrei de cada vez que eu havia vencido. Eu era um homem que não tinha medo da lei. E eu não iria deixar que uma mulher, uma simples delegada, me derrubasse.