Teste de Fogo

973 Words
O ar da noite de São Paulo, denso e úmido, era um alívio bem-vindo após a atmosfera sufocante da delegacia. A minha comitiva, que havia esperado pacientemente, me cercou, os seus olhos questionando. Eu lhes dei um sinal imperceptível com a cabeça. Era uma ordem para me levar para o meu local secreto, a minha casa segura. O caminho para o meu santuário foi silencioso. Eu me sentei no banco de trás, os meus olhos fixos na paisagem que passava pela janela. A minha mente, uma máquina de cálculo, já estava rodando a toda velocidade, analisando os danos, prevendo as consequências, planejando o próximo movimento. A perda de alguns clientes era insignificante. Eles seriam substituídos. A minha rede era vasta. A jogada dela, a delegada Eliza Ferraz, era apenas o primeiro movimento em um jogo de xadrez. Eu a havia subestimado, sim, mas não a ponto de não me preparar. E o fato de que ela estava me dando um trabalho extra apenas me fazia sorrir. A vida, afinal de contas, era um jogo de caça, e eu era o caçador. Ela era a presa, uma presa inteligente, mas ainda assim uma presa. Eu me deleitava com a ideia de desmantelar a operação dela, de mostrar que, por mais implacável que ela fosse, ela não era párea para mim. Não havia chance de que uma mulher, sozinha, pudesse me derrubar. Eu era o rei das sombras, e ela era apenas uma delas. Chegamos ao meu refúgio secreto. A casa, discreta por fora, era um bunker de alta tecnologia por dentro. Eu me dirigi direto para o meu escritório, um local que para mim, era o centro do universo. As telas de computador, os telefones, os rádios, todos estavam lá. O meu mundo estava nas minhas mãos. "Kian, entre em contato com o Anjo Caído," eu ordenei, a voz fria e firme. "Eu quero mais um relatório completo sobre a delegada Eliza Ferraz. Não apenas o seu histórico de trabalho, mas o seu histórico pessoal. Eu quero saber os livros que ela lê, o que ela come no café da manhã, o tipo de música que ela ouve. E mais importante, eu quero saber sobre os seus relacionamentos. Homens, mulheres, qualquer um que possa ter sido importante na vida dela. Eu quero saber o que a faz rir, e o que a faz chorar." Kian, o meu fiel escudeiro, assentiu. Ele sabia que quando eu dava uma ordem como essa, o meu jogo já havia começado. Ele saiu, e eu me sentei em minha cadeira, os meus olhos fixos em um monitor. Eu estava em uma sala escura, me preparando para a minha batalha mais importante. E a minha adversária, a delegada, a mulher que eu só conhecia pelo nome, parecia ainda estar do outro lado da parede, me observando. O jogo estava apenas começando. E o próximo movimento, eu sabia, seria o meu. Eu passei horas em frente ao meu monitor, estudando cada detalhe da minha vida, da minha operação. Eu me perguntei se eu havia deixado alguma pista, alguma falha, alguma coisa que ela pudesse usar contra mim. Eu me lembrei de cada transação, de cada suborno, de cada mentira. Eu as revivi em minha mente, e eu as analisei, procurando por falhas. Mas não havia nenhuma. O som de uma porta se abrindo me tirou do meu transe. Kian entrou na sala, o seu rosto com a mesma seriedade de sempre. Ele tinha o relatório em suas mãos. "Anjo Caído fez o que o senhor pediu," ele disse, a sua voz baixa. "Ele invadiu os servidores da polícia, da faculdade, e até mesmo das redes sociais. E ele não encontrou nada, senhor." "Como assim, nada?" eu perguntei, a minha voz saindo mais como um grito. "Ela não tem um histórico de relacionamentos," Kian respondeu, os seus olhos fixos nos meus. "Ela não tem um perfil em redes sociais. Ela não tem um histórico de ex-namorados. É como se ela nunca tivesse existido, a não ser como uma policial." O meu sorriso se alargou. O desafio estava me excitando. Ela não era apenas uma sombra, ela era um fantasma. E eu adorava fantasmas. Eu gostava de enigmas. Eu gostava de desafios. "Prepare a próxima fase do meu plano," eu ordenei, a minha voz agora um pouco mais grave. "Eu quero criar um problema para ela. Um problema que vai testar a sua inteligência, a sua perspicácia, a sua intuição. Eu quero ver se ela é tão boa quanto parece." Kian assentiu, a sua expressão agora um pouco mais animada. Ele gostava de jogos. E ele sabia que o meu jogo, era o jogo mais emocionante do mundo. Eu me dirigi para a sala de controle. Na tela principal, um mapa topográfico detalhado de São Paulo mostrava a localização de cada um dos meus homens, cada um dos meus carros, cada um dos meus esconderijos. Eu estava sempre um passo à frente. Constantemente me desviando da polícia, como um dançarino esquivando-se de balas. Eles podiam ter toda a autoridade do mundo, mas eu tinha toda a informação. E a informação é a maior arma. Eu me sentei na minha cadeira, os meus olhos fixos no mapa. Eu me lembrei de cada vez que eu havia sido perseguido, de cada vez que eu havia escapado. E eu me lembrei de cada vez que eu havia vencido. Eu era um homem que não tinha medo da lei. E eu não iria deixar que uma mulher, uma simples delegada, me derrubasse. Eu me forcei a me concentrar. A minha mente, que sempre estava em movimento, estava agora presa em um jogo de xadrez. Eu tinha que me preparar para o que estava por vir. E eu tinha que descobrir o que ela, Eliza Ferraz, a mulher de olhos castanhos escuros e hostilidade fria, sabia sobre mim.
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