A quietude na sala de interrogatório era quase palpável, um peso que só o tempo e a tensão podiam criar. Eu estava na cadeira, meu corpo relaxado, mas minha mente em chamas. Por fora, eu era Gabrian Varella, o homem inabalável, a personificação da calma. Por dentro, a minha fúria era um vulcão adormecido, pronto para entrar em erupção. O meu silêncio era uma resposta, uma demonstração de força. Eu não iria ceder ao jogo dela, o jogo da espera.
O som da porta se abrindo, quebrou o silêncio. E o som dos passos dela, alto e firme, ecoou na sala, um som que, para mim, era a melodia do perigo. Ela não estava mais na escuridão, ela estava na luz. E ela era ainda mais impressionante do que eu havia me lembrado.
O seu r**o de cavalo estava um pouco solto, com algumas mechas de cabelo preto como a noite caindo em seu rosto. Os seus olhos, de um castanho tão escuro que parecia preto, eram como dois buracos negros, sugando toda a luz da sala. Ela caminhou em minha direção, o seu rosto uma máscara de seriedade. A sua presença era um eco do meu próprio poder, uma força magnética que me atraiu e me repeliu ao mesmo tempo.
Ela se sentou na cadeira à minha frente, o seu rosto a uma distância de centímetros. Ela não falou. Ela não me cumprimentou. Ela apenas me olhou, os seus olhos fixos nos meus, como se estivesse tentando ler a minha alma. A sua expressão era de aço, o seu rosto um enigma. Ela estava me estudando, eu que, na maioria das vezes, estava sempre no lado de quem observa. E a ironia da situação, era deliciosa.
"Senhor Varella," ela disse, a sua voz era baixa e rouca, sem qualquer traço de cordialidade. Era uma voz que não pedia, mas ordenava. "Vamos conversar."
Eu dei um sorriso, o meu sorriso charmoso e relaxado. "Claro, delegada. Sobre o que a senhora gostaria de conversar?"
Ela ignorou o meu charme, a sua expressão permanecendo inalterada. Ela pegou uma pasta de papel e a colocou na mesa. O som do papel, para mim, era como o som de uma bomba-relógio. Eu me forcei a ignorar a minha curiosidade, a minha ansiedade. Eu mantive o meu rosto impassível.
"A sua empresa, a Varella Global Assets, tem transações financeiras com empresas de fachada que estão sendo investigadas por tráfico de joias," ela disse, os seus olhos fixos nos meus. "O senhor pode me explicar isso?"
Eu dei uma risada baixa, uma risada que era mais uma tosse do que qualquer outra coisa. "A Varella Global Assets é uma empresa de investimento. Nós investimos em empresas que têm um potencial de crescimento. Nós não temos a intenção de saber o que os nossos clientes fazem com o dinheiro que eles recebem."
"E o senhor não se importa que os seus clientes sejam criminosos? Que eles sejam traficantes de drogas, traficantes de armas, traficantes de joias?"
"Delegada, eu sou um empresário. Eu não sou a polícia. Eu não tenho o dever de investigar os meus clientes. A minha empresa, a Varella Jewels, é uma empresa de luxo. Nós vendemos joias de alta qualidade. Nós temos todos os documentos, todas as licenças, todos os impostos. Tudo está limpo. O que os meus clientes fazem com as joias que eles compram, é problema deles."
Ela não piscou. A sua expressão era de aço. "O senhor é um homem muito rico, senhor Varella. E as suas empresas têm transações muito altas. E alguns dos seus clientes, como o senhor bem sabe, são os maiores criminosos do país. O senhor pode me explicar isso?"
"Eu não sou um criminoso, delegada. Eu sou um homem de negócios. E eu tenho advogados que podem confirmar tudo o que eu digo." Repeti, exatamente igual.
Ela se levantou, caminhou até a janela com espelho e olhou para ela, o seu reflexo me encarando. "O senhor pode ir, senhor Varella. Por enquanto."
Eu me levantei, e olhei para ela. Ela me ignorava, como se eu fosse um fantasma. A sua atitude me irritava e me intrigava. Eu queria saber o que ela sabia. O que ela queria de mim? E, por uma fração de segundo, eu me forcei a me lembrar que ela era a minha inimiga. A mulher que queria me destruir, que queria derrubar o meu império. E o meu trabalho, era me livrar dela.
Eu saí da sala, e me forcei a me concentrar. O meu rosto, por mais que eu tentasse, não podia esconder a minha fúria. Eu estava sendo provocado. E o jogo havia mudado. Eu não era mais o caçador. Eu era a presa. O jogo havia virado. E a minha mente, por mais que eu tentasse, não conseguia se reorganizar. Eu mantive a minha cabeça erguida, os meus olhos firmes. Eu era o homem que tinha o controle. Eu era o rei. E eu não iria deixar que uma mulher, uma simples delegada, me derrubasse. Não, não mesmo. O jogo apenas começou, e a minha vitória estava mais perto do que ela podia imaginar.