Capítulo 40. Área externa

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A noite seguinte veio silenciosa e c***l. A música e os risos do baile haviam se dissipado, restando apenas os ecos distantes da festa e o som constante do vento batendo nas janelas. Amélie foi acordada ainda antes do amanhecer por duas criadas. Nenhuma delas ousou olhá-la diretamente apenas cumpriam ordens. — A senhora Francesca mandou que se aprontasse — disse uma delas, a voz seca. — Suas coisas já estão separadas. Amélie sentou-se, o coração apertado. — Separadas…? — Vai trabalhar na ala externa — respondeu a outra, desviando o olhar. — O cocheiro vai levá-la. Sem ter tempo nem de protestar, Amélie vestiu o casaco simples e juntou o pouco que possuía. As mãos tremiam ao segurar o lenço que era da sua mãe, o único bem de valor sentimental que restava. Enquanto caminhava pelos corredores escuros, sentia os olhos das outras criadas a seguirem algumas com pena, outras com satisfação. "Ela era bonita demais para durar aqui”, cochichavam. Quando passou pela entrada principal, o frio da madrugada cortou-lhe a pele. O cocheiro aguardava, e ao lado da carruagem, um capataz a esperava com expressão impassível. — Suba. — disse ele. O trajeto foi longo e silencioso. A cada balanço da carruagem, o medo apertava mais o peito. Ela sabia que a ala externa não era um simples deslocamento de serviço era castigo. Ficava perto dos estábulos e das antigas casas de armazenamento, isolada do restante da mansão. Lá, os trabalhadores mais pobres e castigados dormiam, muitos em camas de palha e sem aquecimento. Quando chegaram, o capataz abriu a porta e apontou para um pequeno cômodo de madeira ao lado do celeiro. — Aqui vai ser o seu quarto. — disse, seco. — O trabalho começa ao nascer do sol. Amélie entrou. O quarto era úmido e cheirava a feno e ferrugem. Uma cama estreita, um cobertor gasto e um balde com água fria nada mais. Ela se sentou devagar, tentando conter as lágrimas. "Por que tudo parece punição?”, pensou. “Eu só queria que isso acabasse logo” Encostou a cabeça nas mãos e chorou baixinho, o som se misturando ao assobio do vento lá fora. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela se recusava a se quebrar completamente. Talvez fosse a lembrança do olhar de Estefano, ou a voz dele dizendo que ela não merecia sofrer. Ela respirou fundo e enxugou o rosto. “Eu vou resistir,” pensou, em silêncio. “Mesmo que me tirem tudo, não terão o meu espírito.” Enquanto isso, na ala principal da mansão, Francesca tomava o café da manhã diante da lareira, serena como se nada tivesse acontecido. Mas quando uma criada entrou trazendo um bilhete, ela ergueu o olhar. O papel estava lacrado com o selo de Estefano. Ela o abriu, e os olhos se estreitaram ao ler as palavras firmes: “Se a senhorita Pérez não voltar à casa em segurança até o entardecer, eu irei buscá-la e desta vez, não pedirei permissão.” Francesca dobrou o bilhete lentamente, pousando-o sobre a mesa. Um sorriso fino, perigoso, curvou-lhe os lábios. — Então é guerra, meu filho — murmurou. — Veremos até onde vai por uma criada.
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