Manu narrando:
Manu: Desculpa, eu demorei porque me atrasei pra ir almoçar. — Sorrio pra ela, que me recebe com os braços abertos. — Agatha, né?
Agatha: Sim, não preocupa. Eu também cheguei agora há pouco, tive uma usg hoje e acabei me atrasando também. — Ela fala desfazendo o abraço, e começamos a andar em direção à casa.
Manu: Que lindinha sua barriga. Tá com quantas semanas?
Agatha: Vinte semanas. — Ela sorri enquanto abre a porta, nos deixando entrar. — Não repara a bagunça, é que saí cedo e só voltei agora.
Manu: Que bagunça o quê, tá tudo ótimo! — digo, entrando e já dando uma olhada em volta. — Mas, sério, a barriga tá a coisa mais linda, tô encantada! Daqui a pouco esse bebê vai tá aí, enchendo sua casa de alegria.
Agatha: Tomara, né? Já tô contando os dias! Só de pensar em ter ele aqui comigo, parece que tudo vai valer a pena.— ela faz um gesto né indicando o sofá e me sendo começando a organizar minhas coisas.
Manu: Vai sim!
Agatha: Eu nunca quis ser mãe, mas aí... vacilei e engravidei. Só que sério, foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Tô completamente apaixonada pelo meu bebê.
Manu: Um presentinho de Deus! Já imagino ele chegando e mudando tudo aí, trazendo ainda mais alegria. Criança transforma a gente, né?
Agatha: Totalmente! Eu nem sabia que podia amar alguém assim. Só de sentir ele mexendo, já fico toda boba.
Rimos juntas, e é impossível não notar o brilho nos olhos dela enquanto fala do bebê.
Manu: Eu vou comprar um presentinho e trazer aqui depois. — Falo enquanto prendo meu cabelo em um coque alto.
Agatha: Ah, não precisa disso, menina! Mas se quiser aparecer pra bater papo, pode vir sempre. Eu fico o dia inteiro sozinha aqui.— fala se sentando na cadeira em frente ao sofá.
Manu: Posso pegar um pouco de água? — me levanto com a bacia na mão.
Agatha: Claro, fica à vontade! A cozinha é logo ali, reto. Se precisar, o banheiro é do lado.
Manu: Pode deixar que eu venho mesmo! Vai ser bom ter alguém pra conversar, e você já tem minha palavra que vou aparecer.— Volto pra sala com a água e ajudo a colocar os pés e mãos de molho.
Agatha: Vou esperar. — Ela sorri simpática.
Manu: Seus familiares não são daqui? — Pergunto, curiosa.
Agatha: É uma longa história. Meus pais são daqui, mas eles não aceitam meu relacionamento com o pai do meu filho e... me "expulsaram" de casa. Então, vim morar aqui com ele. Só que a gente terminou, e agora só eu moro aqui.
Manu: Caraca, que barra, Agatha. Deve ter sido difícil pra caramba. Sinto muito mesmo. E desculpa perguntar assim, nem devia ter tocado no assunto.
Agatha: Não ligo de falar sobre isso, não. Já passei da fase de ficar remoendo essas coisas, sabe? Agora é só seguir em frente, por mim e pelo meu bebê.
Manu: É isso aí, gata. Você é forte, já tá criando uma história nova pra vocês dois. Se depender de mim, vou aparecer aqui direto pra te fazer companhia e encher esse bebê de mimos.
Agatha: Vou cobrar, hein! Vai ser bom ter alguém pra conversar. Tô precisando disso mais do que nunca. E meu bebê vai adorar os mimos!
Manu: Desculpa a pergunta mais teu ex é envolvido? Tô perguntando porque como sua família não aceita. imaginei que seja por isso. — Pergunto, e ela confirma com um gesto.
Agatha: É, ele é envolvido sim. Minha família sempre teve horror a isso, sabe? E quando descobriram que eu tava com ele, foi briga atrás de briga até que me colocaram pra fora de casa. Eles diziam que eu tava jogando minha vida fora. E agora... bom, não sei se eles estavam tão errados assim.
Manu: Mas, olha, não se culpa, não. Ninguém escolhe quem vai gostar, né? E, pelo visto, você tá sendo bem forte pra enfrentar tudo isso sozinha. Isso já mostra o quanto você é incrível.
Agatha: Eu ainda amo o meu ex, mas ele sempre foi muito ciumento. Toda vez que eu saía, fazia questão de me humilhar na frente de todo mundo. E, pra piorar, me traía com qualquer uma que aparecesse.
Manu: Você merece coisa muito melhor que isso. Não deixa ele continuar te controlando ou te afetando desse jeito.
Agatha: É complicado, sabe? Às vezes eu até tento me afastar, mas parece que ele tem um poder sobre mim. Só que agora, com o bebê, tô começando a entender que preciso pensar mais em mim e nele. — leva uma mão na barriga e sorrimos uma pra outra.
Agatha: Você é nova aqui no morro, né? — Ela pergunta, e eu confirmo com a cabeça.
Manu: Sim. — Começo a fazer a unha da mão dela.
Agatha: Imaginei. Você e o Terror? - ela pergunta curiosa
Manu: A gente é só amigo, não tem nada demais.
Agatha: Olha, a única que eu já vi na garupa da moto dele foi a Diana, que foi a fiel dele anos atrás, nem as putas que ele come aqui do morro e nem a patricinha que vive circulando por aqui com ele andam na moto dele.
A fala dela me faz gelar.
Manu: Ele só me deu uma carona porque eu tava atrasada, foi só isso mesmo.
Agatha: Então fica esperta, viu? Porque ele não é de fazer isso. Eu conheço ele a um bom tempo e as coisas que eu já vi ele fazer não é coisa de Deus não. Ele é abusivo, controlador, manipulador, c***l e frio.
Manu: Caraca — engulo seco, me lembrando das palavras do Terror, tentando processar tudo que ela acabou de dizer.
Agatha: Sério! Eu achava que era exagero até ver com meus próprios olhos. A ex dele a Diana, era traída pra c*****o e ainda apanhava dele na frente de qualquer um aqui no morro. Acabou fugindo depois que ele quase matou ela.
Manu: Credo, que loucura. Valeu pelo toque, viu? — digo, ajeitando os materiais na mesa enquanto ela me observa com uma expressão séria.
Agatha: Não quero te assustar. Mas dá pra ver que você é uma menina boa e o Terror pode até ser lindo daquele jeito mais não presta, não vale nada.
Assinto, ainda processando aquilo. Por mais exagerado que pareça, algo no jeito dela falar me dá a impressão de que é tudo muito real. Mais um motivo pra eu continuar mantendo distância.
Agatha: Teve uma garota aqui, Luana o nome dela. Coitada, os pais precisaram levar ela embora porque ele pegou uma obsessão por ela e, sabe como é, né? Ela ficou encantada com ele, caiu no papo. Mas a história dela foi só desgraça. Ele enjoou dela. Começou a ignorar, rejeitar, e ela... — suspira, olhando pra baixo. — Tadinha, apanhava direto e entrou no pó. Foi ladeira abaixo. No fim, os pais tiveram que tirar ela daqui às pressas.
L
Manu: Eu tô em choque com tudo isso que você tá me contando.Obrigada pelo conselho tá - sorrimos e ela muda de assunto.
Enquanto continuo cuidando das unhas da Agatha, não consigo parar de pensar no que ela acabou de me contar. A história da Luana fica ecoando na minha cabeça. É surreal imaginar que alguém pode perder tanto de si mesma por causa de outra pessoa. Por um cara que, no final das contas, nem ligava pra ela de verdade.
Meu estômago revira, e um calafrio percorre minha espinha. Ficar perto do Terror me faz sentir um misto de emoções, mas não consigo ignorar esse alerta que parece gritar dentro de mim agora. Será que eu estou indo pelo mesmo caminho? Não que eu tenha me envolvido com ele, mas... esses olhares, essa tensão, essas coisas que eu insisto em não nomear. Não quero me perder em algo que pode me consumir, me quebrar.
A Agatha tem razão. É preciso estar atenta, porque isso aqui não é brincadeira. Gente como o Terror tem um jeito de entrar na cabeça da gente, bagunçar tudo, e depois sair como se nada tivesse acontecido. Como ele já faz comigo. Não vou ser a próxima Luana. Já decidi.