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1181 Words
Subi as escadas praticamente correndo. Bati a porta do quarto e me joguei na cama. Sorria feito boba, enquanto fitava o teto. Ainda sentia seu toque brusco, mas, ao mesmo tempo, suave. Fechei os olhos e lembrei-me de seus lindos olhos azuis, que cintilavam para mim de forma errônea. – Audrea – mamãe interrompe meus pensamentos – como foi com as crianças? Sento-me na cama e tento disfarçar minha alegria. – Foi bem. – Que bom – diz sorrindo – ah, teremos visita para o jantar. – Quem? – Benicio nos acompanhará a igreja, e jantará conosco. – Porque ele não vem apenas para o jantar? – Porque ele é um rapaz muito religioso Audrea, e todos os domingos, ele está na missa. Mamãe diz e sai como se falasse algo óbvio. E era, mas, não no sentido de ele ser religioso e ir a igreja, mas sim no fato de que papai o tenha chamado para ir conosco, somente para mostrar aos outros que ele estava tomando as rédeas da situação. Esqueci mamãe, papai e Benicio por algum tempo. Joguei-me na cama novamente, e tornei a pensar em Albert. Ele era tão gentil. Mesmo sem dizer uma só palavra. Seu olhar dizia tudo o que eu precisava e necessitava. Ele era acolhedor, carismático e espirituoso. Fazia gosto ficar ao seu lado. Deixe que tais pensamentos consumissem minha mente durante toda tarde. Quando percebi, já estava bem em cima da hora. Tomei banho e pus uma roupa mais fria. O tempo em Salvatore estava caloroso demais. Diferente dos dias de invernos que passara no convento. Escolhi um vestido azul-marinho, não muito rodado e nem muito chamativo. Prendi o cabelo no alto da cabeça e deixei alguns fios escaparem. Olhei para a mesinha e vi variadas opções de maquiagem, mas, decidi não passar nada. Desci e encontrei papai conversando com Benicio. Quando ele me viu, seus olhos brilharam. – Audrea… – ela se aproximou e tomou minha mão, levando-a a boca, depositou suavemente um beijo. – Olá Benicio. – Você está magnífica. Sorrio sem jeito. – Vamos? – mamãe desce as escadas e seguimos para as carruagens que nos levariam. – Você irá com Benicio – diz papai. Olho-o rapidamente, mas, ele adentra rápido demais em sua carruagem para que eu questione algo. Benicio abre a porta e eu entro. Durante o percurso ele tentara puxar assunto, mas, limitei-me a responder algumas perguntas. Ao chegarmos, ele abriu a porta para que eu descesse. Vi quando papai e mamãe cumprimentaram alguém na porta de entrada. Ao me aproximar, sinto meu coração disparar. – Boa tarde Audrea – cumprimenta Padre Albert gentilmente. – Boa tarde. Seu sorriso caloroso some, quando Benicio toma meu braço e o cumprimenta. – Boa tarde Padre. Albert assenta. Entramos e nos comodamos em um dos bancos da frente. As cinco horas em ponto, a missa se iniciou. Seguindo os ritos de uma celebração, na hora da homilia, Albert falou sobre as dificuldades que enfrentamos em nossas vidas. As tentações que devemos evitar para que possamos viver em santidade. Ele olhava intensamente para mim, mas, logo desviava o olhar. Penso eu, que seria para que ninguém percebesse. Ao término da missa, papai pediu que esperássemos do lado de fora. Quando ele voltou, para minha surpresa, voltou com Albert. – O Padre aceitou meu convite para jantar conosco – diz. Engulo em seco e fico sem entender. Mamãe fora na carruagem comigo e Benicio. Ao chegarmos em casa, pedi licença e subi para meu quarto. Fechei a porta e respirei fundo. Procurava entender o motivo de papai tê-lo convidado para jantar. Desço e encontro todos sentados na sala. Albert seguiu-me com olhos. Acomodei-me ao lado de mamãe, ficando bem a sua frente. – Padre, não sei se sabe, mas, costumo ser o anfitrião de grandes festas aqui de Salvatore – diz papai – como fiz com Padre Robert, assim que ele chegou a cidade, convidei-o para um jantar, e meses depois ele já passava o domingo aqui em casa – diz sorrindo – então, não o tinha convidado ainda, pois, queria a família toda reunida, e faltava minha filha Audrea, que o senhor já deve saber que passou oito anos em um convento, sob os cuidados de minha adorada irmã. Albert me olha e sorri. – Sim, ela me falou – diz – e obrigado pela gentileza. Sorrio ao ver uma fina linha se juntar com as rugas nas laterais de seus olhos, formando o mais belo sorriso. – O jantar está servido senhora – Alda comunica e sai. Seguimos para a mesa, e acomodei-me a frente de Albert. Benicio fez questão de sentar-se ao meu lado. Papai começou a contar uma de suas histórias, e Albert parecia feliz em ouvi-las. Quase no fim do jantar, percebi troca de olhares entre papai e Benicio, e quando este pediu licença para falar, senti que algo muito r**m estava por vir. – Bem, gostaria de um minuto da atenção de vocês – diz Benicio – sei que pode parecer cedo demais, mas, antes cedo do que tarde – diz sorrindo – Audrea – olho-o um tanto desconfortável – sei que nos conhecemos há pouco tempo, mas, quero tornar esse pouco tempo, uma eternidade – ele tira uma caixinha de seu bolso – você me daria a honra de poder conhecê-la melhor tanto como amiga, mas, principalmente, como minha mulher? Olho-o atônita e sinto o ar me faltar. Fora por esse motivo que papai convidara Albert, para que ele já lhes dissesse a data disponível para o casamento e para que ele ajeitasse tudo. – Benicio… Eu não sei o que dizer… – Diga sim. Mamãe sorria abobada e papai estava com aquele sorriso de: “eu venci”. Olhei para Albert, e sua expressão de felicidade era nitidamente f*****a. Olhei no fundo de seus olhos, e juro que pude ver um futuro, onde eu era feliz, não vivendo ao lado de Benicio, mas, vivendo no rio de águas claras, onde eu me afogaria de felicidade e prazer eterno. Encarei Benicio e tomei coragem. – Desculpe, mas, eu não posso fazer isso. – O que?! – papai berra. – Não posso fazer algo que não acho certo pra mim. – Que você acha certo? Não tem que achar certo. Tem que aceitar. – Não – rebato – não sou obrigada a aceitar! – ponho-me de pé – desculpe Benicio, mas, eu não posso fazer isso. Deixo a mesa e sigo para o lado de fora da casa. Caminho rápido, mesmo com a vista embaçada por conta das lágrimas. Chego a enorme cerca e apoio-me nela. O céu estava mais estrelado do que nunca. Um cenário mais que romântico para uma caminha com meu noivo, claro, se eu tivesse aceito. Papai ainda tinha a mesma mania de querer controlar meus passos e minha vida, mas, isto, era a gota d’água. Enxugo as lágrimas e respiro fundo. Sabia que papai seria capaz de me açoitar novamente por conta disso, mas, ter mais algumas cicatrizes nas costas, era melhor do que tê-las no coração. – Audrea?
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