Primeiro Toque

657 Words
A tarde de quinta-feira caiu sobre o campus com um silêncio raro. O vento leve soprava pelas árvores, e o sol filtrava-se pelas folhas, lançando sombras tranquilas no chão de pedra. A maioria dos alunos já havia deixado os corredores, mas Kira ainda estava por ali. Ela havia recebido uma mensagem discreta de Luís: "Encontre-me na biblioteca. Ala leste. 17h." Não havia mais do que isso. Nenhum emoji. Nenhuma justificativa. Apenas o convite direto e frio — e, justamente por isso, irresistível. Ela chegou pontualmente, como se o tempo tivesse passado devagar demais até aquela hora. Os saltos dos sapatos ecoavam pelo piso de madeira antiga. A ala leste era quase sempre vazia no final da tarde, o local perfeito para um encontro... casual. Luís já estava lá. Vestia calça escura, camisa azul clara com dois botões abertos no colarinho e o blazer pendurado no encosto da cadeira. Ele estava em pé, encostado em uma estante, folheando um livro grosso de capa preta. Quando ouviu os passos, ergueu os olhos. O olhar que trocaram bastava para incendiar a atmosfera. — Pontualidade. Mais um ponto a seu favor. ele disse, fechando o livro sem tirar os olhos dela. — Gosto de mostrar dedicação. respondeu ela, caminhando até uma das mesas próximas, onde largou sua bolsa com leveza. Luís se aproximou devagar, como um predador elegante. Ela podia sentir a presença dele como uma onda invisível de calor. Parou a poucos centímetros, observando cada detalhe do rosto dela a boca entreaberta, o brilho nos olhos, o leve subir e descer da respiração. — Está gostando da universidade? ele perguntou, com um leve tom de ironia, como se a pergunta fosse uma distração qualquer. — Está sendo mais... interessante do que imaginei. disse ela, com um sorriso provocante. Especialmente uma disciplina. Luís tocou o tampo da mesa ao lado dela, apoiando uma das mãos, inclinando-se para mais perto. A distância entre os dois era mínima. Era impossível que não sentissem a energia elétrica que pulsava entre seus corpos. Foi então que ela estendeu a mão para pegar uma caneta que havia caído da mesa. No mesmo instante, ele também a pegou e suas mãos se tocaram. Foi um toque simples. Mas carregado de significado. As pontas dos dedos dela encontraram as dele. Nenhum dos dois recuou. Ao contrário, deixaram os dedos entrelaçarem-se sutilmente por um instante que pareceu durar minutos. O toque queimava. Era como se estivessem testando os próprios limites. Como se perguntassem, em silêncio, até onde estavam dispostos a ir. Kira manteve o olhar preso ao dele, desafiando-o a dar o próximo passo. E ele deu. Luís segurou a mão dela com firmeza e a puxou levemente para mais perto. Agora estavam tão próximos que os narizes quase se tocavam. O perfume dela aquele aroma doce com fundo de baunilha invadia os sentidos dele. — Você sabe que está cruzando uma linha, não sabe? ele sussurrou. — Eu sei. E você? ela devolveu, sem hesitar. Ele não respondeu. Em vez disso, abaixou o rosto, deixando os lábios tocarem a pele dela não na boca, ainda não, mas na curva suave do pescoço, onde depositou um beijo lento, quente, cheio de intenção. Kira fechou os olhos, sentindo o mundo ao redor desaparecer. Era o começo. A a******a de uma porta que não seria mais fechada. O som de passos distantes os trouxe de volta à realidade. Luís afastou-se devagar, ainda com o gosto dela nos lábios, e voltou à postura profissional. — Você deveria ir. disse, com a voz rouca. Ela o olhou, surpresa pela contenção repentina. Mas entendeu o jogo. — Vai fingir que nada aconteceu? — Eu não finjo nada. Só adio o inevitável. Kira sorriu, pegou sua bolsa e saiu da biblioteca sem olhar para trás. Mas seu corpo ainda ardia. E a certeza estava clara: aquilo não era mais só um flerte. Era uma paixão que crescia rápida demais, quente demais... e impossível de conter.
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