A tarde de quinta-feira caiu sobre o campus com um silêncio raro. O vento leve soprava pelas árvores, e o sol filtrava-se pelas folhas, lançando sombras tranquilas no chão de pedra. A maioria dos alunos já havia deixado os corredores, mas Kira ainda estava por ali.
Ela havia recebido uma mensagem discreta de Luís:
"Encontre-me na biblioteca. Ala leste. 17h."
Não havia mais do que isso. Nenhum emoji. Nenhuma justificativa. Apenas o convite direto e frio — e, justamente por isso, irresistível.
Ela chegou pontualmente, como se o tempo tivesse passado devagar demais até aquela hora. Os saltos dos sapatos ecoavam pelo piso de madeira antiga. A ala leste era quase sempre vazia no final da tarde, o local perfeito para um encontro... casual.
Luís já estava lá.
Vestia calça escura, camisa azul clara com dois botões abertos no colarinho e o blazer pendurado no encosto da cadeira. Ele estava em pé, encostado em uma estante, folheando um livro grosso de capa preta. Quando ouviu os passos, ergueu os olhos.
O olhar que trocaram bastava para incendiar a atmosfera.
— Pontualidade. Mais um ponto a seu favor. ele disse, fechando o livro sem tirar os olhos dela.
— Gosto de mostrar dedicação. respondeu ela, caminhando até uma das mesas próximas, onde largou sua bolsa com leveza.
Luís se aproximou devagar, como um predador elegante. Ela podia sentir a presença dele como uma onda invisível de calor. Parou a poucos centímetros, observando cada detalhe do rosto dela a boca entreaberta, o brilho nos olhos, o leve subir e descer da respiração.
— Está gostando da universidade? ele perguntou, com um leve tom de ironia, como se a pergunta fosse uma distração qualquer.
— Está sendo mais... interessante do que imaginei. disse ela, com um sorriso provocante. Especialmente uma disciplina.
Luís tocou o tampo da mesa ao lado dela, apoiando uma das mãos, inclinando-se para mais perto. A distância entre os dois era mínima. Era impossível que não sentissem a energia elétrica que pulsava entre seus corpos.
Foi então que ela estendeu a mão para pegar uma caneta que havia caído da mesa. No mesmo instante, ele também a pegou e suas mãos se tocaram.
Foi um toque simples. Mas carregado de significado.
As pontas dos dedos dela encontraram as dele. Nenhum dos dois recuou. Ao contrário, deixaram os dedos entrelaçarem-se sutilmente por um instante que pareceu durar minutos. O toque queimava. Era como se estivessem testando os próprios limites. Como se perguntassem, em silêncio, até onde estavam dispostos a ir.
Kira manteve o olhar preso ao dele, desafiando-o a dar o próximo passo.
E ele deu.
Luís segurou a mão dela com firmeza e a puxou levemente para mais perto. Agora estavam tão próximos que os narizes quase se tocavam. O perfume dela aquele aroma doce com fundo de baunilha invadia os sentidos dele.
— Você sabe que está cruzando uma linha, não sabe? ele sussurrou.
— Eu sei. E você? ela devolveu, sem hesitar.
Ele não respondeu. Em vez disso, abaixou o rosto, deixando os lábios tocarem a pele dela não na boca, ainda não, mas na curva suave do pescoço, onde depositou um beijo lento, quente, cheio de intenção.
Kira fechou os olhos, sentindo o mundo ao redor desaparecer.
Era o começo. A a******a de uma porta que não seria mais fechada.
O som de passos distantes os trouxe de volta à realidade. Luís afastou-se devagar, ainda com o gosto dela nos lábios, e voltou à postura profissional.
— Você deveria ir. disse, com a voz rouca.
Ela o olhou, surpresa pela contenção repentina. Mas entendeu o jogo.
— Vai fingir que nada aconteceu?
— Eu não finjo nada. Só adio o inevitável.
Kira sorriu, pegou sua bolsa e saiu da biblioteca sem olhar para trás. Mas seu corpo ainda ardia. E a certeza estava clara: aquilo não era mais só um flerte. Era uma paixão que crescia rápida demais, quente demais... e impossível de conter.