Seis dias depois...
Ethan acorda de manhã cedo, e já pula da cama e corre até o banheiro o mais rápido que pode, e vomita muito sangue na privada. Assim que ele termina, ele dá descarga e fica sentado ao lado da privada com sangue escorrendo pela boca, ainda se sentindo péssimo e tossindo muito. Já tinha virado rotina vomitar sangue naquela semana, por isso, Ethan estava mais pálido do que nunca, ele se sente muito fraco e tem uma febre fortíssima.
Para ele era claro que já estava em seus últimos momentos.
Alguém bate na porta do quarto dele, e Ethan limpa a boca e põe a blusa, então vai atender, era sua mãe.
- Hoje é domingo, seria legal se fôssemos à igreja. - Sherry disse sorrindo.
Desde que Ethan leu o registro da situação dele, ficou um clima mórbido entre ele e sua mãe, como se ela soubesse que ele estava prestes a morrer e não tivesse nada que pudesse ser feito, e ele, que sabe disso, vive como se nada estivesse acontecendo e faz de tudo pra não preocupar sua mãe.
- Seria bem legal.
Ela olhou bem pra ele e perguntou:
- Você não vomitou sangue hoje, né?
- Não.
- Isso é um avanço, sinal que você já está melhorando. O remédio deve estar fazendo efeito. - ela sorriu.
- É...
- Se arrume.
- Agora mesmo.
Sherry seguiu o corredor, indo pra sala, e Ethan fechou a porta do quarto.
Uma hora depois, os dois chegam na igreja, que é um local enorme e bem espaçoso, e chegam atraindo a atenção de todos, já que Ethan parecia um zumbi andando com um gesso no braço direito. Os dois ficam meio acanhados e vão direto pra dentro da igreja, onde encontram um velhinho de terno calvo com barba cheia e cabelos bem brancos, o Pastor Jarbas, o único pastor daquela igreja. Assim que ele vê os dois, ele vem ao encontro deles e os recebe:
- Fico muito feliz de ver vocês aqui.
- Olá, pastor. - disse Sherry.
Ele sorriu pra ela e deu uma boa olhada em Ethan.
Como estamos hoje, meu rapaz? - disse Jarbas, com um sorriso esperançoso no rosto.
Ethan se esforça muito para manter uma cara convincente, sentindo seu corpo inteiro doer e dores constantes no peito.
Bem.
Jarbas sorri pra ele e diz para Sherry:
Seu filho é um homem muito inteligente e persistente, Sherry. Tenho certeza que ele vai melhorar logo, logo.
É o que eu mais quero, Pastor Jarbas. - disse ela.
Ele sorri pra eles.
- Podem se sentar, fiquem à v*****e. Caso precisem de mim, não exitem em chamar.
Jarbas sorriu para Ethan, que retribuiu o sorriso um pouco fraco, em seguida o pastor saiu.
- Venha, vamos nos sentar.
- Eu acho que vou assistir a uma aula hoje. - disse Ethan.
- Ethan, não sei se é uma boa ideia.
- Eu estou melhorando, lembra? Não vai acontecer nada.
- Deixa eu te ajudar a chegar até a sala então.
- Não precisa, eu consigo.
- É melhor você não se esforçar muito.
Mãe, eu já disse que consigo.
Ela fica sem o que dizer, então só dá um beijo na testa dele e vai se sentar.
Ethan vai até um corredor externo, onde tinha um bebedouro, ele pega um copo d'água e se senta num banco, ele tenta dar um gole, mas sua mão começa a tremer e ele acaba largando o copo, que cai no chão derramando tudo.
- Droga... - ele ficou frustrado.
- Posso te ajudar? - disse uma voz feminina.
Ethan se levantou e olhou pra ela, é uma garota branca de cabelos longos e castanhos, olhos bem castanhos e claros.
- Não, eu... tô bem.
Ela olha pra ele, como se estivesse analisando alguma coisa, e ele acha um pouco estranho.
A garota pega um outro copo d'água e oferece para servir na boca dele, e como ele m*l conseguia segurar, acabou aceitando.
Ethan bebeu a água como um andarilho no deserto, completamente sedento.
- Obrigado.
- Não precisa agradecer. Estava indo pra aula?
- Sim.
- Ahn... se incomoda se eu for junto com você? Eu sou nova aqui e não conheço muita coisa.
- Claro. Qual o seu nome?
- Evelline Piwbrins.
- Ethan Miles.
Eles sorriem um pro outro, e Evelline diz:
- Bom, podemos ir, Ethan Miles?
- Ah, sim. Claro.
Eles foram andando pelo corredor, e Ethan puxa assunto:
- Você é da cidade? Não lembro de ter te visto por aqui antes.
- Não, eu nasci na Califórnia mas estava morando em Downtown. Vim para Pilgrim concluir o último ano do meu curso.
- Aqui em Pilgrim?
- Sabe como é, paz e tranquilidade pra estudar. Esse lugar é pacato, o que é perfeito pra viver tranquilamente.
- Eu concordo.
Ethan respirava ofegante e Evelline reparava como ele estava em um estado não muito agradável, então pergunta:
- O que aconteceu com você?
- Levei um tiro.
- Deve ter sido um baita tiro, você tá muito r**m. Sem ofensas.
- O médico disse que eu peguei uma bactéria da a**a, aparentemente ela estava enferrujada e suja demais. Mas eu tô tomando uns remédios e tô melhorando.
- Não...
- Não o que?
- Você está morrendo, não melhorando.
Ethan franziu a testa.
- Perdão, não quis ser insensível. - ela disse.
- Acho que você é a primeira pessoa a desejar condolências para alguém que não morreu ainda. - ele tentou manter o bom humor.
Ela deu um sorriso tímido.
- Você é médica?
- Não, mas entendo bastante de medicina por causa da minha avó.
Eles chegam na sala, é um auditório enorme, e Evelline abriu a porta, para que Ethan entrasse. Ele entrou, e os dois se sentaram juntos na primeira fileira.
Não demorou muito, e mais gente começou a chegar, lotando rapidamente a sala inteira. Até que uma moça de cabelo azul meio punk passou por Ethan e abriu um sorriso pra ele.
- Miles? É você?
- Noêmia? A quanto tempo.
Ela olhou bem pra ele e disse com um sorriso confiante:
- Você vai superar isso Miles, eu acredito.
Ele achou estranho, mas acenou com a cabeça sorrindo. Então, Noêmia continuou andando até seu lugar.
- Parece que você tem muitos amigos. - Evelline comentou.
- Na verdade não. Dá pra contar nos dedos... de uma mão só... sem nem usar todos os dedos. Não sou muito popular.
Todos ficaram esperando pela chegada de algum professor, mas estava demorando bastante. Passaram-se vários minutos e nem sinal de ninguém.
Ethan começou a sentir seus olhos pesarem e foi fechando eles aos poucos, se sentindo cada vez mais fraco.
O falatório da sala estava ficando cada vez mais distante para Ethan, como se fosse uma voz bem longe que ele conseguia escutar. Até que de repente esse falatório para, e ele abre os olhos um pouco, e tampa a visão com a mão imediatamente quando um feixe de luz amarelo veio direto no rosto dele.
Ethan abriu os olhos aos poucos, e viu uma figura estranha parada no meio do auditório, parecia um homem usando um manto amarelo com capuz que escondia o rosto. Ele brilhava forte, iluminando tudo em volta.
Ethan achou que a morte finalmente veio buscá-lo pessoalmente, mas ele logo reparou que não foi o único que ficou espantado, todos no auditório também estavam estáticos com uma expressão de pavor. Excerto por Evelline, ela parecia mais surpresa.
Aquela figura parecia estar olhando diretamente para Ethan, e ela estende a mão pra ele, e Ethan recua.
- Não tenha medo. - aquela coisa falava com uma voz forte que ecoava muito alto.
O que é isso?!
- Aproxime-se.
Ele sentia seu coração bater tão forte que parecia que ia desmaiar a qualquer momento, mas obedeceu a entidade e se levantou, indo em direção a ela.
Todos na sala prenderam o ar vendo aquilo.
A entidade mantinha a mão estendida pra ele, e Ethan se aproxima.
- Pegue a minha mão.
Um pouco hesitante, ele faz isso, e assim que toca a mão da entidade, seu corpo inteiro se arrepia e tudo em volta parece ficar paralisado no tempo.
- Sim, de fato. É você, Ethan Miles.
- O que é você?
- Vejo em você a alma mais capaz e o coração mais empático, você tem as qualidades necessárias.
- Você é a morte?
- Não sou o bem, nem o m*l. Sinto em você a v*****e de fazer o bem pelos outros, você até levou um tiro pra proteger alguém. Me diga, é isso que você quer? Ajudar os outros?
Ethan mudou a expressão, e com toda a convicção ele responde:
- Sim, é o que eu quero.
- Por que?
- As pessoas sofrem todos os dias com a criminalidade, muita gente passa por dificuldades e na maioria das vezes, ninguém faz nada pra ajudar. Isso me incomoda muito, eu sinto... eu quero fazer algo quanto a isso, ninguém merece tanto sofrimento.
Ethan e a entidade se olham por um tempo.
- Tem certeza que é isso que quer?
- Eu daria a vida por isso.
Rindo, a entidade comenta:
- Tão pequeno, tão cheio de fraquezas, diminuído pelos outros, e ainda assim, consegue se preocupar com o bem alheio. Tudo isso são características necessárias para o equilíbrio das coisas, entre o bem e o m*l, por isso, você agora será o Extraordinário.
De repente a entidade apertou a mão dele mais forte e ele começou a sentir sua mão queimar que nem fogo, e então a entidade o soltou, e Ethan viu uma energia amarela surgir na palma de sua mão, e ela foi se espalhando e subindo pelo braço dele, até tomar seu corpo inteiro.
Todos na sala tamparam os olhos por conta da luz forte que tomou o auditório inteiro. O gesso no braço de Ethan começou a rachar, e caiu do braço, e virou cinzas antes de sequer chegar ao chão.
A luz diminuiu, e todos conseguiam ver a silhueta de Ethan aparecendo aos poucos no meio da luz, até que ele aparece por completo, com a aparência transformada.
Todo o corpo dele ficou envolvido em uma energia dourada, as pupilas ficaram laranjas e pelo peito e abdômen dele apareceram linhas pretas que formam uma estrela de seis pontas.
Ninguém na sala ousava dar um pio, excerto por Evelline, que tentou falar com ele:
- Ethan...?
Ele se virou para ela, parecia que Ethan estava em chamas, com uma aura dourada ao redor dele fazendo um zumbido agudo.
- Eu...
Quando Ethan tentou falar, a voz dele saiu tão forte que parecia um trovão, e isso apavorou todo mundo. Então ele tentou falar um pouco mais baixo:
- Eu... me sinto bem.
As pessoas no auditório não tiravam os olhos dele, completamente perplexas.
Mas a energia se dissipou, e Ethan voltou ao normal.
- Isso será despertado no momento certo. - disse a entidade, que logo depois desapareceu.
Ainda impressionado e confuso, Ethan olhou para seu braço e viu que o ferimento tinha desaparecido, ele voltou a sua cor normal e estava se sentindo ótimo, como nunca se sentiu antes.
Ele olhou pra Evelline, que estava tão surpresa quanto ele, assim como todos no auditório.