4 CAPÍTULO

1959 Words
Pov Débora Desde o dia que Beatriz aceitou baixar a guardar e aceitar tudo que seu pai estava impondo, ela simplesmente era outra pessoa. A cada dia que passava estava mais distante, e sempre arrumava desculpas quando eu a convidava para fazer algo. Na verdade, era sempre a mesma desculpa: Tinha um dia exaustivo e estava cansada demais para sair à noite. Com isso nossa relação vinha ficando mais fria, o que acabava me irritando bastante. Quando conheci Beatriz, ainda na faculdade, foi amor à primeira vista. Passei a observá-la de longe, e achava intrigante como ela conseguia ser tão linda e estar sempre com aquele ar autoritário que fazia todos temê-la. Para todos, ela era a garota impossível de ser conquistada, mas eu sempre acreditei que o impossível era apenas uma questão de perspectiva, então fui à luta. O único problema é que eu não contava que Beatriz realmente levava a sério o significado da palavra impossível. Após me tornar amiga de Bea, percebi que ela nunca ficava com a mesma pessoa uma segunda vez. Perdi as contas de quantas vezes presenciei garotas levando fora de Bea. Claro que uma parte de mim, se alegrava quando isso acontecia, mas por outro lado eu sabia que isso não significava que iria tê-la somente para mim. O tempo passava e nossa amizade ia ficando cada dia mais sólida. Beatriz passou a confiar cegamente em mim, enquanto eu fui conhecendo todas suas fraquezas para então chegar a uma conclusão: Para tê-la de alguma forma, eu precisava deixá-la livre. Um dos maiores medos de Beatriz era se entregar e ser abandonada, isso porque ela sempre se considerou abandonada pelo próprio pai. Poucas pessoas sabem, inclusive a própria Beatriz, mas esse lado de mulher durona que ela carrega consigo mesmo, é pura fantasia, uma personagem que ela criou ao passar dos anos, para não demostrar quem de fato é: Uma mulher meiga, frágil, sonhadora, que precisa sentir-se cuidada e protegida, mas se sentir pressionada só irá se afastar de tudo e todos. Durante suas quedas, Beatriz dificilmente ficará no chão, mas se estiver sozinha durante o percurso a batalha será perdida, ou seja, o ponto fraco da Beatriz é lidar com a solidão. Entendendo tudo isso consegui não apenas encontrar meios de me tornar uma das suas melhores amigas, mas me tornei também a única com que Bea visita a cama com frequência. Óbvio que para isso ser possível, eu precisava renunciar meu desejo de tê-la somente para mim, mas isso nunca foi de fato um problema, já que eu sempre tive a certeza que todas era sinônimo do divertimento de apenas uma noite. No fim é sempre para mim que ela voltava, e era nisso que eu me apegava. A notícia desse casamento caiu como uma bomba em minha cabeça. Não que eu achasse que a figura sem sal da Clara, me representasse algum risco. Ela nem ao menos conhecia Bea, como eu conhecia, e eu sabia que ela não era o tipo de mulher pelo qual Beatriz se apaixonaria. Contudo, eu também não poderia ser tão tonta a ponto de subestimar uma convivência, afinal, a mesma reserva muitas surpresas, e o tempo era prolongado demais e já parecia está rendendo frutos indesejáveis. No fim, não era Clara que me incomodava, era o comportamento de Beatriz, que a cada dia me revelava estar se tornando uma nova pessoa. O desconhecido estava me enlouquecendo, eu não poderia perdê-la. Sempre cultivei a esperança de tê-la, e algo me dizia que esse casamento poderia tirá-la por completo de mim. No entanto, ainda não tinha muito o que fazer a respeito. No momento só me restava engolir essa história e me manter sendo a boa amiga que sempre fui. A campainha do meu apartamento tocou logo cedo, mas fui atender sem ânimo e pressa. Eu sabia que não poderia ser Bea. Aliás, provavelmente àquela hora, ela já estaria na empresa e não tinha nada marcado comigo durante o dia anterior. – Oi, meu amor. – Talita passou pela porta esbanjando animação. – Se minha amiga não vai até mim, eu tenho que procurar saber como ela está. – Sem drama Tata. Eu apenas tenho andado ocupada demais com o trabalho. Você sabe como é a víbora da minha chefe. Sentei ao lado de Talita, cumprimentando-a com um beijo na testa. – Ainda vive em pé de guerra com a velha? – Claro! Mas não se preocupe. Ela não me demite, porque no fundo sabe que sou competente. Sem mim, aquela revista vai para o espaço. Agora me conta, quando chegou de viagem? – De madrugada. Fui direto para casa do Matteo, e resolvi passar aqui antes de ir para o ateliê. Revirei os olhos quando ouvi o nome do namoradinho sem graça de Talita. A verdade é que nem eu e nem Beatriz aprovávamos o namoro da nossa amiga com aquele playboy metido a b***a. O que ele tinha de bonito, tinha de i****a. Por sua vez, ele também não fazia muita questão de esconder seu desagrado em relação a nossa amizade com sua namorada. Segundo ele nós duas iriamos colocar Talita no “caminho errado”. Por sorte, Tata não se afastou de nenhuma de nós, por mais que isso tivesse sido colocado no meio das brigas dos dois por inúmeras vezes. – Não sei o que viu nesse cara, e muito menos o porquê de ainda estar com ele. – Não começa, Débora. Não vamos entrar nesse assunto de novo, vamos? Ela não estava irritada, mas como sempre, procurava evitar dar sequência ao assunto que certamente nos levaria a uma discussão sem fim. – Por que não falamos de algo mais surpreendente? Já imaginava qual seria o assunto, mas resolvi me fazer de desentendida. – Que seria? Caminhei até a cozinha em busca de água, enquanto Talita vinha em meu encalço. – Fiquei chocada com a notícia desse noivado de Beatriz com a Clara. Quase peguei o primeiro avião quando ela me ligou contando. – Não é para tanto. Você deve saber as condições desse casamento. Tomei minha água sem ao menos olhar para Talita. – Sei, e isso só me faz desacreditar ainda mais no que está acontecendo. Pelo amor de Deus, Débora, estamos falando da Beatriz, não é normal ela aceitar algo do tipo. Talita escorou-se no batente da porta parecendo disposta a analisar todas minhas reações. – Bom, ela fala que vê nesse contrato uma chance para se tornar livre em pouco tempo, mas eu não sei... – Fiz uma pausa tentando organizar as ideias. – A verdade é que eu acho que a Bea não odeia o pai como diz. No fundo tudo o que ela faz é apenas para chamar a atenção dele. Por mais que Beatriz vivesse repetindo o quanto odiava o pai, na minha opinião esse não era o sentimento que de fato existia dentro dela. Bea era carente de atenção da figura paterna, e suas rebeldias sem fim eram apenas uma forma que ela havia encontrado para chamar atenção do homem que ela tanto queria orgulhar. – Pode ser. – Talita concordou pensativa. – Bom, eu ficaria feliz se os dois conseguissem se acertar, a Bea realmente precisa tornar-se madura e responsável, mas ele também precisa conhecer melhor a própria filha. – Ela é responsável, Talita. Só que não são todos que têm a chance de conhecê-la tão bem. – Com exceção de você, é claro. Seu olhar avaliativo chegava a ser como uma faca amolando em minha alma. – Vixi! Já vi que vem sermão por ai. Quer um suco? Tentei ganhar tempo antes de encarar os sermões de Talita, que a propósito, esses nunca me deixavam de bom humor. – Não, obrigada. – Ela sentou-se na cadeira a minha frente. – Já conversaram a respeito desse envolvimento sem cabimento que vocês existem em permanecer cultivando? – Não acredito que você vem com esse assunto de novo. – Passei a mão pelo rosto buscando por paciência. – Pode apostar que agora mais do que nunca. – A olhei dando de ombros, o que rapidamente atiçou sua raiva. – Pelo amor de Deus, você não vai me dizer que pretendem seguir com isso adiante. Ela vai casar! – É de mentira! – Retruquei no mesmo instante. – Ainda assim, continua sendo errado. – Ela pontuou sem pensar duas vezes. – Independente de qualquer coisa vocês precisam parar com isso agora, antes que seja tarde demais. Eu sempre avisei que isso entre vocês não acabaria bem. – E até agora nada aconteceu. – Rebati suspirando profundamente. – Por que é tão difícil você aceitar que nós podemos ficar juntas um dia? Sentia mágoa diante da recusa de Talita, por aquilo que eu considerava ser minha felicidade. – Porque não existe amor, Débora. Pelo menos não da parte dela. Só que ela é tonta demais para perceber que você a ama. Aquelas palavras poderiam ser vazias e não causarem efeito algum, mas eu sentia como se fossem lâminas atingindo meu coração. Claro que eu sabia que Beatriz não me amava, mas ouvir aquelas palavras de outra pessoa era ainda mais doloroso, porque a sensação que sentia era de que o destino estava me estapeando. Sentei de frente para Talita, com as mãos na cabeça, enquanto tentava raciocinar melhor. Minha amiga era a única que sabia meus reais sentimentos pela outra, isso porque durante uma longa crise de choro pós porre, eu acabei deixando escapar meus sentimentos ocultos por Bea. Desde então Talita nunca mais aprovou nossa relação colorida. – Ela também não ama a Clara. Não é como se estivesse casando por amor. É tão errado quanto o que vivemos. Talita buscou minhas mãos sobre a mesa, e mantinha aquele olhar protetor. – Nunca disse que é certo o que elas vão fazer, e acredito que existem grandes chances de alguém sair machucado dessa história absurda, mas aqui, e agora, minha preocupação é com você. – Seus olhos transmitiam verdade, carinho, e muita preocupação. – Você sabe há quanto tempo vem tentando conquistá-la, mas já que nunca teve coragem de ser sincera com ela, nós duas sabemos que esse é o momento de parar. – Ainda não conversamos a respeito. Bea não tem aparecido com frequência nesses últimos dias, mas ainda pretendo conversar com ela a respeito. Tentei tranquilizá-la, mas eu sabia que em meu coração não existia a vontade de parar. – Débora, coloque um ponto final nisso antes que vocês duas saiam machucadas nessa história. Beatriz pode ser desmiolada, mas ela não suportaria perder sua amizade por algo que ela fosse culpada. Passei mais um tempo conversando com Talita, que parecia determinada em me mostrar o quanto a relação que eu tinha com Beatriz estava fadada ao fracasso, se é que aquilo poderia ser denominado relação, segundo ela. O tempo passou rapidamente e Talita assustou-se quando percebeu estar atrasada para seus compromissos, o que confesso que eu também estava para cumprir com os meus. Minha amiga veio em minha direção para me abraçar, mas quando toquei em seu corpo o susto veio imediato. – Ai! – Ela reclamou fazendo uma cara de dor. – Não precisa apertar tanto. – O quê? Eu nem toquei direito em você, Tata. Ficou doida? Sua expressão foi substituída por timidez. – Desculpa Débora, é que eu bati a costela na porta, e estou com um machucado realmente doloroso, mas logo vou ficar bem. – Deixa eu ver isso. Posso te fazer uma massagem se quiser. – Não amiga, obrigada, mas estou apressada e... – Ela parecia nervosa. – Eu realmente preciso ir, nos vemos logo mais. – Talita, volte aqui, me deixa... Talita passou pela porta mandando beijos em minha direção sem ao menos me deixar terminar de falar.
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