Olivia Hayes
A semente da dúvida plantada por Alessandro sobre Arthur germinou em minha mente com uma velocidade assustadora. Aquele comentário casual — "Arthur é um homem… ambicioso. E, às vezes, a ambição pode levar as pessoas a fazerem coisas… questionáveis. Ele é um bom advogado, mas nem sempre o mais confiável" — ecoava em meus pensamentos, tingindo cada interação com o simpático advogado com uma nova camada de incerteza. Era uma tática sutil, mas eficaz, e eu odiava o fato de que funcionava. Alessandro não precisava gritar ou ameaçar; ele apenas sussurrava, e o veneno se espalhava.
Os dias se transformaram em uma teia complexa de trabalho exaustivo e uma dança perigosa com Alessandro. Ele intensificava o jogo de sedução e controle, e eu me via cada vez mais enredada. Suas provocações não se limitavam mais ao intelecto; elas se tornavam mais pessoais, mais íntimas. Ele tinha uma forma de invadir meu espaço, de usar seu corpo imponente para me encurralar, não com violência, mas com uma presença avassaladora que me deixava sem ar.
Certa noite, a urgência de um relatório crucial nos manteve no escritório até altas horas. A cidade lá fora cintilava sob a escuridão, e o silêncio do andar executivo era quebrado apenas pelo clique dos teclados e o murmúrio ocasional de nossas vozes. Eu estava exausta, meus olhos ardendo de tanto encarar a tela do computador, mas a perfeição era a única moeda aceitável no reino de Volkov.
Alessandro estava ao meu lado, debruçado sobre a mesa, os dedos longos apontando para gráficos e tabelas. O cheiro de sândalo e algo metálico, que eu já associava intrinsecamente a ele, envolvia-me, inebriante. Eu sentia o calor de seu corpo próximo ao meu, uma proximidade que se tornara quase constante, e que me deixava em um estado de alerta permanente.
— Srta. Hayes, esta projeção de risco… — Sua voz era baixa, um sussurro que roçava minha orelha, enviando arrepios por minha espinha. — Você subestimou a volatilidade do mercado asiático.
Eu me virei ligeiramente para encará-lo, e nossos rostos ficaram a centímetros de distância. Seus olhos azuis, sob a luz fraca do monitor, pareciam ainda mais intensos, como duas brasas ardentes.
— Eu considerei os dados mais recentes, Sr. Volkov. A volatilidade diminuiu nas últimas semanas. — Minha voz era um fio, quase inaudível.
Ele não se moveu. Apenas me observou, um sorriso lento e predatório se formando em seus lábios. — Dados são apenas números, Srta. Hayes. O instinto, a capacidade de sentir a maré antes que ela mude, é o que realmente importa. E você, eu sinto, tem um instinto… peculiar.
Sua mão se estendeu, não para o teclado, mas para o meu rosto. Seus dedos, surpreendentemente suaves, roçaram minha bochecha, traçando a linha da minha mandíbula até meu queixo. O toque foi leve, mas a eletricidade que percorreu meu corpo foi avassaladora. Minha respiração ficou presa na garganta. Eu não conseguia me mover, paralisada pela intensidade de seu olhar, pela ousadia de seu toque.
— Peculiar? — Consegui sussurrar, minha voz embargada.
— Sim. Você é desafiadora, Srta. Hayes. E isso é… excitante. — Sua voz era um murmúrio rouco, e seus olhos desceram para meus lábios, demorando-se ali por um instante que pareceu uma eternidade.
Meu coração batia descontroladamente, um tambor selvagem em meu peito. O medo e a atração se misturavam em uma confusão avassaladora. Eu deveria recuar, me afastar, protestar. Mas meu corpo parecia ter traído minha mente, permanecendo imóvel, submisso à sua proximidade.
Ele se inclinou ainda mais, e eu fechei os olhos, antecipando o que viria. Seus lábios, quentes e firmes, encontraram os meus em um beijo que foi tudo, menos gentil. Não era um beijo terno, mas uma tomada, uma possessão. Seus lábios se moveram com uma urgência que me roubou o fôlego, explorando os meus com uma intensidade que me fez cambalear. Eu senti o gosto de café e algo mais, algo amargo e viciante, que era puramente Alessandro.
Minhas mãos, que antes estavam inertes sobre a mesa, se ergueram instintivamente, agarrando-se aos seus braços, não para afastá-lo, mas para me segurar, para me ancorar naquele turbilhão de sensações. O beijo se aprofundou, e eu senti sua língua invadir minha boca, explorando cada recanto com uma audácia que me fez gemer. Era uma explosão de paixão, um fogo que se acendeu em meu corpo, queimando cada célula, cada fibra.
Eu me senti submissa, não por fraqueza, mas por uma força avassaladora que me dominava. Era como se ele estivesse me consumindo, me absorvendo em sua própria escuridão, e eu não conseguia, nem queria, resistir. O mundo exterior desapareceu, e existíamos apenas nós dois, naquele beijo proibido, naquela bolha de desejo e perigo.
Quando ele finalmente se afastou, meus lábios estavam formigando, inchados, e eu estava ofegante, meus olhos ainda fechados. O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pela minha respiração irregular e pelo batimento acelerado do meu coração.
Abri os olhos lentamente, e ele estava me observando, um brilho de triunfo em seus olhos azuis. Seus lábios estavam levemente inchados, um espelho dos meus, e um sorriso lento e satisfeito se espalhou por seu rosto.
— Agora, Srta. Hayes, isso sim é audácia. — Sua voz era rouca, e a satisfação em seu tom era quase palpável.
Eu pisquei, tentando processar o que havia acabado de acontecer. Um beijo. Um beijo intenso, avassalador, com meu chefe. O que eu estava pensando? O que ele estava pensando? Meu cérebro parecia ter entrado em pane.
"Certo, Olivia," pensei, com uma pontada de humor nervoso, "agora você beija seu chefe. O que vem a seguir? Um jantar à luz de velas no escritório com planilhas como guardanapos?" A ironia era uma forma de me proteger, de tentar racionalizar o caos que se instalara dentro de mim.
O drama em meu interior era um furacão. O medo de Alessandro, de sua possessividade, de seu controle, colidia com a atração inegável que eu sentia por ele, uma atração que me assustava mais do que qualquer outra coisa. E a culpa. A culpa por ter cedido, por ter respondido ao seu beijo, era um peso em meu peito. Arthur. O nome dele surgiu em minha mente, e uma onda de vergonha me atingiu. Ele havia sido tão gentil, tão atencioso. E eu, em um momento de fraqueza, havia me entregado a um homem que era a personificação do perigo.
Alessandro se afastou da mesa, caminhando até a janela, como se nada de extraordinário tivesse acontecido. Sua postura era a mesma de sempre: imponente, controlada. Mas eu sabia que algo havia mudado irrevogavelmente entre nós.
— O relatório está pronto, Srta. Hayes? — Sua voz era profissional, mas havia um tom subjacente de algo mais, algo que me dizia que ele sabia o poder que exercia sobre mim.
— Sim, Sr. Volkov. — Minha voz ainda estava um pouco trêmula.
— Ótimo. Envie-o para meu e-mail. E… — Ele se virou, seus olhos fixos nos meus. — Esteja preparada para uma reunião amanhã. Teremos um novo m****o em nossa equipe.
Um novo m****o? Meu coração deu um salto. Quem seria? E por que ele mencionava isso com aquele olhar enigmático?
Eu estava prestes a perguntar, quando a porta do escritório de Alessandro se abriu abruptamente, sem uma batida. Uma figura alta e sorridente parou no batente, com uma pasta na mão.
— Alessandro, eu sei que é tarde, mas queria te entregar os documentos finais do caso Miller pessoalmente. — A voz era familiar, e meu sangue gelou.
Era Arthur.
Ele parou, seu sorriso se desvanecendo quando seus olhos encontraram os meus, e depois os de Alessandro, que estava parado a poucos metros de mim. A cena, para um observador externo, poderia parecer inocente. Mas o ar estava carregado de uma tensão que só nós três podíamos sentir. Os olhos de Arthur se arregalaram ligeiramente, e eu pude ver a confusão, a surpresa, e talvez até um lampejo de desconfiança em seu olhar.
Alessandro, por sua vez, não demonstrou qualquer surpresa. Um sorriso lento e quase imperceptível surgiu em seus lábios, um sorriso de triunfo. Ele havia orquestrado isso? A aparição de Arthur naquele momento era uma coincidência c***l ou mais um movimento em seu jogo de poder? O suspense era um nó em minha garganta, e eu sabia que esse encontro, que eu tanto temia, havia acabado de se formar, de forma inoportuna e dolorosa.