Alessandro Volkov
A noite estava impregnada de uma quietude inquietante, como se cada sopro do vento carregasse consigo as sombras das dúvidas que se aninhavam em minha mente. Sentado em meu escritório, o silêncio denso ao meu redor servia apenas para amplificar meus pensamentos. Eu estava acuado—não por inimigos externos ou ameaças corporativas, mas pelo medo visceral de perdê-la. Olivia estava escorregando entre meus dedos, e eu percebia claramente que o controle que eu tanto prezava estava se esfacelando.
Cada vez que fechava os olhos, revia seu rosto abalado ao descobrir os fragmentos dolorosos do meu passado. Suas perguntas ecoavam em meus ouvidos, cortantes como lâminas afiadas: "Você me ama ou apenas vê Liandra quando me olha?"
Essa pergunta, brutal em sua simplicidade, ameaçava destruir tudo o que eu lutara para proteger. Meu ciúme, antes um mecanismo de defesa, agora se tornara minha prisão. Não podia mais esconder a verdade de mim mesmo—nem dela.
Tomado pela decisão de encarar a verdade, enviei-lhe uma mensagem breve, porém decisiva:
“Preciso vê-la esta noite. Esteja pronta às oito.”
O local escolhido era perversamente simbólico: o antigo salão de espelhos onde Sergei a havia aprisionado. Ali, naquele lugar que testemunhara sua vulnerabilidade extrema, seria onde eu finalmente baixaria minhas próprias barreiras.
Ao entardecer, atravessei a estrada estreita que levava à velha propriedade, cada curva do trajeto ressoando com memórias escuras e dolorosas. O prédio abandonado emergiu lentamente da neblina fina, sua fachada desgastada refletindo décadas de silêncio e esquecimento. Mas, para mim, aquele lugar estava vivo—respirando os fantasmas do meu passado e do nosso presente precário.
Entrei no salão vazio, iluminado tenuemente por velas estrategicamente posicionadas, criando um jogo perturbador de luz e sombra nos espelhos infinitos. O reflexo distorcido de meu rosto multiplicava-se infinitamente ao redor, cada um deles retratando uma versão diferente de mim—dominador, vulnerável, desesperado.
Exatamente às oito, ouvi passos suaves ressoando no piso frio de mármore. Olivia surgiu à porta, hesitante, vestida num elegante vestido preto que abraçava suas curvas com delicadeza. Seu olhar percorreu o salão, claramente reconhecendo o cenário sombrio que a assombrava.
— Por que aqui? — perguntou com voz trêmula, mantendo distância segura.
Caminhei lentamente até ela, deixando que os espelhos refletissem cada movimento meu, como uma dança macabra de minha própria insegurança.
— Porque preciso enfrentar o passado—disse suavemente, sentindo a voz carregar o peso da vulnerabilidade. — E não há lugar mais verdadeiro para isso.
Olivia cruzou os braços, defensiva, seus olhos cintilando sob a luz fraca das velas.
— E qual verdade ainda falta contar, Alessandro? O que você ainda esconde de mim?
Meu coração acelerou com a pergunta direta, brutalmente honesta. Respirei fundo, preparando-me para a confissão que eu sabia ser inevitável.
— Você perguntou se eu a amo por quem você é ou se amo apenas a sombra de Liandra — comecei, encarando-a diretamente. — É justo que saiba a verdade. No início, você era, sim, uma maneira de reviver o que perdi. Eu buscava nela em você.
Vi seus olhos brilharem, a dor estampada claramente em seu rosto.
— Mas isso mudou — continuei rapidamente, dando um passo mais próximo. — Quanto mais te conhecia, mais percebia que você não é Liandra. Você nunca foi. Você é tudo o que ela nunca poderia ser: viva, forte, desafiadora. Você é tudo que desejo agora, Olivia. E estou terrivelmente arrependido por não ter entendido isso antes.
Ela desviou o olhar, absorvendo minhas palavras com expressão atormentada.
— Por que levou tanto tempo para admitir isso? — sua voz saiu embargada.
Estendi a mão, tocando suavemente seu rosto.
— Porque admitir significava perder o controle — confessei, sentindo o peso da verdade rasgar meu peito. — E você sabe como preciso estar sempre no controle.
Olivia soltou um suspiro doloroso, mas permitiu-se relaxar sob meu toque, inclinando o rosto contra minha mão.
— Eu não quero ser sua prisioneira, Alessandro. Preciso que entenda isso.
— Eu sei — murmurei, puxando-a delicadamente contra mim, respirando seu perfume que me intoxicava. — Mas você também precisa entender: meu amor por você é visceral, possessivo. Eu te desejo completamente, não como um fantasma, mas como mulher viva, real, que domina cada pensamento meu.
Seu corpo tremeu contra o meu, mas ela não se afastou. Ao contrário, lentamente cedeu, permitindo que minhas mãos explorassem suas costas, pressionando-a suavemente contra mim.
A tensão entre nós se transformava rapidamente, carregada agora por desejo e necessidade. Minha boca encontrou a dela em um beijo urgente, possessivo, exigente. Ela correspondeu com igual intensidade, o calor do encontro derretendo momentaneamente os medos e dúvidas.
— Diga-me que acredita em mim, Olivia — pedi, a voz baixa, urgente, afastando-me apenas o suficiente para olhar seus olhos profundamente.
Ela hesitou, respirando ofegante contra minha pele.
— Quero acreditar em você, Alessandro, mas como posso ter certeza?
Minha resposta veio na forma de um gesto decisivo. Segurando seus pulsos com suavidade, guiei-a até um espelho grande, posicionando-a de costas para mim, ambos refletidos claramente na superfície espelhada.
— Olhe — ordenei suavemente, mantendo-a firme contra mim. — O que você vê aqui não é Liandra, é você. Sua pele, seu calor, sua vida pulsando contra mim.
Minhas mãos deslizaram pelo corpo dela, observando-a pelo reflexo enquanto ela tremia, entregue ao domínio silencioso que eu exercia sobre seu corpo e alma.
— Você é minha, Olivia, não como substituta, mas como meu verdadeiro desejo — murmurei contra seu ouvido, minhas mãos firmes descendo lentamente por suas curvas, provocando gemidos abafados. — Permita-se aceitar isso.
Ela fechou os olhos, arqueando o corpo contra mim, rendida à intensidade de meu toque. Nossos corpos se uniram ali, diante do espelho, numa fusão de dominação e entrega, vulnerabilidade e força. Cada movimento era uma promessa silenciosa, um pacto renovado entre nós.
A sala de espelhos testemunhava nossa rendição mútua, o reflexo de nossos corpos multiplicado ao infinito. Olivia entregou-se completamente, abandonando todas as barreiras, permitindo que eu a possuísse completamente, que a marcasse como minha, não como eco do passado, mas como presente e futuro.
Ao atingirmos o ápice juntos, senti claramente o limite do meu poder sobre ela e sobre mim mesmo. Meu controle absoluto fora quebrado por uma força mais poderosa que qualquer manipulação: o amor verdadeiro que nutria por aquela mulher incrível em meus braços.
Quando recuperamos a respiração, Olivia apoiou-se contra mim, exausta, satisfeita, os olhos brilhantes de lágrimas silenciosas. Segurei-a com firmeza, sussurrando a promessa mais verdadeira que já fizera:
— Nunca mais vou amar o fantasma dela mais do que amo você. Isso acabou hoje.
Ela respirou profundamente, encarando nosso reflexo compartilhado no espelho, aceitando enfim minhas palavras com um leve sorriso.
— E se as sombras do passado voltarem? — perguntou com cautela, vulnerável.
Sorri suavemente, sem desviar o olhar do espelho.
— Nós as enfrentaremos juntos — prometi com firmeza. — Porque nada é mais forte do que você e eu agora.
Nosso olhar permaneceu fixo no reflexo, dois amantes desafiando as sombras, prometendo amar apesar delas, entendendo finalmente que nosso futuro não estava escrito pelo passado, mas pelo presente compartilhado.
Contudo, antes que a paz pudesse se estabelecer completamente, meu celular vibrou, rompendo nosso breve momento de serenidade. Abri a mensagem imediatamente, meu coração gelando ao ler as palavras curtas e ameaçadoras que brilharam na tela:
"Você pode esquecer Liandra, Alessandro, mas ela nunca vai esquecê-lo. Cuide bem de Olivia enquanto pode."
Ergui os olhos imediatamente, vasculhando o salão vazio em busca de ameaça visível. Olivia percebeu minha mudança brusca de expressão, virando-se alarmada.
— O que houve? — perguntou, preocupada.
Guardei o celular rapidamente, esforçando-me para não demonstrar o medo súbito que me invadira.
— Nada, não se preocupe — menti suavemente, abraçando-a com firmeza. — Apenas lembrei-me de algo que preciso resolver.
Ela aceitou minha resposta com hesitação, mas pude ver nos olhos dela que sentia a mudança súbita no ambiente.
Enquanto caminhávamos lentamente para fora do salão, o peso da ameaça desconhecida pairava sobre nós, lembrando-me brutalmente que as sombras do passado não se dissipavam facilmente.
E, enquanto olhava para Olivia, compreendi que, para protegê-la e manter nosso amor intacto, teria que estar preparado para enfrentar aquilo que ainda estava oculto—mesmo que isso significasse desafiar novamente os limites do meu poder.