cap 04 troca de olhares

1561 Words
Rayssa... Chegamos perto da rua do baile rapidinho, e eu já fui logo saindo atrás do meu bondinho. Hoje eu quero farra, muita farra! Encontrei meu povo e entramos no meio da muvuca. Os funkzinhos já estavam rolando do jeitinho que eu gosto — só os antiguinhos, pra aquecer. Meus pais passaram por mim de mãos dadas, mandando eu ficar ligada e me cuidar, que qualquer coisa era só subir pro camarote, que tinha gente na minha cola. Ih... uma hora dessas, aposto que é o D2. Cara insuportável, não me deixa nem curtir e corta minha onda legal. Roger: Mas já, bicha? Tu m*l chegou e já vem esse parasita grudar em tu, aff! — gritou no meu ouvido, porque o som tava alto, assim que viu o D2 se aproximando. Rayssa: Pra tu ver, bicha. Quando eu falo que não tenho paz ninguém acredita, diz que é drama. — Falei enquanto a gente caminhava até a barraca da tia das bebidas. — Qual foi? Vamos beber o quê? Camila: Hoje eu quero ficar louca nessa p***a, esquecer até meu nome! — falou minha prima, e eu tive que rir. Todo baile ela solta essa, mas é só o bofe dela dar uma encarada que ela murcha na hora. Eu? Deus me livre ser assim. Não é julgamento não, até porque amo minha prima. Mas a bichinha é burrinha, viu? O cara mete a porrada nela, vive esculachando em baile, mete chifre — e ela continua com ele, poxa. E não é por falta de ajuda! Meu padrinho já tentou, meu pai também, até ele mesmo já mandou ela ir embora... mas tu acha que ela vai? Porque ela não quer! Isso aí é falta de vergonha na cara. Parece que gosta de apanhar e passar vergonha. Diz que quer ter filho dele, que é o amor da vida dela, um presente de Deus... Eu só observo. Nem me meto mais, quê? Vou nada. Sempre sou eu que me fodo no fim, porque ela faz as pazes com ele um dia depois, e eu fico como? Com cara de tacho. Todo mundo me olha torto, como se eu tivesse sido a errada. Ih, quero mais não. É minha prima, amo, dou conselho, mas cada um com seus problemas. Porque na hora de me ajudar, geral vira as costas. Ninguém pode fazer por mim, então vou me matar por quem não quer ser salvo? Vou nada. Prioridade aqui é minha paz. Rayssa: Vai nada, Camila. Se toca, feia! Fala isso mas é só o maridão te chamar que tu corre pra ele e larga a gente aqui. — Cortei logo a onda dela, e ela ficou sem graça. Nem respondeu. Sabe que é verdade. Roger: Ai, Rayssa, tu é o erro, cara. Não aguento contigo, mana! — A bicha riu, e eu ignorei indo até a tia das bebidas. Rayssa: Eu? Sou nada. Ela sabe que falo pro bem dela! E não adianta ficar p*****a não que é pior, hein, p*****a! — Abracei ela, que retribuiu com um sorrisinho fraco. Dou esporro, brigo, mas é minha irmã, p***a. Amo demais essa garota, e ela sabe. Foi criada comigo dentro de casa, igual irmã mesmo. Tudo que uma tinha, a outra também tinha. Só quero o bem dessa ingrata, não quero ver minha irmã morta dentro de um caixão. Rayssa: Fica chateada não. Tu sabe que tudo que eu falo é pra ver se tu cria juízo e vergonha nessa cara. Camila: Eu sei, irmã... mas tu sabe, eu amo ele, cara. Não tem jeito. É o amor da minha vida... E amor da sua vida até o dia que te matar, né, filha da p**a? — pensei, mas não falei. Já cansei. Rayssa: Eu não falo mais nada não, Camila. Tu já tá grandinha e sabe o que quer. Mas olha, tu sabe que independente de qualquer coisa, eu tô contigo. Tu não é sozinha, tem família. Não é largada! — Ela assentiu, a tia entregou nossas bebidas e a gente rachou e pagou tudo. Rayssa: Mas chega desse assunto. Tudo que eu quero hoje é curtir nessa p***a! Fomos procurar um cantinho e quando achamos, ficamos dançando e enchendo a cara. Aí sim! Tudo que eu precisava. Baile com minhas melhores e muita curtição. Hoje é sábado sem lei. Trabalhei pra c*****o a semana toda, tava precisando disso! Já nem sei que horas eram, só sei que eu tava alterada. Bebi um gole da minha caipirinha e rebolei minha raba no Roger, que tava com as mãos na minha cintura, sarrando horrores também. Camila já tinha metido o pé, como sempre, e tava lá colada no embuste, que nem deixava ela dançar. Muito otária, mas que se f**a. Hoje é meu dia! Meu maridão já tinha feito o show e foi tudo lindo e perfeito. Curti demais e ainda tirei foto com ele. Eu e Roger subimos pro camarote depois que lá embaixo ficou insuportável de cheio. E também pra ver o palco melhor. Agora estávamos ali curtindo num canto. Meu pai tava na mesa dos fortes com minha mãe, e o Tito também, junto da mulherzinha dele. Rayssa: No baile da Penha eu me amarro em sentar, e eu só saio de lá se o Roger sair comigo! — cantei rebolando até o chão. Roger: Sabe bem como me conquistar, quer me fazer gozar, sabe que eu gosto disso... — respondeu com aquele sorrisinho safado. Rayssa: Então deixa eu sentar no bico da tua Glock, fala que eu sou cachorra e rasga meu short... É sexo selvagem que a Rayssa gosta, dá tapa na minha b***a e me pega de costas! — Cantei, rindo horrores enquanto sarrava nela. Amo essa bicha, cara. Ela é pavirada igual eu. E sabe quando tu sente que alguém tá te olhando? Pois é. Senti. Olhei pros lados procurando quem era... quando olho pra frente, p*u, dei de cara com ele. Marlon. Tava sentado no sofá reservado só pra ele, me encarando fixamente. Braços cruzados, baseado nos lábios, feição séria. Tava todo trajado de Lacoste, do jeitinho que mamãe gosta: camisa polo preta, short jeans escuro, boné preto com o vulgo dele, cordões de ouro, anéis, e a tatuagem no pescoço com a palavra "fé"... Minha perdição, papo reto. Sustentei o olhar, séria. Ele não desviou por um segundo. Todo na postura dele, daquele jeito que me deixa doida. Por uns segundos pareceu que só existia nós dois ali. Nenhuma palavra. Nenhum gesto. Só os olhares. Ele levou o baseado aos lábios, tragou, e soprou a fumaça na minha direção, sem desviar os olhos. Como se quisesse me intimidar. Mal sabe ele que eu já tô com a calcinha encharcada aqui em cima. Sorri de leve, sem mostrar os dentes, e ele só balançou a cabeça, sério. Na rua ele é assim, todo fechado. Em casa parece outro. Até maconheiro na onda sorri mais que ele. Ficamos naquela troca de olhar por um tempo que parecia eterno. E juro, minha vontade era correr até ele, me jogar no colo dele e pedir: me fode aqui mesmo, agora. Tudo em mim se arrepiava só com essa ideia. E acho que ele percebeu, porque deu um sorrisinho cafajeste que me deixou molinha. Me apoiei na barra do camarote pra não cair. Só de pensar no toque dele, minhas pernas bambearam. Coisa de doido. Com o Tito, meu corpo entra em frenesi. Minha sanidade mental vai pra casa do c*****o. Eu viro outra. Tudo que eu quero é ser dele. E olha que ele nunca me tocou. Mas só um olhar... e eu já tô entregue. Levei o copo à boca e tomei um gole, ainda encarando o motivo dos meus pensamentos mais sujos. E Deus e Lorena que me perdoem, mas se Tito me pedisse agora pra ser amante dele... eu seria. p**a que pariu. Nosso olhar só se quebrou quando a mulher dele chegou e se jogou no colo dele. Me lançou um olhar de deboche e eu desviei na hora, me sentindo desconfortável. Ih... a bebida já tá batendo. Melhor eu dar uma segurada. Voltei a dançar com a minha bicha e curtir, plena, como se nada tivesse acontecido. ( . . .) Agora já eram 5h30 da manhã, e o baile ainda tava rolando. Mas eu já tava cansadinha, então decidi meter o pé. Minha mãe já tinha ido embora fazia tempo, e meu pai também. Chamei o Roger, que também já tava lombrada, e fomos embora pra casa. No caminho a gente ainda gastou demais, fomos cantando alto pela rua, acordando geral — o povo ficou puto e começou a xingar a gente. Teve uma mulher que ameaçou até chamar os caras da boca, acredita? Roger: Não vai dar em nada, ela é afilhada e futura mulher do frente! — mandou logo, toda errada. Olha que ridícula essa bicha, cara... o próprio erro em forma de gente. Eu só ria abessa e puxei ela pelo braço. Rayssa: Para de fogo na xereca, doida! — puxei ela pra casa, ela já tava muito doidona. Chegando lá, caí na casa da minha bicha mesmo, nem tomei banho nem nada. Me joguei na cama e capotei. Cansada pra c*****o, virada, com a make borrada e o salto jogado no canto da sala. Mas com a alma leve, coração cheio, e a cabeça... cheia de Tito.
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