Vida adulta

4895 Words
Coloquei meu coração nas palavras que escrevi para a Fernanda e por um breve momento pensei como ela se sentiria caso recebesse minha carta. Porém esse pensamento logo se tornou inválido, simplesmente porque eu sabia que entrar em contato com ela tornaria tudo muito mais difícil para nós duas. A Nanda jamais concordaria com os planos que eu tinha feito para mim e eu estava realmente disposta a levar a separação da minha família a sério. - Posso deitar com você? A Lauren chamou minha atenção e eu enxuguei as lágrimas. - Pode sim. Dei espaço para ela deitar ao meu lado. - Conheço você há pouco tempo, mas confesso que sofro com a sua tristeza. - Vai passar. O sofrimento não pode ser eterno. Pode? - O tempo costuma curar todas as feridas e com você não será diferente. - Sendo assim não sofra por mim, apenas fique ao meu lado que eu já lhe agradeço. - Pode confiar em mim Joana. Estou vendo que realmente precisa de uma amiga. Sorrimos uma para a outra e ela me abraçou. - Amanhã vamos para Nápoles. Melhor descansarmos agora. Tenta dormir! Disse beijando meu rosto e antes que ela saísse da cama eu lhe fiz um pedido. - Fica aqui comigo só essa noite, pode ser? Sorrindo ela concordou e depois disso ficamos em silêncio. Passei a noite quieta, porém desperta. Minha mente estava a mil e todos os meus pensamentos eram questionamentos. Da boca pra fora eu tinha certeza da minha escolha em relação não só a minha família, mas também a de me distanciar da Nanda. Mas no meu peito havia uma tonelada de sentimentos me soterrando em dúvidas e em muita insegurança. O dia amanheceu e eu praticamente não descansei, mas levantei junto com a Lauren e comecei a organizar minha bolsa para partirmos de Salerno após o café da manhã com a família dela. Mesmo sem fome eu comi um pouco para não fazer desfeita a senhora Bianchi e depois voltei para o quarto pensando em deixá-los á vontade. - Joana, quer se despedir dos meus pais antes de irmos? Perguntou a Lauren e eu sorri. - É claro. Preciso agradecer a hospitalidade da sua família. Afirmei indo até a sala principal da casa e a primeira pessoa que eu abracei foi a Martina Bianchi. Fiz questão de agradecer todo acolhimento que recebi e afirmei que esperava retribuir a atenção e o carinho que a família me proporcionou no momento que eu mais precisava.  - Na vida você vai encontrar com pessoas boas e más Joana. Saiba reconhecer, mantenha as boas ao seu lado e afastasse das más o quanto antes for possível. Aqui você tem muitos aliados torcendo por sua felicidade e sucesso nessa jornada que escolheu viver. Ela disse me dando um abraço apertado e isso me deixou pensativa. Saber separar as pessoas por sua intenção certamente era algo que eu iria precisar aprender. Porque nos meus dezoito, quase dezenove anos de vida, não conheci muitas pessoas além do meu ciclo. Deixamos Salerno para trás e seguimos de ônibus até Nápoles. Antes de irmos para o apartamento fizemos uma parada no mercado e a Lauren aproveitou para me dar dicas sobre como fazer compras, principalmente levando em consideração a praticidade de cada alimento. - Eu sempre penso no que quero comer durante a semana. Tenho a memória boa, mas você pode anotar e fazer uma espécie de cardápio se preferir. Gosta de massa? Perguntou sorrindo. - Gosto sim. - Maravilha. Pode comprar massas e molhos. Verduras e hortaliças se pensar em uma salada pra acompanhar a massa. E compre sempre pão e o que gostar de recheio pra fazer sanduíche. No dia a dia o sanduíche vai salvar sua vida. É prático e você pode usar sua criatividade pra fazer vários diferentes. Ouvi as dicas e percebi que levaria um tempo para me adaptar às tarefas que eu teria de fazer sem ter quem me ajudasse, não tendo a minha mãe e os funcionários domésticos por perto eu teria que cuidar de coisas que nunca cuidei como: Ir ao mercado e fazer minha própria comida. Chegando ao apartamento eu logo me impressionei com o espaço, que era pequeno e bem dividido com uma sala, cozinha, escritório, banheiro e um mezanino onde ficava o quarto dela. Na sala, tinha um sofá grande em formato de L e mais duas poltronas confortáveis, além de uma estante repleta de objetos, CDs e livros. A cozinha americana era aparentemente bem equipada e tinha um balcão grande com três cadeiras altas. O lugar era aconchegante e a decoração ficava por conta dos papéis de parede, das almofadas coloridas e dos quadros espalhados nas paredes. - Gostou? Ela perguntou chamando minha atenção. - Sim. Tem uma energia boa, como você. Falei sorrindo para ela. - Tem pouco mais de um ano que eu vivo aqui e passei a maior parte do tempo viajando. - Você tem muitos gastos com ele quando está fora? - Eu só pago a água, luz e gás. Eu consegui quitar as parcelas do apartamento em alguns meses. Antes de viver aqui eu morei por quase dois anos com a minha ex-namorada. Quando nos separamos ela me vendeu esse apartamento por um valor simbólico. - Sinal que vocês terminaram bem uma com a outra. - Sim nos damos bem. Ela é a minha chefe. Graças ao apoio dela saí de Salerno e comecei a minha carreira cedo. Eu tenho boas oportunidades na gravadora e ainda faço trabalhos extras. - Sua vida é bem organizada. Observei pensando em quanto tempo levaria para conquistar metade do que ela conquistou. - Aprendi muito com a Kiara no tempo que passamos juntas. Ela é uma mulher incrível vai perceber quando conhecê-la amanhã. - Você ainda é apaixonada por ela? Perguntei olhando-a nos olhos e sorrindo. - Sempre serei. Não terminamos por falta de sentimentos. Eu nunca deixo meus relacionamentos chegarem a esse ponto, considero isso um erro que pode ser evitado. - Consigo entender seu ponto de vista. É difícil terminar com alguém em meio a uma briga. - Imagino que seja. Não gosto de me desentender com ninguém, faz muito m*l ao coração. Ela declarou sorrindo. - Quer conhecer melhor meu quarto? Você pode dormir na cama comigo, não tem que ficar no sofá. Minha cama cabe três pessoas e é muito confortável. - Agradeço a sua disposição. Porém, você falou muito bem do seu sofá quando estávamos no Brasil e eu fiquei na expectativa de dormir nele. Afirmei rindo. - Vai gostar do sofá também. Eu vou separar um espaço pra você guardar suas coisas. Se tiver roupa pra lavar ensino você a usar a máquina e secadora. - Terei que anotar suas dicas. Admiti rindo. - Só me ajuda a guardar as compras e pensar em algo para jantarmos. - Eu posso fazer uma dessas massas prontas com um molho e queijo. Ofereci-me. - Faremos assim, eu guardo as compras e você começa a preparar o jantar, porque estou faminta. Depois eu ensino como você vai lavar suas roupas. - Combinado. Rimos juntas. Enquanto ela organizava as compras eu comecei a preparar nossa refeição e até me enrolei um pouco, mas saiu tudo como o esperado. Depois de jantarmos ela me ensinou a lavar roupas usando a máquina e secadora e eu fiz questão de anotar as dicas que recebi para não estragar minhas peças ou manchá-las. Aparentemente era uma atividade simples, mas que eu precisava fazer com atenção. Enquanto esperávamos as primeiras peças lavarem e secarem, ficamos conversando amenidades e acabamos falando sobre nossas famílias. Eu havia gostado muito dos Bianchi e a minha consideração por eles só aumentava conforme a Lauren me falava deles com tanto carinho. Também falei da minha família e tentei não ser rancorosa levando em consideração tudo que os meus pais fizeram por mim e todos os privilégios que eu recebi graças ao meu sobrenome. Reconhecer esses benefícios não abalava a minha certeza de que agora eu só queria seguir meu caminho sem usar o dinheiro da família como vantagem. Não nos recolhemos muito tarde porque no dia seguinte tínhamos compromisso cedo. A Lauren foi para o quarto depois de me entregar algumas mantas e eu me deitei no sofá confortavelmente. Fiquei um bom tempo com meus pensamentos distantes, desta vez pensando qual seria o melhor momento para entrar em contato com o Otávio e com a minha mãe. Estava certa de que eles tentariam me persuadir a voltar para casa e só de pensar nisso ficava impaciente. Perdi horas de sono nessa inquietude e descansei pouco antes de levantar do sofá e começar a me organizar para sair com a Lauren. - Quando não estou na casa dos meus pais sempre começo o dia apenas com um café. A Lauren disse me oferecendo uma xícara que eu aceitei por estar com frio. - Obrigada. Eu não costumo tomar café da manhã e nem café assim, mas no frio é bem vindo! Ela riu de mim. - Hábitos mudam. Vai acabar se acostumando a beber café. Principalmente quando estiver trabalhando, estudando e ainda precisar fazer atividades em casa. Isso aqui é um combustível. Declarou me fazendo rir. - Não costumo beber café justamente pra não ficar ainda mais acelerada. - Entendo, porém em alguns momentos é necessário acelerar, como agora, temos que ir. Eu quero começar o dia apresentando você a Kiara. Está confiante? Perguntou sorrindo. - Perdi minha confiança há alguns meses, mas sei disfarçar bem. Admiti rindo. - Precisa ser confiante Joana. Ajude-se e o céu irá ajudá-la! É isso que dizemos aqui na Itália. - Está bem. Sorrimos uma para a outra. Vesti-me para descer com a Lauren até o andar da gravadora e depois de alguns passos para fora do apartamento o nervosismo me tomou. A ideia de ser entrevistada para o meu primeiro trabalho deixou-me com um frio na barriga, isso porque a minha primeira experiência foi dentro de uma zona de conforto e eu havia pulado essa parte do processo. Chegando ao estúdio eu segui a Lauren até a ante-sala da diretora e proprietária da gravadora. Fiquei sentada esperando que elas conversassem e acabei escutando o que elas falavam. - Sua amiga é estrangeira, não tem experiência e nenhuma outra certificação. Como posso contratá-la? Ela está aqui esperando encontrar um trabalho para poder permanecer no país? Questionou a Kiara. - Ela tem dupla cidadania. Pode ao menos conhecê-la? Você pode conseguir uma vaga temporária, a Joana só precisa começar por algum lugar. Você sabe que o começo é difícil pra todo mundo. E eu sei que é sua missão pessoal ajudar pessoas no início da carreira. - Quero conhecê-la. Ela fala nosso idioma com fluência? - Vou chamá-la e você tira suas próprias conclusões. A Lauren veio até a ante-sala e me pediu para entrar. - Bom dia! Meu nome é Joana. Como está? Cumprimentei a Kiara, uma bela italiana, alta, de longos cabelos pretos e s***s fartos. - Bom dia Joana! Meu nome é Kiara. Estou bem e você? - Encantada Kiara. Estou bem, obrigada por me receber. - Por favor, sente-se. Você é brasileira? - Sou brasileira com descendência italiana. A cultura italiana sempre esteve presente em minha vida e desde pequena eu aprendi e pratiquei o idioma. Estou bem familiarizada. - Por sua fala percebesse. E a escrita? - Posso escrever o que quiser. Estou à disposição. Afirmei sorrindo e ela começou a me fazer várias perguntas. Respondi todas calmamente. - Tenho dois estúdios de gravação nessa gravadora e preciso ser bem rígida com os horários de utilização de cada um deles. Durante essa semana eu vou observar a sua capacidade de organização. Seu trabalho será simples, você deve agendar os horários de utilização do estúdio e fazer com que eles sejam seguidos, além de manter o lugar limpo e organizado. Essa é o único serviço que tenho disponível no momento. Se aceitar fazer o teste e se sair bem, voltamos a conversar na sexta-feira e falamos do seu pagamento. - Eu aceito. Muito obrigada! Agradeci sorrindo. - Vamos, siga-me. Vou mostrar o lugar pra você e levá-la ao seu posto de trabalho. - Boa sorte Joana! Desejou-me a Lauren. - Vou cuidar das minhas tarefas. Obrigada Kiara. Ela agradeceu por mim. - Temos reunião ás dez. E não precisa agradecer antes da sua amiga conseguir o trabalho. Ela disse séria e eu senti um frio na barriga. Após me mostrar alguns espaços do prédio a Kiara pediu que outra moça me explicasse como fazer a organização dos estúdios e agendar os horários. Recebi uma orientação bem superficial e percebi que precisaria deduzir muita coisa, além de ser proativa. No primeiro dia senti-me um pouco perdida, pedi ajuda e perguntei mil coisas às pessoas e tentei mostrar que estava realmente interessada. No segundo dia comecei a me ambientar um pouco mais. Aos poucos fui me adaptando e quando a minha semana de experiência chegou a o fim eu fui chamada pela Kiara para uma conversa. Ela foi direta ao falar do quanto podia me pagar e pela primeira vez eu percebi que a proporção trabalho e pagamento dificilmente eram justa, muito menos equilibrada, porém julgando minha inexperiência e a necessidade de me ocupar com alguma coisa, eu agradeci e aceitei o valor que ela estava me oferecendo. - Lauren, você que conhece melhor a cidade, onde eu posso encontrar um espaço que não seja muito caro, pra morar? Perguntei quando voltávamos para o apartamento dela no final do expediente de sexta-feira. - Posso ajudar você a encontrar um lugar se não quiser continuar morando comigo. - Eu não quero incomodar você. Ela sorriu. - Você não me incomoda em nada Joana. Se quiser ficar eu posso desocupar o escritório e organizá-lo pra você. Tenho um amigo marceneiro que pode fazer uma cama e armários sob medida. Há algum tempo estava pensando em fazer isso e dividir o apartamento com alguém. - Por mim está tudo bem se dividirmos as despesas. - Vamos conversar sobre isso e colocar tudo no papel. Disse sorrindo e eu fiquei aliviada por não ter que procurar outro lugar para ficar. - Joana eu não quero me meter na sua vida, mas não acha que está na hora de você entrar em contato com a sua mãe e com as suas amigas? - Eu vou fazer isso. Estava só esperando resolver algumas questões pra me sentir mais segura. Vou entrar em contato com o Otávio, com a minha mãe e a Alice, mas não pretendo dizer especificamente onde estou vivendo. Não quero que a Marina Blanc apareça aqui em dois dias na intenção de me levar de volta para casa. - Você é maior de idade, ela precisa respeitar sua decisão. - Os nomes Martina e Marina são parecidos, mas as nossas mães são bem diferentes. Brinquei a fazendo rir. - Precisa de ajuda para entrar em contato com sua família? - Eu só preciso do seu notbook. - Você pode pegar o notbook que está na estante. Fique pra você se quiser, não costumo usá-lo. Vou pegar minha bolsa e sair que tenho trabalho essa noite. Espero que a sua família respeite a decisão que tomou pra sua vida. Faria bem pra você ter o apoio deles. - Eu não estou contando com isso. - Depois que falar com a sua família se quiser ir ao meu encontro vou deixar o endereço na geladeira e o seu nome na lista do evento. Ela se despediu beijando meu rosto. - Essa noite eu prefiro ficar aqui descansando, mas obrigada pelo convite. Esperei que ela saísse para enviar uma mensagem no Skype para o Otávio. Ele rapidamente me respondeu e eu o convidei para uma chamada de vídeo. - Joana. Finalmente entrou em contato. Você está bem? Onde está? Perguntou apressado e eu percebi que ele estava no trabalho. - Oi primo. Não quero atrapalhar você então não vou demorar muito. - Joana, você deixou todo mundo preocupado. Falou em tom ríspido. - Eu deixei uma carta explicando minha decisão. - Tenho certeza que poderíamos ter resolvido seus problemas de outra maneira. - Você vê tudo com bons olhos Otávio. Sempre considera que existe uma solução. - Porque existe. - Então essa foi à solução que eu encontrei. Posso decidir por minha vida. - Você nos deixou no escuro. Isso não se faz Joana. - Otávio eu estou bem. Tenho um trabalho e um lugar para morar. Isso é tudo que vocês precisam saber. O que eu falei na carta não foi em um momento de raiva. Realmente vou correr atrás dos meus objetivos. - E quais são seus objetivos? Sorri. - No momento quero viver sem ser controlada. - Joana eu passei por essa fase. Todos em algum momento passamos pela adolescência e sentimos a necessidade de provar valor, descobrir o nosso papel no mundo, mas isso tem muito mais a ver com a idade e a inexperiência do quê com um objetivo de vida. - Entendo o que está falando. Mas isso não muda nada pra mim. Eu preciso que aceite minha decisão mesmo que não concorde. E preciso que me ajude com outra coisa. Quero que procure saber como está a Maria. A moça que estava comigo quando bati o carro. Descubra do que ela precisa e ajude-a como for possível. É um favor que eu lhe peço de todo coração. - Farei isso por você, mas tenta pensar um pouco melhor Joana. Volta pra casa! Ele pediu e eu sorri. - Isso não vai acontecer primo. Eu estou bem. Comecei a trabalhar tem alguns dias e é um trabalho legal em uma gravadora. Estou cuidando de um estúdio, faço um serviço simples e vou conseguir pagar um lugar para morar com esse trabalho. - Era pra você estar começando seu curso na faculdade Joana. Como pretende estudar? - Otávio, tudo tem seu tempo. Vivemos em uma bolha por conta do dinheiro da família, mas a maioria das pessoas não vive nesse padrão, elas precisam planejar para comprar uma casa, um carro, fazer uma faculdade. Eu vou ter que aprender a fazer isso também. - Eu sei que temos os nossos privilégios Joana. O que muitas pessoas gostariam de ter e que você está abrindo mão por não saber lidar com os próprios sentimentos. - Vai me ajudar ou ficar me julgando? O interrompi. - Eu vou ajudar, mas quero deixar claro que não concordo com o que está fazendo. - Certo. Não esperava que concordasse. - Eu devia ter suspeitado do seu plano de fugir quando me lembrou da ocasião em que se escondeu na praia. Se tivesse percebido... O interrompi. - Não se culpe por uma coisa que diz respeito a minha vida Otávio. - Joana você é muito impulsiva e eu me preocupo com você! Quero que ao menos prometa que vai falar comigo se precisar de qualquer coisa? - Eu prometo. - Eu tento acreditar em você, mas todas as promessas que me fez foram da boca pra fora. - Otávio eu sei que prometi falar com você antes de fugir, mas quando fiz essa promessa já estava decidida. Não se trata de não cumprir com a minha palavra. - Você tem que falar com a Tia Marina. Ela está adoecendo por não saber como e onde você está. Tem que falar com ela hoje! - Vou fazer isso agora. Até mais primo! - Se cuida Joana! Despedi-me dele com o coração apertado e antes de falar com a minha mãe mandei mensagem para a Alice, que demorou quase uma hora pra me responder. - Joana, como você me coloca em uma confusão dessas? Tem noção do quanto sua família me pressionou como se eu soubesse onde você está! Ela começou reclamando comigo. - Ali você é minha amiga. Eu não tinha com quem contar além de você. - É um preço alto ser sua amiga algumas vezes Joana. De um lado seus pais me pressionando, do outro a minha mãe e a Fernanda. Você me deixou em uma situação péssima. - Desculpa Ali. Eu precisava que as cartas que eu escrevi chegassem às mãos do Otávio e da minha mãe na hora certa. Não podia deixar em casa. - E o que você quer que eu faça com a bolsa de dinheiro? - Vou abrir uma conta pra você depositar pra mim. - E você não tem conta? - Não uma internacional. - Você está na Itália? Ela logo deduziu. - Estou, mas não comenta nada com ninguém. - Seus pais desconfiam que você esteja na Itália. É uma questão de tempo pra eles chegarem até você Joana. Sabe que a sua mãe não vai aceitar sua fuga. Você já falou com ela? - Vou falar com ela essa noite. Sei que a minha mãe vai fazer de tudo pra me convencer a voltar, mas tomei minha decisão e ela não pode me arrasta da Itália de volta para o Brasil. - Está com a Lauren? Ela novamente deduziu. - Sou tão previsível assim? Questionei. - Um pouco, mas eu não tinha pensado nisso até falar com você. Como a Lauren está? - Percebeu que em nenhum momento você perguntou como eu estou? - Você também não perguntou como estou ou como me senti com a fuga da minha melhor amiga! Até agora não entendi nada do que você fez antes de sumir. Ela estava irritada. - Não posso justificar tudo que fiz Ali. Mas fugi porque precisava me afastar da sombra que estava me tomando. - E como se sente agora? Está funcionando pra você? - É cedo demais pra dizer que estou ótima, porém até o momento eu me sinto muito melhor. Lamento ter chateado e colocado você em uma situação difícil amiga. Prometo compensá-la assim que possível. E respondendo a sua pergunta a Lauren está bem, ela foi trabalhar. Estou morando no apartamento dela e antes que pense bobagem. Nós duas não ficamos. - A Lauren e livre e você também. Eu só perguntei se ela está bem porque nunca mais falamos. Descobri que ela e a minha prima Emanuele foram namoradas. Acredita nisso? - Ela mencionou essa história e percebeu que você ficou desconfortável. Devia falar com a Lauren. Ela é uma pessoa muito tranquila vai entender porque isso mexeu com você. - Eu vou falar sim. A Fernanda está de mudança para Lisboa em alguns dias e eu sinto que ela espera que você volte e a impeça de partir. É muito triste vê-la assim por sua causa. Pensamos que você ligaria no aniversário dela. Porque não ligou? - Não seria justo que eu ligasse para parabenizá-la depois de tudo que fiz e falei pra ela. - Eu vou ser bem sincera, você tem sido muito covarde Joana! - Aceito sua sinceridade Alice. - A Fernanda te ama e faria qualquer coisa por você. Como não dá valor a isso? - Eu dou valor e quero o bem da Nanda tanto quanto você. Por isso mesmo é melhor ficarmos longe uma da outra. Por favor, não diga onde estou agora. De preferência evite falar no meu nome perto dela e também não precisa falar dela para mim. - Sou amiga de vocês duas. Não posso mesmo ficar falando de uma para a outra. Lavo as mãos. Um dia quando vocês duas cansarem desse joguinho de gato e rato voltam a se falar. - Não estou jogando com a Nanda e não sinto que ela joga comigo, mas esquece esse assunto. O que tem feito de bom? Vai começar a faculdade esse ano? - É. Eu vou cursar odontologia. Tenho que começar alguma coisa ou meu pai vai suspender minha mesada e criar confusão com a minha mãe. E você? - A Lauren me ajudou a conseguir um trabalho. O dinheiro que vou ganhar vai ser só para as despesas mais básicas, por isso a faculdade vai ter que esperar. - Vai mesmo fazer isso amiga? Não pode chegar a um acordo com seus pais e ao menos aproveitar que está na Itália pra estudar. - Não vou mais me beneficiar do dinheiro da minha família. - Não sei se você é corajosa ou está maluca amiga. Rimos juntas. Depois de muito conversar com a Alice eu me senti renovada. Ter a amizade dela era muito importante para mim, principalmente porque também me trazia uma sensação de proximidade com a Fernanda mesmo não falando com ela. Antes de entrar em contato com o Alex e a minha mãe fiz uma pausa para respirar e até preparei um café do jeito que tinha aprendido a fazer no trabalho. Tentei ficar calma ao enviar uma mensagem para o Alex pedindo para falar com ele e com a mamãe, mas quando os dois me convidaram para uma chamada de vídeo o clima ficou pesado. Nos primeiros segundos de chamada minha mãe chorou e me pediu para voltar pra casa. O Alex foi mais tranquilo e mesmo sem entender meus motivos aceitou meu pedido de desculpa sem o menor rancor. Quando a senhora Marina se acalmou, finalmente conversamos. - Minha filha o que se passa na sua cabeça? Ela indagou enxugando as lágrimas. - Mãe eu estou bem. Estou trabalhando e morando em um apartamento seguro e confortável. A senhora não tem que se preocupar comigo. Saí de casa porque senti que não dava mais pra continuar do jeito que estava. Quero viver a minha vida do jeito que eu escolher e não espero que a senhora concorde, apenas espero que aceite a minha decisão e respeite. Eu não vou voltar pra casa e quanto antes a senhora entender isso, melhor. - Como posso aceitar a bobagem que está fazendo sem querer interferir Joana. Você é uma menina, só tem dezoito anos, não sabe o quanto o mundo pode ser difícil e c***l sem receber a proteção da sua família. Você está correndo riscos que nem imagina. - Mãe, eu não tenho mais essa ilusão de que o mundo é um lugar justo ou de que a vida é como nos contos de fadas. Não acredito em papai Noel e coelho da páscoa há muito tempo. - Você é teimosa Joana Blanc! Ela reclamou comigo. - Eu não sou mais uma Blanc. Não vou usar esse sobrenome na minha vida. Eu falei sério na carta que deixei. Abro mão do legado e dos benefícios ou responsabilidades que estão atrelados a ele. Só quero viver a minha vida em paz! - Isso não existe filha. Você não pode renegar sua família, seu sobrenome e o seu legado. - Não só posso como fiz! Mãe eu só queria dizer que estou bem e pedir que não se preocupe comigo. Só por isso entrei em contato. - Volte para casa Joana. Não seja infantil filha. O tom dela começou a mudar. - Tenho que ir agora. Até breve! Despedi-me apressada antes que a conversa ficasse muito pior. Falar com a minha mãe me fez perceber que dificilmente estaríamos em contato com frequência, simplesmente porque eu sabia que toda vez que falássemos, ela tentaria me convencer a voltar para casa e me lembraria do motivo que me fez fugir. O controle exagerado disfarçado de preocupação. Depois de tanta emoção eu fiquei andando de um lado para o outro no apartamento. Não percebi o tempo passar eu quanto vi a Lauren chegando acompanhada de uma moça fingi que estava dormindo e fiquei quieta. As duas subiram o mezanino dando risadas e depois foi difícil dormir ouvindo-as em um sexo animado, com risadas e gemidos que até me deixaram nervosa. Só voltei a dormir quando elas finalmente adormeceram. - Buongiorno! Levei um susto ao abrir os olhos e ver uma moça apenas com roupas intimas e um casaco, sentada no sofá. Era uma loira muito linda, olhos azuis, cabelos na altura dos ombros, lábios desenhados. Ela parecia ser modelo de passarela. - Buongiorno! Respondi sem graça e em seguida a Lauren cobriu a moça com um cobertor e entregou uma xícara para ela. - Dormiu bem Joana? Ela perguntou me olhando e sorrindo. - Sim. Vocês chegaram agora? Perguntei me fazendo de boba. - Não, faz tempo que chegamos. Aceita um café? - Sim, obrigada. - Joana essa é a Cecília Marinho. Cecília a Joana é a moça brasileira que lhe falei. - Encantada. Disse a moça sorrindo para mim e eu sorri de volta. - Vamos sair e tomar um café da manhã em um hotel. Você quer vir conosco? Perguntou a Lauren e eu recusei educadamente. - Devia ter ido pra festa comigo ontem, foi sensacional. Muitas garotas interessantes. Ela comentou sorrindo. - Por hora não estou pensando em conhecer nenhuma garota, você sabe. Eu não tenho nada o que oferecer a ninguém. Não posso pagar se quer um jantar e um vinho. Afirmei dando risada da minha situação. - Qualquer garota sairia com você e pagaria o jantar e o vinho com satisfação. Afirmou a Lauren flertando comigo. - Você me superestima. Respondi sem graça e a Lauren olhou para a Cecília rindo. - Porque não nos acompanha até o hotel? Podemos ficar as três e eu pago uma diária. A Cecília ofereceu e eu novamente recusei educadamente. - Sendo assim vamos Lauren. Se mudar de ideia, esse é o endereço do hotel. A Moça foi bem gentil e simpática.
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