Episódio 3

1308 Words
Lilly escuta com atenção e, embora a princípio pareça um pouco reservada, detecto um lampejo de interesse nos seus olhos. No entanto, as suas palavras me dizem o contrário: desculpe senhorita, não estamos procurando pessoal neste momento. Boa sorte. — Dê-me uma chance e você não vai se arrepender. Digo a ela. — Já estamos com o quadro completo, o espaço é pequeno e somos um negócio modesto. Ela insiste, voltando às suas tarefas. Uma das funcionárias que estava na porta de acesso à área da cozinha intervém. — Lilly, a verdade é que realmente precisamos de uma ajuda. Só nesta época do ano os pedidos chegam a dobrar. Você mesmo disse há meses que precisamos fazer o negócio crescer. Diz a garota. A expressão da Sra. Lilly é de desconforto. Certamente ele pensou que me despacharia com mais facilidade. — Eu não sei Larissa. Acho que estamos bem do jeito que estamos. Ela responde Larissa é uma mulher alta e marcante, com cabelos neg*ros caindo em cascata ao redor do seu rosto atraente. Embora o avental cubra grande parte da sua figura, é evidente que ele tem uma constituição atlética e um corpo bem proporcionado. Os seus traços faciais são marcados e um tanto duros, mas seu olhar revela uma suavidade e carisma celestiais. — Vamos testar isso por uma semana. Insiste Larissa. No tom da sua voz ouço um desejo genuíno de me ajudar. Vejo Lilly hesitar, o que é um bom sinal. Finalmente ela me diz: e qual é o seu nome? Denton não é uma cidade grande e parece-me que é a primeira vez que vejo você. Não respondo imediatamente para não me enganar e dizer por impulso o meu nome verdadeiro. — Olívia. Meu nome é Olivia Jones. Eu realmente não sou daqui. Acabei de me mudar. Eu respondo. Lilly resmunga sem dizer nada. É óbvio que quase ninguém se muda para Denton, mas vejo que ela prefere não fazer mais perguntas. — Tudo bem, Olivia, mas você não vai receber um avental com o seu nome. Lilly me diz. O meu rosto se ilumina de alegria e eu digo, olhando para as duas: prometo que não vou decepcionar vocês. ..... Em poucas semanas a minha fama como confeiteira começa a trazer muita clientela para a confeitaria da Lilly. Até eu estou surpresa. Tudo que estudei, aprendi e coloquei em prática em diferentes lugares deixa uma marca significativa. Minha chefe, sem demonstrar muito entusiasmo, fica feliz por me ter entre os seus funcionários. É o que me contam os meus colegas: Larissa e os padeiros John, Alba e Mary, três jovens assistentes muito eficientes que se adaptaram com uma rapidez incrível às minhas novas receitas e métodos de trabalho. Os clientes tornaram-se fãs fiéis das minhas criações e as críticas positivas na página do local acumulam-se juntamente com o número crescente de bolos vendidos. Larissa me esclarece que esse boom não tem nada a ver com temporada, mas com as minhas receitas. — Sim, sempre começamos a vender mais nesses meses, mas nunca nessas quantias Olivia. Você tem um toque muito especial. A princípio pareço distraída quando me chamam pelo meu novo nome, Olivia, por isso também ganho uma reputação de distraída que compenso com a minha dedicação e criatividade. Lilly, embora muito séria e um pouco distante, provou ser uma chefe compreensiva. Ele nunca se orgulha abertamente, porém, os bônus generosos todas as sextas-feiras são sua forma de reconhecer a minha contribuição para o sucesso do seu negócio. Depois da minha primeira semana de julgamento, ela não se opôs a me pagar em dinheiro, tanto o salário quanto os bônus. Ela suspeita que eu queira evitar pagar impostos ou algo assim, mas a verdade é que só quero ficar invisível. Eu nem estou disposta a abrir uma nova conta bancária. Ainda não. Em breve poderei comprar um carro usado e me mudar para uma casa pequena e modesta, onde me sentirei muito confortável. Aos poucos vou criando raízes. Sinto-me sortuda pela oportunidade de trabalhar aqui. O sentimento de pertencimento que encontro nesta pequena padaria faz-me pensar que, talvez, esteja construindo algo mais do que sobremesas deliciosas: uma nova vida. ..... Uma tarde, aventurei-me até a loja de suprimentos para abastecer a padaria. Temos um pedido especial e precisamos de mais suprimentos do que o normal. Ao andar pelos corredores, começo a ter a estranha sensação de que alguém está me seguindo com o seu carrinho de compras. Quase posso ouvir as rodas deslizando atrás de mim. A princípio, resolvo acelerar o passo, ziguezagueando entre os longos corredores cheios de prateleiras, tentando me livrar daquela apreensão perturbadora. Decido então diminuir a velocidade para verificar se a perseguição persiste. A minha preocupação aumenta. O meu coração bate a mil por hora. Tinha esquecido essa sensação, porque nas últimas semanas, apesar do muito trabalho, tudo tem estado tranquila. Não me atrevo a me virar. A cada metro que avanço fico mais convencida de que tem alguém atrás de mim. Paro de repente e viro com força o carrinho de supermercado pronta para atacar quem estiver atrás de mim. Para minha surpresa e alívio, descubro que é simplesmente uma mãe com o seu filho no carrinho. A expressão de surpresa no seu rosto reflete que a minha reação não passou despercebida, mas ela logo retoma as suas compras sem me dizer nada. A batida do meu coração diminui. — Desculpe. Eu digo para a pobre senhora, e me viro para ir rapidamente até a caixa registradora e pagar. No caminho, distraída, bato o meu carrinho no de outra pessoa. Por um segundo penso que é Richard e sinto como se estivesse desmaiando. Mas não, não é ele. A pessoa que encontro é um homem alto e atlético, com a pele um pouco bronzeada, parte do cabelo preto aparecendo por baixo do capuz do moletom apertado. Os seus olhos são tão verdes e brilhantes que parecem olhos falsos. Se eu tivesse visto isso numa fotografia, juraria que foram retocadas com filtros para realçar as imagens. Nos entreolhamos sem dizer nada. O seu olhar é muito intenso, sinto o seu peso sobre mim. O meu medo se transforma em vergonha. Não tenho certeza se eu colidi com ele ou ele colidiu comigo. Envergonhada, vejo-o sorrir pelo canto do olho através dos óculos, como se entendesse que a minha imprudência em andar com o carrinho e a minha timidez andam de mãos dadas. Saio a toda velocidade para não continuar assustando os clientes do local. No estacionamento, ando nervosa e distraída, sigo em frente com o meu carrinho cheio de suprimentos sem olhar em volta. De repente, um caminhão preto aparece do nada e freia forte bem na minha frente, a poucos passos de distância. O meu coração bate forte enquanto o som dos pneus rangendo no asfalto, se dissolve no ar. Quando olho para cima, minha respiração para. É o mesmo homem do supermercado. Ele estava retribuindo a “cortesia” de me bater como eu fiz há alguns minutos, ou foi novamente culpa da minha distração que quase o atingiu? Os seus olhos verdes, intensos e penetrantes, encaram os meus, e o seu sorriso presunçoso desperta uma sensação estranha dentro de mim. A sua atitude não é de reclamação pela minha aparente distração, mas sim parece ter um certo ar de autoridade, como se estivesse gostando da sensação de controle sobre a situação. Fico paralisada, como se esperasse que ele movesse o veículo. Mas como ele vai fazer isso comigo aqui no meio? A menos que ele decida recuar. E é isso que ele faz. Ele dá ré com o caminhão até sumir na saída do estacionamento. Ele faz isso com uma precisão que pode impressionar os viciados em carros de corrida. De volta à padaria me sinto um pouco boba e um pouco vulnerável… de novo.
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