3

1634 Words
Sua paixão é o combustível para as histórias! Vote, comente, compartilhe e juntos construiremos um futuro incrível para este livro. Estou ansiosa pelo feedback de vocês bjs Sofia "Ah, as pessoas... sempre prontas para sentenciar, para destilar suas certezas sobre o karma e o destino, como se fossem juízes supremos de uma corte celestial. O que minha mãe fez para merecer tudo isso? Desde o Brasil, sempre foi uma mulher trabalhadora, honesta, que lutou com unhas e dentes por um futuro melhor para nós duas, como uma guerreira incansável. A única coisa que lhe faltou foi sorte no amor, uma carência que a cegou para a verdadeira natureza do homem que escolheu para ser meu pai, um lobo em pele de cordeiro. E assim, mais um dia amanhecia em Palermo, trazendo consigo a mesma rotina exaustiva e a constante necessidade de engolir o choro e seguir em frente, como um equilibrista em uma corda bamba. A prioridade imediata era a farmácia. Os remédios da minha mãe estavam no fim, e a interrupção do tratamento era impensável, um abismo que se abria sob nossos pés. Preparei seu café da manhã com o cuidado de sempre, observando-a enquanto ela saboreava cada gole quente, um pequeno momento de lucidez em meio à névoa da demência, como um farol em meio à escuridão. Deixei um bilhete para Dona Carmen, agradecendo mais uma vez por sua infinita bondade, um anjo da guarda em forma de mulher. Sem sua ajuda, seria impossível conciliar os horários do trabalho com os cuidados da minha mãe, um fardo que se tornaria insuportável. Quando estava prestes a sair, o toque irritante do meu celular interrompeu meus pensamentos, como um grito estridente em meio ao silêncio da manhã. Um número desconhecido piscava na tela. "Só pode ser cobrança!", pensei com um suspiro resignado, enfiando o aparelho na bolsa sem atender, como se tentasse silenciar um fantasma do passado. A caminhada do meu bairro até a área turística da cidade era um contraste gritante, um choque de realidades. Deixava para trás as ruas estreitas e decadentes, as fachadas descascadas e o cheiro de umidade, e mergulhava em um mundo de cores vibrantes, lojas de souvenirs e turistas deslumbrados com a beleza da Sicília que eu raramente tinha tempo para apreciar, como se estivesse em um filme onde eu era apenas uma figurante. Ao chegar à cafeteria, o aroma convidativo de café fresco e doces recém-assados pairava no ar, tentando me envolver em uma atmosfera de normalidade que parecia tão distante da minha realidade, como um sonho que se desfazia ao amanhecer. Fui direto para a área dos funcionários, troquei de roupa e me preparei para mais um dia de trabalho, como um soldado que se prepara para a batalha. "Sofia!" A voz animada de Eduardo me chamou, quebrando meus pensamentos, como um raio de sol em um dia nublado. "Como alguém consegue ser tão feliz em uma segunda-feira?", perguntei em um tom divertido, tentando contagiar-me com sua energia, como se buscasse um pouco de esperança em meio ao caos. "Bom, posso te contagiar com essa alegria," ele respondeu, colocando o avental com um sorriso travesso, como um cupido que lança flechas de felicidade. "E quem sabe, depois do trabalho, aceita sair comigo hoje? Tem uma pizzaria que queria ver contigo..." Era mais uma tentativa, mais um convite gentil que eu precisava recusar, como se estivesse construindo muros ao redor do meu coração. "Eduardo, você sabe que eu não tenho tempo... Tenho muita coisa para fazer," suspirei, sentindo o peso das minhas responsabilidades me esmagar, como um gigante invisível. Ele percebeu meu desânimo e suavizou a expressão, como um amigo que oferece um ombro amigo. "Eu sei, Sofia. Mas você não precisa passar por tudo sozinha... E eu sei também que você não tomou café da manhã!" Ele estendeu em minha direção três barrinhas de cereais e um suco de laranja na garrafa, um pequeno gesto que me aqueceu o coração, e um bilhete rabiscado com pressa "o dia vai ser melhor que ontem" e uma carinha feliz, um lembrete gentil de que a esperança ainda existia. "Acho lindo que você coloque sua mãe como prioridade, mas... se lembre que você também precisa de um tempo para si... Descontrair não te faz menos forte, só te descansa para conseguir ser mais forte," suas palavras ecoaram em minha mente, como um mantra que me lembrava da minha própria humanidade. O momento de gentileza foi interrompido pelo toque insistente do meu celular, um fantasma que insistia em me assombrar. Era o número desconhecido novamente. "Só um momento," pedi a Eduardo, afastando-me para atender no banheiro, buscando um pouco de privacidade, como se estivesse entrando em um confessionário. "Alô," disse, já me preparando mentalmente para lidar com alguma cobrança, como um soldado que se prepara para a batalha. "Sofia..." A voz do outro lado da linha me paralisou, como se o tempo tivesse parado. Uma voz rouca, familiar, que eu não ouvia há anos, como um eco do passado que me assombrava. Desliguei imediatamente, o coração acelerado e as mãos tremendo, como se estivesse em meio a um terremoto. Como ele tinha a audácia de ligar depois de tanto tempo? Por um instante, pensei em ignorar completamente, bloquear o número e seguir em frente, como se pudesse apagar o passado com um clique. Mas a imagem da minha mãe me veio à mente. E se fosse algo relacionado a ela? Hesitei por um momento, antes de enfiar o celular de volta na bolsa, decidida a lidar com isso depois, como se estivesse adiando um encontro com o destino. Trabalhar em uma cafeteria movimentada, cheia de turistas deslumbrados, não era tão diferente de trabalhar na boate, a mesma sensação de ser um objeto, de ter o corpo e a atenção constantemente avaliados, como um pedaço de carne em um açougue. Aquela velha cantilena sobre "se não quer chamar atenção, se cubra mais..." era uma piada de mau gosto. Eu estava completamente formal, vestindo calça social e uma blusa de botões branca, mas a quantidade de olhares indiscretos, as mãos que roçavam as minhas "acidentalmente" ao pegar um pedido e as cartas com endereços e números rabiscados em guardanapos eram incontáveis, como se eu fosse um objeto à venda. Já havia conversado com o patrão sobre o assédio, mas ele apenas dava de ombros, dizendo que eu "chamava a atenção" e que isso era bom para o movimento da cafeteria, como se eu fosse uma exposição em um museu! Que i****a!!. Mesmo não sendo um emprego fixo, ele sempre renovava meu contrato, e eu sentia um nó na garganta a cada renovação, como se estivesse assinando um pacto com o d***o. Não era um favor que ele estava me fazendo, era ele que se beneficiava da minha exploração, como um vampiro que suga o sangue de sua vítima. Se eu fosse demitida, sairia com uma mão na frente e outra atrás, sem ter para onde ir. Eu sempre ia em sua sala tentar conversar sobre isso, mas ele dizia o mesmo, como um robô programado para repetir a mesma frase: "não tenho condições de manter outros funcionários fixos". "Sofia, aquela mesa quer que você atenda," disse Eduardo, aproximando-se com um semblante um pouco emburrado, como se estivesse carregando o peso do mundo em seus ombros. "O que deu? Você estava feliz agora há pouco," perguntei, franzindo a testa, como se tentasse decifrar um enigma. "Aquela é uma das minhas mesas. Tentei fazer eles mudarem de ideia, mas foi impossível," ele explicou, passando a mão pela nuca, visivelmente incomodado, como se estivesse envergonhado. "Pega uma das minhas, eu vou correr até lá," respondi, tentando aliviar a tensão, como se estivesse oferecendo um escudo para protegê-lo. Me aproximei da mesa, sentindo um incômodo crescente a cada passo, como se estivesse caminhando para o cadafalso. Eram três homens bem vestidos, com um ar de poder e arrogância que me deixava nervosa, como se estivessem me julgando. Seus olhares fixos em mim me faziam sentir como se estivesse sendo dissecada, como um animal em um laboratório." A tensão no ar era palpável, como uma corda esticada prestes a se romper. Seus olhos escuros, como obsidiana, me perfuravam com uma intensidade que me deixava desnorteada. "Já estão prontos para pedir?", perguntei, tentando manter a voz firme, como se estivesse caminhando em um campo minado. "Um expresso... e um cannoli de limão..." Ele respondeu, a voz carregada de um tom que me fez estremecer, como se cada palavra fosse um toque invisível em minha pele. "E... os outros, o que querem?", perguntei, desviando o olhar do homem que havia falado e encarando os outros dois, tentando me ancorar em algo familiar. "Não importa o que eles querem..." A voz profunda falou novamente, me puxando de volta para o abismo de seus olhos. Dessa vez, não consegui evitar encará-lo, como se estivesse presa em um feitiço. Seus olhos escuros e intensos pareciam me perfurar, me desnudar por dentro, como se pudessem ler meus segredos mais profundos. Um misto de medo e uma estranha curiosidade me invadiu, como se eu estivesse diante de um predador e, ao mesmo tempo, de algo irresistivelmente atraente. "...e sim, o que eu quero!" completou, um leve sorriso brincando em seus lábios, como se estivesse se divertindo com a minha perplexidade. Fiquei completamente sem reação, a mente em branco, como se um apagão tivesse me consumido. A audácia daquele homem, o jeito como ele me olhava, como se eu fosse um enigma a ser decifrado... era perturbador e, de alguma forma, inebriante. "Ah... eu... vou trazer... um momento..." Consegui balbuciar, virando as costas rapidamente e me afastando da mesa, precisando desesperadamente respirar fundo para acalmar o turbilhão de emoções que ele havia despertado em mim, como se um furacão tivesse se instalado dentro de mim.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD