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Sofia
A partir daquele momento, me senti um pouco desorientada, como se tivesse perdido o controle do meu próprio corpo. Cometi erros bobos, troquei pedidos, deixei cair um prato que se espatifou no chão com um estrondo ensurdecedor, atraindo olhares curiosos e repreensivos dos outros clientes. Tentei catar os cacos apressadamente, mas terminei me cortando. "Ai..."
"Sofia... me dê," disse Eduardo, aproximando-se rapidamente e pegando os cacos de vidro antes que eu pudesse me machucar ainda mais. Seus olhos castanhos, normalmente tão gentis, estavam carregados de preocupação.
"Não... fui eu quem quebrou..." murmurei, o rosto pálido, temendo o desconto no salário, já tão escasso.
"Eu vou me responsabilizar... não precisa se preocupar. Respira um pouco, tá? Não adianta falar, eu vou pagar esse prato. Sei o quanto você precisa de cada moeda, não se preocupa," disse ele, abaixado, recolhendo os pedaços de vidro com um sorriso gentil e tranquilizador. Seus dedos ágeis e cuidadosos recolhiam os cacos, evitando qualquer ferimento.
O som da campainha que indicava que os pedidos estavam prontos soou como uma libertação, interrompendo o silêncio tenso que se instalara.
"Vá descansar um pouco, eu cuido disso também," disse Eduardo, percebendo meu estado de nervos, a voz carregada de gentileza.
"Mas e do cliente chato que..." não pude terminar, pois o mesmo simplesmente colocou um doce em minha boca, o que me fez rir involuntariamente. "Não mereço você..."
Agradeci com um aceno de cabeça e me retirei para a pequena área de descanso dos funcionários, tentando acalmar o tremor que percorria meu corpo. Peguei meu celular e vi que já marcava cinquenta ligações do mesmo número desconhecido. A raiva começou a borbulhar dentro de mim. Era ele, eu sabia. O homem que havia escolhido o vício em vez da família, o primeiro responsável pela situação em que minha mãe e eu nos encontrávamos.
"Sofia..." Eduardo me chamou, entrando na área de descanso com a bandeja em mãos. "Eu não queria te tirar do seu descanso, mas aquele homem... ele insiste que seja você a levar o pedido dele..." Era evidente o esforço que ele fazia para manter a compostura, a preocupação transparecendo em seus olhos.
"Tudo bem, Eduardo, eu irei... De qualquer forma, preciso ir à farmácia depois," respondi, tentando soar mais calma do que realmente estava, mas a tensão ainda me consumia.
Peguei a bandeja de suas mãos e caminhei em direção à mesa do homem de olhos escuros, sentindo o olhar dele me seguir a cada passo, como se me avaliasse.
"Muito bem... vejo que voltou de onde estava..." disse ele, analisando cada movimento meu com um escrutínio que me deixava desconfortável. "Não gosto de coisas feitas pela metade... sabe... não demonstra profissionalismo." Suas palavras eram afiadas, carregadas de uma crítica velada.
Ele levou a xícara de café à boca, devolvendo-a ao pires com uma careta de desgosto. "O meu café está frio, sabe o motivo disto?" Ele levantou uma sobrancelha, esperando uma resposta que eu não tinha coragem de dar. Eu sabia que a culpa era minha, resultado do meu nervosismo, e sua fala me fez sentir ainda menor.
De qualquer forma, ele pegou a nota da mesa, pagando a conta sem sequer contar a quantia que deixava. "Não que mereça," murmurou, ajeitando as mangas do paletó e levantando-se para sair. O desgraçado nem tocou no cannoli!
Aquilo me fez ferver por dentro. Peguei o valor exato da conta do bolo de dinheiro que ele havia deixado e fui atrás dele, alcançando-o perto da saída.
"Licença, mas está aqui o resto," disse, a voz seca e firme, estendendo as notas em sua direção.
"Sua gorjeta," ele respondeu, sem sequer se virar, a voz carregada de desdém.
A raiva me impulsionou a segurar seu pulso, impedindo-o de continuar andando. "Eu não quero caridade!", respondi, a voz carregada de seriedade. Mas no instante seguinte, sua mão fria e forte agarrou meu braço, me puxando para perto, o toque gélido me causando um arrepio. O medo substituiu a raiva, gelando meu sangue.
"Entenda como quiser!", ele sibilou, me empurrando bruscamente em seguida, me deixando ali, estupefata e assustada, com o eco de suas palavras pairando no ar como uma ameaça silenciosa. O encontro com aquele homem misterioso e arrogante havia bagunçado meu já frágil equilíbrio emocional, deixando uma sombra de apreensão pairando sobre o resto do meu dia.
"Está tudo bem? Ele fez algo com você?", perguntou Eduardo, aproximando-se com o rosto carregado de preocupação, os olhos castanhos fixos nos meus, buscando algum sinal de perigo.
"Eu... estou bem... preciso ir, já deu o meu horário...", murmurei, desviando o olhar, incapaz de encarar a preocupação estampada em seu rosto. O tremor nas minhas mãos denunciava o quanto eu estava abalada. Poderia parecer casca grossa, mas era sensível, apesar da dificuldade de demonstrar meus sentimentos. Não gosto de chorar na frente de ninguém. Meu avô sempre contava que, depois de uma bronca, eu me escondia para chorar.
"Sofia, eu não... confio naquele lugar... tenho medo dos homens que frequentam aquilo... eu...", disse Eduardo, com a voz carregada de apreensão, referindo-se ao meu segundo emprego no clube noturno. Ele sabia dos rumores, das histórias que circulavam sobre o que acontecia nos bastidores daquele lugar.
"Eu apenas sirvo as mesas, nada mudou, pode ficar tranquilo," sorri, tentando transmitir uma segurança que eu não sentia. A verdade era que eu também tinha medo, mas não podia me dar ao luxo de demonstrar fraqueza.
"Fique bem... por favor...", disse ele, suspirando pesadamente, antes de se afastar, deixando-me sozinha com meus pensamentos turbulentos.
Antes de ir para o clube, passei na farmácia, o papel amassado com a lista de medicamentos da minha mãe apertado na mão.
"Preciso de todos esses," disse, desdobrando o papel no balcão, a voz trêmula.
A atendente me olhou com um ar entediado, como se estivesse fazendo um grande favor, enquanto pegava as caixas de medicamentos com uma lentidão exasperante. Cada segundo parecia uma eternidade, a angústia crescendo em meu peito.
"Mas... está faltando caixas ainda!", exclamei, vendo apenas duas sobre o balcão, o pânico começando a se instalar.
"Está em falta...", respondeu ela, sem demonstrar qualquer preocupação com o meu desespero, os olhos fixos na tela do computador.
"Senhora... a senhora não entendeu... eu preciso desses remédios... minha mãe precisa!", supliquei, sentindo a angústia me sufocar, a voz embargada.
"Olha, não tem o que fazer, é esperar a vinda desses medicamentos... sinto muito... próximo!", chamou ela, indiferente ao meu sofrimento, ignorando meus apelos.
Peguei as caixas que estavam disponíveis, sentindo um nó se formar na garganta, e corri para outra farmácia, rezando para encontrar o que faltava. Por sorte, encontrei algumas das caixas que precisava, embora o preço fosse exorbitante. Mas eu não podia interromper o tratamento da minha mãe, não importava o custo, era o principal hoje.
Lembro quando ela ainda estava um pouco bem, ela perguntava quando eu teria uma família, apresentaria um namorado ou vários... como se eu tivesse tempo... até amizade é complicado manter. Eu não saio para curtir, não gasto dinheiro em compras como vejo nos filmes.