Consegui o endereço de Alexandre com um acesso fornecido por papai, pedindo total discrição. Meu irmão, sempre prestativo, conseguiu trazer essa informação até mim. O prédio de Alexandre já transmitia uma aura peculiar logo na entrada.
Sua residência era na cobertura do edifício. Eu sabia que ele era um lobo burguês, provavelmente malandro e antipático, mas acreditava que conseguiria fazê-lo me escutar.
Vesti um sobretudo por cima de uma calça e uma blusa de alças e segui em direção ao prédio.
"Quer que eu suba com você?" Hugo ofereceu.
"Não, eu quero falar com ele. Explicar como eu funciono. Ele não deve ser tão difícil assim."
"Tem certeza."
"Eu não quero começar isso assim, mas é necessário."
"Grite se precisar."
"Obrigado, Hugo."
Respirei fundo e subi as escadas em direção à cobertura de Alexandre. Sabia que não seria fácil, mas estava determinada a fazer com que ele entendesse minha posição e respeitasse de alguma forma o que aconteceria, mesmo que isso significasse uma conversa difícil ou desconfortável. O apoio e a compreensão do meu irmão me deram uma dose extra de coragem para enfrentar o que quer que estivesse por vir.
Eu sabia que aquele cara não iria facilitar.
Alexandre era conhecido por sua reputação de rudeza e arrogância. A origem dessa atitude era um mistério para muitos, especialmente porque seu pai, o alfa, era reverenciado e respeitado por toda a matilha. A contradição entre o pai exemplar e o filho problemático era desconcertante.
Ao me deparar com a porta do apartamento de Alexandre, senti a necessidade de me preparar para o que poderia ser um encontro desafiador. Suas maneiras antipáticas e o conhecimento prévio de suas atitudes exigiam uma abordagem cautelosa.
Ajustei meu sobretudo, escolhendo uma peça que combinasse força e elegância. Optei por um modelo que destacava a dualidade de minha natureza lupina e humana. O sobretudo, de um tom de cinza escuro, caía em cascata sobre meu corpo, conferindo uma mistura de graciosidade e determinação.
Por baixo, vestia uma blusa de alças, um toque sutil de feminilidade que contrastava com a imponência do sobretudo. A escolha da blusa revelava minha disposição de manter minha individualidade e suavidade, mesmo em um ambiente dominado pela força e hierarquia lupina.
Combinei a parte superior com uma calça escura, enfatizando a praticidade e a versatilidade, características fundamentais para enfrentar as possíveis adversidades que poderiam surgir durante a conversa com Alexandre. Meus passos eram firmes e decididos, refletindo a determinação que eu carregava para reivindicar meu espaço e ser ouvida.
Optei por um par de botas que adicionava um toque de rusticidade ao conjunto, simbolizando a conexão com a natureza selvagem que era inerente à nossa existência como lobisomens.
Ao me aproximar da porta, respirei fundo para acalmar os nervos e, ao mesmo tempo, fortalecer minha resolução. Não sabia ao certo o que esperar daquele encontro, mas estava disposta a enfrentar Alexandre e sua arrogância para defender meus princípios.
Minha roupa não era apenas uma escolha estilística, mas uma expressão simbólica de quem eu era e do equilíbrio que buscava manter entre as diferentes facetas de minha identidade.
Apertei a capanhia e respirei profundamente.
"Que seja o que a lua desejar."
A porta demorou algum tempo para abrir, e durante a espera, pude escutar uma voz alta e grave ecoando do outro lado. Quando finalmente a porta se abriu, o olhar de Alexandre caiu sobre mim. Senti-me estranha, observando como ele abriu ainda mais a porta ao perceber que era eu.
"Eliza Colin."
Meu nome saiu de sua boca com uma baixa sonoridade, e eu permaneci firme sobre meus pés. Anos de preparação para esse momento ecoavam em minha mente, e eu sabia que não podia permitir que minha moral e honra fossem subjugadas por um playboy como ele.
"Espero não estar atrapalhando. Gostaria de falar algumas palavras com você."
"Que tal entrar e falar? Você aqui é uma surpresa, algo me diz que seus pais não sabe."
Ele terminou de abrir a porta, revelando seu corpo. O peito nu e os músculos trincados eram inegáveis. Alexandre vestia apenas uma calça de moletom, e seus cabelos estavam bagunçados, conferindo-lhe um ar despojado. Tive que erguer meu olhar para o rosto dele. A barba por fazer agora o deixava com um semblante mais jovial e sério ao mesmo tempo. Era quase como se estivesse diante de um daqueles modelos de capa de revista, só que ainda mais bonito.
O olhar de Alexandre me deixou desconcertada por um instante, mas rapidamente me recompus. Ele me permitiu entrar em seu "covil de lobo", como se sua morada fosse um território selvagem a ser explorado.
Adentrei o apartamento, e a atmosfera pesada pairava entre nós. Era evidente que estávamos em lados opostos, e a tensão preenchia o espaço como uma tempestade iminente. Alexandre, com sua postura imponente, parecia aguardar minhas palavras, enquanto eu me esforçava para manter a compostura e a firmeza.
"Quero deixar claro, Alexandre, que não aceitarei ser tratada como um mero objeto nesse casamento arranjado. Estou aqui para reivindicar meu espaço e minha voz. Se queremos que isso funcione, precisamos estabelecer limites e respeito mútuo."
Seu olhar penetrante não vacilou, mas pude perceber uma centelha de surpresa em seus olhos. Estava decidida a não me curvar diante da arrogância dele e a lutar pelo meu direito de escolha nesse destino que parecia tão fora de controle. O jogo estava apenas começando, e eu estava determinada a mudar as regras.
"Sabe que não vou me casar com você, Eliza, não é?"
As palavras saíram frias de Alexandre, e aquilo me magoou profundamente. Mamãe e papai sempre nos criaram seguindo as tradições, e a atitude dele era uma quebra flagrante desses princípios.
"Olha, eu não sei o que se passa na sua cabeça ou não, Alexandre. Mas, se não está levando isso a sério, eu estou. Fui criada e educada para um momento como esse, não posso deixar alguém como você tirar isso de mim. Se não quer isso, peço que fale com seu pai. Eu não quero me casar daqui a uma semana e muito menos ser humilhada por você. Você não me conhece, e eu não sei quem é você. Mas isso não pode ser tão r**m pra você."
Ele se inclinou para frente, a mão dele tocou meu rosto, e uma onda de energia atravessou minha pele. Meu corpo reconheceu a ligação, mas ele fechou a expressão e se afastou.
"Acho melhor você ir para casa."
"Você sentiu, não é?"
Ele me deu as costas e se aproximou de um aparador, servindo um copo de bebida antes de me responder.
"Eu não senti nada! Vai para casa, você não devia estar aqui. Vai ser mais fácil arrumar algo melhor se não for vista comigo."
A rejeição de Alexandre era como um golpe, mas ao mesmo tempo, sua atitude levantava ainda mais minha determinação. Eu não permitiria ser desrespeitada e humilhada, especialmente por alguém que parecia tão distante de entender as tradições e responsabilidades de nosso mundo lupino.
"Sabe que se me rejeitar nunca vai ter ligação com ninguém, não é? A lua não vai te recompensar depois."
"Posso lidar com isso."
Ele voltou a se aproximar. A atitude era péssima. Dava vontade de gritar com ele.
"Mas eu não posso. Não pode ser tão r**m se casar comigo, é?"
Ele me analisou, dos pés a cabeça antes de abrir um sorriso de lado.
"Você é mais do que eu podia querer. Você é tão perfeita pra isso, que parece que não foi feita pra mim. Eu não quero machucar você."
Dei um passo na direção dele. Parei na frente dele, encarei os olhos dele.
"Eu não me machuco fácil, Alexandre."
A mão dele se ergueu e apertou meu pescoço, naquele momento segurei o olhar dele. Olho no olho. Sem nenhum medo.
Mamãe havia me ensinado.
"Me deixe prová-la."