2°Capítulo
Kiara Badin
— Kiki...Kiki. _Gritou meu irmãozinho ao me ver passando pela porta.
— Meu docinho de abóbora. _Com riso de orelha a orelha joguei minha bolsa no móvel no cantinho ao lado da porta e abri meus braços, me ajoelhando.
Lorenzo e suas perninhas curtas, tortinhas e desastrosas junto ao seu sorriso banguelo, irradiante correu derramando salgadinhos por todo o chão. Sua alegria era incontida ao me ver.
— Kiki... _Soltou um sorriso esganiçado quando ondulei minhas mãos em seu corpinho pequeno e o trouxe para aperta-lo com todo o amor do mundo no meu peito.
— Aí... _Hesitei para suspirar e fechei os olhos enquanto o abraçava, inalando seu cheirinho de bebê. —Docinho meu. Você foi quem eu mais senti falta. _Contei ao lembrar de como foi triste morar na escuridão por mais de três cruéis e demorados meses. Foi tão...
Agonizante.
Doloroso.
Desesperador.
E solitário.
O lugar mais medonho e assustador que vivi e não sinto falta nenhuma foi naquela sozinha e infinita escuridão. Muitos, quando está em coma alega ouvir vozes, sentir toques, ter sonhos e perceber está viva ao respirar mas, não poder se mexer por o corpo está preso a uma cama e eu não...
Eu vi, senti e quase toquei nela... Na morte.
Ela tem seu lado sombrio. É escura como o fechar dos olhos e atormentada como o mar exageradamente agitado, sentimos como se a correnteza da água nos puxasse com força para um buraco, um redemoinho no meio do violento mar.
Era destruição,
Desgraça e danos, uma calamidade sufocante. Lutar pela vida foi incansável eu só lembro que quando estive travando uma guerra com ela o meu propósito sempre foi voltar. A infeliz é traiçoeira e quando despertei meu primeiro pensamento foi sair em busca do miserável que me fez perder tantos dias da minha vida.
Ele me tirou absolutamente tudo.
Eu iria o encontrar onde quer que fosse.
Ninguém volta dos mortos sem cicatrizes e a minha era uma .... Silenciosa Vingança.
— Filha. Já chegou ?
Amenizando o abraço me coloquei de pé, trazendo comigo o meu irmão para meus braços e enfiei a mão em seu salgadinhos, roubando uns para o meu paladar.
— Mamma. _Lhe dei o melhor sorriso ao receber o dela. — Descobri que o homem com quem iria casar é um insano depravado e de um segundo ao outro virei com certeza motivo de chacota de toda a universidade.
Minha mãe me olhou, piscou também algumas vezes desentendida.
— Como é isso ? _Estava confusa.
— Não sei, mas gravaram no meu cd de apresentação um vídeo daquele cachorro rabugento e três fêmea fazendo... _ Censurei-me por ter a presença do Lorenzo. — A senhora deve imaginar.
— Dio mio. Isso é sério ? _Cobriu a boca, parecia incrédula.
Assenti, positivamente.
— Acredite. É sim. Ele é um ordinário sem escrúpulos. _Vaguei até o sofá e me sentei, começando a alisar os cabelos ruivos do meu pequeno que acabará de deitar em meu ombro.
— E você ? _A encarei, semicerrando os olhos diante do seu olhar calmo e seu toque paciente em meu braço. — Como você está ?
— Não sei se é livre a palavra, no entanto é como tirar um peso das costas. Ainda que eu sinta algo em meu coração por ele. Mamma nada nos prende mais, eu o perdoei duas vezes porque era prudente perdoar. Acabou, não quero um homem fraco do meu lado. O erro não é meu, a culpa sim é dele por não ter carácter nenhum.
— Quer dizer que a apresentação que tanto se preparou não deu certo ?
Neguei, preocupada. O que eu iria fazer para conseguir nota e fechar o semestre com azul ? essas horas é as que mais odeio porque para o meu azar nunca estivesse tão perdida.
Misericordioso Deus... É o meu futuro!
— Foi um desastre. Não vi as expressões de todos mas posso imaginar depois de acharem que eu fiz um vídeo sujo para apresentar. Eu saí correndo, envergonhada. _Respirei profundamente. — Nunca passei tamanha vergonha.
Minha mãe esfregou sua mão em meu braço, um gesto visto como apoio. Eu já sabia que poderia contar com ela com o que fosse.
Minha Mamma conseguiu nesse mundo gigante encontrar alguém que devolvesse minha vida. Ela não tem noção do quanto sou honrosamente grata, tanto a ela quanto para o dono do sangue que hoje circula em meu corpo.
Antes de fazer o que tenho que fazer eu precisava procurá-lo para agradecer.
Deus! Eu estou viva.
— Deixa eu levá-lo para dormir. _Ela o tomou dos meus braços.
— Não tem como mesmo Mamma saber o nome dele ? _Perguntei.
Me encarou, sabendo perfeitamente a que eu referia.
— Eu tentei minha filha. Eu mais do que você queria me ajoelhar para ele e se possível beijar os seus pés. _Falou, pousando um beijo nos cabelos do Lorenzo e saiu.
Molhei meus lábios e joguei minhas mãos no rosto, fitando em seguida o teto.
Minutos depois, levanto-me e sigo até a cozinha procurando uma vassoura e pá, voltando a sala, limpando a desordem que o pequeno fez. Chego no lixo, despejo e lavo minhas mãos, as secando. Vejo na pia o último potinho da cartela de danone do Lorenzo, pego.
— Acabou. _Dou conta, vago até a latinha que minha mãe deixa uns trocados e a procuro no quarto. — Vou ao mercado. _Aviso.
— Hoje terei que dormir no trabalho, a senhora que cuido ficou doente e precisa ser medicada de quatro em quatro hora.
— Tudo bem. Eu fico com o pequeno. _Sorrio. — Não se preocupe Mamma, ficaremos bem. Aliás, a senhora é quem nos mantém é o mínimo que posso fazer para no futuro ser eu a cuidar de vocês.
— Você é uma menina de ouro. _Riu.
— Não é atoa que meu sangue é raro. _Pisquei para ela e encostei a porta, saindo de casa.
Eu havia conseguido um estágio em uma empresa mais por ter sofrido um acidente perdi a vaga. Não iria me lamentar, as oportunidades vem e vão. Eu realmente queria tanto ajudar com as despesas, aluguel e as contas de casa ja que não precisava me preocupar com a universidade, estudava graças a uma bolsa o que é uma grande sorte ter a conseguido apesar dos dias sem dormir e o esforço prestado. Se Deus quiser eu vou terminar, trabalhar e colocar o Lorenzinho em uma boa escola e tirar minha Mamma do trabalho cansativo. Só quero o melhor para eles.
É, 22 anos requer compromisso e responsabilidade. Eu estava ganhando as características de sobra.
Rindo dos próprios pensamentos, sem prestar a devida atenção acabei esbarrando em alguém grande...
Alto
Forte
Com uma aroma boa.
— Mio Dio. _Peguei seu braço para me apoiar, percebendo que o café que ele havia comprado manchava sua camisa branca. — Aí meu pai. Senhor eu moro aqui pertinho eu posso dar um jeito nessa sua camisa. _ O soltei, recuando um passo, tampando a boca e ele de repente abriu os braços, observando o estrago na camisa. E só fiquei muitíssimo escandalizada quando o mesmo ergeu o rosto para me fitar, sua boca se moldava a um sorriso presunçoso e eu perdendo todas as estruturas e fôlego. — Você de novo ?
— Te conheço ? _ Como um passe de mágica seu semblante ganhou seriedade.
Juntei minhas sobrancelhas, engolindo em seco.
— Você hoje mais cedo quase me atropelou de frente onde estudo. _Expliquei.
— Eu ?
— Sim. Você.
Ele me olhou de cima abaixo.
— Então, fico feliz que esteja bem. _Sem mais nem menos, me deu as costas entrando no mercado. Vendo que era o meu destino o segui, me colocando ao seu lado.
— Você disse que eu ainda iria lhe agradecer por muito. Confesso não entendi a que se referia.
Ele estreitou os olhos para mim antes de atirar o copo ao longe e acertar no lixo.
— Moça, eu nem lembro de você e você ainda diz que trocamos palavras. _ Abria os botões da sua camisa, atraído olhares curiosos. Continuei a engolir saliva com um dificuldade tremenda, eu vislumbrava seu peito nú. — Se eu falei, apenas agradeça e não esqueça você poderia está em maus lençóis agora. _Tirou a camisa, a pousando nos ombros e passando por mim, deixando seu aroma alí para que eu trouxesse do nariz para dentro de mim e se embriaga-se.
Novamente olhei para trás e de novo o segui. Balançando a cabeça ao ver como suas costas era linda.
— Vai sair por aí assim ? _O parei, apertando seu braço direito. Seu olhar automaticamente se fechou e ele olhou minha mão e subiu levemente para a iris dos meus olhos. Eu sentia tudo em mim ter calafrios, meus pelos arrepiava dos pés a cabeça e fui obrigada a solta-lo. — Eu posso lavar sua camisa. Por favor, eu a sujei e quero fazer isso.
Digo por mim, por que minha consciência iria me maltratar a noite inteira.
Ele deu um passo a frente e eu outro para trás.
— Saí da minha frente ou irei arremessa-la contra as prateleiras desse mercado imundo. _Indagou rudemente me deixando com medo ao ter seus olhos obscuros penetrando os meus.
Completamente horrorizada e intimidada, o dei as costas e apressei os passos.
— Que homem doente. _Olhando para trás pude respirar normalmente. Ele havia desaparecido.