4°Capítulo
Kiara Badin
Hoje era dia de palestra, um empresário renomado vinha até a universidade para nos instruir sobre o que era verdadeiramente economia. Saindo do ônibus andei até o campus e segui para os portões, não vou mentir estava muito ansiosa para entender muitas coisas que se envolvia no ramo da administração, articulava em pensamentos quais perguntas eu iria fazer, quais era minhas dúvidas a princípio para começo de conversa. Eu estava tão centrada que subindo os degraus não percebi que me seguiam, só de repente voltei dois degraus de uma vez sendo puxada para trás. Visivelmente, me assustei olhando imediatamente para o dono da mão segurando em meu braço.
O que esse i****a fazia aqui ?
- Romeo. _Era nítida a minha surpresa.
- O próprio. Precisamos conversar.
Arranquei meu braço do seu toque e o encarei firmemente.
- Não acho que depois do que você fez comigo eu tenha algo para conversar com você. _Fui sincera.
- Não pode me culpar a vida toda por o que eu fiz a meses atrás.
Sorrio, desacreditada com seu cinismo tamanho e bato palmas, levanto minhas mãos unidas até a boca.
- É muita cara de p*u mesmo. Acorda Romeo, se antes eu queria te ver morto agora quero que teu espírito jamais encontre o caminho da salvação. _Soltei uma risada indignada e ele juntou as sobrancelhas, parecia não entender suas próprias ações.
- Do que realmente você está me acusando agora ?
- Ante-ontem eu vi com esses olhos que Deus me deu o seu descaradamente em um canil de prostituição. _Ele abriu a boca e antes que ele tentasse se defender, o cortei. - Nada que tente dizer para mim nesse momento ou em momento algum irá mudar meu pensamento sobre você. Nada reverterá a situação que você mesmo se colocou. Você não passa de uma fracassada decepção em minha vida e é uma pena que eu tenha me enganado tanto com você, chegando ao ponto de pensar em casar com você.
Ele deu um passo para a frente e eu dois para trás, entretanto não o temia por já saber sua reação e a sua falta de limites. Romeo explodia e se revoltava por qualquer coisa que não tenha saído como queria, seu temperamento forte era o que mais me dava medo e é libertador ver o quanto aquilo me contaminava. Eu posso suspirar em paz por ter finalmente me livrado desse embuste que me fez um grande m*l.
Ele não foi quem me colocou em uma cama de hospital mas, foi o causador.
Eu precisava encontrar o culpado.
- Você não pode viver sem mim. _Era uma das suas ameaças dita com ainda mais frieza.
Balancei a cabeça, incrédula. Aproveitador de merda!
- O que eu não posso é me permitir ser sua escrava, seu psicopata. _Cuspi as palavras.
Um carro bruscamente freou, o vento com poeira fez meus cabelos voar e o cheiro de início de pneu queimado invadiu meu nariz, o que me fez virar o rosto para o lado. Conhecia o significado de cantar pneu e aquilo sempre me levava a lembranças que eu não poderia nunca esquecer.
O acidente que me tirou tudo.
Levando uma mão ao rosto retirei os fios de cabelo que embaraçava minha vista e os prendo atrás da orelha, voltando a olhar para o carro que chegará. Observando o dono sair e trancar a porta, arregalei meus olhos e soube de quem se tratava quando o mesmo retirou o óculos escuro que usava e o prendia na camisa abaixo do terno, tudo isso feito com maestria e enquanto caminhava elegantemente me arrancando um suspiro ou dois.
- Isso não vai ficar assim. _A voz de Romeo ecoou em meus ouvidos e então, tive meus olhos estreitados nele que me dava as costas como um covarde. Pude visualizar o momento exato em que passou ao lado do homem que chegou e recebeu um empurrão no ombro esquerdo quando esbarrou nele. Ou melhor, eu vi quando esse homem esbarrou de propósito no Romeo, o ato o fez quase ir ao chão comer terra.
Automaticamente, ele... o outro doente que me ameaçou jogar nas prateleiras do mercado passava por mim sem ao menos desvencilhar o olhar para meu rosto e me embebedava com o rastro do seu perfume forte e que infelizmente era muito bom.
Estou ciente que não haverá um pedido desculpa.
Subo os degraus e segundos após estou no corredor da universidade vendo ele andar apressado e estar lá na frente instantes depois. Então ele olhou para trás e pode ser coisa da minha cabeça ou não, mas ele soltou um pequeno sorriso e voltou a caminhar, se perdendo dos meus olhos.
***
- É muita sorte vir a aula hoje. _Minha colega na carteira ao lado suspirava, piscando os olhos boba como se usasse colírio. Fiz careta. - Olha esse homenzarrão. Se não for o homem que mais emanou beleza eu não sei quem foi.
Percorrendo o olhar lentamente sobre o homem encostado na mesa do professor e por um momento nosso olhar se encontrando, permaneço com o contato visual. Respiração alterada talvez muito mais que o necessário, eu estou tão incrédula com essa situação que mordo a tampa da caneta em minha boca.
Para mim ele não emanava nada além de mistério.
No entanto, isso não chegava a ser o único dos meus problemas, o que quero entender é como ele sendo um empresário renomado caminhava sobre o mercado do bairro onde eu moro ?
Como esbarrou em mim por duas vezes e não se desculpou ? Típico dele a falta de educação, não é mesmo.
Ele agia como se nunca estivesse me visto e isso me irritava porque odiava indiferença e hipocrisia. Com certeza era sinal dos céus, ele só podia ser um karma em minha vida por aparecer justo no dia em que meu noivo foi desmascarado.
- Você. _Ele disse com os olhos em mim. Retiro a caneta da boca.
- Kiara. _Me apresento com toda minha impaciência, remexendo-me na cadeira, sentindo-me está desconfortável com sua presença.
- Kiara. _Indagou, parecia testar o meu nome saindo da sua boca. - Poderia me dizer o que é economia e dar exemplos de como economizar no dia-a-dia ?
Claro.
- Economia é o conjunto de atividades desenvolvidas pelos homens visando a produção, distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de vida. _Respondia diretamente e sem gaguejar, tinha que ser prudente e não deixar ele no comando como acha estar. Molho os lábios. - E pode-se economizar no dia-a-dia adiando grandes compras, fazendo listas e saber o que realmente precisamos para não comprar o que não precisa, focar nos descontos. Experimentar lazer de graça, existem vários eventos gratuitos em nossas cidades, peças de teatro, exposições, sessões de cinema, programas ao ar livre. É só pesquisar bem e encontrar o lazer ideal para você. E por último não menos importante, usar nossa casa mesmo...
Ele cruzou os braços e meus colegas todos me olharam. Respirei.
- Explique. _Pediu.
- Chamar os amigos para ir na sua casa como alternativa para aquele barzinho. Você mesmo cozinhar, todo mundo colaborando com o supermercado do evento sai muito mais barato do que ir em um restaurante, ou bar, e vamos confessar não é? Muitas vezes é mais gostoso.
Ele abaixou a cabeça, visando o chão entretanto posso até jurar que ria.
O que eu fiz ?
- Já que seu noivo te traiu com prostitutas porque não me convida pra sua casa e vamos economizar juntos ? _ Um dos idiotas da minha sala fez o comentário infeliz e eu virei o rosto para ele pronta para retrucar e de novo de algum modo que eu não sabia como ele fazia, o homem chegou em frente a mesa do inconveniente e espalmou as mãos em cima, o olhando de um jeito que se fosse para mim me causaria calafrios. Ele intimidava qualquer um.
- E porque você não se retira da sala antes que eu der um jeito de bloquear os bens da sua família e você um filhinho de papai comece a colocar em prática as dicas que sua colega passou.
Se eu fiquei escandalizada com o quão rude ele era. Sim fiquei.
O dono do comentário ardiloso ficava em pé e empurrava a cadeira, saindo furioso da sala.
- Kiara. É isso mesmo que vi ? Ele colocou o machão da sala no seu devido lugar.
Alguma das meninas fez o comentário e eu apenas concordei ao assentir. Eu engolia em seco quando ele me estendeu um olhar e meneou a cabeça.
Ele só podia ter dupla personalidade... não é possível.