O trajeto até o luau durou apenas alguns minutos, mas cada um deles queimou como fogo lento na pele de Mia. Enjaulada no banco de trás, ela foi obrigada a assistir à peça encenada para sua humilhação.
Lívia ocupava o banco da frente com pose de dona, exibindo-se como se tivesse conquistado algo precioso. Seus dedos passeavam pelo braço de Bryan, suas risadas soavam altas e artificiais, cada som mais doloroso do que o anterior. Cada toque, cada olhar, cada movimento era uma agulha cravada fundo no coração de Mia.
— Você é impossível, Lívia — disse Bryan, e embora a frase pudesse soar trivial, o tom carregava um calor de admiração que ele nunca mais usara com Mia.
Ela prendeu a respiração, afundando as unhas contra as próprias palmas. Mika, sua loba, uivava dentro dela, rosnando contra a cena, contra a corrente do vínculo que as acorrentava àquele destino. Mas a fúria era impotente, uma chama contida atrás das grades de ferro do dever e da dor.
Quando o carro finalmente parou diante das tochas que iluminavam a entrada da festa, Lívia lançou o golpe final, olhando para Mia pelo retrovisor com um sorriso vitorioso:
— Espero que todos vejam quem está ao seu lado hoje.
A porta se abriu. A festa começava. E Mia desceu sozinha, engolindo o gosto de ferro que a lembrava de sua ferida aberta.
A guerra silenciosa acabara de escalar.
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O luau fervilhava de vida. O mar batia em ondas suaves contra a areia, refletindo a luz alaranjada das tochas que formavam um círculo festivo. Risadas, música e vozes misturavam-se no ar quente e salgado da noite. Para qualquer outro jovem, aquela seria uma lembrança dourada, mas para Mia era um peso esmagador. Cada som parecia abafado, cada rosto feliz era como um contraste c***l contra a escuridão que a consumia por dentro.
Ela olhou ao redor, vendo amigos espalhados em grupos animados, dançando, bebendo, cantando. Mas para ela, o ambiente parecia opressor, como se o ar não fosse suficiente para encher seus pulmões. A tensão se acumulava em sua garganta, e tudo o que ela queria era que o momento passasse rápido. Sabia, no entanto, que nada seria fácil enquanto Bryan permanecesse naquela postura fria e c***l.
Assim que os quatro saíram do carro, os trigêmeos notaram Mia imediatamente. Niel, Axel e Gael — tão diferentes de Bryan em suas atitudes — não hesitaram em se aproximar dela. Seus olhos refletiam uma admiração verdadeira, e suas expressões carregavam algo que Bryan parecia ter esquecido: gentileza.
— Você está deslumbrante, Mia — disse Niel, com um sorriso aberto e genuíno, antes de cumprimentá-la com um beijo caloroso no rosto.
— Realmente, você está perfeita como sempre, Mia — acrescentou Axel, com sua voz suave e acolhedora. Ele a abraçou de forma firme, como quem deseja proteger algo precioso. O gesto aqueceu o coração dela por um instante, mas também trouxe dor, pois a lembrava de quem realmente deveria ser seu porto seguro.
Gael, o mais calado dos três, limitou-se a um aceno respeitoso e um sorriso leve. Mas, quando se inclinou para beijar a bochecha dela, deixou escapar em um sussurro que apenas Mia ouviu:
— Você é a garota mais linda desse mundo.
As palavras deles caíram sobre Mia como um bálsamo frágil. Eram gentis, eram sinceras, mas incompletas. Nenhum deles era seu companheiro destinado. O único que deveria olhar para ela daquela forma, o único que carregava a metade de sua alma, estava a poucos passos de distância, indiferente, mergulhado em sua relutância contra o destino.
Mia engoliu o nó que se formava em sua garganta. Era grata pelo carinho dos trigêmeos, mas doía saber que nada daquilo preenchia o vazio que Bryan insistia em abrir.
E então veio o golpe seguinte.
Felipe Guerra, sempre brincalhão, o palhaço do grupo, não perdeu a oportunidade de provocar. Com um sorriso travesso e voz alta o suficiente para todos ouvirem, ele disparou:
— Ué, Bryan, trocou de namorada? Achei que a Mia fosse sua garota, mas aqui está Lívia no banco da frente!
A risada dele ecoou pela roda, arrancando reações nervosas de alguns amigos.
Bryan sorriu — não para Mia, mas para Lívia. E, em um tom sonhador que parecia ensaiado, respondeu de modo que todos pudessem ouvir:
— Quem me dera que fosse!
O sangue de Mia ferveu. Por um instante, ela sentiu as pernas tremerem, como se o chão tivesse se dissolvido sob seus pés. Mika rosnou furiosa dentro dela, pedindo para sair, pedindo para destruir, mas Mia apenas ficou parada, engolindo sua própria dor como veneno. O que mais poderia dizer? O que mais poderia fazer? Bryan estava brincando com seu coração, expondo sua alma diante de todos, como se o amor dela fosse um troféu descartável.
Lívia não perdeu a chance de se impor. Encostou-se de leve contra Bryan, deslizando a mão para entrelaçar a dele. Seu sorriso tinha gosto de veneno. Olhando diretamente para Mia, como quem exibe uma coroa roubada, ela declarou:
— Quem sabe, quando você se tornar alfa, esse problema seja resolvido, e você consiga fazer uma escolha melhor de companheira.
O silêncio que seguiu foi denso. Mika uivou e rosnou dentro de Mia, pronta para rasgar aquela arrogância em pedaços.
Selena Starlight, a amiga leal, não suportou o peso da cena. Deu um passo à frente, encarando Bryan com firmeza:
— Bryan, isso foi desnecessário. Você não precisava ser tão insensível!
As outras amigas se juntaram, os olhares cheios de reprovação, mas Bryan apenas ergueu os ombros, como se nada daquilo importasse, como se o coração de Mia fosse apenas uma peça descartável no jogo que ele próprio decidira jogar.
E naquela noite, sob a luz dourada das tochas e o riso distante dos que não sabiam da tempestade, Mia entendeu: o luau não era apenas uma festa. Era a arena onde sua alma estava sendo despedaçada, fio por fio, diante de todos.