A busca pelo impossível. ( Maria Joana)

1227 Words
●Quatro anos depois..... " Nem tudo o que é real está descortinado para os olhos humanos. " Por: Maria Joana. "Tem que ser real, ninguém que ficar " pagando de louco" e virar piadas entre os seus. Tantos relatos e sinais, tantas pessoas espalhadas pelo país e pelo mundo não estão aluciando."- penso. Eu estou olhando para o céu azul, apoiada na janela do meu quarto, aqui da fazenda. Eu amo esse lugar. Muitos relatos que ouvi nos grupos dos quais faço parte, dizem que raças alienígenas gostam de locais preservados para fazer suas "pesquisas" ou abduções de animais. Nós não temos animais na nossa fazenda, apenas a vegetação nativa. Acordei cedo hoje e elaborei um plano: "sairei na calada da noite e entrarei na mata, ficarei por lá esperando ver algum orbe de luz ou quem sabe uma nave". Estou tão ansiosa para que anoiteça logo que não consigo me conter, roi todas as unhas das mãos. _ Filha, fiz bolo de chocolate, vem comer uma fatia. - diz minha mãe, entrando no meu quarto. Olho para Cíntia, a mãe que o destino me presenteou. Ela é linda, com seus olhos azuis, cabelos lisos e loiros, pele branca e nariz afilado. Parece mais uma modelo com seus um metro e oitenta de altura. Cesarini não fica atrás, o descendente de polacos parece ter saído de uma revista de modelos masculinos. Eles nunca esconderam de mim a minha condição de ser uma criança adotada, talvez por medo de que eu descobrisse da pior maneira e isso resultasse em sofrimento, ou por medo de que, com o passar do tempo, eu começasse a perceber as diferenças entre nós. Sou branca, de cabelos negros e ondulados, e meus olhos são tão escuros quanto o piche que cobre o asfalto. _ Claro, mãe! - falo abraçando-a. _ O que essa cabecinha está pensando, meu coraçãozinho? - pergunta, como se farejasse minhas intenções de quebrar as regras e sair sozinha altas horas da noite. Sorrio, enquanto busco por uma desculpa para desviar a atenção de Cíntia de mim. _ Estou pensando em aceitar os conselhos do papai e começar a fazer aulas de equitação. Será bom termos cavalos para passear, quando estivermos por aqui. - pela primeira vez na vida, eu minto. _ Que notícia agradável, Maria Joana! Vou ligar para o Sérgio e agendar suas aulas. - diz esfuziante. Deixamos o cômodo juntas e chegamos na sala, onde meu pai está lendo um livro sobre economia. Minha mãe não se aguenta e acaba contando que eu aceitei fazer as aulas para aprender a andar a cavalo. Fico triste em enganá-los, no entanto, faz tempo que os assuntos de ufologia estão proibidos dentro de casa, então devo seguir com a busca por minha própria conta. O dia finda e finalmente a noite chega, cobrindo tudo com seu manto de escuridão. É uma hora da manhã, quando me esgueiro pela casa e saio. Me embrenho pelos matos, munida de uma lanterna e minha mochila contendo uma garrafa de água e um pacote de biscoitos. Ando sem destino certo. Os sons da noite deixam tudo mais apavorante, meus pés esmagam os galhos secos fazendo o estalido seco ecoar entre as grandes árvores. Busco por uma clareira ou algum local com certa elevação de onde eu possa ter uma visão privilegiada do céu e da vegetação. No entanto, minha empreitada é interrompida quando piso em algo macio e, em seguida, sinto a picada em minha perna. Rapidamente, levo a lanterna ao local e vejo uma cobra agarrada ao meu m****o inferior. Elevo a minha perna e sacudo, gritando a plenos pulmões, meu corpo inteiro tremendo. "Deus, não me deixe morrer, por favor" - peço, chorando. Não demora para eu escutar as vozes dos meus pais. Berro de volta, sentindo muita dor no local da picada. Meu corpo esmorece e caio num baque surdo entre a vegetação. Rapidamente, mãos elevam meu corpo. _ O que você faz aqui, filha? - escuto a voz preocupada do meu pai. _ Uma jararaca me picou, pai. Acho que vou morrer. - falo gemendo de dor. Cesarini dispara comigo em seu colo, gritando ordens para minha mãe pegar a chave do carro. Eles corriam contra o tempo, enquanto o veneno se apossava cada vez mais do meu organismo. A dor faz com que meus músculos se tensionem, lágrimas caem dos meus olhos. Escuto os gritos de desespero da minha mãe e, em seguida, sou acomodada em seu colo dentro do carro. Escuto seus berros pedindo para meu pai acelerar cada vez mais o veículo. Seria esse o meu fim? Eu vivi tão pouco, sequer fiz metade das coisas que almejo fazer. Tenho tanto dentro de mim, sonhos e vontades, desejos e necessidades. _ Mãe, me perdoa, por favor! - peço vendo seus dedos trêmulos acariciarem meu rosto. _ Oh, minha menina, que raios você foi fazer no meio do mato? - pergunta baixinho. Seu choro desesperado explode dentro do veículo, que parece voar pelas estradas de terra batida. _ Eu sei o que ela foi fazer no meio daquela mata! Caramba, joaninha, pensei que o assunto já estivesse resolvido, filha! - escuto meu pai bradar nervoso. Um trajeto que dura cinco horas e 42 minutos foi feito em tempo recorde. Meus pais desembarcaram gritando por ajuda. Cíntia corre para dentro da unidade hospitalar, seu corpo recebe os impactos de sua missão em conseguir socorro o quanto antes para a adolescente desobediente. Logo de cara, escuto meus pais sendo avisados de que o Hospital São Francisco Xavier não possui soro antiofídico, e eu teria de ser transferida para o Hospital de Mangaratiba. Como pode um centro hospitalar que fica próximo de tantos sítios e fazendas não ter uma medicação imprescindível e indispensável para salvar vidas diante de possíveis acidentes com animais peçonhentos? Ouço meu pai discutir com os médicos e enfermeiros. Depois, fui colocada numa ambulância, e minha mãe sentou-se perto de mim. Ela parece um anjo, vestindo seu pijama de seda de tonalidade rosa claro. Sinto meu tênis ser removido com dificuldades, um objeto gelado encosta em minha pele. O barulho de tesoura cortando tecido chega até meus ouvidos. Minha mãe dá um grito de horror. Nesse momento, eu não vejo nada muito nítido. O veículo equipado para o transporte ou prestação de primeiros socorros desliza pelas vias com sua sirene barulhenta, pedindo passagem. Sinto o gosto de sangue em minha boca e meu nariz começou a escorrer um líquido quente. _ "Ela está sangrando!" - minha mãe grita para o enfermeiro. _ "São efeitos do veneno, senhora." - a voz forte sobrepõe a doce e fina que Cíntia possui. Certa vez, li que o veneno de uma Jararaca é potente, ataca o sistema nervoso (neurotóxico) e pode matar nas primeiras 24 horas, principalmente se a vítima for uma criança. E eu, sinto que estava morrendo. De Itaguaí para Mangaratiba leva cerca de 33 minutos usando um carro de passeio, mas de ambulância o trajeto deve ser bem menor. A maca em que estou é empurrada para dentro de um ambiente iluminado, ouço vozes ao longe, bem longe. Era isso, eu estava partindo, deixando meus amados pais para trás. Como dizer adeus sem querer que tenha uma despedida? Como posso agradecer por todo o amor e carinho que recebi deles se não tenho tempo a meu favor? Como?
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