ISABELLE
Eu inicio o Rito.
As palavras ecoam, como esta noite.
Ela não é sua para quebrar.
Eu alcanço a ponta da cadeira mais próxima de mim porque meus joelhos ameaçam dobrar. Minha mente trabalha freneticamente.
A tez avermelhada do meu irmão ficou carmesim. E eu entendo porque estou aqui. Por que era necessário que eu fosse trazida aqui. Porque o Conselheiro Hildebrand ou qualquer um dos Conselheiros jamais se dignaria a falar comigo. Uma mera mulher. Uma meia mulher aos seus olhos, já que apenas um dos pais era m****o de sua preciosa Sociedade.
Este homem, o estranho da capela, acaba de iniciar O Rito. Uma lei antiga, arcaica e sem sentido dentro da Sociedade. Um poder concedido a um amigo de confiança. Quase uma relação de padrinho. Uma parte tomando a custódia de outra, uma menor no sentido do mundo normal. Mas dentro das complicadas leis do IVI, significa tomar a custódia de uma criança ou de uma mulher, não importa sua idade. Porque cada família precisa de um chefe homem. É por isso que foi tão fácil para Carlton tomar a minha guarda, embora eu fosse menor de idade na época. Mas minha família se foi. Não havia ninguém. E uma vez que foi determinado que eu era um Bishop, deu direitos IVI sobre mim.
Ou talvez eu tenha permitido. Mas aqueles foram dias sombrios. Eu tinha dezesseis. Meu irmão tinha acabado de ser assassinado diante dos meus olhos. Eu tinha sido deixada para morrer.
Agora, porém? Eu tenho dezenove anos. Uma adulta.
Mas não vivemos no mundo normal. E esses homens não jogam pelas regras normais.
— Você não pode iniciar o Rito. — Carlton cospe, pegando as folhas de pergaminho de aparência antiga que parecem que podem se desintegrar em suas mãos. Ele examina o texto.
— Eu posso. Acabei de fazer. — meu demônio com chifres de mais cedo diz.
Eu forço meus joelhos para travar, limpo as palmas das mãos suadas nas penas do meu vestido. Elas ainda estão úmidas da chuva.
Está tudo quieto enquanto Carlton lê o que quer que esteja naquelas folhas de papel. — Conselheiro, isso é inaceitável. Não sei que mentiras St. James lhe contou, mas posso assegurar-lhe que são apenas isso! — Ele está de pé, páginas apertadas em seus punhos.
— Você rasga isso e você estará respondendo a todo o Tribunal. É um documento oficial. Será tratado como tal. — Hildebrand respira fundo. — E você ficará grato por ser tudo o que ele pediu. É um direito dele. E você é o único culpado por dar isso a ele.
Carlton franze os lábios.
Meu d***o olha para mim, olhos ilegíveis, boca sem sorriso. Ele odeia meu irmão. Eu sei disso sem dúvida. Ele o abomina. Eu estremeço quando seu olhar parece se estabelecer profundamente sob minha pele. É preciso tudo o que tenho para me manter de pé enquanto me pergunto se ele também me odeia, mesmo que seja apenas pelo meu nome, pelo sangue que compartilho com Carlton.
— Dex. — ele diz, os olhos ainda em mim.
A porta atrás de mim se abre. Eu entro na sala para colocar espaço entre mim e Dex.
— Senhor. — diz Dex, sem se incomodar com a tensão palpável na sala.
— Leve a garota para baixo.
Andar de baixo? Já estamos no térreo.
Dex acena com a cabeça e quando olho para ele, ele gesticula para que eu me mova.
Eu não. Não posso. Minha boca abre e fecha, mas nada sai. Meu irmão está lendo aquelas folhas de papel pela segunda ou terceira vez, mas o resto deles está me observando. Carlton vai me salvar? Não tenho certeza se ele poderia se quisesse. Para o Tribunal estar aqui significa que este homem, meu d***o, tem sua bênção para fazer o que está prestes a fazer. E Carlton vai se curvar à lei IVI.
Meu olhar se desloca para o estranho que dá um aceno quase imperceptível. Dex envolve uma mão em volta do meu braço.
— Espere! — Eu grito quando ele me puxa para a porta.
Todos eles olham para mim. Aquele que não falou, que se parece tanto com o meu d***o que eu acho que eles são irmãos, casualmente bebe sua bebida e assiste a cena. Não consigo ler sua expressão. Não posso dizer o que ele está pensando.
Minha boca e garganta estão secas. Eu lambo meus lábios enquanto me forço a olhar para o meu demônio. É ele quem toma as decisões aqui. É ele quem dita o que acontece. Mas o que eu digo?
Quando estou em silêncio, ele levanta as sobrancelhas.
— Eu... eu não entendo. — eu consigo.
— Então seu irmão não fez um trabalho muito bom educando você nos caminhos da Sociedade. Vou me certificar de remediar isso. — Ele muda seu olhar sobre mim. — Dex.
— Vamos. — diz Dex.
— Mas... Carlton? — Eu pergunto enquanto tropeço em direção à porta.
Carlton olha para mim e depois volta para a folha como se eu não tivesse falado nada. Como se esses homens me sequestrando, vamos deixar claro que é exatamente o que eles estão fazendo, é totalmente normal. Aceitável.
— Dex. — meu d***o chama e nós paramos. — Se ela lhe causar algum problema, mantenha-a no escuro.
Escuro? Onde diabos ele planeja me levar?
Dex acena com a cabeça e estamos fora da porta, seu aperto doloroso em volta do meu braço. Quando ele fecha a porta atrás de nós, ouço o tom irritado de Carlton, seu tom fora de controle. Aquele que me diz que ele não vai conseguir o que quer, não esta noite. Não contra esses homens.
Olho em volta enquanto Dex me leva para o saguão. Meus saltos estalando alto no mármore branco e cinza com veios de ônix. Acho que ele vai me levar pela escada de mármore, mas passamos por ela e quanto mais nos afastamos das portas duplas da frente, mais urgente minha luta se torna.
— Você está me machucando!
Ele não se dá ao trabalho de responder, apenas me arrasta em direção a um corredor m*l iluminado.
— Onde estamos indo? — Eu pergunto, tentando erguer os dedos do meu braço enquanto o pânico envia adrenalina pelas minhas veias.
Ele se vira para mim e me vejo inclinada para trás. — Mantenha sua voz baixa. — diz ele calmamente. Ele destranca e abre uma porta de aço bem no final do corredor.
Olho ao redor dele enquanto ele acende as luzes, mas não preciso ver nada para saber que estamos entrando em um porão. Sinto o cheiro fresco e terroso de um espaço subterrâneo. Ele me segura enquanto descemos e eu aperto minha mão livre em torno do corrimão irregular pregado na parede de pedra.
— Para onde você está me levando? — Eu tento novamente, contando meus passos, olhando em qualquer direção quando estamos no fundo. Uma luz pisca no final do corredor à minha esquerda como se a lâmpada estivesse prestes a queimar. A outra à minha direita é mais bem iluminada e vejo que é ladeada por uma fileira de portas velhas.
— Catacumbas.
Eu congelo. — O quê?
Ele sorri quando olha para o meu rosto. Tenho certeza de que fiquei branca como um fantasma.
— Catacumbas?
— Estou brincando. Não vamos tão fundo.
Brincando? Eu luto contra ele, mas ele continua, me arrastando para a direita. Sou grata por isso, pelo menos enquanto estico o pescoço para olhar para trás. Observo aquela lâmpada piscar mais uma vez e depois sair, mergulhando o outro corredor na escuridão.
Quando chegamos à última porta, ele a abre, estendendo a mão para acender a luz. Uma única lâmpada ilumina a sala. Ela está pendurada nua por um fio no centro do teto nesta sala sem janelas. Uma pequena cama está encostada em uma parede, ao lado dela, uma mesa de cabeceira com pernas gastas e uma gaveta que pende torta. Nela fica uma lâmpada sem sombra sem uma lâmpada dentro. No chão há um tapete puído.
Viro-me para Dex, que está me observando.
— O que é isto?
— Os aposentos do velho servo. Não está mais em uso, obviamente. Esta é a metade em que você quer estar, confie em mim.
Confiar nele?
Olho para o corredor oposto, o mais escuro dos dois, depois de volto para ele.
Ele gesticula para que eu entre.
Eu balanço minha cabeça. — Preciso falar com meu irmão. Eu preciso de...
— Eu posso tirar a lâmpada. Eu prometo a você, você não quer isso. O breu é o breu aqui embaixo.
Eu engulo. — Por quê? Por que ele me quer?
— Lâmpada ou sem lâmpada?
Eu não vou conseguir nada dele. Eu sei disso. Então, quando ele dá um passo para dentro da sala, eu grito para ele parar porque eu sei que ele não está brincando. E eu não quero ficar no escuro, não aqui embaixo.
— Quanto tempo? — Eu pergunto quando ele me libera uma vez que estou totalmente dentro da sala.
Ele encolhe os ombros, alcançando a maçaneta. Eu vejo a chave na fechadura do seu lado. — Até Jericho decidir que é hora de vir para você. — E antes que eu possa dizer outra palavra, ele fecha a porta e a tranca.
Eu envolvo meus braços em volta de mim. Olho em volta desse lugar pequeno e assombrado, gelado até os ossos nesse vestido e******o. E com medo do que está por vir.