Subcelebridade

1339 Words
Acordei no dia seguinte na hora do almoço. Fui dormir tarde assistindo um seriado com Rafael. Percebi que ele não era uma pessoa r**m, pelo contrario era um cara muito gente boa. Sabe melhor amigo gay? Ele é mais ou menos assim, só que não ficamos falando sobre homens. Quando ele percebeu que eu não queria falar sobre o que aconteceu, ele apenas disse o que iríamos fazer. Nos entupir de sorvete assistindo seriado de mulherzinha. E assim ficamos, assistimos uma temporada quase inteira. E a noite, ele ainda comeu pizza com coca cola comigo. Sei que ele não pode comer essas coisas, com tantas calorias e carboidratos, mas ele fez isso por mim e acabei esquecendo todos os meus problemas por enquanto. Na verdade até ri, e muito. Acho que baixar a guarda para ele, foi a melhor coisa que fiz ontem. Logo após meia noite, nós fomos dormir – cada um em seu quarto, claro. Ele iria viajar hoje cedo e por isso não poderíamos virar a noite. Afinal de contas ele tem uma agenda de shows para cumprir. Percebi quando ele entrou no quarto bem cedo, e meu um beijo na testa, não demonstrei que acordei claro, mas seu perfume característico me acordou, e pela primeira vez eu não xinguei alguém por me acordar antes do dia amanhecer. Depois que ele saiu, seu perfume ainda permaneceu no quarto, e foi por isso – e só por isso – que eu sonhei com ele o resto da manhã. Fui até a cozinha e procurei o que tinha na geladeira. Que por sinal estava muito bem abastecida. Peguei um suco de laranja e um pacote de biscoitos no armário. A geladeira estava cheia de coisas saudáveis, mas assim como ontem, hoje eu estou com vontade de chutar o p*u da barraca. Me jogo no sofá com pego o controle remoto em mãos. Começo a zapear os canais de TV até que, um canal em especial com uma foto do Rafael comigo estampada, chama a minha atenção. Ele estava com uma roupa muito bonita, mas comparando com o vestido nada básico da apresentadora loira de dois metros de altura, ele estava extremamente simples. O programa era ao vivo, portanto ele ainda estava em São Paulo. — Então sua história com a gata borralheira é mesmo verdade? — Ela pergunta sorrindo com ele e com cara de quem não está acreditando. Ele coça a cabeça, e mostra o sorriso preguiçoso que eu já estava acostumada a ver nas capas de revista. — Quanto ao gata eu realmente concordo, já deu uma boa olhada nela? Sou um cara sortudo, o que posso fazer? — Ele diz e a platéia cheia de mulheres, o que não era novidade, começa a gritar. — Mas você também achou que era sortudo se tratando da última. — E realmente fui, curti um tempo muito bom com ela, mas assim como tantas fases das nossas vidas, aquela também passou. Tô curtindo agora minha fase com Lara e não poderia estar mais feliz. Ela olha para ele com olhar inquisitivo e eu me encolho no sofá. — E o que faz você pensar que a Lara – ela fala meu nome com certo nojo na voz – é mulher certa para essa fase? Ele nem parece pensar. — Ela é divertida, mas de um jeito inteligente. Sabe discutir sobre assuntos complexos sem parecer perdida, tem seu próprio ponto de vista e não o que a sociedade quer que ela tenha, é bonita e isso não é segredo para qualquer um que tenha bom gosto, e é honesta. Fora que não vê em mim o cantor famoso, ela me vê como eu realmente sou. E isso é o que eu mais gosto nela. Isso parece calar a boca da mulher que pede para ele cantar uma música. Fico me perguntando se o que ele falou sobre mim, era o que ele realmente achava. Ontem nós conversamos bastante, rimos bastante e para qualquer um que visse parecíamos um casal de namorados curtindo um sábado à tarde. Não conversamos muito sobre nós, e sim sobre o mundo, por vezes sobre coisas supérfluas, por outras nem tanto. Mas sempre de uma forma descontraída. Ele me conheceu o bastante ontem para poder falar essas coisas, mas minha pergunta maior é se ele realmente acha essas coisas de mim. No segundo bloco do programa, ele é submetido a mais perguntas e por mais indiscretas que possam parecer, ele sempre responde com o mesmo sorriso no rosto. Nunca parece se incomodar, e eu fico imaginando que no lugar dele já teria jogado tinta preta naquele cabelo oxigenado. — Voltando ao assunto do no seu namoro recente. Como vocês se conheceram mesmo? — Através de um amigo meu, que trabalha junto comigo. Ela olha para câmera de um jeito estranho – eu não gosto muito dessa mulher – depois volta a olhar para Rafael com um sorriso mais estranho ainda no rosto. — Lara Pinheiro, sua namorada, é uma estudante de jornalismo estou certa? — Ele assente, sem entender o porquê de sua pergunta, eu por outro lado, já imagino mais ou menos para que rumo ela tomará. — Não tem medo que ela esteja namorando com você apenas para alavancar a carreira futura? Rafael surpreende a todos – inclusive a mim – com uma gargalhada alta. Ele ri mesmo, e até seus olhos encherem-se de água. A apresentadora por outro lado, não parece achar muita graça na questão. — A Lara, sério? Isso é uma piada? — Ele olha para apresentadora como se esperasse que ela assentisse, no entanto sua cara já fechada, fecha-se ainda mais — De jeito nenhum. O fato dela ignorar minha posição foi um fator muito importante para que eu gostasse tanto dela. Ela não tem o menor interesse em pegar carona na minha fama e está mais preocupada com os incômodos do que com os benefícios futuros. Convencê-la a ficar comigo, e com toda a bagagem que isso acarreta, foi uma sorte que eu não pretendo desperdiçar. Olho para aquilo ainda sem entender o porquê de sua gargalhada. Tudo bem que nunca passou pela minha cabeça usar a fama dele para me beneficiar profissionalmente, e que realmente o fato de eu estar mais preocupada com os malefícios do que com os benefícios de sua vida pública é verídico, mas o que me surpreende é que ele saiba disso. Afinal de contas eu estou com ele pelo dinheiro dele, tudo bem que não é para o meu próprio beneficio, e sim para salvar a vida da minha amiga, mas não deixa de ser uma relação de interesse. Achei que ele pensasse o pior de mim... Se bem que o fato de ele falar isso em público não isenta-o de pensar isso de mim, já que seria um burrice falar isso em público e acabar com a imagem de sua namorada. A mulher – que fica super desconfortável depois de sua resposta e principalmente sua gargalhada – Acaba com o assunto namoro e começa a falar de outras coisas. Pouco tempo depois abre perguntas para a platéia. Uma garota de cabelo roxo e roupa preta é a primeira a levantar, ela olha Rafael nos olhos e não parece se afetar tanto com ele. — Eu não entendi o porquê de fazer questão de beijá-la onde todos poderiam ver e fotografar. Estava querendo provar alguma coisa Nero? Eu prendi o fôlego aqui no sofá, mas Rafael, lá no palco, nem se abalou. — Não estava tentando provar nada. Mas sou uma pessoa como outra qualquer, porque eu deveria beijar minha namorada apenas as escondidas? Não tenho nada para esconder, muito menos ela. Ele é bom nisso, pensei. São feitas mais duas perguntas que ele responde com a mesma capacidade de manter-se natural. Quem o vê assim, até parece que ele é realmente um livro aberto. Desligo a TV sentindo-me agitada, o sorriso do Rafa enquanto falava de mim, mesmo que meias verdades, não saiu da minha cabeça durante o resto da tarde.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD