o encontro em silêncio

1018 Words
Bela Já se passaram três dias desde que cheguei à Fazenda São Arcanjo. O tempo aqui parece mais lento, e de alguma forma… mais calmo. Minha prima Elisa tem sido uma companhia divertida e barulhenta, e minha tia Cidinha cuida de mim como se fosse uma segunda mãe. Mas mesmo com a rotina simples e tranquila da fazenda, minha cabeça insiste em voltar para aquela noite. Meu corpo já não dói mais. As marcas… algumas ainda estavam lá, roxas e quase desbotadas, como lembranças vivas do que aconteceu naquela cabana. Lembranças que, apesar de intensas, não me causavam arrependimento. Pelo contrário. O que senti naquela noite, com aquele homem, foi uma mistura de loucura, prazer e… liberdade. Perder a virgindade com um estranho no meio de uma tempestade definitivamente não era algo que eu esperava viver. Mas, sinceramente? Não me arrependo. Foi carnal, selvagem, quente e completamente fora de controle. E, mesmo que eu quisesse apagar da memória, meu corpo parecia se lembrar dele a cada vez que eu fechava os olhos. Mas ele não me procurou. Não apareceu. E talvez tenha sido melhor assim. Fomos apenas dois desconhecidos presos em uma noite insana. Melhor que tenha acabado ali. — Bela! — Elisa gritou do corredor, me fazendo pular da cama. — Anda logo! A fogueira vai começar! Você vai amar! Tem música ao vivo, comida, dança… e quem sabe algum peão bonito. — Já tô indo! — gritei de volta, suspirando fundo. Olhei no espelho. Estava com um vestido florido que minha prima emprestou. Justo na cintura, decotado na medida certa. Meu cabelo cacheado estava solto, ainda um pouco úmido da escova rápida. Um brilho leve nos lábios, bochechas rosadas. Eu estava bonita. E sabia disso. Desci com Elisa até o centro da fazenda. O céu estava claro, pontilhado de estrelas. O ar fresco da noite misturado com cheiro de terra molhada e fumaça da fogueira criava um clima quase mágico. As pessoas estavam reunidas em bancos de madeira, todos sorrindo, conversando, tocando violão, comendo e dançando. Era uma cena saída de novela rural. Me sentei com Elisa em um dos bancos próximos à fogueira. Ela me apresentou alguns moradores da fazenda. Todos pareciam simpáticos, gentis, curiosos. Perguntaram de onde eu era, se gostava da vida no campo, e se pretendia ficar por muito tempo. Eu sorria, respondia o básico e fingia estar 100% presente. Mas não estava. Porque eu o senti antes mesmo de vê-lo. O perfume amadeirado e marcante cortou o ar como um soco no estômago. Meu coração acelerou. E quando levantei os olhos… ele estava ali. Henrique. Montado no seu cavalo como um personagem de faroeste, o chapéu jogado para trás, a camisa de botão semiaberta mostrando o peito moreno, o jeans colado revelando o corpo forte. Ele estava sorrindo, mas seus olhos… estavam me procurando. Me encontraram. Minha boca secou. Minhas pernas enfraqueceram. E, por um instante, pensei que todos ao meu redor pudessem ouvir os batimentos descontrolados do meu coração. Ao lado dele, uma mulher muito bonita — loira, elegante, claramente criada na cidade — tentava segurar seu braço. Alice, se não me engano. Minha tia comentou algo sobre a patroa querer empurrá-la para o filho. Mas Henrique não olhava para ela. Ele só olhava para mim. — Aquele é o Henrique Alencar — Elisa disse, baixando a voz no meu ouvido, sem notar meu nervosismo. — O dono da fazenda. Nunca vi ele tão arrumado. Geralmente anda todo sujo de lama e terra. — Hum... — murmurei, tentando parecer indiferente. — Ele é um ogro, sabia? Tem fama de bruto, mandão, e não se apega a ninguém. Já partiu o coração de metade das moças daqui. Mas é lindo, né? Lindo. Grosseiro. Dominante. E o homem que tirou minha virgindade numa cabana no meio da chuva. Senti o olhar dele queimar minha pele. Mas fiz o melhor que podia: fingi que não o conhecia. Desviei o olhar. Sorri para um rapaz que tocava violão. Fingi que estava encantada com a música. Fingi que tudo estava perfeitamente sob controle. Mas, por dentro, eu estava um caos. Henrique desmontou do cavalo e se aproximou devagar. Cada passo dele fazia meu estômago revirar. Quando chegou à roda da fogueira, Cidinha foi logo o cumprimentar com um sorriso maternal. — Boa noite, patrão! — ela disse alto. — Quero lhe apresentar minha sobrinha, Isabela. Vai ficar conosco por um tempo. Ele se virou completamente para mim. E quando nossos olhos se encontraram ali, sob a luz laranja da fogueira, eu senti tudo de novo. O toque. Os beijos. Os gemidos. O calor. A dor deliciosa. A entrega. Mas me mantive firme. Levantei com um sorriso contido, estendi a mão e disse: — Boa noite, senhor Henrique. É um prazer conhecê-lo. Ele apertou minha mão devagar. Seus olhos fixos nos meus. Sua voz saiu baixa, quase rouca. — O prazer é meu, Isabela... Havia um duplo sentido na forma como ele falou meu nome. Um lembrete silencioso do que vivemos. Mas ninguém ao redor parecia perceber. Só nós dois sabíamos. — Espero que esteja sendo bem tratada por aqui — ele acrescentou, a voz ainda baixa. — Muito bem — respondi, com o melhor tom formal que consegui forçar. — Que bom — ele sorriu, e sua covinha apareceu no canto da boca. Meus joelhos quase falharam. Mas mantive o controle. Henrique se afastou logo depois, talvez respeitando meu silêncio. Ou talvez só para me provocar. Passou a noite circulando entre os empregados, conversando com um ou outro, sempre com Alice pendurada em seu braço. Mas seus olhos… voltavam sempre para mim. Em algum momento, tocaram uma música animada e várias pessoas se levantaram para dançar. Elisa me puxou junto, e mesmo tentando dizer não, acabei me deixando levar. Eu ria, girava, dançava com minha prima e algumas crianças, fingia estar leve. Mas a cada movimento, eu sentia o olhar dele cravado nas minhas costas. E eu sabia. Naquele jogo de fingimento, eu podia sorrir, dançar, me fazer de indiferente… Mas ele sabia exatamente o que meu corpo lembrava. E o pior? Eu queria .
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